Queiramos ou não, a política, se faz presente em tudo que nos cerca e com a música, não é diferente. Não existe um ritmo se quer, que já não tenha sido embalado por motivações ideológicas.
Neste episódio, vamos conhecer um pouco da história dessa relação polêmica, entre a música e a política.
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 54,1 MB
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
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Bom, vocês sabem, mas só pra reforçar, o Clube, funciona por temporada; cada uma, tem 10 episódios, onde o objetivo, é contar histórias sobre uma música específica, mas sem ser vago, contando também um pouco da história do autor que a criou e acreditem, as músicas, tem histórias incríveis, por trás delas. Um dos meus episódios preferidos da primeira temporada, é “Flor de Lis,” de Djavan, onde supostamente, ele teria escrito essa canção em homenagem a sua esposa e filha que morreram no parto. Ouçam… é é o episódio 4.
Na segunda temporada, mais 10 episódios foram lançados e um dos que eu mais gosto, é sobre “Jorge Maravilha,” canção de Chico Buarque, composta e lançada durante a ditadura, numa época onde o departamento de censura do governo militar, decidia qual música poderia ser lançada ou não. Ouçam… esse é o episódio 12.
Quando concluímos as temporadas, Cocão e eu, tiramos uns dias de férias, pois produzir o Clube e manter o nível de informações e detalhes, requer muita dedicação, vocês sabem, né? Mas durante essa pausa, entre as temporadas, aproveitamos para lançar alguns episódios extras, onde fugimos do padrão, por exemplo, um dos episódios mais baixados do Clube, é o Extra 1, “A História da Música,” onde me arrisco a narrar a origem da música e sua evolução, até os dias atuais.
Hoje, estou aqui, pra rolar mais um episódio extra, fugindo do padrão das temporadas e motivado pelos seguidores do Clube, falarei sobre música e política. Cocão e eu, comentamos no episódio extra 3, durante o bate papo sobre a segunda temporada, que um dos episódios extras que eu estava pensando em fazer, seria para aprofundar esse assunto tabu, música e política, que dependendo da posição ideológica, pode causar náuseas, ou alegrias. Um assunto delicado, sem dúvida, principalmente, após a polarização das últimas eleições.
Mas ora bolas, música e política, é um troço antigo, muitos compositores, usaram e abusaram desses temas, principalmente, das injustiças sociais e sob esse tema, criaram obras incríveis. Não seria um bom tema? Perguntei para o Cocão e não só ele, mas muitos ouvintes, enviaram mensagens e emails incentivando um episódio extra com o tema música e política, por isso, hoje, eu, que não gosto de ser vago, serei, ao passar pela vida de alguns artistas, mas é porquê, o objetivo aqui, será outro; explicar que música e política, sempre existiu e aliás, mais ajudou, do que atrapalhou, inclusive, conquistas incríveis para a humanidade, foram embalados por acordes que você talvez nem saiba.
O Clube da Música Autoral, faz parte do “OVERCAST,” uma rede de podcasts, que foge do padrão da podosfera. Acesse: overcast.com.br e conheça todos os podcasts agregados.
Como sempre, agradecimentos especiais aos sócios, Caio Camasso, Emerson Castro, Henrique vieira Lima, Luiz Prandini, Antonio Valmir Salgado, Dilson Coreia Lima, Matheus Godoy e João Jr Vasconcelos Santos. Mais que sócios, são diretores do Clube! Eles, tem seus nomes citados em todos os episódios, podem ouvir antes do lançamento e recebem uma camiseta exclusiva do Clube. Para ser sócio e ajudar nessa missão, acesse: clubedamusicaautoral.com.br/assine e conheça as formas de apoio e o que você recebe em troca,, por ser um sócio do Clube.
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Recados dados e com a certeza, de que nada do que será dito aqui, é uma verdade absoluta, conforto os mais exaltados, para que relaxem e degustem com leveza, pois, se gosta de música, mas não entende esse relacionamento com a política, esse episódio do Clube, é dedicado pra você, com carinho, tá bom? Bora lá!
“Política,” é uma palavra que pode ter muitos significados diferentes. O principal conceito, é ligado ao ato de governar e de tomar decisões. A palavra, geralmente está ligada ao governo, suas decisões e ao conceito de Estado.
Política, também pode se referir ao relacionamento entre as pessoas, principalmente quando o objetivo é chegar a um consenso, ou um objetivo em comum.
Quem nunca notou, aquele amigo expertão, tentando se promover, enquanto apaziguava uma situação e nunca o chamou de político? Pejorativamente, claro…
Isso acontece, porque no Brasil, os próprios políticos, construíram essa imagem pejorativa.
Mas o que quero dizer, é que a política, está presente em nosso convívio diário, você queira, ou não. A sua opção de não gostar de política, não mudará nada; isso apenas facilita a vida dos políticos profissionais, pois você, continuará seguindo as regras criadas por pessoas que gostam e praticam a arte da política. Sim, política é uma arte; a arte do diálogo e da construção de soluções, para os problemas que não tínhamos, antes de existir o governo, o estado e as leis, que beneficiam poucos e prejudicam muitos.
Esse meu pensamento, não é lá muito coerente, mas é porquê, eu, queria ser anarquista. Alguns discos do movimento punk paulistano, dos anos 80 e algumas matérias anarquistas bem rasas, que eu lia na época, me deram essa pré-disposição. E reparem, não era a política me influenciando, era a música me influenciando na política, pela primeira vez. Vejam bem, o ato de ser apolítico, já te torna de certa forma, um político.
Até hoje, gosto de me sentir um pouco anarquista, afinal, porquê raios, devemos seguir as regras de um bando de safados, sendo que cada um deles tem seus interesses exclusivos e sórdidos por trás, e que mais cedo ou mais tarde, vai ferrar alguém?
Ser anarquista, é legal, é Rock n’ Roll! Concordo, mas é utópico, afinal, a democracia, é o único sistema governamental que evoluiu suas características, a ponto de ser quase justo. Sim… quase justo. A democracia, está sujeita a manipulações, mas como não ser manipulado, se a política, a grosso modo, tem como conceito básico, o convencimento alheio?
Não é mole… Para fazer política, alguém tem que ser convencido. A única forma de você não ser manipulado, é estando atento. Por isso alerto, ser um insentão, não é uma boa ideia. Talvez seja a pior delas, porém, por outro lado, também é importante dosar o seu envolvimento em assuntos políticos, para que isso não te transforme no chatão bitolado da turma, né?
Política fica legal, quando se tem respeito e esse respeito, deve ser mutuo. A partir do momento que atingimos esse equilíbrio e passamos a aceitar opiniões contrárias as nossas, a política, fica prazerosa.
Porra Gilsão, só tá faltando mudar o nome pra “Clube da Política Autoral.” E a música onde fica?
Ok, ok, é fácil se empolgar quando o assunto é política, mas vamos falar sobre música, que é o que interessa aqui. Quem nunca viu aquele meme famoso, que circulou por aí durante as eleições, com os dizeres: “vamos parar de odiar as pessoas por causa de política e voltar a odiá-las pelo gosto musical, que é o certo.”
Julgar o gosto musical alheio, é uma forma de reprimir e fazer política também.
Isso me lembrou da minha adolescência, no início dos anos 90. Éramos roqueirinhos, divididos em dois grupos: os grunges/punks, mau arrumados e descabelados, e os hard-rockers, cabeludinhos, arrumadinhos, cheirosinhos e tals… existia uma rixa entre nós, sabe? Eu, claro, era da turma do punk, anarquista, rock e atitude; gostávamos de Ramones, Sex Pistols e do recém-chegado, Grunge. Gravávamos fitas K7 e as pirateávamos, angariando mais seguidores para o nosso grupo. Na época, ouvíamos as fitas em nossos walkmans. Olha, que coisa de velho…
A turma do hard rock, gostava de Kiss, Van Halen, Scorpions, Bon Jovi e principalmente, de Guns n’ Roses, que chegava com tudo nesses anos 90, que foi sensacional para a musica mundial. Enquanto nós, duplicávamos fitas K7, eles, compravam os discos de vinis; Enquanto nossas pilhas do walkman acabavam, eles, ouviam em aparelhos 3 em um Gradiente, de última geração, mas enquanto eles debatiam, quem era o guitarrista mais bonitão, nós, debatíamos o boicote contra a americanização e o capitalismo.
Porém, as garotas, claro, preferiam eles, então, estrategicamente, também tínhamos sempre, uma fita do Aeroesmith no bolso, para possíveis articulações amorosas.
Alguém duvida, que estávamos fazendo política com a música? Eu tenho certeza disso…
Políticos promovem as ações, elas nos atingem, as vezes positivamente e as vezes, negativamente. E a música é um termômetro; ela, é uma resposta poética, a aquela atitude política.
Desde que o homem dominou a fala, a comunicação com outros da mesma espécie, quase que simultaneamente, nasceu a música e as negociações políticas. A voz dos cantos ecoados por tribos primitivas, para enaltecer deuses, agradecer a chuva, lamentar e festejar, era também a voz, que dividia a comida, que delegava tarefas, que organizava caçadas, que organizava as colheitas e as batalhas, ou seja, a mesma voz que canta, é a que fazia política.
O Regime ditatorial, foi predominante na evolução da raça humana; reis, imperadores, faraós e ditadores, gostavam mesmo, era de matar seus opositores. A única forma de mudar uma dinastia aparelhada no poder, era quando nasciam forças rebeldes e organizados, promoviam um ataque sangrento. Tal organização de ataque e dominação, precisaria de diálogo e liderança, ou seja, política de oposição, misturado com confronto, é claro.
Em épocas distintas, a música servia para relaxar a elite, mas evoluiu e também, eram tocadas para embalar e encorajar exércitos.
Ao colonizar a América, europeus, trouxeram escravos africanos, para trabalharem na construção do novo mundo. Uma atitude política ditatorial, que causou o massacre da cultura africana, dando origem a uma subcultura, que hoje, ao meu ver, é a mais verdadeira expressão musical e isso, é reflexo de atos políticos. A música negra, se reconstruiu, se fundiu e seus lamentos sinceros, embalaram, por exemplo, o nascimento do Jazz, do Blues, do R&B e do Rock n’ Roll. Isso, nos E.U.A, pois no Caribe, embalou o Ska, o DUB e o Reggae de Bob Marley. No Brasil, o Samba, o Choro, o Axé, o Maracatu, a Lambada e até recentemente, o Funk Carioca. São heranças de atitudes políticas, causadas pela escravidão.
Até hoje, esse prejuízo social, é vívido nas comunidades e favelas, e uma das mais recentes expressões musicais de lamento a essa causa, que eu ouvi e me arrancou lágrimas, é uma canção de uma jovem chamada: “Bia Ferreira.” Ouça um trecho…
Só de ter a oportunidade, de fazer algumas pessoas ouvirem um trecho que seja, dessa canção da Bia Ferreira, já faz a minha missão com o Clube da Música Autoral, mais completa.
Acontece, que o que Bia fez com essa canção, composta em 2011, já vem sido feito por cantores negros de todo o mundo e talvez, a segunda maior intervenção política na música, tenha acontecido com o Rock n’ Roll, criado nota a nota pelos negros, mas comercializado por brancos.
Foi um branco, que conseguia cantar e dançar como um negro, que popularizou o Rock; essa, a grosso modo, é a origem de “Elvis Presley,” o rei do Rock. Sua vida e trajetória, pode ser conferida em detalhes, no episódio 19 do Clube. Mas, o que quero frisar aqui, é que até a década de 60, nos E.U.A, um disco com a voz de um cantor negro, não podia ser executado na casa de muitas famílias. E pior, existiam leis, criadas por políticos que promoviam e fortaleciam essa segregação. Os negros, eram proibidos de irem a escolas, de votarem, até de estarem no mesmo ambiente que os brancos.
Mas a música, ela, reverteu essa situação. Os grandes compositores da música americana, são negros.
“Nina Simone,” é um exemplo dramático, de uma mulher, cantora negra, em tempos de segregação, opinando sob a política, sendo massacrada e hoje, um símbolo do ativismo político.
Nessa canção, Nina, de forma genial, diz aos racistas, que ela pode ser privada de seu querer, mas, um fato é único e inquestionável, ela existe; está viva e é igual, em ambições e sentimentos, e liberdade.
Esse perfil de negros questionadores, como Nina foi, sempre existiu, mas eram sacrificados, como gado que quebra a perna, numa tentativa sombria, de manter uma linhagem de negros submissos.
Não falarei mais sobre Nina, pois ela, terá um episódio exclusivo na próxima temporada do Clube, mas vou deixar uma playlist no Deezer e no Spotify, pra você ouvir na íntegra, todas as músicas que foram tocadas nesse episódio.
Política e música relacionado a pautas raciais, principalmente nesse caso dos negros, já seriam suficiente para ilustrar todo esse episódio, mas vamos dar um salto e lembrar do RAP, um estilo que muitos pensam ter nascido no Bronks, nos subúrbios americanos, mas na verdade, sua origem, é jamaicana, assim como o Reggae. Comunidades jamaicanas nos E.U.A, popularizaram o RAP. Suas pautas, eram quase que sempre, contra atitudes políticas e o RAP, se tornou um símbolo de resistência social. É a filosofia da periferia…
No Brasil, não é diferente. O massacre do Carandiru, narrado em partes, no episódio 6 do Clube, é talvez, o envolvimento político mais direto e confrontativo, da música com a política, em terras brasileiras.
“Mano Brown,” lembra na letra, que foi “Antonio Fleury,” o então governador, que endossou o massacre de 111 detentos, durante uma rebelião.
A música, “Diário de um Detento,” está no álbum “Sobrevivendo no Inferno,” de 1997 e esse álbum, vejam bem, foi entregue ao papa durante a visita, como presente, da autêntica representação da luta de classes. O álbum dos Racionais, também se transformou em livro e hoje, é leitura obrigatória para vestibulandos, que concorrem em vagas nas principais faculdades brasileiras.
Mas como não falar sobre música e guerras políticas também? As guerras, geralmente são promovidas por ambições ideológicas e territoriais, por isso, incríveis histórias, relacionadas a música, estão entrelaçadas com a guerra. No episódio 20 do Clube, eu contei a história da canção “Mia Gioconda,” narrando as aventuras dos brasileiros em terras italianas, durante a segunda guerra, mas os pracinhas, nossos soldados brasileiros, também ficaram conhecidos na Itália, pela música. Relatos, narram o incrível desembarque no porto de Napoli, onde os pracinhas, além de fuzis, traziam a tira colo, instrumentos musicais. Isso, deu uma atmosfera totalmente diferente, ao grupo de combatentes brasileiros, que eram diferentes dos outros aliados, frios e concentrados na eficiência em matar seus inimigos.
Tanto é um fato relevante, que a “BBC,” em 1944, chegou a gravar algumas sessões musicais dos pracinhas brasileiros. Ouçam…
Muita crueldade e prejuízos imensuráveis, foram promovidos por regimes políticos ditatoriais e a música, com certeza, estava presente nesses lamentos e foram úteis, para amenizar a dor sofrida, pois a música, nos causa vários sentimentos distintos; ela, pode alterar a noção de tempo, pode relaxar, pode florescer sentimentos de esperança e principalmente, a minha causa preferida, a música, pode nos trazer reflexão.
O rádio, surgiu durante a guerra e era através das frequências moduladas, que informações importantes, eram transmitidas para a população. Nesse meio tempo, entre as informações, músicos, tocavam ao vivo e assim, a rádio e a música, se fundiram. O filme, “O Pianista,” de 2002, conta a história incrível, de um pianista judeu, que tocava nos intervalos das informações sobre a segunda guerra mundial.
Mas a guerra que casou a música de protesto, no caso, o Rock, com a temática política, foi promovido pela questionável, guerra do Vietnã.
Era o momento de plena liberdade artística. O Rock, até então, um estilo casual e festeiro, se mostrava útil, em questões políticas. Essa que estamos ouvindo, é “Fortunate Sun,” da banda “Creedence Clearwhater Revival.” Essa canção, se tornou uma das principais trilhas sonoras, contra a guerra do Vietnã.
Jimi Hendrix, The Doors, Black Sabbath, Bob Dylan, entre outros tantos, compuseram músicas contra a guerra do Vietnã e todo aquele movimento hippie, psicodélico, tiveram enorme impacto contra políticos americanos, que amavam a guerra; os tais senhores da guerra, os “porcos da guerra,” como já dizia o Black Sabbath.
Um dos músicos pacifistas, mais ativos dessa época, foi com certeza, “John Lennon,” que já fora dos Beatles, se mudou para Nova Yorque e promoveu, diversas manifestações.
Mas, uma das bandas que sempre esteve envolvidas em questões políticas, em especial, ao combate ao fascismo, foi o “Pink Floyd.” E olha que curioso, justamente, na reta final das eleições presidenciais brasileiras, o ex-integrante e principal compositor idealista da causa, tinha uma enorme turnê no Brasil; a turnê de “Roger Waters.”
Agora que tudo passou, fica mais fácil analisarmos, mas o que Roger Waters, fez, confrontando os ideais políticos, de pessoas que pagaram caro para assistir seu show, foi histórico.
Eu, não to afim de por o dedo nessa ferida, que ainda nem cicatrizou, mas seria injusto, não comentar sobre isso.
Roger Waters, teve seu pai assassinado por fascistas e quando “Syd Barret,” o primeiro vocalista, enlouqueceu, Roger, foi obrigado a encontrar uma razão para compor e então, surgiu a temática, que pra ele, faz todo o sentido. Quem quiser conferir as histórias do início do Pink Floyd, eu falo sobre isso, no episódio 7, “The Great Gig in The Sky,” que vai até o disco “The Dark Side of The Moon.” Um dia, ainda pretendo dar continuidade a essa história do Pink Floyd.
A manifestação política do Roger Waters, em terras brasileiras, só não foi maior, do que o “movimento MPB,” da década de 70, onde a música, não só influenciou na política, como deu o tom da mudança.
Caminhando e cantando, aquela geração seguiu. Cada vez que certas músicas, eram proibidas, mais instigantes elas se tornavam e isso, fez brotar uma geração de compositores afiados, em usar ironias, trocadilhos e mensagens subliminares, que muitas vezes, eram até óbvias e passavam pelo tal “departamento de censura.”
Se alguém quiser se aprofundar um pouco mais no período militar, indico ouvir o episódio 12, “Jorge Maravilha,” pois Chico Buarque, foi um dos principais expoentes do movimento. Mas, existiram muitos outros. Enquanto a Jovem Guarda, seguia uma linha antipolítica, a MPB e o Tropicalismo, embarcaram na crítica política.
Um dos grandes clássicos da resistência, com certeza, é “O Bêbado e o Equilibrista,” composto por “Aldir Blanc e João Bosco,” e gravado e eternizado, por “Elis Regina.” A letra, fala sobre o choro de Marias e Clarisses, em alusão, às esposas do operário “Manuel Fiel Filho” e do jornalista, “Vladimir Herzog,” assassinados sob tortura pelo exército.
A MPB, tinha uma atitude Rock n’ Roll, mas não era o Rock n’ Roll, né? O Rock mesmo, com guitarras distorcidas, demorou um pouco pra ficar politizado no Brasil. Isso aconteceu, já no gargalo da ditadura militar, quando a linha dura, já não atuava severamente, como nos anos 70.
As bandas de Brasília, nadaram de braçada no tema. Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso… e a onda se espalhou, a crítica era severa, também com Titãs, Engenheiros do Hawai, Ira, Camisa de Vênus, Raul Seixas e talvez, uma das mais diretas e ofensivas canções anti governo, seja a canção “Brasil,” de Cazuza, onde a pátria desimportante, é conquistada através de juras, de não traição; um tema que será sempre atual…
O assunto: “liberação da maconha,” também foi um grande tabu, quando debatido por políticos, pois políticos, são conservadores natos.
Bancadas conservadoras, jamais vão aprovar discriminalização de nada. Maconha e aborto, por exemplo, já são temas doutrinados nas igrejas e ao mexer nesse vespeiro, políticos, acabam acusados de injúria, mediante a crença do seu eleitorado.
Mas daí, você para e pensa:
– “Poxa, mas o estado não é laico?”
E eu te respondo:
– “NÃO! Claro que não!”
No Brasil, o estado nunca foi laico. Ele, é doutrinador e essa doutrina, vem das igrejas, que já se encaixaram na política, com uma força de decisão incrível e que vem motivando muitos compositores, a falar sobre o tema. Por exemplo, sobre o tema da maconha, está pra nascer, um expoente que defenda a descriminalização da erva maldita, tão bem quanto o “Planet Hemp.”
Enquanto a maioria dos religiosos, promovem musiquinhas contra o aborto, a cantora e compositora “Brisa Flow,” Especialmente para a campanha: “Católicas na Luta pelo Estado Laico e Contra os Fundamentalismos,” compôs a música “Mosaico.” Sim! Católicos, a favor do estado laico e a favor da discriminalização do aborto! Se liga…
E para encerrar essa resistência musical, mediante assuntos religiosos, que influenciam na política, vale lembrar, que muitas críticas musicais, foram compostas para desmascarar os falsos profetas, líderes religiosos gananciosos, que usam da fé, para manipular seus seguidores. Antes, isso acontecia somente nas igrejas, hoje, os falsos profetas, são vereadores, deputados, prefeitos, governadores, senadores e logo, escreve o que eu estou te falando, chegarão à presidência.
Marcelo Nova e Raul Seixas, foram cirúrgicos, em “Pastor João e a Igreja Invisível.”
Muitos músicos foram além e não se contentaram, apenas em compor ou interpretar canções de protesto e críticas à política, eles, literalmente, entraram na política.
“Peter Garrett,” o vocalista da banda australiana, “Midnight Oil,” que ouvimos ao fundo, foi um dos músicos, que se lançou como político. Ele, se deu bem; foi eleito. O que ninguém esperava, era que ele, mudaria de opinião em várias questões, principalmente, nas que defendia nas letras do Midnight Oil, deixando os fãs da banda chateados, ao se tornar tolerante, com empresas que causavam danos ao meio ambiente.
“Gilberto Gil,” entre 2003 e 2008, foi Ministro da Cultura, indicado pelo então presidente, Lula.
Engana-se porém, quem acha que a vida política de Gil, começou aí, já que entre os anos de 1989 e 1993, ele, foi vereador da cidade de Salvador, na Bahia.
“Krist Novoselic,” baixista do “Nirvana,” . Tentou se lançar na política, sem estar filiado a nenhum partido, isso porquê, pelas leis de Whashington, você não precisa se filiar para concorrer a um cargo. Krist, não ganhou, mas se tornou um político conservador.
“Agnaldo Timóteo,” também usou da sua popularidade e se lançou na política. Ele, já foi vereador em São Paulo, no Rio e deputado federal pelo Rio de Janeiro.
“Jello Biafra,” ex-vocalista da banda punk, “Dead Kennedys,” se tornou Membro do Partido Verde americano e assim, ele, foi um incômodo para o presidente Ronald Reagan. Ele, já foi candidato a prefeito de São Francisco e até se lançou, como presidente dos E.U.A.
“Sérgio Reis,” o cantor sertanejo, se candidatou em 2010, para o cargo de deputado federal, mas acabou desistindo, contudo, em 2014, voltou a concorrer e foi eleito por São Paulo, conciliando a carreira musical, com a vida política.
Muitos outros músicos, tentaram a carreira política, mas esses que eu falei, são os mais famosos, pelo menos, os que valem a pena de serem citados aqui. Outros músicos se envolveram, não diretamente como candidatos, mas através de causas e fizeram o inferno na vida de muitos políticos. Talvez, o mais ativo e famoso, seja o “Bono Vox,” vocalista do “U2” e claro, baita ativista político de carteirinha, suas músicas, abordam temas sociais, religiosos e políticos e deixam claro, seu engajamento. Tanto envolvimento, lhe rendeu também, alguns sustos. O Exército Republicano Irlandês (IRA), grupo terrorista da Irlanda do Norte, ameaçou sequestrá-lo. Chegou, inclusive, a atacar um carro, que transportava integrantes da banda e recentemente, assim como Roger Waters, Bono, fez protestos em seus shows, contra Bolsonaro.
O “Rage Against the Machine,” é uma das bandas mais verdadeiras e desafiadoras dos E.U.A, isso porquê, seus integrantes originais, tem alta influência política na vida particular deles; algo, que chega beirar, uma apologia a guerrilha. Em 2010, fizeram um show histórico no “SWU,” dedicado ao movimento “MST.” Boicotaram a tal “área VIP,” que geralmente é ocupada por pessoas que pagam mais caro e em seu lugar, eles, colocaram integrantes do Movimento dos Sem Terra.
Em 1963, o mestre “Bob Dylan,” gravou uma das mais belas e mais conhecidas músicas de todos os tempos, o Folk de protesto, “Blowin in the Wind.” Captando e transmitindo, as frustrações dos oprimidos nos E.U.A, principalmente dos negros. Esse músico branco, conseguiu atingir praticamente todas as classes da sociedade e seu som, tornou-se uma espécie de hino oficial para o movimento pelos direitos civis, que aconteceu nos anos 60.
“Bruce Springsteen,” é um cara que anda meio esquecido, mas ele, se tornou ídolo americano, em 1984, quando lançou a música que se tornaria um dos maiores hinos do patriotismo americano. Detalhe, é que Springsteen, na sua letra, fala exatamente o contrário, sobre os problemas do país. Faz críticas, principalmente, sobre a guerra do Vietnã e a política dos E.U.A, em relação a guerra. Mas com o refrão: “nascido nos Estados Unidos,” ela, enganou muitos americanos, incluindo o ex-presidente, “Ronald Reagan,” que a citou em um discurso, sem saber que estava falando de uma música que ia contra o governo.
Em 2002, o “System of a Down,” lançou um disco de músicas que não entraram no seu mais bem sucedido álbum de estúdio, “Toxicity” e nele, estava “Boom!,” uma música clara e direta, sobre os gastos absurdos com armamentos, enquanto milhões de crianças passam fome ao redor do mundo. Para completar a crítica clara, à administração de George W. Bush, (que inspirou muitos músicos, diga-se de passagem), a banda fez um videoclipe, que mostrou várias marchas ao redor do planeta, que protestavam contra as guerras, incluindo, cenas aqui no Brasil.
Um outro assunto sobre música e política, muito atual, que deu muito o que falar nesses últimos meses, é a “Lei Rouanet.” Esse, é um dos assuntos preferidos nos debates ideológicos dessas últimas eleições, pois, teria ajudado alguns músicos, através de incentivo cultural, fomentado pelo governo. Ou seja, se era contra Bolsonaro, era porquê, aquele artista se beneficiava da Lei Rouanet, isso, acabou se generalizando. Um assunto político relacionado a música, sem duvida.
E eu concordo e assino embaixo; a Lei Rouanet, deveria ser exclusivamente para artistas novos, que precisam do apoio, não para esses já consagrados. Isso aí, eu acho uma merda, realmente…
Existe um projeto de reforma da Lei Rouanet, que está no congresso desde 2013, para ser votado e nunca entrou em votação, ou seja, existe interesses políticos, em manter a Lei Rouanet assim, dessa forma, como ela está hoje… ineficaz.
Um caso que deu muita repercussão, também sobre a Lei Rouanet, foi da banda “Detonautas Rock Clube,” cujo vocalista, “Tico Santa Cruz,” que é um militante de esquerda, muito questionado nas redes sociais por seu ativismo, foi acusado por um youtuber, o “Nando Moura,” de ter recebido dinheiro da Lei Rouanet. O Tico Santa Cruz, foi pra justiça e ganhou o caso, provando que o Nando Moura, estava errado e ele, teve que pagar uma indenização. O caso foi divulgado nas redes sociais e mesmo assim, o Tico Santa Crus, não se livrou dos estigmas de beneficiário da Lei Rouanet, pois isso, viralizou nas bolhas sociais. E quem se isolou na sua bolha social, durante a campanha, não recebeu informações contrárias. Cara, isso, é um baita problemão, que está deixando ambos os lados, bitolados e desinformados.
Mas você aí, deve estar se perguntando: poxa, mas esses músicos que se envolvem com política, são todos da esquerda?
Claro que não. Tudo indica, que o Brasil, nos próximos anos, viverá uma onda conservadora, capitalista… na verdade, capitalistas, nós sempre fomos, o que eu quero dizer, é que os ideais de direita, como os pregados por George Bush e atualmente por Donald Trump, vai dar o tom de mudança na nova política brasileira.
Se você, acredita nessa mudança e quer que o Brasil seja um país de Direita, mas está um pouco decepcionado, porque seus ídolos da música, são na maioria da esquerda, calma, saiba que existem músicos de direita também.
Um dos maiores e mais conhecidos, com certeza, é o “Elvis Presley,” que inclusive, queria cooperar com Nixon, sendo um agente infiltrado, que desmascararia comunistas americanos. Inclusive, isso virou um filme; se chama: “Elvis e Nixon.” Falei sobre o rei e sobre esse inusitado caso, no episódio 19 do Clube, “Can’t Help Falling in Love.”
Sabe o “Dave Mustaine,” vocalista do “Megadeth?” Na minha opinião, uma das melhores bandas do metal americano, pois é… Dave, é um velho conhecido dos conservadores.
Inimigo declarado, do ex-presidente Barack Obama e apoiador ferrenho, do Donald Trump. Uma das músicas mais conhecidas do Megadeth, “Holy Wars,” faz apoio declarado, a políticas americanas de controle na entrada, de imigrantes no país.
Um famoso musico americano, que é um baita de um reaça, é o “Phil Anselmo,” o ex-vocalista do “Pantera.” Ele, já chocou a opinião pública, com uma saudação nazista, seguida das palavras: “white power,” no encerramento de uma apresentação beneficente, em 2016. Inclusive, ele já levou aos seus shows, bandeiras que defendiam a manutenção da escravidão negra. O cara ,é daqueles extremistas bem radicais, mas nos E.U.A, essas opiniões, tem o apoio de uma grande parcela de americanos.
É possível ser punk e ao mesmo tempo, conservador? A comunidade remanescente anarquista, passa mal com isso, mas para “Johnny Ramone,” o ex-guitarrista dos “Ramones,” isso era de boa. O cara, era conservador e ultra-nacionalista. Ronald Reagan e George W. Bush, foram alguns dos republicanos, que receberam apoio declarado do roqueiro.
Aqui no Brasil, também tem roqueiro de direita. Quem está se dando bem com a nova onda conservadora, é o “Roger,” do U”ltrage A Rigor.” Ele, declarou apoio ao presidente ex-militar, Jair Bolsonaro, mesmo que noutras épocas, havia feito críticas ao regime militar, principalmente na icônica, “Inútil,” a mais famosa canção do Ultraje e que pode ser interpretada de formas diferentes, até hoje.
Pois bem, se sua banda preferida está sendo usada para justificar ideologias políticas, e isso esta te incomodando, vou dar uma dica, estude e entenda a história da música; a história da banda que você gosta. Quando você for questionado, em alguma conversa de boteco ou alguma coisa assim, mostre que você realmente conhece a história da banda e que isso não importa. E sabe como você se informa sobre isso? Assinando o podcast “Clube da Música Autoral e nutrindo seus momentos com muita música e informação! Olha que merchan…
Bom, acho que acabei falando mais do que devia, mas é porquê, o tema é muito abrangente e esse com certeza, será o maior podcast do Clube. Se ouviu até aqui, muito obrigado. Não deixe de acompanhar o Clube nas redes sociais; por lá, eu completo as informações que foram narradas aqui e é por lá também, que você, pode mandar um feedback e isso, faz toda a diferença. Cada vez que você comenta, elogia ou mesmo critica, um novo episódio do Clube, você está me ajudando a moldá-lo, a melhorá-lo.
Mas, se quiser ajudar de forma mais ativa, seja um sócio do Clube e apoie essa missão. Acesse: clubedamusicaautoral.com.br/assine e conheça os planos de assinatura, e os prêmios que você recebe em troca do seu apoio.
Para finalizar, queria dizer, que política, tem tudo a ver com música sim. Não existe limites na arte; as polêmicas políticas, não podem ser desprezadas, apenas porque você não concorda com elas, entendeu? Se o artista é motivado pelo conceito político, isso não vai fazer da obra dele, menos importante, simplesmente, porque você não concorda com ele. Saber identificar a abrangência daquela obra, é pra poucos.
O respeito e a empatia, são alguns dos pilares da nossa missão aqui no Clube, e espero ter deixado isso claro, mas volto a te provocar… se quiser questionar, faça, me questione, mas… pode ser com respeito?
No episódio 12, sobre Chico Buarque, eu faço um trocadilho provocativo no início, ao dizer que, “vale mais um episódio do Chico no ar, do que dois do Lobão voando.” Teve gente, que pegou mal. Então, fazendo justiça ao Lobão, que mudou sua posição política e deixou claro, que burro é aquele que se isola na sua opinião, ao tentar convencer os outros antes dele mesmo, eu encerro esse episódio extra, com um protesto politico, digno e justo, dessa vez, na voz de Lobão.
Meu nome, é Gilson de Lazari e sempre, sempre, será um prazer falar de música com vocês.
Hoje, falamos de música e política, mas na próxima, é só música. Até lá!
Grande Gilson, salve Cocão! excelente programa como de costume,o club é alto nível sempre,ansioso pela próxima temporada, quando citou que haverá nina Simone vish deu um brilho no olho aqui, abraços e muitas realizações!
Obrigado Rafa, sim a próxima temporada será sobre as minas.