Renato Russo, foi um artista de extremos. Com o Aborto Elétrico, influenciou uma geração em Brasília, mas com a Legião Urbana, conquistou adolescentes de todo o Brasil.
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
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Esse, é o episódio 18 do Clube da Música Autoral e hoje prometo, ao menos enquanto durar esse podcast, que voltaremos a ser adolescentes. Afinal, você tem que passar no vestibular, né?
O Legião era assim, música para adolescentes; um conceito, até então inédito. Tudo bem, eu sei, já existiam as boy bands, Menudos; que eram músicas para adolescentes, mas Legião é diferente… ele se conecta ao “aborrecente,” não ao adolescente comum. O aborrecente, é um… sou eu… eu era um aborrecente. Aquele que não entende, porquê ele tem que respeitar tudo; tem que estar o tempo todo estudando. Porra, só pra passar no vestibular? Renato Russo, se conectava com a gente, através de mensagens desse tipo.
O Legião Urbana, conquistou milhares de fãs pelo Brasil, isso, durante o estouro do Rock nacional, lá pelos idos dos anos 80. Seu líder, Renato Russo, ainda se tornou o melhor cantor do “Brock.” Sua voz era incrível! Seria justo dizer, que Renato Russo, é o Fred Mercury brasileiro?
O Clube da Música Autoral, faz parte do “Overcast,” uma rede de podcasts, que foge do padrão da podosfera tradicional. Acesse: overcast.com.br e fique por dentro dessas inovações.
A segunda temporada do Clube, está acabando, infelizmente… mas calma, ainda não acabou ainda; tem muita coisa pra rolar.
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Quero mandar um abração para o Caio Camasso, Luiz Prandini, Emerson Castro e Henrique Vieira, “sócios-diretores,” a maior patente do Clube, que agora, recebem a companhia de Dilson Correa Lima Teixeira Júnior e Antônio Valmir Salgado Junior, novos diretores do Clube. Sejam bem-vindos!
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Olha, sem me esforçar muito, eu já consigo me lembrar de pelo menos 5 amigos meus, que dizem odiar Legião Urbana. Não é que eles não gostam não, eles odeeeeiam Legião Urbana. E é pra você, caro amigo, cara amiga, que está ouvindo esse podcast, que talvez, nem goste de Legião, que eu dedico esse episódio. Nem é pra te provocar, nada disso, longe desse tipo de coisa, acontece, que Legião, é muito foda! Até hoje, as músicas do Renato Russo, mexem com as novas gerações, mexeram com as nossas gerações. Talvez você esteja negando, mas… vamos lembrar dessa história?
“Renato Manfredini Júnior,” antes de ser “Russo,” ele foi carioca. Nasceu no Rio de Janeiro, dia 26 de março de 1960. Aos 7 anos, se mudou para Nova Iorque com sua família. Seu pai, era funcionário do Banco do Brasil e fora transferido para a América. Lá, Renato, teve seu primeiro contato com a cultura americana. De volta ao Brasil, seu pai, foi transferido novamente, mas dessa vez, para Brasília, a cidade símbolo do progresso; o orgulho nacional… só que não, né?
Aos 15 anos, Renato, teve que fazer uma cirurgia complexa, que implantou três pinos de platina na sua bacia. Ele, ficou 6 meses sem andar e um ano e meio em recuperação. Foi nesse período, que Renato, ouvia música o dia todo. Ele, tinha uma extensa coleção de discos. Como ele também lia muito, foi nessa época, que Renato assumiu seu sobrenome, “Russo.” Uma homenagem ao filósofo e compositor “Jean-Jacques Rousseau” e ao filósofo e matemático, “Bertrand Russell.” Nessa fase, compreensivelmente, sua mãe, acabou deixando o Russo, um tanto quanto mimado.
Aos 17 anos, ele voltou para as atividades normais; passou no vestibular e aos 18, assumiu para sua mãe, que era bissexual.
Renato, trabalhou como professor de inglês e foi locutor de rádio, inclusive, tinha um programa na FM de Brasília, que falava sobre eles, né… os Beatles.
Extremamente musical e sensível, Renato, participou de uma banda de Punk Rock, mas com o fim da mesma, ficou depressivo e nessa fase, ele compôs algumas de suas melhores músicas… “Faroeste Caboclo,” “Eduardo e Mônica” e “Música Urbana 2.”
Renato, fazia apresentações solo. Ele, se denominava: “O Trovador Solitário” e abria shows de bandas como, “Plebe Rude,” tocando músicas Folk, em um violão de 12 cordas.
Logo, Renato Russo, percebeu que a tática do trovador solitário, nesse esquema de fazer um acústico, antes dos shows de Punk, lá nos anos 80, pra molecada punk de Brasília, não tava dando muito certo não. E para completar, a primeira banda de Brasília, estourava no Brasil… “Os Paralamas do Sucesso” e assim, abria as portas para outras bandas de lá, de Brasília.
Renato percebeu, que o esquema era banda e idealizou o “Legião Urbana.” Cara, pensa comigo… Olha que bom nome. Esse não é um excelente nome? “Legião Urbana.” Tudo a ver com aquele movimento de Brasília.
Marcelo Bonfá, topou a empreitada com Renato. Ele, assim como Renato, era filho de um funcionário do Banco do Brasil, que fora transferido para Brasília e começou a tocar bateria, ao lado de “Fê Lemos,” que no futuro, montou o “Capital Inicial.” Mas sua primeira banda, era “Os Metralhas,” ao lado de “André Miller,” que no futuro, montaria o “Plebe Rude.” Bonfá, também participava de uma banda com seu grande amigo, “Dado Villa Lobos,” mas Renato, chamou “Eduardo Paraná,” pra ser o guitarrista do Legião. O Paraná, era dito como o melhor guitarrista de Brasília naqueles tempos; não existia ninguém melhor que ele. Renato, também convidou “Paulo Paulista,” para tocar teclados. Vejam só, Legião, já teve um tecladista também.
Curiosamente, o primeiro show do Legião, não foi em Brasília, mas em Minas Gerais, numa certa Festa do Milho, onde várias bandas dividiam o palco. Mas o Show, terminou com todas as bandas algemadas e na delegacia. Sabe o motivo? Em plena ditadura militar, o vocalista da Plebe Rude, André Mueller, começou a fazer discursos de cunho político, que desagradou a polícia. Após algumas horas na delegacia, eles foram liberados e voltaram para Brasília, são e salvos. Mas aquilo lá, rendeu material e bagagem para todas essas bandas, que iriam compor suas canções daí pra frente.
Paraná e Paulo Paulista, não duraram muito no Legião e “Ico Ouro Preto,” substituiu Paraná, mas isso, foi por um curto tempo. O suficiente para ajudá-los em algumas composições.
Renato Russo e Marcelo Bonfá, se viram com um grande problema pela frente; eles, haviam alugado junto com a turma, o “Teatro OAB,” para tocarem por quatro finais de semana. Os dois, não sabiam o que fazer; eles estavam sem guitarristas e pensaram em várias alternativas… em seguir em dueto, desistir, utilizar percussão eletrônica… foi quando se lembraram de um outro guitarrista, sem banda na época, o Dado Villa-Lobos. Sobrinho, vejam só, do famoso compositor, “Heitor Villa-Lobos.”
Dado Villa-Lobos, é filho de um diplomata. Ele, nasceu na Bélgica, morou na Argentina e na França, antes de ir para para Brasília e conhecer toda a galera. Dado, se mostrou um guitarrista tão bom, que assumiu o posto definitivamente no Legião. Era o guitarrista perfeito, para os anseios de Russo e Marcelo Bonfá. Ele, ajustou todas as músicas que eles não conseguiam acabar. É Dessa época, que surgem “Petróleo do Futuro” e “Teorema.”
“Bi Ribeiro,” o baixista dos Paralamas do Sucesso, era também, ex-aluno do professor Renato Russo, vejam só… e mantinham uma boa relação desde a época das aulas de inglês.
Com o sucesso do disco “Cinema Mudo” e da música “Vital e sua Moto,” o executivo da EMI, “Jorge Davidson,” perguntou aos integrantes dos Paralamas, se eles conheciam bandas assim, como eles; bandas legais, com propostas comerciais. Então, entregaram uma fita demo do Renato Russo, cantando na sua época de trovador solitário. O executivo, achou aquele som Folk e acústico interessante e resolveu gravar um compacto.
O Legião, pegou a ponte aérea rumo ao Rio de Janeiro e para eles, já estavam indo para o estrelato, para o sucesso. Renato Russo no baixo e Vocal, Marcelo Bonfá na bateria e Dado Villa Lobos na guitarra; eles eram um trio. Juntos, fantasiavam as capas dos discos, as turnês… era um grande sonho, se tornando realidade. Chegando no Rio de Janeiro, foram até o estúdio e gravaram: “Ainda é Cedo” e “Geração Coca-Cola.”
Quando os executivos da EMI, ouviram aquilo, falaram: “não! Isso é Punk Rock! Na fita, era Folk. Queremos um som como da fita. Não temos interesse nesse conteúdo.”
Renato Russo, havia criado tanta expectativa para esse momento, que ele cortou os pulsos. Sério, ele tentou o suicídio.
Aquilo, causou uma grande comoção na gravadora, então, entrou em cena, o produtor musical, “Mayrton Bahia,” que conseguiu entrar em acordo com ambos os lados, que toparam lançar o primeiro disco do Legião, uma mistura de Punk e Folk, que acabou por se tornar, a marca registrada da banda.
Mas Renato, havia cortado os pulsos, lembra? Ele não podia tocar baixo. Então, é nesse momento, que entra na banda, por indicação de Dado Villa Lobos, o baixista “Renato Rocha.”
“Negrete,” como era mais conhecido, se mudou para Brasília, pois seu pai, era militar e fora transferido para a capital. Renato Rocha, havia participado de algumas bandas de Brasília e Renato Russo, que era um cara bem chato, acabou aprovando a entrada de Renato Rocha.
Então, no dia 2 de janeiro de 1985, chega às lojas, o álbum “Legião Urbana.” A música: “Será,” era a aposta certa.
Punk e Folk… que misturada inusitada. O Renato russo, ok, era fã de Bob Dylan, Morrysey, Beatles, mas, e esse Punk, de onde vem?
Para explicar a origem do Punk nas influências do Legião, precisamos também, entender o que acontecia em Brasília, durante a década de 80. Então, já sabe… voltaremos um pouco essa fita.
Em 21 de abriu de 1961, após apenas 4 anos de obras e mesmo assim, inacabada, era inaugurada, a nova capital do Brasil. Brasília, uma cidade planejada; o símbolo do progresso, com obras arquitetônicas de “Oscar Niemayer. O presidente ”Juscelino Kubicheck,” inaugurou e deu a ordem, para que todos os órgãos de administração federal, fossem transferidos para o planalto central, terra até então, pertencente aos índios Xavantes e Caiapós, que tornou-se Terra de Vera Cruz e logo, plano piloto da Nova Metrópole do Brasil.
A ideia de levar a capital do Brasil para o Centro do país, era antiga. Os projetos, eram rabiscados desde o século XVIII, mas só se concretizou com Jucelino Kubicheck.
Em 1970, 9 anos após sua inauguração, a cidade estava montada e funcionando, então, a propaganda política, que tentava justificar os exorbitantes valores investidos na tal cidade planejada, começava a atrair pessoas do Brasil todo. Pessoas que inclusive, fugiam da miséria, ou apenas, procuravam oportunidades. Brasília, foi projetada para abrigar 500 mil habitantes, mas em poucos anos, já superava 1 milhão. O planejamento, passou a dar lugar ao improviso. Foi nessa época, que a desigualdade social imperou. era um paradoxo; Brasília, a cidade do progresso, tornou-se violenta e corrupta, tão rápido, quanto foi construída.
Famílias dos mais altos níveis, cujo o patriarcado representava altos cargos nos ministérios, se mudaram para Brasília. Além disso, como capital do Brasil, era o lar provisório de diplomatas, embaixadores e claro… de políticos… muitos políticos. Além disso, criou-se uma especulação mobiliária, que inflacionou os imóveis. Esses, representantes da elite, ocupavam a área planejada de Brasília, enquanto operários e funcionários de baixo nível aquisitivo, ficavam na periferia. Mas, conforme a cidade crescia em decorrência da chegada de mais e mais pessoas, em busca de oportunidades, mais a desigualdade aumentava. Áreas rurais, eram invadidas; nasciam favelas, sem saneamento, sem representatividade. E era nesse clima de caos e modernidade, que alguns adolescentes cresciam, influenciados por movimentos musicais e comportamentais, muitas vezes, radicais, como o Punk, que chegava ao Brasil.
Por volta de 1977, uma turma de adolescentes, passou a se encontrar nos prédios habitacionais da UNB (Universidade de Brasília). Eles ficaram conhecidos, como “a turma da colina.” Entre aqueles garotos, André Pretorios, filho do embaixador da África do Sul, se destacava. Na sua última passagem pela Europa, ele, havia trazido os últimos lançamentos do Punk Rock e ainda por cima, era o único que se vestia como um deles.
Tomar um porre, cheirar benzina, e fumar maconha, eram as principais atividades dos garotos. Enquanto isso, ouviam mensagens anarquistas. Cara, isso aí, não ia dar certo.
Renato Russo, Fê Lemos, Flávio Lemos, Philipe Seabra, entre outros, faziam parte dessa turma. Eles ainda não sabiam, mas seriam os novos nomes do Rock brasileiro. Inclusive, os encontros da colina, influenciou Renato Russo, a compor essa canção aqui…
Aqueles jovens, mal sabiam afinar suas guitarras. Era 1978; o Presidente “Geisel,” acabara de revogar o “AI 5,” o tal do ato institucional 5. Falo sobre isso no episódio 12, “Jorge Maravilha.” Pois bem, nesse ano, 1978, as músicas que haviam sido proibidas pelo regime militar, finalmente, começavam a chegar nas lojas. A ditadura militar, estava enfraquecendo e os artistas, finalmente estavam livres para falar o que queriam em suas letras… mais ou menos. Ainda Não era 1984, quando foi realmente o fim; era o finalzinho, que já estava bem mais leve. A música “1965,” é uma autêntica manifestação contra a ditadura.
E lá, na colina, em Brasília, não era diferente. André Pretorios, Fê Lemos e Renato Russo, montaram o “Aborto Elétrico.” Logo no primeiro show, André, perdeu a palheta e cortou seu dedo nas cordas, mas fez o show inteiro com as mãos sangrando. Ele, era o ídolo da molecada. Mas esse, foi o primeiro e único show de Petrorios, que precisou voltar para a África do Sul, para servir o Exército.
O Aborto Elétrico, continuou. Flávio Lemos, irmão de Fê Lemos, assumiu o baixo, Renato Russo foi para a guitarra e passou a compor. Ele, era um catalizador de sofrimentos e conseguia expressar isso de forma poética. Logo, surgiram as primeiras músicas próprias. Ouça essa rara gravação de “Fátima.” É uma demo, que depois, estouraria com a banda “Capital Inicial.”
André Petrorios, voltou para o Brasil de férias. Ele, trazia consigo muita inspiração para a banda e para toda aquela geração de Brasília. Então, escreveram canções como “Música Urbana,” “Que País É Este,” “Veraneio Vascaína” e “Conexão Amazônica,” uma das minhas preferidas.
Em 1980, John Lennon, foi morto por um fã. Era o auge do Aborto Elétrico. Eles, eram requisitados para tocar em todas as festas da Asa Sul, Asa Norte, enfim… Mas Renato e Fê Lemos, viviam em crise, pra piorar, no dia da morte de John Lennon, Renato Encheu a cara em homenagem ao seu ídolo e não conseguiu fazer o show. A banda, decretou o fim algumas vezes, mas, sempre acabavam voltando. Até que um dia, se desentenderam de vez, por causa da canção “Química,” que eu toquei no início do episódio. Fê Lemos, não gostava da canção e Renato, partiu pra porrada, pra defender sua composição. Não tinha mais jeito e o Aborto Elétrico, acabou. Seis meses depois, Fe Lemos e seu irmão Flávio, se juntaram a “Dinho Ouro Preto” e montaram o “Capital Inicial.” Mas isso, é assunto para outro episódio.
Renato Russo, por sua vez, se fez recluso. Nessa época, ele compôs a maioria dos seus sucessos, até se assumir, como um trovador solitário.
Essa canção que estamos ouvindo, se chama “Soldados.” Você já prestou atenção na letra dela? Poucos sabem realmente, mas Renato Russo, magistralmente, fala sobre reconhecer e aceitar, sua condição como homossexual… É sensacional.
Apesar da EMI, não botava muita fé no Legião, o primeiro disco deles, foi um baita sucesso de vendas. Então, no mesmo ano, começaram a gravar o segundo disco da banda, que foi lançado em junho de 86, com o título: “Dois.”
Cara, era mais uma incrível sucessão de hits. Dois, é considerado o 21º melhor disco da música brasileira, segundo a Rolling Stone.
Uma curiosidade sobre esse disco, é que antes da primeira música, “Daniel na Cova dos Leões,” aparece um rádio sintonizando e toca um pequeno trecho do hino do Partido Internacional Socialista.
Renato Russo, queria muito que esse disco fosse duplo e intitulado: “Mitologia e Intuição,” mas a gravadora, não abraçou a ideia, por isso, eles improvisaram esse título, Dois.
“Eduardo e Mônica,” era uma canção desacreditada; ninguém acreditava que ela ia fazer sucesso, pois se repararmos, ela não tem refrão, mas fez um grande sucesso. A Mônica, era amiga de Renato Russo, na época em que ele estava debilitado, depois da cirurgia. Ele, chegava a passar cinco horas por dia, no telefone, conversando com ela.
É um disco incrível, realmente. As letras, são profundas e com críticas a sociedade e a humanidade, mas, extremamente poéticas, que nos fazem refletir. O Legião, passou a ser chamado pelos seus fãs, de “Religião Urbana, tamanho o fanatismo que conseguia angariar.
Em 1987, o Legião, lança mais um álbum, o terceiro da banda… “Que País é Este.”
Esse álbum, trouxe muitas surpresas para os fãs, pois, resgatava músicas da época do Aborto Elétrico, mas ainda assim, o Folk, era representado por canções como, “Eu Sei, que antes, se chamava: “18 e 21.” E ficou famosa entre os fãs, já na versão demo.
Mas é nesse disco também, que aparece a música que um dia vai virar tema do Clube. Se preparem. “Faroeste Caboclo,” foi composta em 1979, na fase “trovador solitário,” de Renato Russo. Com mais de nove minutos de duração, a música, que possui 159 versos e não tem refrão, conta a história de “João de Santo Cristo. Renato, a considerava, sua “Hurricane” (música de Bob Dylan, que conta a história de um boxeador)
Por conta do fanatismo e da falta de organização nos shows, causadas pela adoração que os fãs tinham por Renato, as turnês do grupo, nunca foram longas. Um imenso circo era preciso ser montado a cada show e isso, se tornava um ritual, um tanto quanto incômodo. Renato também, tinha uma certa fobia de palcos e por ele ser o líder, em quem os fãs depositavam tantas expectativas; sofria ainda mais com tudo aquilo.
No dia 18 de junho de 1988, no Estádio “Mané Garrincha,” em Brasília, ocorreu um show do Legião, que marcava a volta da banda à cidade.
Os ingressos colocados a venda, 50 mil, estavam esgotados. Com a tensão no ar, abriram os portões, pra não acontecer mais rolo; foi aí, que uma série de confusão, se sucederam. Violência policial, discursos inflamados, bombas caseiras e a invasão do palco, por um fã alucinado, que se agarrou violentamente ao vocalista Renato Russo. O cenário de caos, terminou com a suspensão da apresentação e aí, meu irmão, a confusão se generalizou mesmo. O estádio foi destruído; um monte de gente foi hospitalizada… foi um regaço. No camarim, a banda ficou desesperada e choravam, com toda aquela violência, com todo aquele caos, que se tornou aquele show. Eles, prometeram, nunca mais tocar em Brasília, assim como os seus fãs, ficaram revoltados e pediram para que o Legião, nunca mais voltasse para Brasília. Foi o que aconteceu, o Legião Urbana, nunca mais tocou em Brasília.
Esse incidente, quase acabou com o Legião. O baixista Renato Rocha, que tinha problemas com drogas, acabou expulso e a crise se instaurou. Era o fim da banda. Eles, ficaram parados por dois anos, mas por pressão da gravadora, o Legião voltou com um novo disco. Em 1989, lançaram o famoso, “As Quatro Estações.”
É nesse disco, que se aflora a comunicação que o Legião, tinha com os adolescentes, pois, até bem pouco tempo atrás, podíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?
As Quatro Estações, vendeu 2.6 milhões de cópias e até hoje, é o disco mais bem sucedido do Legião, comercialmente.
Na música “Meninos e Meninas,” Renato Russo, deixava claro para os seus fãs, a sua identidade sexual.
No Quatro Estações, Renato Russo, volta a tocar baixo. Ele gravou todas as faixas desse disco.
E é nesse álbum icônico, do grupo de Brasília, que está a canção tema do episódio 18, do Clube da Música Autoral… “Pais e Filhos.”
Cara, a dramaticidade do arranjo de Pais e Filhos, é surreal, pois reparem, é um Blues, mas que segue uma sequência não convencional de acordes, com maiores e maiores com sétima.
Eu como compositor, te digo com propriedade, é difícil fazer música triste, mas, aplicamos acordes menores e essa tarefa, fica um pouco mais fácil. Porém, Pais e Filhos, é triste e emocionante, com acordes maiores. Isso, apenas gênios conseguem fazer.
Essa música, foi dedicada a uma amiga de Renato Russo, que se jogou do 5º andar de um prédio em Brasília, após ter brigado com os pais. Renato Russo, que era um cara cheio de conflitos pessoais e até já havia tentado se matar algumas vezes, inclusive, quando a EMI, decidiu não contratar o Legião no início da carreira, sempre dizia, que ficava muito triste, quando cantava essa música. E esse é o principal motivo da banda, quase nunca tocá-la em seus shows.
Renato, adotou seu filho e a ele, deu um nome de Santo; já era um presságio.
O refrão dessa canção, é inspirado em um livro chinês, que Renato encontrou no quarto do hotel em que se hospedaram, na Europa.
A célebre frase, “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã…” e “sou uma gota d’água…” na verdade, não são de autoria de Renato, Foram retiradas desse livro.
“Me diz porquê o céu é azul, me explica a grande fúria do mundo…” O dom de Renato Russo, de conversar com seus fãs adolescentes, é algo assustador. E sabe, funciona até hoje. A cada nova geração que descobre as músicas do Legião, Renato Russo, renasce. Esse ciclo se repete e provavelmente, será eterno.
E aí? O que você se tornou hoje, orgulharia o seu eu adolescente?
Quem nunca se perguntou quando criança, o que iria ser quando crescesse?
Você já parou pra pensar, que muitos se quer, passam dessa fase da adolescência?
É sobre isso que a música fala, um sonho interrompido, por um sono de quem dorme agora. E o barulho? É só o vento lá fora.
Ao vivo, o Legião, sempre fazia um medley com “Stand By Me.” Eu faço questão, de te lembrar de uma dessas apresentações ao vivo.
Estamos em Setembro. Você sabia, que esse é o mês de prevenção do suicídio?
Além de Pais e Filhos, falar sobre esse tema, Renato Russo, algum tempo depois de lançá-la, descobriu que estava com AIDS e novamente, tentou se suicidar.
Vocês sabiam, que pessoas em depressão, expressam essa predisposição do suicídio? Saber ler os gestos de alguém deprimido, pode ajudar a evitar um suicídio. O problema, é que estamos tão ocupados, preocupados com nós mesmos, que mau paramos para olhar ao lado.
Eu, adolescente que já fui e fã do Legião, me lembro das fitas K7… eu tinha uma coleção de fitas K7 e eu tinha dois discos do Legião, o Quatro Estações e Que País é Este. Cara, eu ouvi tanto, tanto, que hoje, ouvindo novamente essas músicas para fazer esse podcast, eu estou voltando a ser adolescente. E sabe do que eu lembrei? Que uma vez, eu estava em casa e anunciou no “Programa Livre,” do Serginho Groisman, numa época, que era no SBT, que naquele dia, estaria o Legião Urbana. Eu lembro de assistir de pé. Era 1994. E vou encerrar o episódio do Clube, com um trecho desse programa.
Dessa vez, não vou pedir para você apoiar a nossa missão, acompanhar as redes sociais e nem nada disso. Se você já acompanha o Clube, você já sabe de tudo isso aí e você já sabe qual é a sua parte nessa missão. Peço apenas, que você pare tudo o que estiver fazendo e preste muita atenção no que o Renato Russo disse. E se tiver alguém ao seu lado e você se sentir a vontade, abrace-o e diga a essa pessoa, que ela é importante pra você. Talvez, a gente não tenha outra oportunidade.
Meu nome, é Gilson de Lazari e foi um prazer, falar de música com você.
Até a próxima!
Parabéns mais uma vez, sou um fã incondicional do Clube da Música e o episódio 18 – Pais e Filhos é PERFEITO. Eu sou de Brasília e participei desse show do Legião, no estádio Mané Garrincha, cara foi simplesmente fantástico, a parte que você citou do show que eles fizeram foi realmente maravilhoso. Eu arrepiei todo e chorei, chorei muito, da lágrima descer so de lembrar daquela ocasião. Cara parabéns pela por esse podcast continue sempre engrandecendo a mente e a cultura de todos porque simplesmente você é demais região é é simplesmente o máximo Renato Russo, Sempre falo pra todos que esse artista ele é fenomenal completo obrigado Lazaro. Outra coisa obrigado ter Citado meu comentário na última edição especial dos podcast Fabiano Cardoso valeu cara sucesso e vida longa ao cu ao clube autoral. SUCESSO.
Opa Fabiano, obrigado por comentar, cara que legal, você esta no show? Morreu gente mesmo? Achei matérias que dizem que sim, outras que não, fiquei na duvida.
Obrigado por esse relato, Cel Rinaldo.business online pharmacy
Gilson, nem sei como começar. Foi Duca!!
Nos meus 46 anos, você realmente me fez viajar hoje. Moro em SJC e vou de carro para o trabalho em Aruja, tempo certo de chorar, rir, relembrar e refletir.
Cada som que você colocou tanto do Legião, como do Paralamas, plebe e outros me levaram a reparar a VOZ cara, o grito de rebeldia na VOZ, a nossa indignação daquele tempo, tudo voltou no mesmo momento (acho que o repudio atual da nossa situação política ajudou).
Cara, eu sempre ouvi muiiiito legião, desde os 15 anos quando fui apresentado ao disco “2” quando estava no Senai ( em Osasco), depois quando ficava escutando “faroeste caboclo” para decorar a letra antes de ir para o colégio a noite, na sequência descíamos para o litoral escutando 4 estações e em 1990 naquele dia dos pais de agosto no parque antártica, quando tivemos que pular o portão para conseguir entrar ( graça aos ingressos falsos vendidos a +) naquele show.
Lembrei de épocas de desempregado em que ficávamos na rua cantando… “meus amigos todos estão procurando emprego, voltamos a viver… Lembro dos acampamentos onde sem $$ bebíamos Pinga com coca e cantávamos … “geração pinga com coca, geração pinga com coca”… ou de várias tardes em trindade/RJ escutando “vento no litoral” que parecia ter sido escrita em cima das pedras do caxadaço… Enfim, uma vida onde a trilha sonora foi regada pelo Legião.
Bom, já demonstrei a tietagem total acima, e porque chorei e ri e relembrei, mas o que mais pegou foi ao final – a reflexão. Hoje casado, pai de 3 filhos, contador, posso olhar para o passado e dizer que não tenho mais o tempo que passou, mas aprendi que temos muito tempo, aliás temos todo o tempo do mundo … para ser o que quiser quando crescer… foi um final F A N T A S T I C O.
Em tempo, dei uma demonstração de como esse episódio mexeu comigo, mas o seu trabalho como um todo merece PARABÉNS, muito bem feito. Conheço a sua inspiração ( o Podscast do Queem no Café) e posso dizer que você faz um trabalho à altura, de qualidade e trabalho de pesquisa muito elevado. Talvez pela idade sou bastante criterioso em meus podcast e o seu está entre os melhores da minha coleção.
Obrigado pelo seu trabalho.
Antunes
sensacional…. vai estar no ep extra com certezaaaaaa
Muito bom o episódio! Você passa bastante emoção, acho isso muito foda, Parabéns!
Obrigado André
Sou do Rio de Janeiro, Mas moro em Brasília desde 1977. Quando meu pai foi transferido, também preenchi o vazio do dia com uma banda. Hoje estou novamente á procura de músicos para remontar a mesma. Com outros caras, já estou quase lá. E já coloquei alguns vídeos amadores do youtuber. E só procurar Banda Laskaro ou Banda 2pontes atual e autoral com músicas de duas gerações .
E muito bom saber de movimentos, que mostrem e curtem o mesmo som. A minha luta e trazer o rock nacional, novamente para o seu lugar. Chega deste movimento sem sentido comandado apenas pelo capitalismo é oportunismo. Isso não é arte
Isso ae Osmar, tamo junto