Para fechar o ano de 2020, vamos falar sobre a longeva relação entre música e drogas.
O casamento perfeito, ou um flerte fatal?
Seja lá como for, é inegável que essa união controversa, gerou muitos frutos relevantes para a história da música.
Confira!
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 61,2 MB
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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O tema de hoje, como eu já resumi, é bem abrangente e um tanto quanto polêmico. E, sem o menor esforço, consigo me lembrar de ao menos dez canções famosas que foram compostas por influência de drogas… Digo mais: seus autores assumiram que estavam sob o efeito delas e, pior, até se usaram disso como marketing… Por isso, me adiantando aqui, tem muito assunto… Então, se você notar que eu esqueci de algo importante sobre o tema, faça justiça ao seu artista doidão preferido e comente nas redes sociais do Clube. Nós estamos no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube – procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse Clube.
Antes de começarmos a resgatar essas histórias engraçadas, assustadoras e, na maioria das vezes, trágicas que envolvem músicas e drogas, lembro que o compromisso do Clube é apenas com as histórias das músicas e de seus autores. As condutas narradas aqui não serão julgadas.
Solta a vinheta, Cocão, e vamos falar de música e drogas…
Música – O combustível desse podcast. Sua origem se confunde com a da própria humanidade. O homem há séculos vem evoluindo a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis que foram criadas conforme a época, e hoje a música faz parte da nossa história. Para não me prolongar, vou parafrasear o filósofo e, para alguns, louco Friedrich Nietzsche: “Sem música, a vida seria um erro”.
E, por falar em louco, é bom destacarmos e separarmos as definições, pois louco é aquele indivíduo que denota alterações patológicas das faculdades mentais. Existem pessoas naturalmente loucas, que não precisam beber ou injetar nada para ficar assim. No nosso caso de hoje, não falaremos dos loucos de berço. Vamos falar do indivíduo que se transforma no louco, aquele que fez uso de algum tipo de substância e por isso está doidão, porém, não incapaz ou moribundo e, sim, em êxtase, inspirado e na maioria das vezes dependente dessa substância.
Drogas, caros amigos do Clube, narcóticos, alucinógenos, psicotrópicos… Historiadores e teóricos afirmam que a primeira vez que o ser homem ficou doidão foi há cerca de 5 mil anos, quando uma tribo de pigmeus, à procura de caça, notou um comportamento estranho em alguns javalis que comiam uma determinada planta. Um pigmeu curioso resolveu experimentar e, ao comer a planta, ficou doidão e gostou…. Daí, não demorou muito para um curandeiro adotá-la como planta medicinal e, logo, as tribos passaram a venerar aquele arbusto, atribuindo a ele poderes divinos. Em Angola, Guiné e Camarões, a tal planta se chama Iboga. Mas, como sabemos, há outras drogas que derivam de plantas. Uma delas, que você deve conhecer pelo nome popular, é a Cannabis Sativa.
Desde 450 antes de Cristo já existem evidências históricas de que a Cannabis era queimada em saunas por recreação, só para dar um barato em seus frequentadores. A partir do século 19, passou a ser estudada e vem evoluindo, tanto na forma recreativa, quanto medicinal e até na matéria prima, apesar de, na maioria dos países, a Cannabis ainda ser considerada uma droga ilegal.
Mas é engraçado esse nome, né? Droga!
“Que droga, que coisa ruim…”. O nome “droga” define toda e qualquer substância, natural ou sintética que, uma vez introduzida no organismo, modifica as nossas funções.
As drogas naturais podem ser obtidas através de plantas, animais e até minerais – a cafeína, a nicotina, o ópio e o THC são exemplos clássicos.
Já as drogas sintéticas, aquelas que dão o barato doido mesmo, são fabricadas em laboratórios, exigindo para isso técnicas especiais. O termo “droga” é interpretativo, já que um analgésico não deixa de ser uma droga. Mas, ao senso comum, droga define uma substância proibida, de uso ilegal e nocivo ao indivíduo, que é comercializada de forma ilegal com a intenção de modificar as sensações, o humor, o comportamento e também estimular a capacidade de criação… E é aí que eu quero chegar, caro ouvinte do Clube. Longe de mim “passar pano” para uso de substâncias ilegais. Mas, é notável como a droga inspirou alguns músicos, não? Claro, ela também destruiu muitos deles, mas como o foco desse episódio é essa junção, analisem por exemplo a psicodelia.
É difícil eleger o músico mais doidão, mas no Pink Floyd os caras enfiavam o pé na jaca e, em especial, quero citar o primeiro vocalista: Syd Barret. O que o diferencia dos demais músicos doidões dos anos 60, vanguardistas da psicodelia musical, é que o uso constante de drogas alucinógenas como o LSD fez Syd ficar louco para o resto da vida. Dá pra imaginar ficar tão doido a ponto de a loucura nunca mais passar? Esse é o Syd Barret…
Estamos falando de um período em que o uso de drogas como o LSD era uma novidade e ainda não havia sido proibido… Embalados pelo beatnick e pelo movimento hippie, com uma pitada de rebeldia promovida pelo rock-and-roll… Aliás, existe um lema que logo o politicamente correto vai execrar: sexo, drogas e rock-and-roll.
O primeiro uso identificado da frase “Sexo, Drogas e Rock-and-Roll foi publicado em um artigo da revista “LIFE” de 1969, que declarava: “A contracultura tem seus sacramentos no sexo, nas drogas e no rock”. Mas a frase realmente se popularizou em 1977, quando o músico britânico Ian Dury lançou a música usando a expressão como título.
A melodia de Dury pode ter popularizado o termo “sexo, drogas e rock-and-roll”, mas, na verdade, essa é apenas uma variação de uma expressão muito mais antiga, “vinho, mulher e música”, que vem entorpecendo músicos há gerações.
Seria o álcool a porta de entrada para as drogas pesadas e autodestrutivas? Especialistas dizem que sim, e foi sob efeito do álcool que muitos músicos toparam se aventurar pelas drogas.
É fato: as drogas sintéticas fritaram o cérebro de muitos artistas como Jim Morrison, por exemplo, que é um ilustre sócio do Clube dos 27. A década de 60 com certeza foi o período mais doidão da música pop moderna. Os Beatles que o digam:
“Lucy in the Sky with Diamonds”, dos Beatles, tornou-se um hino dos malucos, principalmente por conter as letras LSD no nome da canção: L de Lucy, S de Sky e D de Diamond. John Lennon sempre negou. Ele dizia que um belo dia seu filho, Julian, chegou da escola com o desenho de uma colega voando e lhe disse: “Veja papai, essa é a minha amiga Lucy no céu com diamantes”. Lennon achou aquilo lindo e inspirador… tanto que compôs a canção. Mas a real é que ninguém nunca havia acreditado nessa versão inocente, até que em 2009 Julian revelou o nome verdadeiro da amiga da escola, Lucy Richardson, que havia se tornado uma diretora cinema. Deu força à versão de Lennon, mas, mesmo assim, o mito nunca morreu. E não são apenas os fãs que não acreditam em Julian. Paul McCartney afirmou ser “bastante óbvio” que Lucy in the Sky foi inspirada pelo LSD que John e todos os Beatles consumiam naquela época.
E a ressaca… Não só o álcool, mas as drogas causam efeitos físicos e psicológicos traumatizantes no dia seguinte. E, sobre esse enredo, Ringo Starr, o lendário baterista dos Beatles, gravou “No no song” em 1974. Você provavelmente deve conhecer a versão do maluco beleza, que fez uma tradução. Na letra, de forma cômica, tanto Raulzito, quanto Ringo, agradecem a oferta, justificando que já estão cansados de acordar pelo chão.
Algumas histórias podem ser divertidas, mas a maioria, infelizmente, é triste. Talvez a saga de Amy Winehouse seja a que mais causa pena quando o assunto é essa perigosa mistura: drogas e música…
Amy simplesmente definhou na frente das lentes dos paparazzi, que transformaram o seu vício em uma atração. O fato é que a indústria da música sempre, toda vida, lucrou com os excessos dos seus artistas. Não por acaso os discos mais vendidos de músicos viciados são os póstumos. Ou seja, vivos eles rendem. Mortos, rendem em dobro… Uma forma cruel de se lucrar. Mas, será que devemos ter piedade, ou agradecer pela obra genial? Afinal, músicas são eternas, histórias também… Será que sem as drogas esses músicos teriam criado obras tão interessantes???
Entre os músicos brasileiros, o mutante Arnaldo Baptista tornou-se um símbolo do roqueiro doidão. Não só ele, mas Lanny Gordin, Tim Maia, Raul Seixas, Cazuza, Elis Regina…. entre outros. Será que o ato de se entorpecer realça a arte?
Aparentemente sim, mas um estudo recente trouxe uma revelação bombástica… Você sabia que o cérebro humano interpreta a música com efeitos e reações semelhantes aos do uso de drogas?
Esse estudo foi desenvolvido na Universidade McGill, em Montreal, no Canadá. E, com o perdão do trocadilho, eu já sabia que algumas músicas são uma droga… O que eu não sabia era que a música poderia causar um barato parecido com o da droga. E, pensando a respeito, muita coisa passa a fazer sentido. Eu mesmo sou viciado em música e ao ouvi-la me sinto bem. Seria a música uma droga?
Para chegarem a essa conclusão, os cientistas usaram remédios comuns em tratamentos para a dependência de drogas e do álcool. Em seguida, eles mediram as reações dos participantes aos estímulos musicais e constataram que as músicas deixaram de gerar sensações prazerosas. As impressões que os participantes compartilharam foram fascinantes. Sob o efeito de remédios, mesmo suas canções preferidas soaram apáticas e desinteressantes.
Moral da história… vamos ouvir música boa enquanto ainda não é proibido!
O Jazz talvez seja um dos estilos musicais mais virtuosos e que evoluiu influenciado pelo consumo de drogas… Em New Orleans, nos anos 30, a noitada se tornou uma atração turística. De todos os lados da América surgiam pessoas interessadas em conhecer a magia dos clubes negros de jazz… e o marketing foi essencial. New Orleans ficou conhecida como a meca do amor… Mas, aí que tá…. O álcool, de acordo com a dose, tende a deixar as pessoas idiotas e às vezes agressivas. A droga, que deixava as pessoas amorosas e suscetíveis ao flerte, era outra… a cannabis, que rolava solta nos clubes de jazz de New Orleans.
Os virtuosos músicos de jazz, sob o efeito da cannabis, relaxavam e tocavam os compassos mais lentamente. Misturando isso com a euforia causada pela droga, eles tinham a impressão de que se tornavam melhores músicos com a cannabis. Louis Armstrong até o fim de sua vida foi um grande defensor da cannabis. Depois dele, apenas Bob Marley teve um papel tão relevante.
Bob não dedicou apenas músicas à erva. Ele compôs um álbum inteiro venerando os benefícios da cannabis, um clássico da reggae music chamado Kaya, de 1978… Mas, sabe o que é mais louco nessa história? Na Jamaica, terra do reggae, de Peter Tosh e Jimi Cliff, a maconha é ilegal.
Aqui no Brasil essa veneração pela maconha também rendeu… Não só música, mas dinheiro também e muita polêmica. Principalmente quando surgiu o Planet Hemp afirmando que uma erva natural não pode te prejudicar.
Mas, enquanto o Planet Hemp forçava a barra, eram presos e promoviam uma ideologia, Bezerra da Silva há tempos já vinha avisando a malandragem…
A cannabis influenciou os músicos mundo afora, tanto na Europa, quanto nas Américas. Principalmente quando foi adotada, defendida e divulgada pelos rappers. Entre eles, sem medo de errar, Snoop Dogg foi o maior militante da causa…
Para encerrarmos o assunto maconha, e também não ficarmos somente no passado, vale lembrar que atualmente a música pop brasileira está sendo encabeçada nas paradas radiofônicas por cantoras como Isa, Anitta e Ludmilla, que vêm divulgando hits exaltando a erva… Vocês tão ligados, né?
E já que trouxemos o assunto para a atualidade, eu não posso deixar de citar o estilo que revolucionou a música brasileira, principalmente na questão social. Estou falando do Funk Carioca, especificamente do que ficou conhecido como Funk Proibidão.
Surgido durante a década de 90 nas favelas do Rio de Janeiro, o “proibidão” tem suas músicas quase sempre comercializados de forma clandestina e principalmente pela internet. Os funks “proibidões” tratam da realidade das comunidades onde ocorre o tráfico de drogas e, quase sempre, as letras têm conteúdo erótico explícito, que choca os distraídos.
Nos anos 60… ah os anos 60… Que fase para a música mundial! Mas, até que ponto as drogas são responsáveis por essa revolução? Eu acho que não foram protagonistas, mas influenciaram muito. O LSD, a cannabis e as anfetaminas fizeram parte da fase criativa. Mas, o negócio começou a ficar pesado quando surgiu a heroína, a droga fatal!
Jimi Hendrix é conhecido não apenas por ser um dos maiores guitarristas de todos os tempos, mas também por ser um cara doidão e viciado em heroína. Para se ter uma ideia, seu roadie era ninguém menos que Lemmy Kilmister, que no futuro montaria o Motörhead, uma das bandas mais drogadas da sua geração. Em sua autobiografia, Lemmy lembra que quando foi roadie de Hendrix, uma das suas funções contratuais era arranjar drogas para ele e, entre elas, a tal heroína que, segundo o próprio Lemmy, estragava os shows de Hendrix. O Red Hot Chilli Peppers também é uma banda que tem uma história com a Heroína, tanto que escreveram uma música para falar sobre ela, e essa música veio a se tornar a responsável pela guinada da banda…
Heroína é uma droga sinistra e altamente viciante. Foi a responsável por antecipar a morte de grandes nomes da música como Janis Joplin, Sid Vicious, Jim Morrison, Bon Scott, Dee Dee Ramone, Kurt Cobain, Brian Jones, entre outros… Mas, por que a heroína se tornou uma droga tão letal?
Extraída do ópio, que vem da papoula, foram os alemães que inicialmente a evoluíram, como matéria prima da morfina. Um anestésico radical, cujos efeitos estavam viciando os pacientes. É até irônico, mas a heroína foi desenvolvida com o intuito de combater o vício da morfina e, com o tempo, se mostrou ser ainda mais viciante.
A heroína acabou indo para o tráfico e, como é geralmente injetada, cria riscos adicionais, como a AIDS, por exemplo. Os usuários sentem uma euforia aguda e passageira. Por ser altamente viciante, quanto mais se usa, menos efeito ela causa e assim, em pouco tempo leva os usuários ao óbito.
A heroína chegou ao Brasil por volta da década de 80 e foi responsável pela decadência física de algumas celebridades, entre eles, Renato Russo, como foi relatado na sua biografia póstuma, onde ele conta que experimentou heroína pela primeira vez numa passagem pelo Rio de Janeiro, e esse tornou o seu pior vício. Parecia cocaína, mas era só tristeza.
Quando se fala em drogas, a cannabis está no topo do ranking das drogas mais consumidas no mundo, com 60% da preferência dos usuários. Quem divulgou esse ranking foi a Global Drug Survey e me soou estranho, pois na minha opinião, a maconha, talvez pelo fato de ser uma erva natural não me causa impacto. Já a cocaína, essa sim é a primeira que vem à minha mente. E, apesar da popularidade, ela é a segunda droga mais consumida no mundo, com 19% da preferência dos usuários. Em terceiro, quase empatado com a cocaína, vem o ecstasy, seguido pela anfetamina, depois o LSD e os cogumelos alucinógenos.
E por falar em cogumelos, não poderia deixar de lembrar do maluco Ventania, um cantor andarilho cuja inspiração vem do movimento hippie, e fez uma música em homenagem ao barato que alguns cogumelos dão… Quem é das anigas provavelmente já ouviu falar dos tais chás de cogumelos…
Quando Eric Clapton gravou essa música, ele havia deixado de lado um sério vício de heroína e, para compensar, mergulhou de cabeça na cocaína e no álcool.
O rock com certeza está entre os estilos mais chapados, mas quando se trata de cocaína, quem reina ao lado do heavy metal e do hard rock é a disco music.
Le Freak foi considerada a canção mais bem sucedida do estilo Disco, e a história é um caso à parte: um belo dia, os integrantes da recém montada banda Chic foram barrados no Studio 54, o local onde a Disco Music nasceu em Manhattan e point da época… Putos da vida, compraram muita cocaína (que, diga-se de passagem, era o principal combustível das discotecas) e foram para o apartamento de um dos integrantes. Enquanto cantavam “Fuck Off” e amaldiçoavam os produtores do Studio 54, cheiraram tudo que podiam e, com esse riff, compuseram o hit… “Fuck off”… depois foi só trocar por “Freak Out” e, pronto, nasceu o maior sucesso dos anos 70…
A Cocaína vem da folha da coca e, 5 mil anos atrás, já era mascada pelos povos latinos da América do Sul. Seu efeito no estado natural existe, mas é bem sutil. Após a invasão dos espanhóis, a folha da coca passou a ser usada para fins medicinais, até ser finalmente misturada com bebidas alcoólicas. Foi quando o bagulho começou a ficar doido! Aliás, a origem daquela Coca-Cola gelada que você pede no bar quando quer se refrescar também é da mesma folha da coca. A cocaína boliviana dominou o mercado ilegal e, daí, deu no que deu…
Quando eu digo que a cocaína inspirou muita música, não estou falando só dos clássicos do rock como “Snow Blind” do Black Sabbath, ou “Cacaine” de Eric Clapton… Saibam que esse clássico de Ricky Martim também fala de cocaína
Analise a letra: Essa é Maria / Branca como o dia / Mas é veneno se você quiser se apaixonar / Essa é Maria / Tão quente e fria / Que se você tomar com certeza ela vai te matar”. Claro que Ricky Martin negou, mas o compositor da canção, o ex-menudo Robin, não. E, sem querer destruir castelos, sabe uma outra música que fala de cocaína e você não sabia?
A canção Diamonds da Rihana também fala sobre cocaína. E você, como eu, achando que era sobre amor, né? Mas, claro, são letras interpretativas. Sabe o que ajuda bastante? Quando o próprio artista fala abertamente sobre o assunto… Diga lá, Marcelo Nova…
Deu pra entender? É bizarro! Mas, sem generalizar, nós de certa forma aprendemos a “glamourizar” o uso de drogas e os excessos promovidos pelas estrelas da música. O fato é que esses narcóticos se tornaram um combustível para criatividade. Se aceitarmos isso, fica evidente que existe uma aura romântica ligando o uso de drogas aos indivíduos criativos.
Vocês podem perceber que não falei sobre o álcool nesse episódio que é, sim, uma droga tão nociva quanto outras. Mas é porque essa é uma droga legalizada. Você compra no mercado e é permitido ficar louco de álcool… Não me perguntem por quê, mas na nossa sociedade as atrocidades promovidas sob o efeito do álcool são toleráveis. E acho que isso ajuda com o marketing da influência criativa que drogas ilegais exercem, pois são diferentes, mas nem tanto…
Para encerrar, fiz aqui um ranking dos músicos doidões. Não com os que perderam a vida para as drogas, mas com os que desafiaram os limites em relação ao consumo de drogas e conseguiram sobreviver para contar a história. Confere comigo:
Keith Richards – a história do icônico guitarrista dos Rolling Stones está cimentada nas drogas. Os relatos de seus excessos são lendários. Ele foi apreendido pelo uso de heroína inúmeras vezes durante os anos 1960 e 70. Richards ficou literalmente nove dias sem dormir no estúdio de gravação e admitiu que cheirou as cinzas de seu pai junto com cocaína. Foi só a partir de 2006 que Richards deixou as drogas, depois de sofrer uma overdose. Richards garante que, apesar de décadas de uso de drogas, ele sempre as usou com moderação e insiste que esse é o motivo de ainda estar vivo hoje em dia.
Marilyn Manson – O que se espera de um maluco que se apresenta como uma mistura de Marilyn Monroe e Charles Manson e se intitula o ministro da Igreja de Satanás? Os seus shows eram uma doidera; muita droga, violência e até sexo oral no palco. Manson é uma figura complicada, em partes considerado por muitos um homem inteligente e articulado, mas também um viciado compulsivo. Marilyn Manson afirma que suas drogas preferidas eram a cocaína e o crack, que foram motivo de muitas internações em clínicas de reabilitação. Mas, o que pegou pesado mesmo na sua carreira foram seus pronunciamentos doidões. Em 1999, Manson foi acusado de ter influenciado o tiroteio em Columbine. Manson e sua banda assumiram que fizeram cigarros usando ossos humanos encontrados em um cemitério perto do estúdio em que gravavam… misturavam com drogas e fumavam.
A lenda do pop Elton John começou a usar cocaína no início dos anos 1970 para conseguir se “abrir” e conversar com as pessoas. No palco ele era muito confiante, mas fora dele era tímido e reservado. A cocaína permaneceu como componente essencial da sua vida ao longo das décadas de 70 e 80. O próprio Elton admitiu, a certa altura, que estava consumindo cocaína a cada quatro minutos e não saía de casa há pelos menos duas semanas. Neste mesmo período, ele estava tendo convulsões violentas e hemorragias nasais pesadas. Elton John só conseguiu superar o vício após um tratamento em 1990.
Steven Tyler – O hard rock sem dúvida é um estilo onde estar louco de cocaína, pelo menos nos anos 70, era uma forma de firmar a autenticidade da banda. E o Aerosmith, se for ver bem, até que passou ileso por essa fase. Vide o sucesso posterior que fizeram. O vocalista Steven Tyler e o guitarrista Joe Perry foram batizados de gêmeos do tóxico. Steven, em particular, afirma ter gastado 6 milhões de dólares com drogas e, em certa fase da banda, montaram até o camarim do tóxico: um espaço reservado que era montado exclusivamente para a banda cheirar cocaína e demais drogas que lhes motivavam no palco. Digo mais, assim como Jimi Hendrix, eles tinham um roadie responsável pela cocaína. A banda acabou por um certo período, já que os próprios integrantes não lembravam mais das músicas de tão chapados que ficaram. Porém, Tyler, hoje sóbrio e dono de uma das mais marcantes vozes do rock, não se arrepende e credita o sucesso do Aerosmith ao que ele chama de pólvora colombiana.
John Frusciante tinha 18 anos quando entrou no Red Hot Chili Peppers, substituindo o guitarrista Hilel Slovak, que morreu de uma overdose de heroína. Frusciante teve a sua própria experiência com o vício durante a década de 1990 e passou a viver recluso, muitas vezes na miséria completa, logo após sair da banda, em 1992. Seus royalties dessa época e principalmente os lucros do seu segundo disco solo foram para financiar o seu grande consumo de heroína e cocaína. O vício de Frusciante foi tão pesado que, quando ele finalmente decidiu se tratar, tinha perdido a maioria dos dentes, que haviam apodrecido e precisaram ser substituídos. Ele também precisou de plásticas para remover as cicatrizes de seus braços, resultado de anos e anos injetando cocaína e heroína.
Iggy Pop, o lendário vocalista dos Stooges, também foi um cara tri-louco, e é incrível ele ainda estar vivo. Iggy foi um dos artistas mais perigosos e autodestrutivos da indústria musical. No palco provocava brigas com a multidão. Dizem que foi ele que inventou o mosh, mas pulava na plateia para brigar e, claro, apanhava e depois subia de volta ao palco para expor suas feridas. Tudo isso era feito obviamente sob forte influência das drogas. Em uma ocasião, Iggy, de biquíni, defecou atrás de um amplificador e jogou os excrementos na multidão que assistia seu show. Cocaína, heroína e anfetaminas eram as drogas preferidas do doidão Iggy Pop que, hoje em dia, sóbrio, envelheceu incrivelmente bem, ainda se apresenta frequentemente e até grava novas músicas.
Courtney Love – Se você acha que o líder do Nirvana, Kurt Cobain, era um cara muito louco, provavelmente você não conheceu a sua patroa. Desde sua complicada adolescência como usuária de drogas e stripper, Courtney Love veio traçando seu caminho. Ela alcançou o mega estrelato como esposa de Kurt Cobain e, logo, como vocalista da banda Hole, cujos concertos eram caóticos e recheados de discursos embriagados. Courtney usou heroína pela primeira vez na casa de Charlie Sheen no início dos anos 1990, e seu vício era tão inconsequente que ela continuou a usar drogas durante toda sua gravidez. Devido à sua personalidade errática e ciúmes, os teóricos da conspiração a acusam de ter assassinado Kurt Cobain. Love foi presa e internada várias vezes e ainda hoje sua vida é uma batalha constante contra o vício.
Duff McKagan, baixista do Guns N’ Roses, contou que o estilo de vida repleto de excessos vivido pela banda durante a década de 80 e a primeira metade dos anos 90 virou um pesadelo que quase o matou. Além de enormes quantidades de cocaína e heroína, o gosto de Duff pelo álcool também contribuiu para a quase morte do baixista. Ele relembra que os primeiros sinais de problemas começaram a aparecer com a queda de cabelo, dor nos rins ao urinar e o sangramento sem controle de seus dentes. Na sequência, seu pâncreas se rompeu e, depois de inchar ficando do tamanho de uma bola de futebol, decidiu dar uma virada. A partir daí, Duff passou a viver de forma mais saudável.
Al Jourgensen é o líder da banda metal industrial pioneira no estilo, o Ministry. Quando a Warner Brothers contratou a banda e lhes deu $ 750.000 para gravar o próximo álbum, Jourgensen desapareceu e passou semanas usando drogas compulsivamente. Certa vez ele explodiu o ônibus de turnê do Ministry com fogos de artifício. Ele também contraiu hepatite C por uso de uma agulha contaminada e sobreviveu por pouco. Teve inúmeras overdoses e até um dedo gangrenado amputado depois que um ferimento de agulha infeccionou. Após 20 anos de dependência da heroína, Jourgensen finalmente disse adeus às drogas para sempre quando uma úlcera explodiu e ele perdeu 65% de seu sangue. Hoje em dia se contenta apenas com protestos políticos e terapias corporais.
Nikki Sixx… que figura… Talvez todos os excessos da década de 1980 sejam exemplificados no Mötley Crüe, banda em que Nikki Sixx é o baixista. Os relatos da devastação causada pelas drogas muitas vezes ofuscam a produção musical do grupo. Todos os quatro integrantes eram conhecidos por seus estilos de vida repletos de excessos, embora Sixx tenha chegado aos estágios mais baixos do vício em cocaína e heroína culminando com uma overdose quase fatal, na qual ele foi oficialmente declarado morto pelos médicos, antes de ressuscitar. E essa não foi só a primeira overdose do baixista. Em outro momento, o corpo sem vida de Sixx foi colocado em um beco por traficantes para não chamar a atenção das autoridades. Quando acordou, Nikki foi para casa e injetou a droga novamente. Agora, finalmente sóbrio, vive uma história milagrosa por estar conseguindo se manter longe do vício.
E, para fechar a lista, Ozzy Osbourne. Se um homem surpreendeu a comunidade médica, seu nome é Ozzy Osbourne. De acordo com um artigo publicado em 2015, o genoma do cantor do Black Sabbath revela como ele sobreviveu a quarenta anos de abuso desenfreado de álcool e drogas. Por exemplo: os pesquisadores descobriram uma mutação no gene ADH4, ligado ao abuso de drogas e álcool, e que pode ser a razão de Ozzy conseguir beber mais e com mais facilidade do que um ser humano médio. Se não fosse essa mutação, as quatro décadas do vício de Ozzy em álcool, ácido, maconha, cocaína, heroína, anfetaminas, tranquilizantes, analgésicos e pílulas para dormir o teriam matado facilmente. Uma vez ele cheirou até formigas! De acordo com Sharon, sua esposa, “No fim do mundo, restarão apenas baratas, Ozzy e Keith Richards”.
Cara, eu estou angustiado por ter que terminar esse episódio sem contar as outras tantas histórias relacionadas com o tema música e drogas. Aqui no Brasil, poxa vida, fiquei devendo… Tem o Tim Maia, sem dúvidas um dos caras mais doidos de quem eu já ouvi falar, além do Raul Seixas, Zé Ramalho, Novos Baianos… Só gente doida. O melhor disco de rock nacional na minha opinião é o Cabeça Dinossauro, e ele também foi concebido à base de drogas. Precisamos falar sobre isso em breve… Tem também Cazuza, Chorão, e o Dinho Ouro Preto do Capital Inicial, que confessou que foi viciado em ecstasy e LSD. A turma de Brasília era muito doida.
Ah, Gilsão, mas só os rockeiros é que são os drogados da música? Claro que não! O vovô da country music, Willie Nelson, era “viciadaço” e foi preso várias vezes por posse de drogas. Me arrisco a dizer que o estilo musical cujos encontros é o lugar onde rola mais droga é a música eletrônica… E, entre as celebridades, cara, é quase uma unanimidade: a droga rola solta. Acho que o que evidencia o rock nesse sentido é que os próprios rock stars usaram seus vícios como autopromoção, enquanto em outros estilos existe um certo tabu em falar sobre o tema…. Vejam por exemplo a história de Whitney Houston… Como diz o Metallica: “sad but true”…
Porém, a notícia boa é que a música também anda curando dependentes químicos. Tanto nas igrejas, quanto na arteterapia e na musicoterapia, tratamentos estão sendo inseridos, contribuindo para saúde física e mental das pessoas com dependência química, causada exatamente pelo abuso das drogas… É a música que salva.
Eu, careta que sou, e louco apenas por música, estou indo nessa. Mas, antes de finalizar, não posso deixar de mandar um salve para os sócios diretores do Clube. São eles: Henrique Vieira de Lima, Caio Camasso, Emerson Silva Castro, Antônio Valmir Salgado Junior, Dilson Correa Lima, Mateus Godoy, João Jr Vasconcelos Santos, Luiz Machado, Lucas Valente, Camilla Spinola, Tiemi Yamashita, Marcelo Leonardo e Diego Vinicius. Mais que sócios, diretores do Clube da Música Autoral. Se você reconhecer valor nesse trabalho que fazemos, também pode ser sócio. Acesse clubedamusicaautoral.com.br/assine, conheça as formas de associação e o que você recebe em troca do seu apoio.
E fique ligado que o próximo episódio já abre a quinta temporada. Estamos montando a enquete para os sócios do clube nos ajudarem a decidir os temas.
Se sentiu falta de alguma informação relacionada ao tema desse episódio, bora falar com a gente nas redes sociais. O Clube está no Instagram, Facebook, YouTube e Twitter. Procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse Clube. Aliás, tem uma música que define bem essa mistura da qual falamos aqui hoje, e que é um flerte fatal. Assim definiu o Ira ao falar sobre música e drogas. E é com ela que encerramos…
Então é isso.
A revisão desse roteiro foi feita pela Camilla Spinola, a edição como sempre é dele, Rogério ‘Cocão’ Silva, e a produção é minha, Gilson de Lazari.
Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima.