Uma tragédia que virou notícia, uma notícia que virou música, uma música que virou videoclipe, um videoclipe que virou polêmica.
Conheça a história de “Jeremy,” uma das canções mais impactantes da história do Grunge.
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 56,2 MB
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Pois é, mãe. Não basta ter uma guitarra elétrica. Por muito tempo isso foi tudo o que o Eddie Vedder queria ter. Mas, logo, a guitarra o fez descobrir uma sensibilidade anormal, fora dos padrões. Tanto que bastou uma pequena nota de jornal anunciando o suicídio de um adolescente, para Eddie Vedder escrever uma das melhores canções dos anos 90.
No episódio 43 do Clube da Música Autoral iremos discorrer sobre a canção Jeremy, e também introduzir a história de seus autores, o Pearl Jam!
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Recados dados, vamos começar, Cocão, porque hoje tem muita história para ser contada. Pearl Jam já era um pedido antigo de alguns sócios. E não é só “Jeremy” que tem uma história triste, mas a banda que foi o embrião do Pearl Jam também. Vocês já ouviram falar do Temple of the Dog, né? Então, é por aí que vamos começar a nossa história.
O dia 19 de março de 1990 é considerado por muitos saudosistas do estilo grunge como um marco na revolução musical que ocorreu nos anos 90. Nessa data morreu o vocalista Andrew Wood, vítima de uma overdose de heroína. Você talvez não o conheça, mas alguns teóricos dizem que se Andrew não tivesse falecido, ele teria ofuscado toda a cena emergente de Seattle, pois era, de longe, o filho da mãe mais talentoso. Andrew Wood morreu poucos dias antes do lançamento do primeiro disco da sua banda, a Mother Love Bone.
Logo após a morte de Wood, seu melhor amigo e colega de quarto Chris Cornell, na época vocalista do Soundgarden, em luto profundo, escreveu duas canções em homenagem ao amigo falecido. Em meio à comoção, Cornell conversou com os ex-integrantes do Mother Love Bone, Stone Gossard e Jeff Ament, e rascunharam a possibilidade de lançarem essas músicas. Como a ideia evoluiu, convidaram o baterista Matt Cameron, do Soungarden, e os desconhecidos Mike McCready para a guitarra e Eddie Vedder para o vocal de apoio.
“Seguinte, Andrew Wood não pode ser esquecido. Tenho algumas músicas e vamos gravar um disco em homenagem a ele”. Foi o que disse Chris Cornell e, assim, nasceu o Temple of the Dog, em 1990. Uma banda de um disco só, montada exclusivamente para esse tributo. No dia 16 de abril de 1991, pela A&M Records, mesma gravadora do Soundgarden, o álbum foi lançado e, por incrível que pareça, passou desapercebido, mesmo contendo a excelente “Hunger Strike”, um dueto arrepiante entre Chris Cornell e Eddie Vedder que vocês precisam lembrar… Deixa tocar, Cocão.
A voz rasgada é do Chris Cornell e a voz, digamos, anasalada, é do Eddie Vedder, que estava chegando a Seattle apadrinhado pela galera e, por isso, participou do disco. Como eu sempre digo: não basta talento. O Temple of the Dog gravou um puta disco, mas faltou sorte. Após o lançamento, Chris Cornell voltou para o Soundgarden e, no mesmo ano, lançaram o bem sucedido Badmotorfinger, o disco que revelou o Soundgarden. Mas, e o resto da galera? Bom, eles tinham que sair do luto e trabalhar, né? E foi o que fizeram. É aí que surge o Pearl Jam. Mas, essa história não é tão simples assim e, para podermos contá-la, com respeito e sem ser vago, vamos voltar essa fita…
Esse som aí se chama Swallow my Pride e foi lançado em 1985 pela banda Green River. Eles são os precursores do grunge. Tanto que deles surgiram o Mother Love Bone (banda do Andrew Wood que morreu de overdose), o Mudhoney e, também, consequentemente, o Pearl Jam… Calma que eu explico…
Mark Arm era o vocalista e Steve Turner um dos guitarristas. Eles não estavam se dando bem com o resto da banda e saíram do Green River para montar o Mudhoney. Beleza! Já os guitarristas Stone Gossard e Bruce Fairweather, junto com o baixista Jeff Ament, se juntaram para montar o Mother Love Bone… Assim, em 1988, chega ao fim a promissora banda Green River. Hoje é até cômico analisar o motivo desse fim… Acontece que grande parte dos conflitos surgiu por não entenderem o novo estilo que eles estavam criando: uma parte da banda preferia seguir uma sonoridade mais voltada para o punk, outros queriam ir para o rock alternativo, e outros queriam explorar o hard rock. O Green River só acabou porque eles não entenderam que estavam inventando o grunge. Eles não entenderam, mas o Soundgarden entendeu.
O Soundgardem é considerada a primeira banda do estilo. Eles surgiram em Seattle no fim dos anos 80. O termo grunge – que em seu sentido original significa “sujeira” ou “imundície” – descreve tanto o estilo visual (cabelo desgrenhado, roupas velhas e folgadas), que se via tanto nas bandas como nos fãs, como também define a sonoridade, com sons de guitarras saturados, vocais distorcidos, enfim, sujo e anticomercial. Essa era a lei do grunge. E tinha um cara a fim de surfar nessa onda, literalmente, porque era um surfista da Califórnia. Estou falando, claro, do Eddie Vedder.
Dono de uma voz barítono, inconfundível, seu nome é Edward Louis Severson III. Nascido em 23 de dezembro de 1964 em Chicago, Illinois, filho de Karen Lee Vedder e Edward Louis Severson Jr., seus pais se divorciaram em 1965, quando ele tinha apenas um ano, e sua mãe casou-se novamente com o advogado Peter Mueller, que o criou. O pequeno Ed cresceu achando que Mueller fosse seu pai biológico e usava seu sobrenome, Mueller.
Nessa época, seus pais cuidavam de uma casa com crianças adotivas na periferia de Illinois, mas na década de 70 se mudaram para San Diego na Califórnia. Eddie tinha três meios-irmãos e vira e mexe saíam umas tretas entre eles, em que Ed quase nunca se dava bem. Então, sua mãe, em uma tentativa de compensá-lo, resolveu lhe presentear com uma guitarra elétrica. Ed tinha 12 anos e por muito tempo isso foi tudo o que ele queria ter…
Esse som que estamos ouvindo é do The Who e está no clássico álbum “Quadrophenia”, de 1973, que foi muito importante para formar a personalidade musical de Eddie Vedder. Tempos depois, em uma entrevista, ele assumiu: “Quando eu tinha uns 15 ou 16 anos, eu me sentia completamente só. Eu estava só – exceto pela música”. Seus pais estavam se divorciando e ouvir The Who segurou a onda.
Mas, tem uma outra prática aí que curava a ansiedade adolescente de Ed: o surf. Isso era tão importante para ele que, após a separação, seus pais foram embora de San Diego, mas ele ficou, com a desculpa de concluir o ensino médio. Na verdade, ele queria mesmo era surfar, e é nessa época que ele fica sabendo que Peter Mueller não é o seu verdadeiro pai. Então, começa uma peregrinação em busca do pai verdadeiro, até descobrir que ele havia morrido alguns anos antes.
Desolado e com problemas de identidade, Ed resolve assumir o sobrenome da sua mãe, Vedder. E, assim, temos o nome com o qual ele ficaria mundialmente conhecido: Eddie Vedder
Morando sozinho, trabalhando em uma farmácia e, nas horas vagas, tocando guitarra e surfando, Eddie Vedder resolve abandonar o colégio. Preocupada, sua mãe insiste e ele resolve voltar para Chicago, onde faz um supletivo, termina o ensino médio e até ingressa em uma faculdade. Mas, Vedder havia feito uma confecção com mediterrâneo [?] e, junto à sua namorada, abandona a faculdade e volta para San Diego.
Era 1984 e a música estava ainda mais pungente na Califórnia. Eddie fazia bicos para sobreviver. Entre eles, como segurança em um hotel. Foi onde conheceu uma galera descolada e passou a integrar bandas, como Surf and Destroy e The Butts. Uma dessas bandas, chamada Indian Style, contava com Brad Wilk que, mais tarde, seria o baterista do Rage Against the Machine.
Em 1988, o funk rock era o som da Califórnia. Red Hot Chilli Peppers estava ganhando espaço, e Vedder tornou-se o vocalista de uma banda chamada Bad Radio. Dá uma ligada no som:
Reparem que Vedder, já cantava no mesmo estilo que o consagrou. Em 1990, acontece o tal momento divisor de águas que eu citei, quando o talentoso vocalista do Mother Love Bone, Andrew Wood, bate as botas. Dizem que a ansiedade por conta da expectativa da chegada às lojas do primeiro álbum fez Andrew consumir muita heroína. Esse foi o motivo da overdose. Ele ficou internado por mais de uma semana, mas não resistiu. E assim surge o Temple of the Dog. Mas, o que eu não disse ainda, é que após a morte do Andrew Wood, antes do Temple of the Dog ser formado, o baixista Jeff Ament, que é muito importante nessa história, tentou montar uma nova banda. Ele abandonou o nome Mother Love Bone e passaram a se chamar Mookie Blaylock, divulgando nos jornais e revistas o tal anúncio “banda procura vocalista”… E quem é que aparece interessado no cargo? Claro! Eddie Vedder.
Jeff Ament nasceu em Havre, Montana. Ele é o baixista do chapelão redondo, responsável por levar para o rock os baixos fretless (sem trastes) e o baixo de 12 cordas. Jeff se mudou para Seattle em 1983. Logo integrou o Green River e foi o cara que bateu de frente com Mark Arm, que queria se manter na cena independente, enquanto ele queria tentar a sorte no mainstream.
Jeff passou pelo Mother Love Bone e foi ele que manteve a galera unida após a morte de Andrew Wood. Mas, nada teria se concretizado sem o apoio incondicional do guitarrista Stone Gossard. Juntos saíram em busca de um novo vocalista. Para isso, gravaram uma fita demo instrumental e pediram ajuda para o então baterista do Red Hot Chilli Peppers, Jack Irons, que era um cara bacana e tudo mais, na esperança de que ele topasse assumir as baquetas…. Enviaram a fita para ele e, veja só… Irons não jogou na mão do vocalista do Bad Radio, por acaso Eddie Vedder, que pensou; “pô, legal, vou tentar fazer uma letra”. E, reza a lenda que Vedder foi para praia ouvindo a fita no walkman e, quando voltou do surf, havia composto simplesmente “Alive”. Gravou sua voz em cima da base e mandou de volta pros caras… Se liga nessa demo.
Aí, fudeu, né, amigos? Quando a galera de Seattle ouviu Eddie Vedder cantando “Alive” decidiram que ele precisava vir pra Seattle urgente e marcaram uma audição. Como essa era exatamente a fase de produção e gravação do tributo Temple of the Dog, Chris Cornell resolveu dar uma força para Eddie Vedder e o convidou para gravar alguns backing vocals. Logo, gravou também “Hunger Strike”.
A verdade é que Verder chegou em Seattle cheio de moral, porque não foi só “Alive”, não. Ele também havia feito “Footsteps” e “Once”. Cara, esse som é demais…
Então, dá pra entender por que o Chris Cornell e toda a galera de Seattle abriram as portas para Eddie Vedder. Ele era o cara e, animado com as promessas das gravadoras e tudo mais, resolveu se mudar para Seattle e assumir o vocal do Mookie Blaylock. Que nome estranho, né? Após o fim do Mother Love Bone e, sem um nome melhor, a rapaziada que era fã de NBA, em específico de um jogador, batizou a banda com o nome dele, Mookie Blaylock, que na época jogava no New Jersey Nets.
E a parada com o basquete era tão intensa que, desde essa época, já estava decidido que o primeiro álbum se chamaria Ten, em homenagem à camisa 10 que Blaylock usava. A primeira apresentação oficial deles com Vedder nos vocais foi no café Off Ramp, no dia 22 de outubro de 1990, e temos registro disso:
Vocês reconheceram aí o embrião de Even Flow, né? Os caras, sem dúvidas haviam escrito músicas poderosas e não demorou para assinarem com a Epic Records. Todavia, a gravadora, preocupada com questões de marca, já que Blaylock estava sendo patrocinado pela Nike, exigiu que mudassem o nome. Então, passam a se chamar Pearl Jam. Em uma entrevista, Vedder disse que o nome era uma referência à sua bisavó Pearl, que era casada com um nativo americano e tinha uma receita especial de geleia alucinógena de cactos. Mas, em uma outra entrevista para a revista Rolling Stone, em 2006, ele admitiu que aquela história era uma “mentira total”, ainda que, de fato, sua bisavó se chamasse Pearl. A verdade é que Jeff Ament sugeriu o nome “Pearl” e alguém da banda, que eles não se lembram, completou com “Jam”. E isso aconteceu após eles assistirem a um show de Neil Young, no qual ele estendia suas músicas com improvisações de 15 a 20 minutos; uma referência a jam session. É assim que surge oficialmente o Pearl Jam.
A primeira formação do Pearl Jam vinha com Eddie Vedder no vocal e Jeff Ament no baixo. Esse era o núcleo de criação da banda. Mas, também com eles desde o início estava Stone Gossard, um guitarrista de Seattle, estudante de artes e apaixonado por bandas do punk rock, que também participou do Green River, do Mother Love Bone e do Temple of the Dog.
Na outra guitarra, Mike McCready, com influências de Jimmy Hendrix e Stevie Ray Voughan. Ele havia sido apresentado por Chris Cornell para compor o projeto do Stone Temple Pilots e, após as gravações, continuou com o Pearl Jam.
Na bateria, Dave Krusen, que havia sido indicado por Jeff Ament. Ele entrou em 1990 mas, depois que as sessões de gravação de Ten haviam terminado, Krusen deixou o Pearl Jam. Em maio de 1991 foi substituído por Matt Chamberlain, que também saiu, dando lugar ao Dave Abbruzzese, que entrou para a banda e tocou os shows restantes da turnê do álbum Ten.
Em março de 1991 o Pearl Jam entrou no London Bridge Studio em Seattle para gravar Ten, que foi produzido por Rick Parashar. Muitas das canções desse disco surgiram como composições instrumentais em que Vedder acrescentou letras posteriormente e que, em comum, lidam com os seus traumas durante a separação de seus pais. Estão presentes temas como depressão, suicídio e solidão. O álbum é um tanto quanto melancólico, mas também abordou questões sociais como a falta de moradia, em “Even Flow”, e um pouco de romance em “Black”. Cara, “Black” é um hino do Pearl Jam e também está nesse álbum de estreia.
“Black” inicialmente não foi escolhida como single. A gravadora não botou fé, mas esse disco foi se transformando depois do lançamento e “Black” se tornou a terceira música mais ouvida dos Estados Unidos na categoria rock. O tema também fazia parte da fita demo instrumental e Eddie Vedder a escreveu durante a viagem da Califórnia para Seattle. Com o sucesso, a gravadora tentou lançar “Black” como single, mas a banda não permitiu, pois eram contra ações comerciais…
Ten foi oficialmente lançado em 27 de agosto de 1991. Na capa, os braços erguidos em sinal de união e carregando muita expectativa. Mas, nessa indústria da música, nem sempre basta talento… Faltou sorte e, assim como o excelente Temple of The Dog, Ten também passou desapercebido. Inacreditável, né, cara?
O crítico da Rolling Stone, David Fricke, deu ao álbum uma nota favorável, mas criticou alertando que o Pearl Jam “desliza muito drama de uns poucos acordes nadando em reverbs”. Realmente o disco foi até remixado depois de algum tempo, por causa do excesso de reverbs. A maioria dos críticos elogiou Ten, mas a revista musical britânica NME disse que o Pearl Jam estava “tentando roubar o dinheiro dos bolsos dos jovens alternativos.” E, ironicamente, Kurt Cobain, líder do Nirvana, furiosamente atacou o Pearl Jam em uma entrevista, alegando que eles eram uns vendidos comerciais, traidores do movimento grunge, argumentando que Ten não foi um verdadeiro álbum grunge, já que tinha muitos solos de guitarra.
Kurt Cobain devia estar muito louco, porque, repare na data: Ten é lançado dia 27 de agosto de 1991; um mês depois, no dia 24 de setembro, chegava às lojas o novo disco do Nirvana, por acaso o Nevermind, com o single de “Smells Like Teen Spirit” bombando na MTV, onde acusavam o Nirvana de traidores do movimento também.
O fato é que Nevermind estava além de qualquer movimento bairrista e, conforme as vendas e o interesse da audiência cresciam, as atenções eram todas direcionadas para Seattle. Até que, em janeiro de 1992, o Nirvana supera Michael Jackson. Foi uma loucura! Era a explosão do grunge! A imprensa musical passou a vasculhar cada esquina de Seattle e todas as bandas locais passaram a ter espaço na sombra de Nevermind. Entre eles, ressurgiu o desacreditado Temple of The Dog. E, como na indústria da música não basta ter talento, eis que surge a tão esperada sorte que faltava para o Pearl Jam. Em maio de 1992, Ten chega ao número 8 das paradas e, vejam que coisa, no ano seguinte, em fevereiro de 1993, superaram Nevermind.
Ten era um produto de venda constante e, dois anos depois de seu lançamento, ainda estava no topo das paradas. Em 1993 foi o oitavo álbum mais vendido nos Estados Unidos. Daí, o resto a gente sabe: o peso da popularidade acabou caindo sobre Eddie Vedder. O auge foi quando a banda recebeu quatro prêmios no MTV Vídeo Music Awards de 1993, pelo vídeo da canção “Jeremy”. Logo começaram a surgir relatos de que o Pearl Jam estava fazendo apologia ao suicídio.
Cocão, agora é hora de rolar a vinheta porque, com respeito e sem ser vago, vamos contar a história de “Jeremy”…
Tanto a canção “Jeremy” quanto o seu vídeo clipe foram inspirados em uma história real, de um estudante do ensino médio que atira em si mesmo na frente de seus colegas.
Na sexta faixa do álbum Ten havia “Jeremy”, a principal vencedora no Vídeo Music Awards de 1993, e é sensato dizer que o vídeo repercutiu mais que a música. Mas, também é necessário lembrarmos que era o auge da MTV. A música, por sua vez não registrou posição na principal parada musical americana, porque ela não foi lançada imediatamente como single comercial, mas foi a primeira colocada em paradas internacionais, como no Reino Unido, Canadá, Austrália e Brasil.
Além da aclamação comercial, “Jeremy” chegou a ser indicada ao Grammy de Melhor Canção de Rock e Melhor Performance de Hard Rock. Com todo esse sucesso e, sendo o Pearl Jam uma banda novata na indústria musical, surgiu a dúvida sobre o que as impactantes frases que compõem a letra de “Jeremy” significavam.
Eddie Vedder teria visto um artigo de uma página em um jornal. Era janeiro de 1991, época em que ele estava refinando as letras do álbum Ten. A canção “Jeremy” não estava planejada para o disco, mas foi escrita e gravada em caráter de urgência após a banda conhecer a verdadeira história desse garoto.
Jeremy Wade Delle era um tímido rapaz de 15 anos que pouco interagia com os amigos e tinha um comportamento estranho. Na prática, já sabemos como funciona, apesar de não existirem relatos sobre isso. Provavelmente Jeremy era vítima de bullying. Mas, o fato é que ele era um garoto recém chegado ao Richard High School e seus pais estavam passando por um divórcio. Inclusive havia uma disputa para decidirem quem ficaria com a guarda de Jeremy.
O dia 8 de janeiro de 1991 amanheceu como mais um dia comum em Richardson no Texas. Joseph Delle, o pai de Jeremy, o deixa em frente ao colégio, pois ele não gostava de ir com o ônibus escolar.
De cabeça baixa, Jeremy caminha pelo jardim, desviando olhares, senta no banco, abre sua mochila e retira um papel. Nele havia um desenho inacabado. Jeremy era muito talentoso e já havia conquistado prêmios por seus desenhos. Ele pega o lápis e, sem dar atenção para o que acontecia ao seu redor, começa a desenhar.
Nesse momento, cai um bilhete no seu colo. Era da sua melhor amiga, Lisa Moore. Ela pergunta se ele está bem. Os bilhetes eram a principal meio de os amigos se comunicarem e Jeremy sempre os finalizava com: “responda” ou “escreva de volta”, mas dessa vez ele assinou “até depois”.
Após tocar o sino, a professora de inglês entra na sala e, não se sabe ao certo por que, mas Jeremy demora para entrar na sala. Quando finalmente aparece, a professora pergunta por que ele estava atrasado. Ele se cala, como sempre, então ela pede que ele vá até a secretaria e justifique seu atraso antes de entrar na sala.
Envergonhado, enquanto alguns alunos riem, ele fecha a porta e vai até a secretaria, pede a autorização para assistir a aula e caminha lentamente pelo corredor em direção à sala de aula. Jeremy entra na sala de aula e, nesse momento, ele que nunca falava diz “Senhorita, eu busquei o que eu precisava”. Parado em frente aos alunos, de costas para o quadro negro, saca uma Magnum 357 que estava em sua mochila, introduz o cano em sua boca e imediatamente dispara.
O crânio de Jeremy explodiu e o sangue sujou o uniforme de alguns alunos que entraram em pânico. Foi caótico. Mas Jeremy, naquele dia, falou na sala de aula.
“Jeremy falou na aula de hoje”. É com a repetição dessa frase que Eddie Vedder construiu a música mais impactante do Pearl Jam e justificou. “abre aspas”
“A ideia veio de um pequeno parágrafo em um papel, significando que você se mata e faz um sacrifício como forma de vingança. E é só o que você vai conseguir, um parágrafo no jornal… Nada muda. O mundo continua e você se foi. A melhor vingança é viver e provar que você consegue. Seja mais forte que aquelas pessoas. E aí você poderá voltar.” Fecha aspas
Outro detalhe sobre a letra é que, em uma das estrofes, Eddie Vedder lembra de quando ele, um garoto rebelde, com seus problemas particulares, também praticava bullying e enchia o saco de um outro garoto da escola que certa vez surtou, levou uma arma para escola e atirou contra um aquário de 1.000 litros. Eddie lembra que todos condenaram o garoto surtado; ninguém quis entender o motivo de ele ter surtado. E “Jeremy”, segundo ele, era um alerta aos pais e professores que deveriam prestar mais atenção ao que seus filhos e alunos estavam fazendo.
Bem lembrado, Cocão.
A mãe de Jeremy, Wanda Crane, nunca falou publicamente sobre o ocorrido até 2018, quando concordou em dar uma entrevista. Wanda não gostou do clipe, que foi aclamado pela crítica especializada, afirmando que a cena do ator atirando na sala de aula e sujando os uniformes dos colegas é exagerada.
“O dia em que Jeremy morreu não define a sua vida. Ele era um filho, um irmão, um sobrinho, um primo, um neto, um amigo. Ele era talentoso. Eu estava trabalhando quando soube da notícia. Não acreditei na hora. Eu estava em choque. Não poderia ser meu filho. Eu iria pegá-lo na escola aquela tarde”.
Para lidar com a dor causada pela perda do filho, Wanda passou a liderar um grupo em sua igreja que apoia pessoas que estão sofrendo.
Brittany King, uma colega de classe de Jeremy e que estava presente quando tudo aconteceu, conta que todos correram para o fundo da sala com muito medo. E, sobre a música, Brittany é enfática:
“Eu fiquei com raiva por eles escreverem essa música. Eu pensei: você não sabe, não estava lá. Essa história não foi assim.”
Já a mãe do garoto preferiu não se manifestar sobre a música do Pearl Jam.
Eddie Vedder já declarou em entrevistas que não escreveu a canção com intenções comerciais e sempre pensa no garoto Jeremy quando canta.
Agora, analisando a plástica da canção, “Jeremy” é uma autêntica representante da música alternativa e, logo após o lançamento, foi categorizada como grunge. Mas, seu arranjo é inovador para o estilo, pois é impossível não destacar o baixo de 12 cordas que Jeff Ament toca. E ele disse:
“Eu já tinha uns dois pedaços de músicas que eu havia composto num violão… já tendo em mente que iria tocá-los num baixo Hamer de 12 cordas que eu acabara de comprar. Quando o baixo chegou, um dos pedaços virou “Jeremy”… Eu sugeri também um violoncelo, e aquilo se tornou uma gravação de alto nível para nós…
Jeff é o responsável pelo arranjo de Jeremy e foi ele também que compôs as linhas de guitarra da introdução e do fim. Ironicamente ele lembra que a música quase não entrou no álbum, pois tinham dúvidas se o arranjo estava eficiente, mas por fim se tornou uma das melhores do disco.
Certamente Jeff Ament fez um grande trabalho em “Jeremy”, mas a estrela que brilha absoluta, na minha humilde opinião, é a interpretação de Eddie Vedder.
Sensacional! Eddie Vedder é o cara. E, assim, vamos chegando ao fim desse episódio do Clube da Música Autoral.
Aviso que todas as músicas que você ouviu nesse episódio estarão em uma playlist que você ouve no Spotify, Deezer e YouTube [?].
Quero deixar aqui um abraço em reconhecimento aos nossos sócios diretores: Matheus Godoy, Henrique Vieira Lima, Caio Camasso, Marcelo Leonardo, Luiz Machado, Camilla Spinola, Antonio Valmir Salgado Junior, Emerson Silva Castro, João Junior Vasconcelos Santos e Diego Vinicius. Mais que sócios… Diretores do Clube da Música Autoral.
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Em breve pretendo voltar a contar mais histórias do Pearl Jam, mas se você sentiu falta de algum detalhe da banda ou da história, manda um salve pra gente. Estamos no Twitter, Facebook, Instagram e, agora, também no Telegram. É… Pois é, tem um canal do Clube por lá também… Procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse Clube.
Antes de encerrar, tem alguns detalhes sobre o vídeo de “Jeremy” que devem ser lembrados. Em 1991, Eddie Vedder conheceu o fotógrafo Chris Cuffaro e, em 92, sugeriu para a gravadora que ele dirigisse o vídeo clipe de “Jeremy”. Cuffaro havia sentido a história do garoto “Jeremy” de uma forma muito intensa, pois ele também sofrera perseguições na escola, e transformou o trabalho em uma missão. Ele queria evidenciar o quanto alguns adolescentes sofrem… E conseguiu. Aliás, na época disseram até que ele exagerou, pois a MTV censurou o clipe, em específico a parte que aparece o ator que representava Jeremy colocando a arma na boca.
Consequentemente, após esse corte, toda a história do clipe ficou meio fora do contexto, dando margem à interpretação de que Jeremy não se suicidou e, sim, que ele atirou nos colegas de classe, que na cena seguinte aparecem congelados cobertos de sangue.
O Pearl Jam ficou puto com isso e decidiu não fazer mais vídeo clipes. Uma decisão ultra radical, visto que era a época áurea dos vídeo clipes. Mas, também tem outro motivo para isso. Como é sabido, a política de armamento dos EUA acaba permitindo que certas chacinas ocorram. Em 1996, Barry Loukaitis, um estudante de 14 anos do ensino médio, atirou e matou dois alunos e um professor. Seu advogado afirmou que o garoto estava copiando Jeremy e o vídeo foi até exibido durante o julgamento. Em 1999 ocorreu o Massacre de Columbine, quando os alunos seniores Eric Harris e Dylan Klebold mataram 12 alunos e um professor. Novamente o clipe de Jeremy foi citado como uma má influência e a MTV o baniu da programação definitivamente.
Louco, né? Mas, sabe outro fato intrigante? Esse foi o primeiro trabalho do ator Trevor Wilson, o menino que interpretou Jeremy no vídeo. E ele sem dúvidas mandou muito bem, representando todo o tormento temperamental que o diretor queria passar. O vídeo atraiu muita atenção para Wilson, mas devido às controvérsias ele resolveu abandonar a carreira de ator. Sua última aparição pública foi no Vídeo Music Awards de 1993, onde se juntou à banda no palco para receber o título de Vídeo do ano. A parte trágica é que, em 2016, com 36 anos, Trevor Wilson também se suicidou.
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Agora sim, estou indo nessa. A arte de vitrine desse episódio foi feita pelo Patrick Lima, a revisão do roteiro é da Camilla Spinola e do Gus Ferroni. A edição é dele: Rogério Cocão Silva e a produção é minha, Gilson de Lazari.
Vamos acabar lembrando de uma das passagens do Pearl Jam pelo Brasil, né, Cocão?
Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima.
Gilsão, beleza? Queria só falar algumas coisas:
Primeiro: gostei muito dos drops e mais ainda da participação Cocão com falas nos programas e até um Drops ele fez sozinho. Muito bom mesmo dividir o protagonismo com um camarada tão fundamental quanto ele.
Segundo: por mais que eu goste de rock, estou sentindo falta de histórias de músicas brasileiras e, principalmente, cantada por mulheres.
Meu interesse por música estrangeira é quase zero, mas gosto de como conta as histórias e vou levando, mas confesso que muitas vezes é difícil demais me envolver com certos artistas.
Terceiro: Por que não dar mais atenção as músicas cantadas em português? Tá difícil me envolver com bandas estrangeiras como Pearl Jam aquele pessoal do rock sulista. Rock sulista para mim é Engenheiros do Hawaii, Nenhum de nós, Vera Louca, Bregadeth.
No mais, longa vida ao Clube da música autoral
ehehehe Justa reinvindicação Ernande, continue acompanhando, teremos surpresas.