A lua foi fonte de inspiração para muitos poetas e também embalou muitas canções, mas a minha preferida é “Tendo a Lua,” dos Paralamas do Sucesso.
Venha descobrir o porquê que o céu de Ícaro tem mais poesia do que o de Galileu!
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“Você pode ser tema do Clube da Música Autoral”
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As quatro melhores histórias ganharão um quadro das musas da 3ª temporada, pintados pelo artista plástico “Caio Camasso.”
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Os Paralamas do Sucesso adaptaram esse romance em uma música e hoje falaremos sobre esse momento único de inspiração, quando Herbert Vianna compôs “Tendo a Lua”.
E você? Também gosta de contar histórias? Que tal uma história sua sendo contada aqui no Clube? Gostou da ideia? Então, ouça esse recado do Patrick Lima.
Você pode ser o próximo tema do Clube da Música Autoral. Escreva uma história lembrando de algum fato curioso ou importante da sua vida, onde a música seja o tema principal, e envie para nós. As quatro melhores histórias ganharão um quadro das musas da terceira temporada, pintados pelo artista plástico Caio Camasso. Para entender as regras dessa promoção e nos enviar a sua história, acesse ClubedaMusicaAutoral.com.br/suahistoria e compartilhe a sua história musical com a gente.
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Aviso que a enquete já foi enviada aos sócios do Clube, que nos ajudarão a escolher os temas dessa nova temporada. Aliás, foi também através de uma enquete que os sócios do Clube decidiram manter as vinhetas clássicas do Clube, inclusive a da porta, tá bem? Se você ainda não é sócio, cogite essa possibilidade. Faz o seguinte: acesse o nosso site, clubedamusicaautoral.com.br/assine. Lá explicamos as modalidades de associação e as vantagens que você recebe em troca do seu apoio.
E aí? Você gosta de Paralamas do Sucesso? Nunca é tarde para fazer a coisa certa, tá bem? E as chances de você se tornar fã após ouvir essa história… hum… são grandes, viu? Bora lá, Cocão? Com respeito e sem ser vago, vamos falar sobre Os Paralamas do Sucesso.
Talvez a canção que melhor simbolize Os Paralamas do Sucesso seja “Vital e sua moto”. Ela começa com uma guitarra dedilhada com efeito chorus, marca registrada dos anos 80.
Então, nos impacta com a primeira mudança brusca de estilo, se transformando num reggae!
O reggae é um dos estilos mais presentes no som “mistureba” dos Paralamas do Sucesso. Essa influência, claro, vem dos jamaicanos e da música caribenha, e era uma novidade bem fresca para as bandas brasileiras dos anos 80.
Quando estamos nos entregando ao simpático reggae music da banda, o ritmo é bruscamente alterado novamente…
Essa era a influência do punk rock britânico que fez a cabeça dos jovens de Brasília no final dos anos 70 e, especificamente no caso dos Paralamas, era impossível não os comparar ao Police, a maior e mais evidente influência do trio brasileiro.
Porém, na letra da canção, outra mudança nos chamava a atenção. Era a história real de um tal Vital e sua moto, uma união feliz, que o fazia se sentir total, com seu sonho de metal… Que diabos Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone queriam dizer com isso?
Sabe o que é legal nessa história? O tal do Vital realmente existiu e, sem saber, influenciou o surgimento do que viria a se tornar a maior banda de rock da América Latina… Isso mesmo! América Latina! Não sei se você sabe, mas na Argentina, por exemplo, os Paralamas são tão ou mais conhecidos quanto no Brasil. Mas, calma que eu chego lá…. Os Paralamas do Sucesso é também uma das primeiras bandas do movimento punk rock de Brasília, de onde surgiu o que muitos consideram o mais autêntico movimento rock do Brasil. E, para contar essa história, vamos voltar um pouco essa fita.
No dia 4 de março de 1961, nascia Herbert Vianna, na cidade de João Pessoa, Paraíba. Nesse mesmo ano, o arquiteto Oscar Niemeyer ainda dava os últimos retoques na exótica nova capital do Brasil, Brasília, recém-inaugurada pelo presidente Juscelino Kubitschek.
[Gravação da época] Durante a cerimônia de instalação do poder executivo, falou o presidente Juscelino Kubitchek “A data de hoje tornou-se duplamente histórica para o Brasil porque, à gloriosa evocação do passado, junta-se agora a epopeia da construção dessa nova capital que acabamos de inaugurar. Saudamos, assim, a um só tempo o passado e o futuro de nossa pátria…”
Muitos políticos, servidores públicos e militares foram obrigados a se mudar para Brasília. E o pai de Herbert, o brigadeiro Hermano Vianna, também foi um deles. Herbert era uma criança solitária no Planalto quando conheceu o seu grande amigo de infância, Felipe de Nóbrega Ribeiro, que viria a se tornar também o seu grande parceiro de vida. Talvez você o conheça como Bi Ribeiro, filho do diplomata Jorge Carlos Ribeiro, que também estava em Brasília por interesses profissionais.
Herbert e Bi Riberio conheceram o Vital num curso pré-vestibular. Vital era da galera do fundão. O oposto dos amigos nerds. Esse perfil contestador de regras caiu como uma luva naquela amizade a três.
Herbert já havia aprendido a dedilhar um violão e convenceu Bi Ribeiro a comprar um contrabaixo. Consequentemente, para formar uma banda, precisavam de um baterista e convenceram Vital a adquirir uma batera de segunda mão. E, assim, montaram a primeira banda de rock.
O Paralamas do Sucesso é frequentemente lembrado junto às bandas de rock de Brasília dos anos 80 como Plebe Rude, Aborto Elétrico, Capital Inicial, Legião Urbana, entre outras. Mas, na real, a história profissional deles teve início mesmo no Rio de Janeiro. Acontece que Herbert e Bi passaram no vestibular e foram estudar na cidade maravilhosa. As idas e vindas para Brasília confundem um pouco essa origem. A canção “Vovó Ondina é gente fina”, por exemplo, é uma homenagem à avó de Bi Ribeiro, que liberava a casa para os ensaios dos garotos barulhentos.
Porém, vale salientar que foi no Rio de Janeiro que começaram a se apresentar no circuito alternativo. Após uma mancada do baterista Vital, que não apareceu no show da banda em um festival, a apresentação deles seria cancelada por isso. Mas, então, na plateia surgiu um rapaz que se ofereceu para substituir o Vital. Seu nome era João Barone… E foi assim, num show improvisado no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que nasceu o mais famoso trio musical do Brasil…
Aquele tal de João Barone era danado de bom baterista. Ele já vinha tocando com a banda de seu irmão mais velho, que gostava de Beatles, Hendrix, Santana e influenciou o irmão. Mas, João queria mesmo era seguir carreira como tenista. Barone narra que o momento crucial de sua vida, quando decidiu ser baterista profissional, aconteceu após ouvir pela primeira vez essa música aqui, ó, da banda inglesa The Police:
Muitos dizem que João Barone copiou o estilo de tocar do baterista do Police, Stewart Copeland, e o próprio Barone admite a influência, afinal a canção “Roxane” o fez largar a carreira de tenista.
Para Barone, faltava participar de uma banda ousada, que arriscasse e, por acaso, para Herbert e Bi Ribeiro faltava um batera competente. Quando João Barone substituiu Vital, nasceu Os Paralamas do Sucesso que conhecemos até hoje. A banda nunca trocou sua formação em quase 40 anos de história.
Entendeu por que a origem da banda é um misto de Brasília e Rio de Janeiro? Eles eram amigos de faculdade e estavam sempre indo e vindo para Brasília. Então, Herbert tinha contato com toda a turma da Colina, os punks do Planalto, que começavam organizar a cena rock de lá. Inclusive, Renato Russo foi professor de inglês do Bi Ribeiro e a amizade se estendeu a ponto de Os Paralamas gravarem no primeiro disco um punk rock escrito por Renato Russo…
Mas, como foi que três amigos da faculdade que faziam um som na casa da vó Ondina assinaram um contrato com uma gravadora? Pois é… Esse Vital é bem importante para nossa história mesmo, tá?
Barone não entrou de vez na banda. No início, ele e Vital revezavam os shows. Mas, a amizade era entre todos eles. Não tinha rivalidade. Vital era um cara bem louco e sua verdadeira paixão não era música e, sim, motocicletas. Logo que conseguiu comprar sua Yamaha DT, ele não quis mais saber de banda. A história de Vital com a motocicleta influenciou a letra de Vital e sua moto, o cara que passou a se sentir total com seu sonho de metal.
Barone ao assumir definitivamente trouxe as influências do Police e, com o conceito da canção “Roxane” que mesclava punk e reggae, fizeram a primeira música do início da banda.
Em 1982 Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, acreditando que essa era uma boa história, fizeram uma vaquinha e alugaram um estúdio para gravar a demo de “Vital e sua moto”. Enviaram a música para a Rádio Fluminense e, não sei se foi sorte, mas a canção pegou. Os ouvintes ligavam pedindo aquela música do motoqueiro Vital e, logo, Os Paralamas do Sucesso estavam tocando em alto nível, abrindo os shows do Lulu Santos, que também os apadrinhou. Isso chamou a atenção dos executivos da EMI-Odeon e virou um contrato fonográfico, cara.
Vital se tornou um símbolo tão importante para Os Paralamas, que ele é lembrado também em outra música, Dos Margaritas, de 1993, que levantava a hipótese “E se Vital escrevesse a constituição brasileira”, numa referência ao bom humor do ex-baterista.
Em 2015 Vital morreu vítima de um câncer no intestino e houve uma grande celebração dos fãs do motociclista mais famoso do Brasil…
Em 1983 Os Paralamas entraram em estúdio para valer pela primeira vez. O famoso estúdio da EMI no Rio de Janeiro. O disco de estreia se chamou Cinema Mudo, e teve produção de Marcelo Sussekind e a colaboração de peso de Lulu Santos e Leo Gandelman, que introduziu os metais nas canções do Paralamas, algo que viria a se tornar no futuro uma marca registrada da banda.
Quando chegou às lojas, Cinema Mudo já tinha um sucesso certo, “Vital e sua moto”. Mas, trazia uma outra referência musical até então pouco ouvida no Brasil, o ska. E, cara, é incrível como funcionou…
Eu não sei vocês, mas eu adoro Paralamas do Sucesso, e eu tocava essas músicas no início da minha carreira musical. Na verdade, até hoje eu toco elas. Aliás, lembro que, quando montei minha primeira banda, uma grande dúvida era qual seria o nome. Todos queriam um nome impactante, fácil de decorar e que soasse agradável… Então eu questionei… Se nome de banda fosse realmente importante, Os Paralamas do Sucesso jamais teriam dado certo… Todos riram e concordamos, né? Porque a verdade é que a gente acaba se acostumando com o nome de tanto ouvir, mas ele nunca vai deixar de ser um nome ridículo, né?
Em uma entrevista recente para o Pedro Bial, Os Paralamas explicaram a origem do nome da banda:
[Conversa com Bial]
[Bial] – Vem cá, a moto do vital tem alguma coisa a ver com o nome Paralamas?
– Não. Absolutamente, não.
[Bial] – Mas de onde vem o nome? Porque eu soube que teve vários nomes antes. Um, inclusive, que eu fiquei sabendo… o Tom Leão disse que ele conheceu um nome que, se vocês tivessem mantido, teria havido problemas na carreira nos países de língua espanhola. O nome era Las Conchas de Tu Madre…
– Eu não lembro dessa sugestão
[Bial] – Acho que todo mundo aqui fala bem castelhano. Que traduzido em português quer dizer… Não preciso dizer, né?
– A atitude da gente na busca de um nome foi: vamos ver quem consegue produzir o pior nome possível. Aí, era uma competição hilária, muito intensa. De repente o Bi surgiu com essa ideia, que a gente considerou o pior nome possível.
– A gente nunca considerou que ia ter que explicar esse nome aqui, nem botar na capa do disco… Era uma brincadeira porque a gente era uma banda mesmo… Não existia naquele tempo você gravar um disco e sair com um nome…
[Bial] – Trinta e quatro anos depois, você vai ter que explicar um nome desses…
Em 1984, os integrantes dos Paralamas, principalmente Herbert Vianna, estavam insatisfeitos com o rótulo de banda alegrinha, principalmente por causa das músicas do primeiro disco. Herbert é o principal letrista dos Paralamas e um dos maiores compositores do Brasil. Ele sabia que dava para ser mais profundo do que aquilo. Ele acreditava também na pureza do power trio. Eles queriam liberdade na produção do próximo disco e conseguiram. Ele se chamou “O Passo do Lui” e traz simplesmente os maiores hits da banda… Se liga…
Mano, “Óculos” é o primeiro hino do orgulho nerd… Esse segundo álbum dos Paralamas é muito importante pois, como eu disse, Herbert queria expressar mensagens mais profundas. E, em “Romance Ideal”, Os Paralamas tiraram uma carta da manga que viraria o jogo a favor deles.
Quando eu falo bem desse álbum, eu estou ainda sendo econômico, tá bom? Porque esse é o disco que lançou talvez o maior sucesso comercial dos Paralamas, a canção que toca em qualquer roda de violão, “Meu erro”
Lembra que eu falei que o ska era uma novidade fresca? Os Paralamas tanto sabiam disso que fizeram uma canção chamada Ska
Eu não posso passar por esse disco sem citar também uma das minhas preferidas… “Os pés descalços que queimam no asfalto, os carros passam, vêm e vão”… Vai ver se essa música não é legal pra caramba, cara…
Você pode estar achando esse disco sensacional, mas saibam que a recepção por parte da mídia e das rádios foi modesta inicialmente. Então, é o que eu sempre digo, não basta ter talento, tem que ter sorte também e estar no lugar certo na hora certa. E isso aconteceu em 1985, quando Os Paralamas foram convidados para participar do primeiro Rock In Rio…
No dia seguinte, após a participação dos Paralamas no maior festival da América Latina, estava em todos os jornais frisado: A banda brasileira revelação do Rock In Rio se chama Os Paralamas do Sucesso. Mano, no mesmo palco que Queen, ACDC, Yes, Iron Maiden e tantos outros, estava lá: um trio brasileiro mandando um autêntico rock brazuca… Foi incrível e lançou Os Paralamas definitivamente para o tal sucesso tão almejado.
(…) mais uma dos rock in rio
Impulsionados pela repercussão positiva do Rock In Rio, Os Paralamas saíram em uma bem-sucedida turnê nacional. Nessa altura eles já estavam garantidos como uma autêntica banda de rock brazuca, mas em 1986 voltaram aos estúdios da EMI para gravar outro álbum clássico da banda, cara, que se chama Selvagem.
Produzido por Liminha, esse álbum é considerado pela Rolling Stone como o 39º melhor disco da música brasileira, além de ser também um grande sucesso comercial, vendendo na época mais de 700 mil cópias. Na capa de Selvagem, tem a foto do irmão do baixista Bi Ribeiro sem camisa durante um acampamento no qual ficaram dias sem tomar banho, precisando inclusive caçar para comer. A foto amadora foi apelidada de Selvagem e, mesmo rejeitada pela EMI, Os Paralamas insistiram e usaram a foto do irmão do Bi.
Os caras estavam selvagens e, apesar de letras mais críticas, o bom humor dos Paralamas viveu o seu auge nesse disco com o surreal Melô do Marinheiro.
É nesse álbum também que se inicia uma das mais sensacionais parcerias da música brasileira. Gilberto Gil e Paralamas do Sucesso. Olha, é isso que eu chamo de novidade
Esse disco também saiu com uma versão reggae de “Você”, do Tim Maia, que tocou muito nas rádios. Mas o grande sucesso mesmo desse disco eu ainda não falei qual foi… Ele é, talvez, uma das mais bem-sucedidas canções de protesto que chegaram ao mainstream brasileiro.
Alagados é onde as influências caribenhas da banda ficaram evidentes, mas a letra é a grande estrela. Herbert faz um paralelo com a realidade da favela de Trenchtown, na Jamaica, e da favela de Alagados, em Salvador, colocando-as num mesmo nível de expressão. Herbert ainda retrata a cidade do Rio de Janeiro como sendo um lugar que “nega oportunidades” aos seus moradores mais pobres. E essa interpretação pode ser expandida para todo o país, onde espectadores daquela época contemplavam sua própria desgraça, sem esperança de melhora. Afinal, “a esperança não vinha do mar, nem das antenas de tevê”. Inegavelmente, Alagados é uma canção de fé, a arte de viver da fé… Deixa tocar, Cocão!
O sucesso de vendas do disco Selvagem rendeu a primeira turnê na Europa e, durante uma apresentação no cultuado Festival de Montreux, em 1987, Os Paralamas gravaram seu primeiro disco ao vivo chamado “D”
É a partir daí que o quarto Paralama entra na banda, o Tecladista João Fera. E eu tive o prazer de conhecê-lo, assim como toda a banda, em 1998, quando os Chapados dos Guimarães participaram do Skol Rock, um baita festival de bandas na época em que os Paralamas encerravam…
Era nítido, Os Paralamas estavam mais politizados e o próximo disco de 1988, Bora Bora, fortalecia ainda mais as lutas e os temas sociais, como em O Beco, que é a canção que abre o disco.
É interessante analisar também que esse disco é “alegre” do lado A e “triste” do lado B. O motivo era o romance nada ideal de Herbert Vianna com a cantora Paula Toller, do Kid Abelha. Esse romance infelizmente chegou ao fim com muito pesar de ambas as partes. E essa tristeza mútua inspiraria ambos. Herbert fez várias músicas para Paula, como por exemplo Uns Dias, uma canção forte, onde o compositor confessa até ter pensado em matar sua amante.
Já Paula Toller, por sua vez, deu a resposta em alto nível e compôs, ao lado do Kid Abelha, “Como Eu Quero”, uma mensagem cifrada para Herbert, como pode ser visto nos versos “dramas do sucesso/mundo particular/solos de guitarra/não vão me conquistar”.
Os Paralamas faziam muitas turnês pela América do Sul e acabaram ganhando uma incrível popularidade na Argentina, no Uruguai, Chile e Venezuela. Percebendo o mercado amistoso, a gravadora investiu. Inclusive, Os Paralamas gravaram todos os seus grandes sucessos em espanhol
Mas, não perca as contas… Estamos em 1989, ano em que Os Paralamas voltam para o estúdio, agora produzidos por Carlos Savalla, e gravam Big Bang, um disco com muitos riffs de metais. Para quem gosta, como eu, é sensacional.
A grande canção do disco foi “Perplexo”, que também trazia uma forte mensagem social… “Posso morrer de vergonha, mas eu ainda estou vivo […] Eu vou lutar. Eu vou lutar. Porque eu sou Maguila, não sou Tyson”. Sensacional para quem lembra de Holyfield, Mike Tyson e o nosso saudoso Adilson Maguila.
É nesse disco também que está o que muitos consideram a principal canção romântica dos Paralamas do Sucesso, Lanterna dos Afogados. E quem sou eu para discordar disso?
Como Os Paralamas vendiam muito, tanto no Brasil quanto na Argentina, a EMI lançou uma coletânea de sucessos da banda. Mas, ela veio com uma música inédita. Cara, e que música! Na minha opinião, uma das melhores, sem dúvidas, cara… Caleidoscópio!
Que beleza, né, cara? Eu tenho certeza que após ouvir esse podcast você vai ficar com vontade de ouvir Paralamas. Procure no Deezer ou no Spotify a playlist desse episódio e ouça todas as músicas na íntegra. Inclusive, agora no YouTube também tá rolando a playlist. Beleza? O link vai estar na descrição desse episódio.
Cocão, acho que essa é a nossa deixa, porque o próximo disco na discografia dos Paralamas é o que traz a música tema desse episódio, “Tendo a Lua”, que foi lançada no disco Os Grãos, de 1991.
Os anos 90 começaram com tudo para a música brasileira, mas para Os Paralamas foi meio morno. Isso no Brasil. Já na Argentina simbolizou o auge da banda. Trac Trac, que ouvimos aqui, é uma canção do roqueiro argentino Fito Páez. O Paralamas foi apelidado de a maior banda de rock argentina do Brasil. Trac Trac foi até que bem nas rádios brasileiras, mas o disco Os Grãos nem de longe se equiparou aos outros sucessos na questão comercial. Porém, é nele que Herbert gravou o que eu considero um de seus auges de inspiração. Eu seria desonesto comigo se eu falasse dos Paralamas e não exaltasse “Tendo a Lua”, a música que, toda vez que ouço, me faz ter vontade de chorar… de alegria.
A letra é bastante simples, como vocês notaram. Reza a lenda que “Tendo a Lua” foi escrita a partir de um bolinho de bilhetes da amiga Tetê Tillet, que Herbert Vianna encontrou em meio a suas coisas. Num desses bilhetes estava escrito o que se tornaria a estrofe do refrão.
Essa despretensiosa faixa dos Paralamas narra o sentimento de leveza trazido pelo ato de deixar o passado para trás – o alívio que é jogar “tanta coisa fora”, “cartas e fotografias” e tudo o mais que nos lembra “alguém que um dia foi embora”. Ufa! Quem nunca passou por isso? Metaforicamente, o refrão associa uma sensação de liberdade ao que eu imagino que seria uma caminhada na Lua, sob “aquela gravidade onde o homem flutua”. Eu acho, cara, uma referência sensacional.
O tema que decorre sobre o satélite natural da Terra já inspirou muitas canções e muitos artistas, sem dúvida, mas recentemente isso ficou mais intrigante para mim. Principalmente após eu ter sido diagnosticado com câncer e experimentar o sentimento de morte. Não vou falar sobre isso novamente, mas é a melhor forma que encontrei de entender a fixação de contemplar a Lua.
Eu me sentava na guia da calçada e olhava para a Lua das 18 horas. Ela é uma lua azul, ainda sob a influência da claridade do Sol, e pouco a pouco vai acendendo com o cair da noite, a ponto de deixar suas cicatrizes à vista.
Quem não tem cicatrizes, né, cara? As da Lua foram causadas por impactos de meteoritos e, mesmo assim, ela continua exuberante.
Quando eu olho para a Lua, eu começo pensando “Como é possível?”. Então, lembro dos vários documentários de Carl Sagan que eu assistia, e que me explicavam a origem fascinante da Lua. Em meio a essa minha obsessão em contemplar a Lua e analisar a minha insignificância, eis que surgem as celebrações dos 50 anos da chegada do Homem à Lua.
[Gravação da época] Neil Armstrong deixa uma pegada na Lua, com o pé esquerdo. Seus primeiros passos são uma lenta e dramática dança. Grande e forte, Neil sente-se leve como uma criança. Na Lua ele pesa apenas 15 kg. Ele fala “Este é um passo pequeno para um homem. Um gigantesco salto para a humanidade.”
Vivemos tempos estranhos, em que pessoas acreditam que a terra é plana e que o homem nunca chegou à Lua. Meu pai morreu com a certeza de que o homem jamais chegou lá e que aquilo tudo era uma montagem de Hollywood. Meu pai não tinha base teórica para sustentar isso, ele apenas ouviu alguém dizer e acreditou. Afinal, pensar que chegamos à Lua nos faz inevitavelmente imaginar o próximo passo em direção ao desconhecido Cosmo, e pessoas como o meu pai odeiam o desconhecido. Já eu, adoro!
E a canção dos Paralamas faz a gente imaginar uma caminhada naquela gravidade onde o homem flutua, e imaginar isso me faz chorar, cara, de alegria.
“Tendo a Lua” exalta em mim um excesso de sensibilidade, uma vontade estranha de estar lá, mesmo que isso me custasse nunca mais poder voltar. A Lua me dá um medo excitante; ela me atrai. Mas, assim como Herbert, eu não quero participar de uma expedição junto a militares durões e cheio de regras. Eu também acho que a Lua não merecia a visita de militares e, sim, de bailarinos dançando naquela gravidade a mais bela dança já apresentada… Dá pra entender?
Se você é detalhista, pode ter reparado em algo que merece ser abordado nesse episódio também: “O Céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu”. Ícaro, na mitologia grega, é conhecido pela sua tentativa de deixar a ilha de Creta voando. Tentativa essa que foi frustrada, e resultou numa queda que culminou na sua morte.
Conta a lenda que, certa vez, Ícaro e seu pai Dédalo foram presos no labirinto do Minotauro. Para fugir do lugar, construíram asas artificiais com cera do mel e penas de gaivotas. Antes da fuga, Dédalo teria pedido ao filho que não voasse muito perto do Sol, pois teria as asas derretidas, e nem muito perto do mar, pois a umidade da água deixaria as asas pesadas. No entanto, Ícaro não acatou o pedido do pai, querendo realizar o sonho de voar o mais próximo do Sol possível, rumo ao infinito do céu. Ícaro perdeu as asas, caiu no mar e morreu.
Já Galileu Galilei é uma personalidade científica, portanto, um homem da ciência que estuda, calcula, analisa e testa antes de voar. Galileu foi físico, matemático, astrônomo e filósofo, inovou métodos científicos e ficou famoso ao inventar o telescópio refrator. Com ele, passou a vasculhar o céu. Foi Galileu que descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vênus, os satélites de Júpiter, os anéis de Saturno, as estrelas da Via Láctea… Galileu sempre representou a defesa do heliocentrismo. Ou seja, Galileu viajou e desvendou o céu, assim como Ícaro.
A inocência, a curiosidade e o espírito desbravador de Ícaro o fizeram, literalmente, voar em direção ao desconhecido, mesmo sabendo que isso lhe custaria sua vida. Essa é a principal diferença entre os dois: o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu.
E é assim, concordando com o poeta, e com a voz já embargada, que chegamos ao fim de mais um episódio do Clube da Música Autoral.
Em 1999, Os Paralamas gravaram o acústico MTV e isso resultou num dos discos mais vendidos da banda. Na oportunidade eles regravaram Tendo a Lua num arranjo com metais que ficou ótimo, na minha opinião. A canção reviveu quase dez anos após o seu lançamento e voltou para o topo das paradas de sucesso. E é com essa versão que fechamos esse episódio.
Antes de finalizar, não posso deixar de agradecer aos ilustres sócios diretores do Clube: Henrique Vieira de Lima, Caio Camasso, Emerson Silva Castro, Antônio Valmir Salgado Junior, Dilson Correa Lima, Mateus Godoy, João Jr Vasconcelos Santos, Luiz Machado, Lucas Valente, Camilla Spinola, Tiemi Yamashita e Marcelo Leonardo. Eles são mais que sócios: são diretores do Clube e nos ajudam muito a manter viva essa missão de levar boas histórias até vocês.
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Beleza? Por hoje é isso! E, antes de finalizar, como vocês sabem, Herbert Vianna tinha uma vontade de Ícaro de voar. E, assim como ele, sofreu sérias consequências, protagonizando um dos maiores dramas da história da música brasileira após sofrer um acidente aéreo. Mas isso é tema para outro episódio do Clube.
A edição do Clube da música Autoral é do Cocão, Rogério Silva, e a produção é minha, Gilson de Lazari.
Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima!
Amigão …. que passou com o episodio do Paralamas???
Sinceramente, não sabemos o que aconteceu, mas agora já está arrumado. Obrigado por nos alertar. Abraços!
Olha… eu sou chileno, morei no Brasil por quase 20 anos, aprendi a gostar dos Paralamas, inclusive assisti o ultimo show no Recife antes do acidente do Herbert.
Mais confesso que essa versão em espanhol do “Melô do Marineiro”, além de não conhecer… achei o maior barato. Muito bom o episodio!
Lindo podcast!
Descritivo e emocional!
Tocante mesmo!
Obrigado!
Obrigado por comentar Pedro, esse episódio é especial para mim.