Conheça a trajetória de Johnny Cash e as curiosidades sobre a sua mais importante canção… “Folsom Prison Blues”.
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“Você pode ser tema do Clube da Música Autoral”
Escreva uma história, lembrando de algum fato curioso ou importante de sua vida, onde a música seja o tema principal e envie para nós.
As quatro melhores histórias ganharão um quadro das musas da 3ª temporada, pintados pelo artista plástico “Caio Camasso.”
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Playlists
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Atenção, você que acompanha o Clube durante os lançamentos: este é o penúltimo episódio da quarta temporada e está chegando ao fim a promoção “Sua História”. Fala aí, Patrick Lima:
O Patrick deu o recado e eu reforço: se você conhece alguém que tem uma boa história, ou que gosta de escrever, indique o Clube, marque seu amigo ou amiga nas nossas redes sociais. O Clube está no YouTube, Twitter, Instagram e Facebook. Procure por Clube da Música Autoral que, só de seguir, você já começa a fazer parte desse Clube.
Eu adoro a história de Johnny Cash e me identifico com o perfil contestador. Tanto que hoje vou quebrar uma regra aqui do Clube. Sabendo que a canção tema desse episódio foi a que embalou a carreira do nosso autor de hoje, vou inverter a ordem dos fatos. Cocão, só hoje, primeiro falaremos da canção e, depois, com respeito e sem ser vago vamos falar do autor Johnny Cash.
“Folsom Prison Blues” é importante, pois também se tonou a música de assinatura de um cara durão do Arkansas. Estou falando de Johnny Cash, o homem de preto, que no dia 11 e outubro de 1957, com 25 anos, conseguiu, a duras penas, lançar o seu primeiro disco e, nele, uma música chamava a atenção. Hoje, 70 anos depois, é o tema do episódio 39 do Clube da Música Autoral. Estou falando do blues da Prisão Folsom.
Eu ouço o trem chegando
Está passando pela curva
E eu não tenho visto o Sol desde eu nem me lembro quando
Eu estou preso na prisão de Folsom, e o tempo continua se arrastando
Mas aquele trem continua passando, indo até San Antone
Quando eu era só um bebê, minha mãe me disse: “Filho Sempre seja um bom menino, nunca brinque com armas.”
Mas eu atirei num homem em Reno só para vê-lo morrer.
Agora toda vez que escuto aquele apito, eu seguro minha cabeça e choro.
A letra, como é notório, fala sobre alguém que está condenado por um crime e cumprindo sua pena na Prisão Estadual da Califórnia, que fica no município de Folsom, nos Estados Unidos. Inaugurada em 1880, foi projetada para conter os criminosos detidos durante a corrida do ouro, e é a segunda prisão mais antiga da Califórnia, depois de San Quentin.
A temida e afamada prisão Folsom também foi a primeira nos Estados Unidos a ter eletricidade e uma das primeiras a ser qualificada como de segurança máxima. Lá, foram executados 93 prisioneiros condenados à morte pela justiça americana.
Eu aposto que existem ricaços comendo num vagão-restaurante extravagante
Eles provavelmente estão bebendo café e fumando grandes charutos
Bem, eu sabia que isto aconteceria, eu sei que não posso ser livre
Mas essas pessoas continuam vivendo
E é isso o que me tortura
Você pode estar imaginando que Johnny Cash esteve preso em Folsom, mas, que nada. Ele escreveu essa música após assistir um filme chamado “Inside the Walls of Folsom Prison” (Dentro dos Muros da prisão Folsom), lançado em 1951, mas ambientado na década de 20. O filme narra a história de um diretor cruel, que acredita que a prisão não é corretiva e, sim, punitiva submetendo os detentos a terríveis torturas que acabaram potencializando uma revolta na prisão Folsom.
Quando Johnny Cash assistiu esse filme ele estava servindo a força aérea americana na Alemanha e, após voltar para América, ele conseguiu um contrato com a Sun Records. Assim foi lançado o primeiro disco de Johnny Cash.
Bem, se eles me libertassem desta prisão
Se aquele trem fosse meu
Eu aposto como eu iria só um pouco mais longe
Longe da prisão de Folsom é onde quero ficar
E deixaria aquele apito levar minhas tristezas
Mas, Gilsão, porque essa canção se chama “Folsom Prison Blues”? Afinal, isso não é bem um blues… concorda?
Boa pergunta. Estamos falando de uma música puxada mais para o country, não? Porém, o blues, nesse caso, é citado por Cash em referência ao lamento da música dos negros. Estamos falando da década de 50 e o blues era muito mais que um estilo musical. Era, também, a palavra que popularizou um sentimento de tristeza. Negros foram escravizados e levados para as Américas, depois largados à própria sorte e, por fim, após uma volta por cima, foram vítimas de preconceito e intolerância. Aliás, até hoje, né? Mas, na primeira metade do século 19 foi muito pior, quando negros eram condenados apenas por serem negros, e isso tornou os presídios americanos um aglomerado de extrema injustiça.
Sabe esse som, o som do trem? O estilo verdadeiro da canção de Cash era conhecido na época como “train”, um termo que não se popularizou além dos anos 50, mas que influenciou muitos guitarristas que tentavam imitar o som do trem, acelerando o blues e criando assim um dos embriões do rock-and-roll. Pensando em imitar o som do trem, Johnny Cash colocou uma nota de um Dólar debaixo das cordas do violão, para deixá-lo mais percussivo. Aliás, Chuck Berry também disse ter sido influenciado pelo barulho do trem para compor “Johnny B. Goode” em 1958. Porém, a referência principal de Johnny Cash foi uma gravação de 1953 chamada “Crescent City Blues”, de Gordon Jenkins, com Beverly Mahr nos vocais. A música descreve a sensação de estar dirigindo um trem e a tentativa de reproduzir o som do mesmo. Ouça.
Só para deixar registrado, após a canção da prisão Folsom ficar bastante conhecida, Cash foi processado pelos autores dessa canção por plágio, o que evidencia que a canção realmente fez muito sucesso. Mas, qual o segredo desse sucesso?
Analise comigo: estamos falando de uma música lançada oficialmente em 1957 e que trazia um apelo em defesa dos direitos dos prisioneiros, certo? Repito, direito dos condenados, dos bandidos. Um lançamento com esse conteúdo, hoje em dia, não seria lá muito popular, certo? Agora imagina isso nas rádios da década de 50, período de extrema intolerância?
Curioso, não? Mas, quem pensa que Cash foi taxado de defensor de bandido, se engana. Na verdade, ele saiu bem na fita, e acabou conhecido como um defensor dos oprimidos. Aliás, ele conseguiu até seu próprio programa de TV nacional e se tornou um dos artistas mais populares de sua época. E isso tem tudo a ver com a canção da prisão Folsom, mas não essa versão que ouvimos e, sim, a versão ao vivo, gravada realmente dentro da prisão Folsom 10 anos depois, em 1968.
Como Johnny Cash havia desenvolvido o conceito, e isso era devido ao seu vínculo com os encarcerados dos Estados Unidos, ele foi percebendo que havia um público-alvo nas prisões e começou a fazer shows dentro dos presídios para os condenados. Pode parecer surreal, mas essa não era uma prática tão incomum assim. Se recordarmos por exemplo do assombrado Carandiru aqui no Brasil, lembraremos que por lá também aconteciam shows. A dançarina chacrete Rita Cadillac ficou conhecida como a musa da detenção.
Tá bom, Cocão. Todos já lembraram da Rita Cadillac. Nos EUA shows em prisões também não eram incomuns, e Johnny Cash, acabou se tornando um ativo defensor das reformas carcerárias, algo que sua gravadora na época, a Columbia Records, não via com bons olhos e nunca aprovou estas apresentações musicais em presídios. Na verdade, os caras achavam que o Johnny Cash estava era queimando o filme deles porque, eu não falei ainda, mas Cash também era viciado em anfetamina e fazia várias merdas. Tanto que, no final dos anos 60, sua carreira de cantor estava indo pro ralo. Foi quando ele teve a ideia de gravar ao vivo dentro da prisão, algo até então inédito. Ninguém botava fé, muito menos a gravadora, que investiu bem pouco nesse projeto, mas já era o suficiente, pois o conceito… ah, esse era inovador!
E foi assim que aconteceu, no dia 13 de janeiro de 1968: Johnny Cash e sua esposa, June Carter, acompanhados pela banda, fizeram duas apresentações para os encarcerados da prisão Folsom, gravadas sob a produção de Bob Johnson. Temendo que a plateia talvez não reconhecesse Cash, Bob sugeriu que ele se apresentasse. E, assim, nasceu o famoso bordão “Olá, eu sou Johnny Cash…”, que seria repetido sempre em todos os seus shows dali pra frente, mas foi dito pela primeira vez na prisão Folsom, antes de tocar a sua primeira canção, que por acaso era “Folsom Prison Blues”.
Johnny Cash narra que a célebre frase “eu atirei em um homem em Reno”, que explica o motivo do eu lírico da canção estar preso em Folsom, se refere a um fato ocorrido em uma cidade de Nevada que ele inventou, na tentativa de descrever qual seria a pior razão para alguém atirar em outra pessoa. E essa resposta está na música: o motivo era o simples prazer de ver a pessoa morrer.
Na versão ao vivo gravada na prisão Folsom, podemos ouvir aplausos, que seria o equivalente a uma comemoração dos presos, mas, hoje, sabemos que esses aplausos foram sobrepostos em estúdio. O motivo era óbvio: apenas detentos com bom comportamento puderam assistir o show de Johnny Cash e, detalhe, sentados sob a mira de armas de alto calibre prontas para explodir seus miolos por qualquer movimento suspeito.
Vale evidenciar que Johnny Cash ganhou um Grammy por essa interpretação, considerada a melhor de 1968, e o disco “Live at the Folsom Prison” desbancou nada menos que os Beatles das paradas americanas. Até hoje é o mais bem-sucedido da carreira de Johnny Cash.
As principais características deste disco são as canções duras, que falam sobre o cotidiano de quem leva uma vida bandida por falta de opção e trazem reflexões da realidade nos presídios, alertando sobre as dificuldades de readaptação na sociedade. Entre essas canções vale destacar “Cocaine Blues,” “Dirty Old Egg-Suckin’ Dog” e “Dark as the Dungeon”, que também fizeram muito sucesso.
Mas, acredito que o fato mais impactante é que esse disco reinventou a carreira de Johnny Cash, que passou a ser visto como o cara durão da indústria musical, o “homem de preto”. Cash usava preto porque ele escondia a sujeira. Seus amigos o chamavam de coveiro, mas quando o disco da prisão Folsom explodiu, chegando ao topo das paradas, imediatamente tudo se encaixou dentro do conceito e Johnny Cash ganhou até seu próprio programa de TV em rede nacional.
Mas, chega aí. Será que Johnny Cash era um cara durão mesmo como dizem, ou isso fazia parte do marketing? Como pode alguém ter autenticidade para representar a classe carcerária sem nunca ter sido preso? Ou será que Johnny Cash também já foi preso? Bom, como hoje estamos contando a história fora dos padrões do Clube, imagino que esteja na hora de voltar essa fita para lembrarmos como surgiu o famoso cantor Johnny Cash.
Johnny Cash nasceu no dia 26 de fevereiro de 1932, em Kingsland, Arkansas. Ele é filho de Carrie Cloveree e Ray Cash, sendo o quarto de sete filhos: Roy, Margaret Louise, Jack, JR, Reba, Joanne e Tommy Cash (esse último, por sua vez, também se tornou um artista country de sucesso).
Seu nome de batismo é John Ray Cash, e sua ascendência se mistura entre imigrantes ingleses e escoceses que atravessaram o mundo em busca do sonho americano.
Em março de 1935, quando Cash tinha apenas três anos de idade, a família se mudou para Dyess, no Arkansas, para uma colônia onde famílias pobres teriam/tinham oportunidade de trabalhar em terras que mais tarde poderiam possuir. A vida nunca foi fácil para os Cashs. Desde os cinco anos de idade, Johnny trabalhou nos campos de algodão, onde os negros cantavam para espantar a tristeza. A casa na fazenda da família Cash sofreu com uma enchente, e isso inspirou Johnny a escrever a sua primeira música chamada “Five Feet High and Rising “.
As lutas econômicas e pessoais durante a Grande Depressão inspiraram muitas de suas canções. A verdade é que Johnny Cash tinha empatia e conseguia se ver na pele dos excluídos da sociedade. E essa sua personalidade sensível também seria o pivô de muitos conflitos com seu velho pai, um típico racista do sul dos Estados Unidos.
A relação entre pai e filho piorou quando o irmão preferido de Johnny, Jack, ficou gravemente ferido em um acidente após ficar enroscado em uma serra elétrica de mesa. Esse era um dia atípico, em que sua mãe teve premonições e pediu para que eles ficassem em casa, mas em vão. Johnny viu o irmão ser quase cortado ao meio e ele veio a morrer alguns dias depois. Tanto seu pai o culpou, quanto ele próprio, que carregou as lembranças desse acidente pelo resto de sua vida, algo que também moldou sua personalidade, pois além de cavar a cova, Johnny também ouviu por dias o irmão agonizando e narrando estar vendo anjos no céu que o chamavam.
A trágica morte do irmão fez Johnny Cash se apegar à religião e frequentar igrejas. Ele esperava um dia reencontrar o irmão no paraíso. Estamos falando das igrejas americanas da década de 40 e 50, onde estava surgindo uma revolução através da música gospel.
Os primeiros acordes no violão foram ensinados a Johnny por sua mãe e um amigo de infância. Ele começou a tocar e a escrever músicas cedo, aos 12 anos. Enquanto cursava o ensino médio, teve oportunidade de cantar em uma estação de rádio local. Sua voz rouca e fora dos padrões começou a ser lapidada. Além da música gospel, Cash também conviveu com a música tradicional irlandesa, que teve presença no surgimento do country e define perfeitamente as influências de Johnny Cash.
Com a baixa autoestima promovida por seu pai, Johnny Cash resolveu se alistar no exército com um sentimento de que deveria ser útil ao seu país. Ele se tornou especialista em telégrafo e foi designado para o 12º Esquadrão de Rádio Móvel da Força Aérea americana, na Alemanha Ocidental, onde trabalhou como operador de código Morse. Em 3 de março de 1953, Cash interceptou a mensagem de que o primeiro-ministro soviético Stalin havia morrido. Ele foi o primeiro ocidental a divulgar a morte de Stalin. Vejam só!
Mas o exército também foi importante por outros motivos. Foi lá que Cash montou sua primeira banda, “The Landsberg Barbarians”. Em 1954, Johnny foi dispensado com honra do exército e voltou ao Texas. O período no serviço militar lhe rendeu uma cicatriz no lado direito da mandíbula e um casamento com Vivian, com quem teve quatros filhas: Rosane, Tara, Cindy e Kathy.
Eles se mudaram para Memphis, no Tennessee, lugar onde o som estava rolando e Johnny tentava se tornar um locutor de rádio, claro, devido ao vozeirão grave. À noite, ele tocava com o guitarrista Luther Perkins e o baixista Marshall Grant, que eram conhecidos como o Tennessee Two. Encorajado pelos amigos músicos, Cash resolveu visitar Sam Philips, dono do afamado estúdio da Sun Records, que revelou Elvis Presley. Sam topou um teste e Cash cantou apenas músicas gospel.
Então, Sam Phillips lhe explicou que não gravava mais músicas gospel, aconselhando Cash a “ir para casa e só voltar quando tivesse uma música que pudesse vender”. Nesse momento, Cash pegou o violão e tocou uma composição de sua autoria que conquistou Sam Philips. Assim, em 1955, Cash fez sua estreia nas gravações e gerou seus primeiros singles de sucesso, “Hey Porter” e “Cry! Cry! Cry!”, lançados no mesmo ano e abrindo as portas para o primeiro Long Play de Johhny Cash.
Após o sucesso de “Folsom Prison Blues”, que estava no disco de estreia, Cash se tornou momentaneamente o artista mais vendido da gravadora. Mais até que Elvis. Então, se sentindo constrangido por ganhar muito menos que o rei, em 1958, após receber uma oferta lucrativa, deixou a Sun Records, e assinou com a Columbia. Seu próximo single “Don’t Take Your Guns to Town ” alavancou seu segundo disco, que veio recheado de músicas gospel que Sam Philips havia rejeitado.
No entanto, o péssimo contrato que Cash assinara com a Sun Records, deixou para trás um estoque de gravações que Sam Phillips continuou lançando até 1964. Moral da história, Cash tinha músicas sendo lançadas simultaneamente em duas gravadoras, mas só ganhava dinheiro em uma. Inclusive, o lançamento da Sun Records de 1960, “Oh, Lonesome Me”, alcançou o número 13 nas paradas country.
Em 1961, Johnny Cash fez a primeira turnê com a Família Carter, que nessa época incluía as filhas da segunda geração: Anita , June e Helen. Mas, o que chamou a atenção de Johnny Cash não foi apenas o talento das irmãs e, sim, a beleza. Ele se apaixonou por June Carter, o que culminou em um relacionamento extraconjugal.
A história da Família Carter se confunde com a história da música country. Eles começaram como um grupo de música folclórica em 1927, formado pelo casal AP Carter e Sarah Carter e também pela irmã de Sarah, Maybelle. Eles ficaram ativos até 1956. A música da família Carter teve um profundo impacto nos músicos que viriam pela frente, influenciando no desenvolvimento do country, Southern Gospel, pop e rock. Na verdade, o Family Carter foi o primeiro grupo vocal a gravar a tal música country comercialmente e tornaram-se o primeiro sucesso do estilo. Conforme os membros oficiais tinham filhos, estes iam aprendendo a arte da country music e, assim, surgiam as novas gerações da família Carter. June Carter era uma das filhas de Maybelle e, ao lado de suas irmãs, fazia turnês se apresentando como As Irmãs Carter. Até que, em uma dessas turnês, Johnny & June se encontraram.
“Ring of Fire” foi composta por June Carter e, mais tarde, se tornou um megassucesso na voz de Johnny Cash. Mas, saibam que, na época, o romance deles era repleto de conflitos. Uma relação de amor e ódio. Johnny estava usando drogas e, sim, ele foi preso porque transportava seus comprimidos dentro do violão e a polícia os achou.
O fato de June Carter ser tão ou mais famosa que Cash também incomodava seu ego. Ela teve um programa de TV e ficou conhecida não apenas por cantar; ela também escrevia, foi autora, dançarina, atriz, comediante e sempre esteve envolvida com a filantropia. Era uma mulher independente, à frente de sua época e fazia Johnny Cash rastejar por ela. A canção “Jackson” foi um dos duetos do casal que mais fizeram sucesso.
O sucesso dos duetos de Johnny & June promoveu a Família Carter, que se apresentaram com Johnny Cash por vários anos, até que, em 1968, após várias negativas, ele resolveu pedir June em casamento ao vivo, no palco, durante um show no “London Ice House” em Londres. Acho que vale a pena lembrar um trecho do filme, Cocão.
Se não assistiu, assista. Esse filme é sensacional e Joaquin Phoenix interpretando Johnny Cash foi épico. Aliás, quando o filme foi cogitado, o próprio Johnny Cash pediu que Joaquin Phoenix o interpretasse.
Johnny Cash e June Carter Cash se casaram em 1º de março de 1968 em Franklin, Kentucky. June tentou impedir Cash de tomar anfetaminas muitas vezes. Ela jogava seus comprimidos no vaso sanitário. Inclusive o famoso disco At Folsom Prison foi gravado nesse mesmo ano, um mês antes de se casarem, durante o período conturbado.
Apesar de todas as loucuras de Johnny, June permaneceu com ele, mesmo durante suas crises e mesmo durante o tratamento de desintoxicação que durou décadas. Johnny Cash se converteu (a quê?) em 1974 e ao lado de June desenvolveram um trabalho social em prol das instituições de apoio a dependentes químicos.
Johnny criou as duas filhas de June e juntos tiveram um filho, John Carter Cash que, como o pai e o tio, se tornou um famoso cantor country. Johnny & June continuaram trabalhando em parceria, compondo e gravando e não é exagero dizer que, graças a June Carter, Johnny Cash teve 5 décadas de atividade dedicada à música, que se resumem a 56 discos de estúdio, 9 álbuns ao vivo e vários prêmios na indústria fonográfica.
O casal famoso continuou se apresentando e levando alegria aos fãs, até que em 15 de maio de 2003, aos 73 anos de idade, June Carter Cash faleceu vítima de uma parada cardíaca. Johnny Cash acreditava que suas únicas razões para viver eram a música e June. Então, já debilitado, chamou o famoso produtor Rick Rubin e pediu para que ele não o deixasse ficar parado, pois do contrário ele também morreria. Rick Rubin levou o estúdio para dentro da casa de Cash e ele continuou gravando. Mas, apenas quatro meses após a morte de sua amada, Johnny Cash também partiu, para encontrar June e seu irmão Jack. A morte foi causada por complicações da diabete. Johnny Cash tinha 71 anos e faleceu no dia 12 de setembro de 2003. Sua morte causou imensa comoção no cenário artístico, afinal, Johnny Cash havia se tornado sinônimo de superação. Mas, prefiro acreditar que Johnny não poderia viver longe de June.
No Reino Unido foi feita uma votação para eleger a mais bela carta de amor já escrita, e a vencedora foi uma carta que Johnny Cash escreveu para June no seu aniversário de 64 anos, onde ele dizia “abre aspas”
“Feliz aniversário, princesa.
Nós envelhecemos e nos acostumamos um com o outro. Nós pensamos igual. Nós lemos a mente um do outro. Nós sabemos o que o outro quer sem perguntar. Às vezes irritamos um pouco um ao outro. Talvez, às vezes, não damos valor um ao outro.
Mas, de vez em quando, como hoje, eu reflito sobre isso e percebo quanta sorte tenho de compartilhar minha vida com a maior mulher que já conheci. Você ainda me fascina e me inspira. Você me faz ser melhor. Você é o objeto do meu desejo, a razão #1 na Terra para a minha existência. Eu te amo muito.
Feliz aniversário, princesa.
John”
A última canção gravada por Johnny Cash nas sessões com Rick Rubin foi uma homenagem a June Carter e ao seu filho John chamada “Engine One-Forty-Three” onde sua voz, que sempre foi firme, entrega o momento de fraqueza que precede a despedida terrena, elevando Johnny e June Carter ao nível de ídolos eternos da música.
Antes de me despedir, quero deixar aqui meu reconhecimento ao apoio dos sócios diretores Henrique Vieira de Lima, Caio Camasso, Emerson Silva Castro, Antônio Valmir Salgado Junior, Dilson Correa Lima, Mateus Godoy, João Jr Vasconcelos Santos, Luiz Machado, Lucas Valente, Camilla Spinola, Tiemi Yamashita, Marcelo Leonardo e Diego Vinicius Queiroz Silva.
Eles são mais que sócios: são diretores do Clube e nos ajudam a manter viva essa missão de levar até você boas histórias da música. Se o Clube é importante para você, cogite essa opção. Seja sócio. Acesse o nosso site clubedamusicaautoral.com.br/assine e entenda as vantagens que recebe em troca do seu apoio.
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Eu estou indo nessa, mas antes quero lembrar que durante a década de 90 Johnny Cash passou por um momento de esquecimento. Ele, que sempre foi lembrado, aparentemente estava esquecido, o que lhe fez muito mal. Então, o produtor Rick Rubin resgatou as origens de Cash dando a ele a oportunidade de gravar músicas que não faziam parte do universo country e, em 2002, pouco antes de sua morte, Johnny Cash gravou Hurt, uma música do Nine Inch Nails que foi um sucesso de elogios comerciais e da crítica e a música mais procurada do senhor Cash. Trent Reznor, o compositor da banda, em um depoimento afirmou que a interpretação de Cash transmitiu tanta “sinceridade e significado” que, para ele, a música não é mais do Nine Inch Nails e, sim, de Johnny Cash.
A produção do Clube da Música Autoral é minha, Gilson de Lazari, e a edição é do Rogério Cocão Silva. Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima.