Quem escolheu os temas foram os sócios, e a mais votada, foi Cássia Eller, que vem para encerrar a nossa terceira temporada em alto nível, onde abordaremos também, sua mais emblemática canção… “Malandragem”.
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 65,2 MB
Gostou da arte? Saiba que você pode adquirir essas belíssimas telas, que são feitas pelo artista plástico Caio Camasso. E tem mais, se você for um sócio do Clube da Música Autoral, você ganha 20% de desconto!
Visite o Instagram @artecamasso e conheça os trabalhos do Caio.
Se você gostou do Clube da Música Autoral, seja um sócio. Acesse: clubedamusicaautoral.com.br/assine e confira as vantagens que você recebe em troca do seu apoio.
Se você quiser, também pode nos ajudar fazendo um PIX. Utilize nosso email como chave: clubedamusicaautoral@gmail.com Qualquer valor é bem-vindo.
Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
Assine
Apple Podcasts
Google Podcasts
Spotify
Deezer
Amazon Music
Castbox
Podcast Addict
Pocket Casts
RSS
Ver Mais Opções
Fale Conosco
Facebook
Twitter
Instagram
WhatsApp
Telegram
Se preferir, escreva um comentário, ou envie um email para: clubedamusicaautoral@gmail.com
Playlists
Quer ouvir as músicas que tocaram neste episódio?
Confira a playlist no Spotify ou no Deezer
Começamos com “Nina Simone,” e contamos também, um pouco da história da luta pelos direitos civis americanos. Depois, abordamos “Janis Joplin,” e rascunhamos, o que foi esse tal movimento hippie dos anos 60. A terceira musa, foi “Madonna,” e sua emblemática e profana canção, “Like a Prayer,” seguida por “Whitney Houston,” e o sucesso musical e cinematográfico, do filme “O Guarda-Costas.” A quinta musa, foi também, a primeira brasileira da temporada, “Rita Lee,” a ovelha negra e veio seguida, por “Aretha Franklin,” e o pedido de respeito, que marcou o movimento feminista cultural. No sétimo episódio, “Tina Turner,” com “Simply the Best,” seguida por “Amy Winehouse,” e o hino do luto, “Back to Black.” O penúltimo episódio, foi nossa homenagem a “Elis Regina,” onde também, desvendamos a mensagem, por trás de “O Bêbado e a Equilibrista,” e hoje, encerramos com chave de ouro, pois o episódio 30 do Clube, será sobre a canção “Malandragem,” eternizada por “Cássia Eller.”
E essa ordem que eu citei sobre os episódios, assim como os temas, foram escolhidos pelos sócios do Clube. Antes de começar a temporada, 18 musas foram listadas em uma enquete e os sócios, votaram escolhendo; Cássia Eller, foi a mais votada e por isso, é ela que encerra a temporada, em alto nível. Se você quiser participar das enquetes e ajudar a manter essa ideia viva, basta ser um sócio oficial do Clube; é um apoio mensal, que você pode fazer através do PicPay, PayPal, PagSeguro e do Apoia.Se. Saiba mais, acessando o site: clubedamusicaautoral.com.br/assine
E aproveito, para mandar um salve para os sócios… mais do que sócios, eles são diretores do Clube; tem os nomes citados, ouvem antes do lançamento e recebem uma camiseta exclusiva do Clube. João Junior Vasconcelos Santos, Matheus Godoy, Antonio Valmir Salgado Junior, Luiz Prandini, Emerson Castro, Henrique Vieira Lima, Luiz Henrique Oliveira Machado, Dilson Corrêa Lima Teixera Júnior e Caio Camasso.
Junto com o fim da temporada, está chegando ao fim também, a campanha do Catarse, que eu lancei para editar o meu livro, “Os Delírios Musicais.” Ainda dá tempo de você comprar o livro no pré-lançamento e me ajudar a lançá-lo. Acesse: catarse.me/osdeliriosmusicais e bote fé, é um projeto justo, que merece seu apoio.
Todos os episódios dessa temporada, tiveram as artes de vitrine, desenvolvidas através de pinturas, do artista plástico “Caio Camasso” e a finalização do “Patrick Lima,” que ao lado do “Gustavo Ferroni,” me ajudaram na correção das minhas pronúncias em inglês. Entre outros detalhes, toda essa temporada, foi editada pelo “Cocão,” meu parceiro do Clube, que estará comigo no episódio extra, onde comentaremos os bastidores dessa temporada, por isso, se ainda não mandou um comentário, ou depoimento, mande, que dá tempo. Os melhores, serão lidos nesse episódio extra. Para encontrar o clube nas redes sociais, é fácil, estamos no Twitter, no Instagram, no Facebook e no YouTube. Procure por: “Clube da Música Autoral,” que só de seguir, você já começa a fazer parte desse clube.
E antes de começarmos a falar sobre Cássia Eller, não posso deixar de lembrar, que o Clube da Música Autoral, faz parte do “Overcast,” uma rede de podcasts, que foge do padrão da podosfera tradicional. Conheça mais, acessando: overcast.com.br
Cássia Eller, caros ouvintes… assim como tantos gênios da música, teve uma história curta, porém, intensa. Hoje, serei simples e eficiente; vamos na ordem cronológica dos fatos, afinal, basta os complexos golpes, que a vida nos dá, principalmente, quando resolve levar cedo os bons, né? Com vocês… Cássia Eller, com respeito e sem ser vago.
“Santa Rita de Cássia,” a santa das causas impossíveis. Eu sei, Cássia Eller, não tinha nada de santa, pelo contrário. Mas essa ligação tênue, aconteceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de dezembro de 1962, quando a avó, fiel devota, sugeriu que a pequena recém-nascida, deveria se chamar “Cássia,” em homenagem a Santa católica das causas impossíveis.
Assim, foi batizada “Cássia Rejane Eller,” filha mais velha de 5 irmãos. Seu pai, “Altair Eller,” era sargento paraquedista do exército brasileiro e sua mãe, “Nancy Eller,” era dona de casa. Devido a profissão do pai, Cássia, precisou mudar-se algumas vezes; aos 6 anos, mudou-se para Belo Horizonte, ficou lá até os 10 anos e então, mudou-se novamente, para Santarém, no Pará. Aos 12, seu pai, precisou voltar para o Rio de Janeiro e assim, era sua rotina na adolescência. Cássia, começou a ter seus primeiros conflitos de personalidade, ao perceber que poderia ser diferente de suas amigas. Logo, esses conflitos foram amenizados, quando ganhou seu primeiro violão; Cássia, tinha 14 anos. Ela aprendeu a tocar o instrumento e encontrou na música, um refúgio, um lugar, onde ela podia se expressar,, sem necessariamente, explicar o que estava sentindo. Sua banda preferida, eram eles… os Beatles…
Cássia, estudou canto coral e canto lírico, e até participou de algumas óperas em Brasília; o ápice, foi quando ela integrou o time de artistas, de um espetáculo ao lado de “Oswaldo Montenegro.” Mas, Cássia, acabou dividida entre as capitais; se quer concluiu o segundo grau. Ela, queria mesmo, era cantar. Em Belo Horizonte, participou de um grupo de forró e foi percussionista de um conjunto de samba. Em Brasília, tornou-se cantora do primeiro trio-elétrico da cidade, o “Massa Real.” Ela, também chegou a trabalhar de garçonete, de servente de pedreiro e Chegou até, a trabalhar no ministério da agricultura de Brasília. Ela tentou, mas não deu certo, aos 20 anos, Cássia, decidiu dedicar-se exclusivamente a música. Ela, era eclética e isso, lhe abriu várias portas. Ouça Cássia Eller, cantando em um musical, chamado: “Os Gigolôs,” de 1980.
Mas, morando em Brasília, inevitavelmente, Cássia, se envolveu com o movimento Punk dos anos 80. Cara, Brasília era um seleiro de músicos anarquistas e questionadores do sistema, e foi lá, que ela desenvolveu sua personalidade roqueeira, ao integrar bandas de Rock.
Ela, escolheu a vida noturna; se não estava tocando, estava trabalhando em casas noturnas. Quem ouve esse perfil, logo imagina, que Cássia Eller, era espontânea e desinibida, né? Alguém que chegava chegando e logo conquistava o holofote, mas que nada, Cássia, era extremamente tímida; evitava olhar nos olhos para cumprimentar. Por muitas vezes, essa personalidade, a atrapalhou, mas, quando subia no palco e lhe davam um microfone, tudo o que a jovem acanhada, não havia dito, era exalado em performances arrepiantes.
Ela se virava, tanto na vida pessoal, quanto profissional. Tocar hoje, ser a estrela da noite e no dia seguinte, ser garçonete, não era problema para Cássia; a ausência de vaidade, era uma marca registrada dela, e pessoalmente, em sua vida amorosa, Assumidamente homossexual, Cássia, vivia vários romances a três, e quebrou muitos paradigmas e tabus, e sempre demonstrou, ser uma pessoa muito bem resolvida com sua identidade sexual.
A primeira oportunidade de sair do anonimato, surgiu em 1989, quando Cássia, mudou-se para São Paulo e recebeu ajuda de seu tio, “Wanderson Clayton,” que na época, trabalhava com a banda “14 Bis.” Ele, bancou a gravação de uma demo, onde Cássia, interpretou a canção, “Por Enquanto,” de “Renato Russo.”
Sem dinheiro para se manter em São Paulo, Cássia, voltou para Brasília, mas seu tio, estava motivado a torná-la uma cantora de sucesso e foi até o Rio de Janeiro, falar com “Mayrton Bahia,” que havia conquistado prestígio, por ter produzido os primeiros discos do “Legião Urbana.” O tio, ficou 6 horas esperando por Mayrton, para poder lhe mostrar a fita k7 da sobrinha cantora, como ele não apareceu, deixou a fita e voltou para São Paulo. Ao chegar em casa, seu telefone tocou, era Mayrton, dizendo que ouviu a fita e ficou impressionado, tanto, que ofereceu um contrato de 3 discos para Cássia. Ela e o tio, se mudaram para o Rio, onde o processo de produção se iniciou, e adivinha qual foi a principal canção do disco?
Muitos fãs, se quer sabem que essa canção é do Renato Russo, pois Cássia Eller, assim como Ellis Regina, se apropriava das canções e conseguia dar um novo significado, tanto, que muitos fãs e até o próprio Renato Russo, preferiam essa versão,, com a Cássia cantando.
Para o primeiro disco de Cássia chamar a atenção da mídia, a “PolyGram,” convidou vários compositores renomados, como “Roberto Frejat” e “Cazuza,” com a canção “Que o Deus Venha,” um blues etílico, que era a cara de Cássia. Frejat, a partir dali, se tornou um admirador do talento de Cássia Eller.
Cássia Eller, despontou, junto a uma safra de lançamentos de mulheres cantoras, que vieram na sombra de “Marisa Monte.” Ela, havia balançado o mercado fonográfico, com seu disco de estréia, “MM,” de 1989, que vendeu 900 mil cópias, onde o maior sucesso, foi essa canção aqui, ó…
Tenho certeza, que agora você voltou para 1990; pelo menos o Cocão, eu sei que voltou. Época boa. Nessa época, as gravadoras, ainda eram grandes potências no mercado e com o reflexo de Marisa Monte, lançaram “Zélia Duncam,” que na época, era “Zélia Cristina;” “Selma Reis,” e “Cássia Eller.” Na época, a mídia, fez um comparativo, de que Cássia, seria a Marisa Monte ácida, pois o repertório de Cássia, era bem mais Rock n’ Roll, inclusive, no seu disco de estreia, uma versão Reggae de “Elleonor Riggby,” também chamava a atenção.
Apesar dos investimentos da gravadora, as vendas do disco de estreia, foram tímidas, 60 mil cópias, mas, já era o suficiente para colocar Cássia na lista de artistas com potencial de investimentos, e foi o que fizeram, mas eles estavam divididos, em relação ao estilo visual de Cássia Eller; os executivos, queriam um visual mais menininha, já Mayrton Bahia e seu tio, que conviviam com ela, já haviam entendido que esse visual, seria totalmente contra, a personalidade de Cássia Eller, inclusive, uma vez, pediram que ela se apresentasse com trajes finos e maquiada, assim, bem, feminina, mas ao fim do show, ela já havia rasgado o vestido. Cássia, na verdade, já havia rasgado muitos protocolos de conduta, e pouco a pouco, vinha imprimindo o estilo de vida Rock n’ Roll.
Porém, no meio desse caminho, houve um disco perdido, o famoso disco de Cássia Eller engavetado. Acontece,, que o blues-man argentino, “Victor Biglione,” que estava procurando um cantor para fazer alguns shows de Blues, topou com Cássia e juntos, fizeram apenas alguns shows, mas Cássia, arrebentou! Se liga nessa versão Blues, de “Mercedes Benz.”
Mayrton Bahia, ao ouvir a dupla, enlouqueceu, e por conta própria, gravou esse disco, o tal disco perdido, que a gravadora negou-se a lançar, por motivos obscuros. Segundo Victor Biglione, o motivo,, era que um disco com versões de músicas em inglês, cujo o estilo não era popular no Brasil, poderia manchar a carreira da cantora. Poxa vida, PolyGram! Entendeu porque as grandes gravadoras faliram?
Em 1992, o segundo disco oficial de Cássia, “Marginal,” chegou nas lojas. Era um disco de Rock, sem dúvidas, mas além de versões de clássicos de “Jimi Hendrix” e “Rita Lee,” também trazia versões ecléticas, de canções como, “Teu Bem,” de “Arrigo Barnabé.” Cássia, como uma boa roqueira brasileira, gostava de misturas e a gravadora, valorizava essa variação.. cultural.
Mas, naquela mesma época, estava acontecendo uma outra mudança comportamental, que moldaria a indústria musical brasileira, essa novidade, era uma sigla, se chamava: “MTV,” a “Music Television,” um canal aberto,, que trazia uma programação, exclusivamente musical. Inicialmente, a programação da MTV, era apenas com clipes de sucesso da América, e é claro que deu certo, né? Abraçamos aquela novidade. Eu, por morar no interior nessa época, dependia de fitas VHS, que o meu amigo da capital me trazia, com a programação da MTV. Mas logo, a “Abril,” dona da filial brasileira, passou também, a investir em artistas brasileiros, e quem nessa época, tinha a cara da MTV? Quem? Cássia Eller, com seu Rock mistureba. Com foco na nova tendência, a PolyGram, investiu em vários video-clipes e esse investimento, foi certeiro, aliás, a MTV, era uma novidade tão descolada e autêntica, que quase tudo o que entrava na programação, dava certo. Não demorou, para que as gravadoras nacionais, dominassem a programação da emissora, com seus ardilosos jabás, herança maldita das rádios, mas, havia um problema aí, na MTV, o Conteúdo dos brazucas, tinha que concomitantemente, fazer sombra ao que os gringos estavam fazendo, que era mais ou menos, isso aqui, ó…
Mas, se você acha que Cássia, estava surfando na onda do sucesso, saiba que não era bem assim. Ela, almejava o sucesso profissional, sem dúvida, mas, não curtia o pacote completo, que vinha com muita bajulação, ostentação e fãs xaropes. Em 1993, Cássia, engravidou e logo,, deu a luz a “Francisco Ribeiro Eller,” fruto de uma relação casual, com o baixista “Tavinho Fialho.” “Chicão,” como muitos sabem, foi criado como filho do casal Maria Eugênia e Cássia, que nessa fase, se afastou da carreira artística; foi bom, pois, ela estava desgostosa com os rumos que a gravadora havia dado a sua carreira. Oito meses depois do nascimento do filho, Cássia, resolveu voltar aos palcos, e a gravadora, cobrava por mais um disco, mas Cássia, não suportava o clima de criação e concentração do estúdio. Apesar de ter composto algumas poucas músicas, ela mesmo, era de interpretar, em shows ao vivo, em ambientes intimistas. Por várias vezes, ela declarou, que ficar trancada em estúdio, não era a dela, porém, o seu novo produtor musical, “Guto Graça,” entendeu que o que faltava para Cássia, era exatamente, uma pré-produção melhor de suas músicas. Seus discos, soavam Rock, porque os arranjos, eram de certa forma, improvisados, e escondido da PolyGram, Guto, levou Cássia para sua casa, onde tinha um estúdio e lá, criou um clima diferente dos tradicionais estúdios; um clima familiar, onde Cássia, que ainda amamentava Chicão, pudesse ficar a vontade durante as sessões, que também, eram acompanhadas por amigos e familiares. O clima amistoso, quebrou a pressão que Cássia, psicologicamente, sofria em estúdio, já que esse, contratualmente, seria o último disco com a PolyGram. Mas deu tudo certo, e é nesse disco homônimo, de 1994, que surge pela primeira vez, a canção que definiria a personalidade artística, de Cássia Eller.
Esse disco de 94, é um divisor de águas na carreira de Cássia Eller. Ela, interpretou “Herbert Viana,” “Raul Seixas,” “Djavan.” O método de Cássia escolher seu repertório, era singular; ela, tocava a canção em seu violão e procurava a sintonia certa, quando a encontrava, geralmente, a canção entrava no disco. E nesse disco, também, é marcado o início da parceria com Roberto Frejat, que geraria muitos frutos.
Esse, é o “Blues do Iniciante,” mais uma das parcerias entre Cazuza e Frejat, que Cássia se apoderou. Esse disco, foi o primeiro de Cássia Eller, a ultrapassar as 100 mil cópias vendidas, e assim, Cássia e a PolyGram, renovaram o contrato, para repetir a dose, e em 1997, lançaram o álbum “Veneno Antimonotonia,” um tributo, que continha apenas músicas de Cazuza.
Roberto Frejat, rasgou a ceda elogiando Cássia, que como sabem, todas as músicas do Cazuza, da fase ”Barão Vermelho,” são parcerias entre os dois roqueiros. O disco tributo á cazuza, foi muito bem aceito pelo público, mas antes disso, a PolyGram, já havia lançado um disco ao vivo, o primeiro, que se chama: “Cássia Eller Ao Vivo,” de 1996.
Cássia, era demais em estúdio, mas era no palco, que ela se transformava. O disco ao vivo, vendeu mais que os álbuns de estúdio e promoveu a carreira já consolidada da cantora, então, a gravadora,, que não é boba nem nada, repetiu a dose e lançou em 98, mais um disco ao vivo, com apresentações da turnê “Veneno,” que continham na maioria, músicas do Cazuza.
Estava tudo indo bem; Cássia, montou sua tradicional banda com as percussionistas, “Tamina Brasil” e “Lan Lan,” aliás, não é segredo, que Lan Lan, Maria Eugênia e Cássia Eller, mantinham um relacionamento a três. As festas e encontros também eram frequentes, e o consumo de drogas; todos sabem, que é uma prática comum entre a classe artística, sem generalizar; claro, existem excessões, mas Cássia, não era uma exceção, ela enfiava o pé na jaca mesmo. Mas também, tinha uma consciência de classe incrível, e frequentemente, escondida de seu empresário, ela e a banda, faziam shows intimistas, em cidades pequenas do interior, simplesmente, pelo prazer de tocar perto do público.
Cássia,, para alguns, poderia parecer frágil, mas não era bem assim, ela, tinha uma opinião forte. Resolveu mudar o seu conceito artístico e passou a elaborar um projeto de músicas inéditas. Ela, procurou alguns compositores famosos e pincelou algumas canções, que a identificava, mas encontrou a veia artéria do seu projeto, em um compositor paulistano, também roqueiro, na época, integrante dos “Titãs.” É claro que estou falando de “Nando Reis;” daí, aconteceu a mágica!
Nando reis, conta que o seu encontro com Cássia foi estranho, ele, estava trabalhando algumas músicas com Marisa Monte, em seu apartamento. Marisa, inclusive, compôs duas músicas para Cássia, que entrou nesse disco, uma delas, inclusive, fez muito sucesso… “Palavras ao Vento.”
Pois bem, Nando Reis, estava lá no apartamento e chegou Cássia Eller; ela,, tímida, entrou, disse oi e tirou um gravador da bolsa, sentou-se e ficou ouvindo as músicas de Nando Reis. Marisa Monte, já havia dito que Cássia, procurava por músicas inéditas. Ele, tocou umas 10 canções de sua autoria. Nando, estava planejando lançar sua carreira solo e tinha um vasto repertório. Ao fim, Cássia, desligou o gravador, agradeceu e foi embora. Nando, conta que achou aquilo estranho, mas enfim…
O que aconteceu depois, vocês já sabem, né? No disco de músicas inéditas de Cássia Eller, entraram 4 músicas de Nando Reis, sendo que o grande sucesso, ficou a cargo da canção “Segundo Sol,” que Nando narra, , que ela teria sido roubada dele, já que estava a guardando, para o seu disco solo, mas não teve jeito, hoje, é uma das músicas mais marcantes, da carreira de Cássia Eller.
Após o primeiro encontro estranho, a dupla, Nando Reis e Cássia Eller, desenvolveram uma relação amorosa, não digo, amor carnal, e sim, amor de amizade e cumplicidade. Esse mesmo amor, foi declarado por Elis Regina à Milton Nascimento. São ligações espirituais, que foram atraídas e resultaram em um amor de convivência.
Nando, passou a frequentar o apartamento de Cássia, e tocaram muito juntos. Ela, o chamava de: “o melhor cantor desafinado do mundo,” e viravam noites bebendo e conversando, tanto,, que foi inevitável, Cássia, convidou Nando Reis, para produzir esse disco e ele aceitou. “Com Você Meu Mundo Ficaria Completo,” foi lançado em 1999, e é considerado, a obra-prima de Cássia Eller.
A parceria entre Nando e Cássia, estava só começando. Logo, em 2001, o baixista do Titãs, o cantor de “Marvim,” saiu da banda. Eu, particularmente, fiquei muito sentido com isso, mas, ele, já havia consolidado sua carreira solo. O empurrão que Cássia Eller deu, o ajudou muito. Então, Cássia, foi convidada para gravar o “Acústico MTV.” Se você morou no Brasil, nas décadas de 90 e 2.000, sabe que a série de lançamentos, acústicos MTV, ou “Umplugged MTV,” faziam um extraordinário sucesso, e com Cássia Eller, não foi diferente. Ela, novamente, convidou Nando Reis, para produzir o disco, que seria lançado em vídeo também, e foi dirigido por Nando e Luiz Brasil.
Sabendo da antipatia de Cássia, quanto a ensaios e estúdios, Nando, alugou uma fazenda, onde os músicos e equipe técnica, passaram algumas semanas, produzindo o conteúdo. Nando, ajudou a educar Cássia Eller, que costumava entregar tudo o que sabia, já na primeira canção. Foi ele também, que sugeriu “Non Je Ne Regrete Riene,” um clássico de “Édith Piaf,” que abria o disco ao vivo, de 2001.
Esse disco, é o maior sucesso comercial de Cássia Eller; ultrapassou a barreira de 1 milhão de cópias vendidas, inclusive, ganhou o “Grammy Latino,” como melhor álbum de rock de 2002. Cocão, para valorizar nossa playlist, vamos lembrar de alguns sucessos, que tocavam sem parar em todos os lugares do país, como, “Partido Alto de Chico Buarque.”
“1º de Julho,” onde Cássia, mais uma vez, resgatava o mito, Renato Russo…
“Todo o Amor que Houver Nessa Vida,” de Cazuza e Frejat, também sendo homenageado pela fonte de poesia, que Cássia tanto bebeu.
Os “Beatles,” a referência musical de Cássia Eller, claro, não podia ficar de fora, e foi com “Sgt. Peppers, Lonely Hearts Club Band.”
“Esquina Paranóia Delirante,” quem não lembra? Com participação de “Xis” e “Nação Zumbi.”
Aliás, Nação Zumbi, também representou o Manguebeat, em “Quando a Maré Encher.”
Teve também, “Mutantes.” “Top Top,” foi talvez um dos clipes desse show, que mais passaram na MTV. Eu lembro, porque em 2001, eu estava chegando em São Paulo e não assistia outro canal…
Isso tudo, sem falar das parcerias geniais com Nando Reis, como a belíssima, “Luz dos Olhos.”
E ele, Nando Reis, que não queria participar da gravação, foi coagido e cantou com Cássia, “Relicário,” que também foi um senhor sucesso desse disco.
O Acústico MTV Cássia Eller, é um baú de hits, claro, sem dúvidas, mas acreditem, ainda não falei do maior sucesso desse disco, que vinha repaginado com um arranjo ainda mais incrível, que o da versão original. Agora sim, vamos falar sobre o tema do episódio 30 do Clube da Música Autoral… “Malandragem!”
Essa versão aí, é do “Acústico MTV.” Nando Reis, sugeriu dobrar o tempo e dar um clima meio diferente, mas os músicos, rejeitaram; Nando, precisou insistir. Ele conta, que nesse dia, a luz da casa na fazenda onde estavam, acabou; ele, foi para o quarto e refletiu se deveria insistir, afinal, era a principal música de Cássia Eller, e eu, só posso agradecê-lo pela insistência, pois essa é a versão que eu mais gosto!
Mas a versão original, também é incrível,, sem dúvidas, a que foi produzida por Guto Graça Mello, em 1994, mas, acho que ainda mais incrível, é a história, de como essa música, até então inédita, chegou nas graças de Cássia Eller.
Mas, para contarmos essa história desde o início, precisamos resgatar alguns personagens, como por exemplo, “Angela Ro Ro.” Ela, sem dúvidas, merece um episódio do Clube, mas nesse enredo, basta lembrar que Angela, era amiga pessoal de uma outra figuraça dos anos 80, “Cazuza,” e juntos, saíam pelo baixo Leblon, no Rio, curtindo tudo e todos. Angela, havia morado em Londres e trazia um ar de modernidade em suas composições, mas, ela era muito inconsequente nas suas atitudes, principalmente, quando estava bêbada. Cazuza, claro, também era, mas o velho machismo, prejudicava muito mais, Angela.
E quem eram os maiores compositores cariocas do momento? Cazuza e seu parceiro, Roberto Frejat, integrantes da banda de Rock, Barão Vermelho.
Segundo Frejat, Cazuza ligou e disse:
– Precisamos ajudar a Angela, ela está muito mal-vista na sociedade, publicaram de novo no jornal, que ela deu vexame, desmarcaram shows, e isso está atrapalhando a carreira dela. Escrevi uma letra, me ajude a terminar.
Frejat, fez a parte melódica e Cazuza, levou a fita K7 para Angela…
Quando Angela ouviu, achou uma merda e prepotente, disse:
– Como assim, uma garotinha de meias 3/4? Eu não sou uma garotinha!
Ela e Cazuza, discutiram, ele, ameaçou entregar a música a sua “arqui-inimiga” na época, “Zizi Possi,” mas por fim, nunca cumpriu essa promessa, inclusive, ambos se esqueceram da música e logo voltaram a ser amigos.
Resumindo a história, Cazuza morreu em 1990, mais ou menos quando Cássia Eller surgiu, com seu primeiro disco. Frejat, ficou encantado com o talento da nova cantora e até, tentou produzi-la, mas não deu certo, mesmo assim, ele passou algumas musicas suas, para que ela gravasse. E foi nessas, que ele se lembrou da música da Angela Ro Ro. Mas antes, ligou para ela e perguntou se ela ainda tinha planos de gravá-la. Angela, se quer lembrava da música, e liberou para Frejat passar para outra pessoa.
Quando Cássia ouviu, ela enlouqueceu; ela, era fã de Cazuza e parecia que a canção, havia sido feita para ela e Imediatamente, começou a trabalhar sua interpretação.
Mas parem para analisar, Cássia, era tímida e aparentemente recatada; a letra fala: “quem sabe ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola, sozinha.” Essa frase é sensacional, pois nos trás um misto de sensações. Eu,, como pai de uma menina de 12 anos, imagino a fragilidade e o medo da pequena. Talvez, um molestador, ao ver uma menina com meias 3/4, sozinha, tenha fantasias sexuais. E a menina, por sua vez, se quer sabe dos riscos que corre e apenas pensa, que talvez, tivesse sendo castigada, e por isso, reza, por ser uma menina má.
Porém, Cássia, quando fazia amizade com a pessoa, ela se entregava; era extrovertida, tomava uns pileques e era, vamos-se dizer, malandrinha, como diz na canção… “Eu só peço a Deus, um pouco de malandragem.”
Malandragem, quando foi lançada em 1994, tirou Cássia Eller do underground e não só isso, a canção, estourou quatro vezes, a primeira, no disco produzido por Guto Graça Mello, depois, em uma versão acústica, somente em violão, e depois, no maior sucesso de todos, a versão produzida por Nando Reis, para o Acústico MTV, e a quarta e última vez, vejam vocês, quando Malandragem, foi sucesso na voz de sua musa inspiradora… Angela Ro Ro.
Angela Ro Ro, é uma figuraça e ela mesma narra, que estava no carro com o rádio ligado e ouviu: “eu só peço a Deus, um pouco de malandragem…” e pensou: opa, conheço essa música. E lembrou: ah, é a música do Caju (apelido de Cazuza), que o Frejat, disse que iria entregar para alguém. Mas daí, ela, passou a ouvir em todos os lugares e percebeu a burrada que havia feito. Mas ela mesmo, confessou que se quer podia reclamar, porque a Cássia, cantava demais.
Inclusive, após a morte de Cássia, Angela Ro Ro, oficialmente, incluiu Malandragem no seu repertório e em todos os shows, antes de cantá-la, fazia questão de lembrar a merda que fez, ao recusar a sua música, e completa dizendo, que ela ainda era muito nova, para entender que era apenas uma garotinha.
E assim, como toda bela música tem seu fim, esse episódio do Clube da Música Autoral, também vai chegando ao seu fim, pois, felizes, são os que ainda tem tempo para cantar, pois, esse tempo passa e infelizmente, já acabou para Cazuza e para Cássia Eller.
Essa, é a nossa indicação autoral do episódio 30, a banda curitibana, “Mulamba,” formada exclusivamente por mulheres, que levam na música, a missão de difundir temas relevantes, que precisam de voz, espaço e respeito.
Você, pode ouvir essa indicação autoral e todas as músicas que foram citadas nesse episódio, na nossa playlist exclusiva, que já está disponível no Deezer e no Spotify, aliás, todos os episódios do podcast, Clube da Música Autoral, você também encontra por lá.
Agora é oficial, assim como chega o fim a terceira temporada, também está se encerrando o financiamento coletivo do meu livro, “Os Delírios Musicais,” mas, se quiser cooperar, comprando o livro na pré-venda, ainda dá tempo. Corre lá no catarse.me/osdelíriosmusicais É um projeto digno, que merece seu apoio.
E lembro, que ainda vai rolar o episódio extra, onde Cocão e eu, narraremos os bastidores dessa temporada e leremos as melhores mensagens que nos foram enviadas. Se quiser participar, estamos no Facebook, Twitter e Instagram. Procure por: “Clube da Música Autoral,” que só de seguir, você já começa a fazer parte desse clube.
Após o incrível sucesso do Acústico MTV, Cássia Eller, entrou numa rotina insana de shows. Eram noites e mais noites dormindo em aeroportos. Ela, ficava meses sem ver o filho, que era sua grande paixão. Contudo, passou a ter recaídas, promovidas pelo uso inconsequente de drogas.
Empresários, banda e produtores, fizeram uma reunião, o objetivo, era afastar Cássia dessas recaídas, que inicialmente, preocupavam mais pelo quesito financeiro. No entanto, ela, passou a ficar depressiva e frequentemente, tinha crises de pânico. Ela, quebrava objetos, se machucava. Cássia gritou, para quem sabe ouvir, ela avisou que algo estava errado, e por inúmeras vezes, como se pressentisse algo pior, comentou com algumas pessoas, o que ela gostaria que acontecesse com Chicão, caso ela viesse a morrer. Claro, ninguém levava aquele papo a sério, mas aconteceu.
Cássia Eller, faleceu no dia 29 de dezembro de 2001; ela, tinha apenas 39 anos. Foi levantada a hipótese de uma overdose,, porém, isso foi descartado posteriormente, pelos laudos periciais do Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro.
Cássia, deixou a esposa Maria Eugênia, com quem viveu por 14 anos e o filho Chicão, que na época, tinha apenas 7 anos. Mas, engana-se quem pensa que essa história terminaria aí, pois, o pai de Cássia Eller, entrou na justiça, para pedir a guarda do neto, mesmo contra a vontade da filha, que sempre deixou claro, a vontade de que caso um dia faltasse, Maria Eugênia, que de fato era a mãe de Chicão, deveria ter a guarda do menino.
Aquela briga judicial, causou comoção; era 2001, não existia casamento ou leis que assegurassem direitos a casais do mesmo sexo. Amigos de Cássia, alegavam que o pai dela queria a guarda, apenas por questões financeiras, já que Chicão, era o único herdeiro de Cássia, Por outro lado, o advogado do pai, acusava Maria Eugênia de ser usuária de drogas e afirmava que o próprio pai, presenciou Cássia, se drogando na frente do menino.
O clima estava tenso; no dia da audiência de conciliação, estavam todos presentes, amigos, fãs, a banda de Cássia e claro, a imprensa. Chicão, foi chamado pelo juiz, que perguntou a ele, o que ele queria, e naquele dia, fez-se uma justiça inédita no Brasil. A guarda de Chicão, foi passada para sua companheira, Maria Eugênia.
Hoje, Chicão, assim como a mãe e o pai, também é músico, e leva consigo, não apenas o legado musical de sua mãe, mas principalmente, o senso de justiça inédito nesse Brasilzão, ainda tão distante de ser um país justo.
A terceira temporada do Clube, se encerra aqui. Obrigado por sua atenção e empatia, ao compartilhar esse projeto independente, que é produzido por mim, Gilson de Lazari e editado pelo Rogério Silva, o Cocão. Foi um prazer falar de música com vocês!
Encerraremos com “All Star,” essa canção da genial parceria entre Cássia e Nando, que ele escreveu como uma declaração de amor à Cassia Eller.
Até a próxima!
GOSTO DA CASSIA, MAS NÃO SOU SUA FÃ. GOSTO MUITO DE MALANDRAGE.