Capa do episódio 53

Na temporada das continuações, não poderíamos deixar de contar o final da trajetória da banda de rock mais influente dos anos 90. É claro que estamos falando do “Nirvana”. E dessa vez, vamos analisar a melancólica “Heart Shaped Box”.

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Talvez fosse o verão de 1990 e Kurt Cobain, vocalista de uma banda de rock desconhecida, convidou sua namorada para tomar uns drinks e consumir uns tóxicos no seu minúsculo apartamento em Seattle. Ela topou e chamou outra amiga, Kathleen Hanna, vocalista da banda punk feminista igualmente desconhecida, Bikini Kill. Ao entrar no apartamento de Kurt, Hanna sentiu um cheiro meio estranho – sabe quando o anfitrião passa aquele “bom ar” rapidinho para desbaratinar o cheiro de chulé? Pois é… Depois de uns drinks, já chapada, Hanna pegou um canetão e começou a escrever nas paredes do apartamento bagunçado a frase “Kurt Smells Like Teen Spirit”, que traduzido fica “Kurt tem cheiro de espírito adolescente.”

Bikini Kill: Kathleen Hanna, Tobi Vail, e Kathi Wilcox

O tempo passou, Kurt largou aquela namorada, mas ficava fritando naquela frase que, além de representar um momento legal do casal, o influenciou a escrever uma música para o Nirvana, que ele batizou como “Anthem”. Mas, assim que a apresentou pra banda, o baixista Chris Novoselic lembrou que esse era o mesmo nome de uma música do Bikini Kill.

Kurt ligou para Hanna, contou que a frase o havia inspirado e por fim perguntou se ela concordava que o nome da música fosse “Smells Like Teen Spirit”. Hanna achou engraçado, pois definitivamente Kurt não havia entendido a zoeira, e disse “ah… ok, se você acha legal, pode usar o nome”. Eis que surge o título do hino de uma geração de jovens e adolescentes “Smells Like Teen Spirit”.

O que Hanna não explicou para Kurt é que “Teen Spirit” era o nome de uma marca de perfume cafona. Também, talvez nem adiantaria, porque Kurt Cobain, era um cara totalmente alheio a essas referências. Na verdade, ele, na época com 23 anos, achou que a frase era um elogio ao seu espírito revolucionário, que influenciava adolescentes.

Cá entre nós, olhando por essa vertente simplista e até inocente, tenho ainda mais certeza de que Nirvana foi um erro na história da música. Mas, “um feliz erro”. Porque, cara, como assim? Kurt Cobain, o maluco zoado do colégio, o anti-herói, o anti-sucesso, o antipopular… É um contrassenso saber que esse cara se transformou no artista mais influente da cultura pop dos anos 90, mas é verdade.

“Nevermind” foi lançado no dia 24 de setembro de 1991 e já nasceu como um sucesso de vendas, o que contrariava os ideais puritanos do Grunge. Quando o vídeo clipe chegou à MTV e quebrou todos os recordes de audiência, “Nevermind” estava vendendo 300 mil cópias por semana. O baterista Dave Grohl havia acabado de entrar na banda e estava enlouquecido:

“Eu estava na maior banda, com o maior compositor da minha geração e a única coisa que eu precisava fazer era fechar os olhos e tocar, como se fosse o último dia da minha vida, e foi somente isso que eu fiz.”

Porém, o sucesso, as “groupies”, a imprensa, nada daquilo combinava com o movimento que nasceu em 1981, quando uns garotos de Seattle montaram a banda mais barulhenta do pedaço e a batizaram como “Green River”. Faz tempo, hein? 1981!

Muitos consideram “Green River” os precursores do grunge. Seus ex-integrantes formaram as primeiras bandas importantes daquela geração, como “Mudhoney” e “Pearl Jam”. Mas, o Green River é notável também, porque são considerados inventores do termo Grunge; eles enviaram uma demo para um fanzine de Seattle onde apresentaram um som sujo, denso e ameaçador, que ninguém sabia como catalogar, nem eles mesmos.

Sem muita paciência para essa “falta de identidade sonora”, a galera do Fanzine os chamou de Grunges, uma gíria americana para “alguém ou algo que é repugnante”, e que também se refere a “sujeira”. Aquilo pegou e, logo, ser Grunge se tornou um reconhecimento aos bem-sucedidos. No final dos anos 80, as bandas de Seattle passaram a disputar quem era mais “sujo”.

No conceito puritano, ser Grunge não era só fazer um som barulhento e despretensioso. Grunge que era Grunge detestava as bandas “mainstream” lapidadas por gravadoras, tal como Aerosmith, Scorpions, Van Halen, etc. Isso sem falar na postura “glam rock” dos metaleiros dos anos 80. Grunge que era Grunge demonizava o sucesso, as “groupies” e qualquer tentativa suspeita de escalada ao “mainstream” era execrada.

Daí, eu te pergunto, caro ouvinte: em que se transforma o Nirvana após o estouro de “Nevermind”?

Na minha opinião, eles se tornam pop!

Inicialmente a banda foi resistente ao título e tratavam tudo na zoeira, mas a responsabilidade era imensa. O cheiro de espírito adolescente fez de Kurt Cobain um ídolo juvenil, tal qual um dia foi John Lennon, de quem Kurt era fã. Lennon sofreu as consequências da fama e Kurt seguia o mesmo caminho.

“Metade do tempo eu sou um babaca niilista. Sou sarcástico para cacete às vezes, e em outros momentos ainda sou vulnerável e sincero. É basicamente assim que as músicas surgem, como uma mistura desses dois lados, e é assim que as pessoas da minha idade são. Fico puto com as mesmas coisas que me deixavam puto alguns anos atrás. Fico puto com tudo no geral, então essas canções são sobre minha batalha com as coisas que me irritam”.

Disse Kurt Cobain, ao se mostrar incomodado com a “babação de ovo” em cima dele. Mas, quanto mais ele desprezava a imprensa e os fãs, mais eles se identificavam com o espírito anti-herói. Kurt definitivamente não tinha estrutura psicológica para lidar com aquilo… Na sua adolescência ele chegou a morar debaixo da ponte. E é sobre isso que fala a canção “Something In The Way”.

Que reviravolta… o mesmo cara que agonizava debaixo de uma ponte sem apoio familiar, estava rico e famoso, tendo sua atenção disputada até pelo vocalista do Guns’n Roses, que nessa época ainda surfava no sucesso do disco “Appetaite for Destruction”. Apesar de os Grunges o detestarem, Axl Rose parecia não entender nada daquilo e deu a maior força pro Nirvana no começo da carreira, sabia? Ele até aparece com um boné onde está escrito o nome da banda no clipe de “Don’t Cry”… Mas, Kurt Cobain detestava o estilo de vida “posudo” de Axl e a rivalidade entre os dois começou após o lançamento de “Nevermind”, quando o Nirvana estava lotando todos os Clubes dos EUA.

Axl Rose com o boné polêmico

Danny Goldberg era o empresário da banda. Em seu novo livro, ele contou sobre a vez que Kurt saiu de fininho pela porta dos fundos de uma casa de show só para evitar encontrar com Axl Rose, que estava junto com o presidente da gravadora. O vocalista do Guns teria ficado super ofendido e a partir daí começa a rusga. É interessante, porque isso chegou aqui ao Brasil. Eu mesmo fui da turma dos punks, do Nirvana, andava com a camiseta rasgada, cabelo sebento… enquanto a galera mais polida gostava de Guns N’Roses e Aerosmith. Confesso que até hoje, sem nenhum motivo justificável, ainda sustento um certo desprezo pelo Guns’n Roses. Mas vou melhorar isso, prometo.

Ok, shows lotados, aparições na MTV a cada meia hora e, além dos tietes anônimos, até os famosos estavam tentando pegar carona no sucesso do Nirvana. O baixista Chris Novoselic era um cara bem de boa, apesar do estilo desengonçado no palco devido aos seus dois metros de altura. Ele conseguia tirar tudo de letra. Dave Grohl estava no lugar mais confortável da banda. Nenhum baterista havia se consolidado até então. Era um entra e sai de baterista sem fim. Então, ninguém esperava muito mais dele, apenas que tocasse com muita energia, e nisso ele nunca decepcionou.

Obviamente que Kurt Cobain, como líder, cantor, compositor e guitarrista ficou sobrecarregado e teve pouco apoio. Não digo apoio profissional de agentes empresários, pois isso ele tinha. O que faltava era apoio emocional. Ele precisava daquela namorada ponta firme, que segura a onda, sabe como é? Mas o que ele teve foi exatamente o contrário disso, porque começou namorar Courtney Love.

Courtney e Kurt


Courtney Michelle Cobain
nasceu em São Francisco, Califórnia, no dia 9 de julho de 1964. Ela é 3 anos mais velha que Kurt Cobain, mas isso não significava nada. Courtney era uma namorada completamente inconsequente. O casal se conheceu em janeiro de 1990, na discoteca Satyricon, em Portland, quando eles ainda tinham bandas de underground. Courtney era guitarrista e vocalista da banda “Hole”.

Love e Cobain começaram a namorar oficialmente só em outubro de 1991. Ela já vinha investindo, mas Cobain era evasivo, furava nos encontros, porque ele não tinha certeza se queria mesmo um relacionamento sério.

“Eu estava determinado a ser um solteirão por alguns meses […] Mas, imediatamente eu passei a gostar tanto de Courtney que era uma luta muito difícil ficar longe dela por tanto tempo” – disse Kurt, em uma entrevista quando o namoro chegou aos tabloides e após os dois serem vistos juntos usando drogas.

Courtney gravida em 1992

Daí por diante, assumiram um romance que viria a se tornar um dos mais icônicos da história da música. Os jornais da época noticiavam que a maior parte das atividades do casal eram relacionadas ao uso de drogas, especialmente heroína e LSD. Kurt não negava, mas justificava que a droga injetável era um remédio que ajudava a amenizar as dores que sentia com uma doença crônica no estômago. A verdade é que Kurt já estava viciado em heroína desde 1990.

No mesmo dia em que o Nirvana se apresentou no programa “Saturday Night Live”, em 1992, Love descobriu que ela estava grávida de Cobain. Em 24 de fevereiro de 1992, após três meses de namoro, eles se casaram na praia de Waikiki, no Havaí. Love usou um vestido de cetim e renda e Cobain usava um pijama verde, porque ele havia ficado “com preguiça de vestir um smoking”.

Semanas depois, Cobain disse “Eu não posso acreditar no quanto estou feliz. Às vezes, até me esqueço de que estou em uma banda. Eu estou tão cego pelo amor. Eu sei que soa constrangedor, mas é verdade. Eu poderia desistir da banda agora mesmo. Não importa, mas estou sob contrato”.

O casamento do ano

Muitos amigos próximos, principalmente os que conheciam o passado sinistro de Courtney, eram contra o enlace e já havia rumores de que ela queria dar um golpe do baú, influenciando as decisões de Kurt, que era um cara totalmente desapegado de suas conquistas.

A notícia de que Courtney estava grávida surgiu como uma esperança ao casal, já que Kurt estava indo para a reabilitação, e Love havia prometido parar com a heroína. Mas, a imprensa vazou a notícia de que ela teria usado drogas grávida. Foi mais do que suficiente para que os tabloides da época começassem a levantar polêmicas. Era discutido na imprensa, por exemplo, se existiria a possibilidade de a filha do casal, Francis Bean, nascer viciada em heroína, ou até mesmo se as drogas poderiam interromper a gravidez. E a situação ficaria ainda pior após o nascimento de Francis, dia 18 de agosto de 1992.

O Serviço do Departamento de Crianças de Los Angeles, onde os dois moravam, convocou o casal ao tribunal e declarou Kurt e Courtney inaptos. A justificativa foi de que o uso de drogas poderia afetar a criação da filha.

Com a filha Francis

Como consequência, a guarda da bebê, com somente duas semanas de vida, foi passada à irmã de Courtney. Isso durou apenas algumas semanas, porque o casal concordou em fazer exames de urina regularmente e em receber visitas periódicas de um assistente social. Assim, puderam recuperar a guarda da filha.

Aquele casamento estava destinado ao fracasso, muito devido ao uso de drogas e principalmente pelos constantes desentendimentos. Kurt, que era depressivo desde os 7 anos de idade, ameaçou se suicidar e induziu overdoses por diversas vezes. Isso acontecia principalmente quando ele sentia que estava prestes a ser traído por sua mulher.

Em 31 de março, ele se internou em mais uma reabilitação, mas fugiu pouco tempo depois, literalmente sumindo do mapa e não dando notícias a ninguém. Essa era a rotina pessoal do líder da maior banda dos anos 90 até então.

Com o Grunge no “mainstream”, logo a concorrência chegou, porque as gravadoras não perderam tempo e qualquer banda de rock de Seattle era prontamente contratada. O Pearl Jam, que havia lançado o icônico álbum “Ten” um mês antes de “Nevermind” e até então estava ofuscado, acabou sendo impulsionado pelo sucesso do vídeo clipe de “Smells Like Teen Spirit”, em 1992, e também chegou ao topo das paradas. Soundgarden, Temple of the Dog, Alice In Chains foram todos catapultados. A Rolling Stone apelidou a cena de Seattle como “a nova Liverpool”, em comparação com a revolução promovida pelos Beatles nos anos 60.

A indústria da moda não perdeu tempo e lançou a “moda grunge”, transformando as camisas xadrez e calças rasgadas em grife. Os críticos afirmavam que o grunge era uma moda passageira, e pode até ter sido, mas o fato é que, desde que a mídia descobriu os hippies nos anos 60, esse era o maior movimento comportamental e estético desde então. Essa “hype” da mídia popularizou o termo “grunge” e fez os membros puritanos da cena de Seattle começarem a se referir como “a palavra G”, numa isolada tentativa de não se misturar com a distorção do estilo. Mas, como eu já disse aqui, foi em vão. O Grunge ficou Pop.

E, não se esqueça, Kurt Cobain e seus amigos do Nirvana foram os culpados disso tudo… “Eles destruíram o Grunge”, diziam os radicais. Alheio a tudo nisso, completamente viciado, Kurt insistia em repetir a frase “Famoso é a última coisa que eu queria ser”. O Pearl Jam também sentiu o peso do sucesso, com grande parte da atenção da mídia recaindo sobre o vocalista Eddie Vedder. Aquilo foi loucura demais, porque movimentava milhares de dólares. Inicialmente, sem imaginar o sucesso que iriam alcançar, a banda tinha decidido dividir os royalties igualmente, mesmo que Kurt tivesse escrito sozinho a maioria das músicas. Pouco tempo depois, o vocalista mudou de ideia e quis alterar a divisão para levar a maior parcela dos lucros. Grohl e Novoselic não se opuseram ao pedido de Cobain, mas pouco tempo depois o vocalista propôs que o acordo fosse retroativo ao lançamento de Nevermind, que era exatamente onde estavam os grandes lucros. Daí os desentendimentos entre os integrantes foi inevitável. Por pouco o Nirvana não acabou nessa época. Mesmo com tantos altos e baixos, eles ainda conseguiram eternizar momentos. Em meio a rumores de que o Nirvana estava se separando devido à saúde de Cobain, ocorreu o show no “Reading Festival”, na Inglaterra, considerado pela imprensa como um dos shows mais memoráveis da carreira do grupo.

 

A gravadora, os chefões, por sua vez, não estavam nem aí pra essas picuinhas. Eles queriam era vender discos e aproveitar a boa fase. O próximo disco do Nirvana deveria ter sido lançado no final de 1992, mas devido ao descontrole, acabou sendo adiado… Como eu sempre digo, não basta ter talento, tem que ter sorte e dar lucro… Então, o Nirvana foi convidado para se apresentar no MTV Vídeo Music Awards daquele ano. Eles queriam tocar a música nova, “Rape me”, que significa “estupre-me”, mas a emissora vetou. Porém, assim que o apresentador anuncia o Nirvana, veja o que Cobain faz…

Os organizadores, que estavam ao vivo, quase chamaram os comerciais. Foi um susto daqueles. Por fim, tocaram “Lithium”. Nessa cerimônia, a banda recebeu vários prêmios, entre eles “Melhor Vídeo Clipe Alternativo” e “Artista Revelação”. “Rape me” foi censurada pela MTV, mas era uma música inevitável e precedia o próximo lançamento da banda, que é simplesmente o meu álbum preferido “In Utero”.

“In Utero” foi lançado no dia 14 de setembro de 1993, quase um ano depois do cronograma da gravadora. A censura imposta pela MTV fez “Rape me” rapidamente se tornar uma das principais canções do novo disco. Na letra que Cobain escreveu nos intervalos de mixagem de “Nevermind” ele diz “Estupre-me, estupre-me, meu amigo. Estupre-me, novamente”

Kurt Cobain concebeu “Rape Me” como uma canção anti-estupro. Mas existe outra versão de que “Rape me” simboliza o desgosto de Kurt Cobain quanto à cobertura da mídia em relação a sua vida pessoal, pois ele se sentia violado, “estuprado”.

Antes de darmos um giro pelas faixas de “In Utero” e abrilhantar a nossa playlist, quero ler para vocês o pronunciamento que o ex-baterista Dave Grohl fez sobre esse disco recentemente:

Dave Grohl

“‘Nevermind’ foi intencional; por mais que qualquer revisionista possa dizer que foi uma versão inventada do Nirvana, não foi: nós fomos lá para fazer aquele disco, ensaiamos horas e horas e horas, dia após dia, para chegar a ‘Nevermind’. Mas ‘In Utero’ era tão diferente. Não houve nenhum processo trabalhoso, foi apenas… bleurgh, simplesmente saiu, como um expurgo, e foi tão puro e natural.

E de ambas as coisas estou muito orgulhoso. O exercício estruturado de fazer um álbum como ‘Nevermind’ versus o expurgo imprudente de fazer um álbum como ‘In Utero’. Se você conseguir fazer um desses álbuns durante sua vida, terá sorte. Temos dois em sequência, e isso é incrível.

Obviamente, ‘In Utero’ foi uma resposta direta ao sucesso e ao som de ‘Nevermind’. Nós apenas nos empurramos na outra direção, tipo, ‘Ah, sério, é disso que você gosta? Bem, aqui está o que vamos fazer agora!’. Mas é um álbum difícil de ouvir do começo ao fim para mim. Por ser tão real, e por ser uma representação tão precisa da banda na época, traz de volta outras memórias, faz minha pele ficar arrepiada.”

“In Utero” abre com a faixa “Serve the Servants”. Essa é uma das canções mais autobiográficas de Kurt. Ele fala de sua infância, da separação traumática de seus pais e até passa um pano para sua esposa doidona que era chamada de bruxa. “Serve the Servants” é o mais puro creme do grunge, sujo e jocoso…

Na segunda faixa ouvimos a impactante “Scentless Apprentice” e fica claro que Kurt Cobain quer soar irritante. Ele quer incomodar. Tem algo ali que precisa ser expelido. Na época em que eu ouvi essa música eu pensei “Caralho… que porra é essa, mano?!”.

Perturbador, né? Esta música foi inspirada no romance “Perfume”, que fala sobre um homem nascido com um olfato incrível, mas sem cheiro próprio. A música surgiu de uma ideia de arranjo de Dave Grohl. Kurt disse que no começo achou ruim, mas não quis ferir os sentimentos do baterista.

Pulando “Rape me”, que já comentei, temos a faixa “Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seattle”. Frances Farmer foi uma atriz que atuou em vários filmes populares nos anos 30 e 40, mas desenvolveu uma reputação de ser muito difícil no set. Em 1942 ela foi presa por dirigir embriagada e cometeu o erro de ir para o México, o que violou sua liberdade condicional. Quando ela voltou, ela foi colocada em uma instituição onde sofreu tratamentos de choque e uma lobotomia. Baita história doida… Outro detalhe é o que a filha de Kurt também se chama Frances, mas não por causa dessa Frances e, sim, por Frances McKee, do “The Vaselines”, uma banda punk escocesa do “início” dos anos 90. (eu falei do fim dos anos 90)

“Dumb” é a sexta faixa de “In Utero”. Para os fãs não tinha nada de inédito nessa música, porque ela já circulava nas “demo tapes” da banda há um ano, desde o Reading Festival. Isso ficou claro quando o público começou a cantar junto no show de lançamento. “Dumb” fala sobre a importância de ser uma pessoa alheia aos problemas do mundo e sobre os pequenos prazeres simples e bobos da vida.

Em “Very Ape”, Kurt deixa claro que preferia sempre estar entre mulheres a homens, fazendo um comparativo com primatas. Existe também um mito de que essa música se refere diretamente a uma atitude machista do público argentino, quando uma multidão enfurecida atacou a banda “Calamity Jane”, formada por mulheres, que abria o show do Nirvana em 1992 na Argentina.

Em “Milk It”, Cobain diz que é seu próprio parasita “Eu não preciso de um hospedeiro para viver, Nós nos alimentamos uns dos outros e podemos dividir nossas endorfinas”. Essa música faz parte do contexto de “In Utero”, que explora temas médicos. De certa forma, também parece ser sobre o amor; aquele amor doente entre Cobain e Love.

“Pennyroyal Tea” talvez seja uma das mais melancólicas e profundas do álbum. O chá de poejo que Cobain cita na letra pode induzir um aborto quando bebido em grandes quantidades. Eu entendo essa música como uma conversa entre mãe e filho, e ele, na posição de feto, desejando ser abortado. O convite para um chá é para que sua mãe o mate… Pesado!

“Radio Friendly Unit Shifter” é a décima faixa de “In Utero”. De acordo com Kurt Cobain, essa música é uma música descartável – apenas um monte de linhas de poesia aleatórias jogadas juntas. O título original da música era “Four Month Media Blackout” (quatro meses de apagão na mídia), uma referência ao final de 1991 e 1992, quando “Smells Like Teen Spirit” estava nas paradas. Essa também foi a música de abertura dos últimos shows do Nirvana entre 1993 e 94.

“Tourett’s” é uma música de apenas 92 segundos de duração, com uma mistura de lamentos pouco compreensíveis, guitarras sobrecarregadas e bateria pulsantes. A única letra completamente compreensível é no final, com Kurt Cobain gritando “Cold Heart”. Coração gelado. Já o título se refere à síndrome de Tourett’s, um distúrbio neurológico associado a tiques como piscar, fazer caretas, fungar e limpar a garganta.

E a décima segunda música, que fecha “In Utero”, é essa beleza aí, “All Apologies”. Kurt Cobain raramente falava sobre essa música, apenas disse que era dedicada à sua esposa, Courtney Love, e à filha, Francis Bean. A música trata de tudo o que se esperava dele e das mudanças pelas quais passou, como um pedido de desculpas.

Aberdeen, em Washington, o local onde a banda se formou, é um dos lugares mais nublados dos Estados Unidos e, segundo Cobain, um dos menos receptivos. Ele menciona o sol nesta música, que refletia seu desejo de estar em outro lugar.

Em algumas versões europeias do álbum, há uma música escondida 20 minutos após o término de “All Apologies”, chamada “Gallons Of Rubbing Alcohol Flow Through The Strip”. Essa música é uma das poucas em que Kurt canta abertamente sobre o uso de drogas. Em primeiro lugar, o título da música revela isso. Galões de álcool fluem pela tira… usuários de heroína limpam agulhas com álcool para higienizar e matar doenças. O primeiro verso -‘”Dói quando você tem que apertar aquela coisinha chata.” Um fim de disco profético.

Quando o Nirvana gravou “In Utero” em fevereiro de 1993, eles queriam fazer um álbum cru e despojado, algo que os levasse de volta às suas raízes contrariando quem gostou do polido e pop “Nevermind”. No entanto, a banda sucumbiu à pressão e acabou fazendo mixagens menos indigestas. Se você acha esse disco ácido, saiba que ele era muito pior.

O crítico da Rolling Stone, David Fricke, deu ao álbum quatro e meio de cinco estrelas e escreveu a crítica mais icônica do álbum: “In Utero é um monte de coisas – brilhante, corrosivo, enfurecido e pensativo, a maioria delas de uma vez só. Mas, mais do que qualquer coisa, é um triunfo da vontade.”

“In Utero” é como Campari, só a primeira dose desce um pouco amarga, depois vai que é uma beleza. Cobain inicialmente queria que o nome do álbum fosse “I Hate Myself and I Want to Die”, que quer dizer “eu me odeio e quero morrer”. Na época, ele usava essa frase como uma resposta sempre que alguém lhe perguntava como ele estava. Chris Novoselic convenceu Cobain a alterar o título e “In Utero” era o nome de um poema escrito por Courtney Love.

Robert Fisher desenhou a capa e lembra que apenas seguia as orientações de Cobain. A capa do álbum é uma imagem de uma manequim transparente anatômica, com asas de anjo sobrepostas. Cobain criou a montagem na capa traseira, que ele descreveu como “Sexo e mulher e In Utero e vaginas e nascimento e morte”, que consiste em modelos de fetos e partes do corpo deitadas em uma cama de orquídeas e lírios. A montagem tinha sido criada no chão da sala de estar de Cobain e foi fotografada por Charles Peterson.

Era tudo tão estranho, mas ao mesmo tempo muito sincero… Podemos analisar que em “Nevermind” Kurt Cobain levou a banda para o “mainstream”, mas em “In Untero” ele forçou o “mainstream” a vir para o Nirvana.

Courtney Love havia dado a Kurt Cobain uma caixa em formato de coração, com algumas peculiaridades em seu interior. Suspeita-se que até a droga preferida do casal estivesse lá. Esse gesto inspirou o título dessa canção, “Caixa Em Forma de Coração” – “Heart-Shaped Box”.

Nem toda canção do Nirvana pode ser explicada observando as inspirações de Cobain. Por exemplo, o que ele quis dizer quando ele cantou esta parte da letra: “Eu estive trancado dentro de sua caixa em forma de coração há semanas / Eu fui arrastado para a sua armadilha de piche magnético / Eu gostaria de poder comer o seu câncer quando você ficar preta”.

Alguns fãs pensam que a canção é apenas uma música “de amor”, mas o diretor do videoclipe de “Heart-Shaped Box”, Anton Corbijn, não teve uma interpretação definitiva da música. No entanto, ele sentiu que poderia refletir alguns aspectos da vida pessoal de Cobain, incluindo o seu relacionamento com Courtney Love.

Não tenho muita certeza… Nunca cheguei ao fundo disso, sabe? Alguma ideia sobre o câncer na sociedade, assim como sobre o câncer organicamente falando, mas eu não sei… Quando gravamos o videoclipe, sendo sincero, não estava realmente claro para mim o que Kurt Cobain pessoalmente tinha em mente sobre as letras dessa música. Havia coisas absolutamente pessoais, talvez para lidar com as drogas, ou talvez para lidar com Courtney Love.” –respondeu Anton Corbijn em uma entrevista.

Daí já se percebe que desvendar a mensagem por trás de uma música, cujo significado nem sequer o diretor do videoclipe sabia ao certo, não é tarefa fácil. Mas acho que todos concordamos que o ponto inicial é Courtney Love.

“Heart-Shaped Box” foi lançada como primeiro single do álbum “In Utero”, chegando às lojas dia 12 de agosto de 1993. O Nirvana era a maior banda do mundo e estava prestes a lançar um dos discos mais aguardados da década. Então, a expectativa pela sequência de “Nevermind” era grande.

O álbum “In Utero” e a música “Heart-Shaped Box” traziam informações sobre a obsessão de Kurt Cobain pelas partes do corpo humano. Repare quando ele canta: “Jogue o seu cordão umbilical / Assim eu consigo escalar de volta”; fala sobre doenças, o Câncer que ele desejava comer, e com sarcasmo, que era a sua marca registrada, Kurt diz: “Para sempre em dívida com o seu inestimável conselho”.

Steve Albini

Quem deu esse conselho? Escalar de volta o seu cordão umbilical simboliza o regresso ao nascimento, ou seja, à volta ao útero, assim chegamos ao título do álbum. Mas quem lhe deu esse conselho? Courtney já até disse em entrevistas que o tal cordão umbilical que Kurt queria escalar era o dela.

Antes de ser gravada pelo produtor Steve Albini e de ter sido remixada por Scott Litt, aversão original da música apresentava um solo de guitarra que, segundo o baixista Chris Novoselic, parecia com o som de “um maldito aborto acertando o chão”.

Suspeita-se que esse solo, ao qual o baixista se refere, é o que está na demo que foi gravada no Rio de Janeiro em 1993. Ouve só:

Os solos indigestos, barulhentos e caóticos que encontramos nesse disco eram incentivados pelo produtor Steve Albini. Ao lado de Cobain, eles decidiram que essa seria uma forma de não deixar as músicas comerciais de forma alguma. Tanto que Steve abriu mão dos royalties desse disco, recebendo a quantia de 100 mil dólares pela produção. Os solos de “In Utero” seriam o contrário de “Nevermind”, cujos solos são melódicos e controlados. Chris Novoselic foi voto vencido na maioria das vezes, mas em “Heart-Shaped Box” ele conseguiu controlar um pouco da “disgracera” da dupla e o solo final ficou assim.

Chris Novoselic

Não sei se você se atentou, mas é isso mesmo que eu falei anteriormente: Nirvana veio para o Brasil poucos meses antes de finalizarem “In Utero” e meteram o terror! Zoaram ao máximo, mas também gravaram a demo de “In Utero” no estúdio B, da BMG Ariola, e participaram de dois shows no Hollywood Rock, um em São Paulo e outro no Rio. Nesse intervalo, ficaram por aí, criando histórias de bastidores que até hoje são cultuadas. Aliás, o show em São Paulo é conhecido como o pior show do Nirvana, e o João Gordo do “Ratos de Porão” afirma que a culpa é dele, pois “envenenou” as ideias dos membros do Nirvana, metendo o pau nas marcas patrocinadoras do festival. Cara, esse show foi caótico.

100 mil pessoas em silêncio, assistindo ao que mais parecia um ensaio ruim… Mas, voltando ao tema, Kurt Cobain começou a escrever “Heart-Shaped Box” no início de 1992. Abandonou o projeto, retomando quando ele e sua esposa, Courtney Love, se mudaram para uma casa em Hollywood Hills. Love disse que ouviu escondida Kurt trabalhando no riff dessa música e achou sensacional. Daí ela perguntou pra ele se poderia usar o riff para uma de suas músicas no “Hole”. Kurt mandou ela se foder e fechou a porta.

Originalmente a música se chamava “Heart-Shaped Coffin”, que fazia referência não a uma caixa e sim a um caixão. Cobain contou com a ajuda da banda para finalizar a música. Tocando juntos, perceberam o quanto era boa e representava o álbum.

Cobain disse que o refrão de “Hey / Wait / I’ve got a new complaint” foi um exemplo de como ele foi percebido pela mídia. e disse que a música foi inspirada em documentários sobre crianças com câncer. Quem revelou essa curiosidade foi Charles Cross, em uma biografia sobre Kurt Cobain, onde considerou a frase “Eu queria poder comer seu câncer quando você ficar preto” como a declaração de amor mais estranha de todos os tempos.

Dizem que a composição de “Heart-Shaped Box” foi finalizada no Brasil, mas a versão final foi gravada um mês depois, em fevereiro de 1993, em Cannon Falls, Minnesota. Antes do lançamento do álbum, a faixa foi remixada por Scott Litt e essa é a versão que conhecemos.

“In Utero” foi sucesso. Não é o tipo de disco que alavanca bandas, mas “sucesso” é subjetivo quando falamos de Nirvana. Um mês depois, o Nirvana gravou o Acústico MTV em Nova York, que veio a se tornar um disco póstumo, porque foi lançado após o fim do Nirvana e a despedida de seu vocalista. Isso porque as neuroses de Kurt, que o levaram à morte, haviam se agravado durante a turnê de divulgação de “In Utero”. É aí o início do fim.

A turnê europeia do Nirvana foi paralisada na Alemanha. Kurt foi diagnosticado com bronquite e laringite. Ele viajou para Roma e lá se encontrou com sua esposa. Na manhã seguinte, quando Love acorda, percebe que Cobain teve uma overdose após misturar champanhe e flunitrazepam. Ele foi imediatamente levado para o hospital e passou o resto do dia inconsciente. Após cinco dias, Cobain foi liberado e voltou para Seattle. Love disse que esse incidente não foi a primeira tentativa de suicídio de Cobain.

No dia 18 de março de 1994, ela telefona para a polícia para avisar que Cobain era um suicida e que tinha se trancado em um quarto com uma arma. A polícia chegou rapidamente e confiscou várias armas, uma garrafa e pílulas de Cobain, mas ele insistia que não era um suicida e que tinha se trancado no quarto para esconder-se de Love, que o estava ameaçando. Interrogada pela polícia, ela desconversou e amenizou a situação.

Love estava decidida a internar Kurt. Ela mobilizou amigos, executivos da gravadora, e até aproximou um amigo íntimo de Kurt do passado, Dylan Carlson, o cara que vendeu a Cobain o rifle usado em seu suicídio. A intervenção de Courtney não teve sucesso. Pelo contrário. Cobain teve uma explosão de raiva e insultou os amigos, que tentavam convencê-lo a se internar. Quando a raiva passou, ao fim do dia, ele concordou em passar pelo programa de desintoxicação.

Cobain chegou ao Centro de Recuperação Exodus, em Los Angeles, Califórnia, no dia 30 de março e estava de boa. Passou o dia conversando com médicos e conselheiros sobre o seu vício e problemas pessoais. Ele brincou com sua filha Frances (pela última vez) e até conversou com seu pai (pela última vez). Cobain não teve nenhuma recaída, mas na noite seguinte, saiu para fumar um cigarro e, sabe-se lá como, pulou um muro de seis metros de altura.

 

Com um cartão de créditos, ele pegou um táxi até o aeroporto e voou de volta para Seattle. Curiosidade: nesse voo ele se sentou ao lado de Duff McKagan, do Guns n’Roses. O baixista diria mais tarde que, conversando com Kurt, ele notou “que algo estava errado.” Ao longo dos dias 2 e 3 de abril, Cobain foi visto em diversas localidades ao redor de Seattle, mas a maioria de seus amigos e familiares não tinha conhecimento de seu paradeiro. Em 3 de abril, Love contratou um detetive privado, Tom Grant. Dias depois surgiram os primeiros rumores de que o Nirvana iria se separar porque, devido ao desaparecimento de Kurt, os empresários anunciaram a desistência do Lollapalooza.

O cara literalmente desapareceu. Ninguém tinha notícia de Kurt Cobain, até o dia 8 de abril, quando ele é encontrado morto em sua casa, em Washington.

Um eletricista que tinha chegado para instalar um sistema de segurança o viu deitado e, apesar de ter notado uma pequena quantidade de sangue que saía da orelha de Cobain, inicialmente acreditava que ele estava apenas dormindo, até notar a arma apontada para o queixo.

Uma alta concentração de heroína e vestígios de Valium também foram identificados na autópsia. E descobriram que o corpo de Cobain esteve lá por dias. O relatório do legista estimou que ele faleceu no dia 5 de abril, ou seja, três dias antes. Kurt Cobain faz parte do fatídico “Clube dos 27”.

Em seu velório, Courtney Love leu trechos do bilhete suicida de Cobain para a multidão, chorando e amaldiçoando Cobain. Depois, distribuiu algumas roupas dele para os que ainda permaneciam no local. Dave Grohl disse já imaginar que Cobain iria morrer cedo. “Às vezes você apenas não pode salvar alguém de si” e, “em alguns aspectos, você deve se preparar emocionalmente para que isso seja uma realidade.”

Frances Bean Cobain

Frances Bean, a filha do casal, espalhou as cinzas de Cobain em um riacho em Olympia, a cidade onde ele havia escrito a maioria de suas canções. Em 2017, Frances, que raramente fala sobre o pai, fez a seguinte homenagem:

“Hoje seria seu aniversário de 50 anos. Te amamos e sentimos sua falta. Obrigada por ter me dado o dom da vida. Para sempre sua filha, Frances Bean Cobain.”

Porra, Kurt Cobain morreu… Eu estava só descobrindo as primeiras camadas da música. Lembro que fiquei bastante chateado e eu seria vago se não comentasse sobre algumas teorias em torno da morte do líder do Nirvana.

O principal proponente da existência de uma conspiração em torno da morte de Cobain é Tom Grant, o investigador particular contratado por Courtney Love após o desaparecimento de Cobain da reabilitação. Grant ainda estava em contato com Love quando o corpo de Cobain foi encontrado e, pela sua reação, ele acredita que se trata de um homicídio.

Existem algumas peças-chave para a teoria de Grant como o Cartão de Crédito.

Love disse a Grant para cancelar o cartão de crédito de seu marido, a fim de descobrir onde ele estava e trazê-lo de volta para a reabilitação. No entanto, Grant não entendia por que ela iria querer cancelar o cartão de crédito, afinal, seria mais fácil localizá-lo se ele ainda estivesse ativo. Depois da morte de Cobain, relatórios do banco mostraram que uma pessoa tentou passar o cartão. No entanto, outras análises posteriormente revelaram xque isso se deveu a um problema em seu sistema.

Níveis de heroína na corrente sanguínea

O nível de heroína no sangue do Kurt era de 1,52 mgs por litro. Três vezes mais que uma dose letal, mesmo para um grande viciado em heroína. Grant argumenta que Cobain não poderia ter injetado em si mesmo tal dose e ainda ser capaz de puxar o gatilho. Também não acredita que Cobain tenha sido morto pela dose de heroína. Ele sugere que a droga foi usada para incapacitá-lo, antes do tiro de espingarda final ser administrado pelo agressor.

Nota de suicídio

Enquanto trabalhava para Courtney Love, Grant teve acesso ao bilhete suicida de Kurt, e usou sua máquina de fax para fazer uma fotocópia. Depois de estudar a carta, Grant avaliou que era, sim, uma carta escrita por Cobain. Mas, ao invés de sua morte, a carta anunciava a sua intenção de deixar Courtney Love. Segundo o detetive, apenas algumas linhas podem ser conectadas ao suicídio e não a carta toda. Kurt começa a carta direcionando-a para Boddah, seu amigo imaginário na infância, e é bem intrigante. No site do Clube você pode conferir a carta na íntegra.

Após ser analisada por vários profissionais, alguns peritos concluíram que a carta foi escrita inteiramente pelas mãos de Cobain, mas outros tiveram resultados inconclusivos.

Vale lembrar também que o primeiro a sugerir um possível homicídio, foi o jornalista Richard Lee, após ter acesso ao local da ocorrência e notar a quase absoluta ausência de sangue. Uma discrepância, segundo ele, principalmente por se tratar de um tiro a queima roupa.

Apesar de todas essas teorias, policiais de Seattle e até o empresário do Nirvana da época desmentiram a conspiração e mantiveram a morte como suicídio. A família de Cobain também aceitou esta versão da história.

Mesmo entre os que rejeitam a teoria de homicídio, muitos afirmavam que as atitudes de Courtney Love levaram Cobain a tirar sua própria vida. Em uma das poucas vezes que Courtney falou sobre a “teoria” foi durante uma entrevista em 1998. A resposta foi em tom cômico: ela disse que “adorava” a teoria e a achava “genial”.

O fato é que o comportamento provocativo de Courtney Love elevava seu ibope e, após a morte do marido, ela foi alçada ao sucesso, não só na música, mas também nas telonas, tendo contracenado ao lado de grandes estrelas de Hollywood, e foi até indicada ao Globo de Ouro.

Quanto ao Nirvana, seria impossível manter esse projeto musical sem ele. Então, a banda morreu junto com Kurt Cobain. Posteriormente Chris Novoselic ingressou em algumas bandas sem grande repercussão na mídia e encontrou-se na participação política, integrando grupos e conselhos com ênfase na reforma eleitoral nos Estados Unidos. Já Dave Grohl, o cara que só precisava esmurrar sua bateria como se não houvesse amanhã, após o baque da morte do amigo, montou sua própria banda e, no futuro, viria a se tornar o cara mais legal do rock. Mas, isso já é assunto para outro episódio.

Foi um prazer falar de música com você e até a próxima!

Gilson de Lazari

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Roteiro e locução: Gilson de Lazari

Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni

Arte da vitrine: Patrick Lima

Edição de áudio: Rogério Silva

 

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