Na temporada das continuações, não poderíamos deixar de fora a maior banda de todos os tempos… THE BEATLES!

Dessa vez, vamos conhecer as curiosidades por trás da canção “Yesterday”, uma das mais belas composições de Paul McCartney.

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“Socorro”! Dizia o conjunto musical mais influente de todos os tempos: Os Beatles, na letra de uma dramática canção disfarçada de confissão.

Quando os Beatles lançaram essa canção, havia um clima de depressão na banda; analisando a letra, fica até óbvio, mas se você lembrar que nos anos 60, a beatlemania representou a rebeldia e a alegria, fica no mínimo estranho imaginar que um daqueles quatro rapazes idolatrados por uma legião de fãs, estivesse vivendo algum problema pessoal.

O que cargas d’águas acontecia internamente para fazer John Lennon pedir ajuda, assim, de modo tão pitoresco, em Help?

Muita coisa estava acontecendo naqueles mágicos anos 60, que eu não vivi, mas sempre me soou interessante. Estamos falando de 1965, um ano especial para os Quatro Rapazes de Liverpool, porque, além de Help, uma das melhores músicas escritas por John Lennon, também foi lançada Yesterday, de Paul McCartney, simplesmente a música mais regravada de todos os tempos, que vinha com uma progressão de acordes revolucionária para a música pop e um dos motivos de John Lennon estar pedindo ajuda, naquela disputa para o título do mais talentoso Beatle.

E é sobre isso que vamos falar… afinal, por que Yesterday, com todo reconhecimento que tem hoje, na época foi rejeitada “em partes” pelos próprios Beatles, a ponto de se quer ser lançada como single no Reino Unido?

Se você é um interessado na evolução da música como a conhecemos, provavelmente vai se interessar pela história de Hoje.

Meu nome é Gilson de Lazari e esse é o episódio 57 do podcast Clube da Música Autoral. Estamos na temporada das continuações e o assunto de hoje é… The Beatles!

Se você simplificar o que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr fizeram no ínicio dos anos 60, justificando que eles copiavam os sucessos americanos do Blues, do R&B, Skiffle e claro, do recém-nascido Rock and Roll, você não estará errado, em partes.

The Monkees

Sim, eles eram uma banda cover, mas se você não aprofundar o momento histórico, estará ignorando toda a revolução comportamental e cultural promovida pelos Beatles, principalmente em terras americanas. Veja bem, uns garotos lá de outro continente, conheceram o Rock and Roll e o copiaram, mas em certo momento, passaram a criar músicas tão boas quanto as originais, passando de influenciados para influenciadores. Para entender melhor o momento, tente se lembrar que após a explosão do Rock na América, o Rock, entre aspas, acaba, quando Elvis Presley é convocado para o exército; Chuck Berry é preso, Little Richard vai para a igreja e o American Pie cai. Esse acumulo de ocorrências fez o Rock ficar fora da mídia, até os Beatles resgatarem o Rock americano, aliás, muitas bandas dos E.U.A., fizeram cópias descaradas do Beatles. Cito os “Monkees”, por exemplo, que pegaram carona na beatlemania.

 

Logo após “Please Please Me” gerar toda aquela repercussão positiva, o empresário “Brian Epstein” e o produtor musical “George Martin”, rapidamente entraram em estúdio com os garotos para gravarem “With The Beatles”, o segundo álbum da banda. E isso aconteceu apenas 4 meses depois do lançamento de Please Please Me e seguiram exatamente a mesma fórmula; sete composições próprias da dupla Lennon/McCartney, e para completar, mais seis covers que a banda já tocavam em seus shows.

A novidade, foi que nesse segundo álbum, George Harrison escreveu “Don’t Bother Me”. Essa é a primeira vez que uma música dele entra em um disco dos Beatles.

Antes do novo lançamento ficar pronto, a “Parlophone”, gravadora dos Beatles, lançou em abril de 63, um compacto com a música “From Me To You”; três meses depois, outro compacto com a música “She Loves You” foi lançada; ambas atingiram o primeiro lugar nas paradas de sucesso da Inglaterra.

A estratégia do empresário Brian Epstein, era gravar o máximo possível e ir soltando gradativamente,  lançando os compactos entre os hiatos dos discos. Epstein era dono de uma rede de loja de discos e eletrônicos, e sabia exatamente como ganhar dinheiro com os Beatles.

Pouquíssimo tempo depois do lançamento de With The Beatles, o compacto com a música “I Want To Hold Your Hand” chegou às lojas. Essa seria a primeira canção a fazer um significativo sucesso nos E.U.A. Começava então, a invasão britânica.

Posso dizer, sem medo de ser feliz, que os Beatles se tornaram um fenômeno após a primeira visita aos E.U.A., que aconteceu no dia 7 de fevereiro de 1964, apenas 77 dias após o assassinato de “J.F.K. e eles chegaram no aeroporto recém-nomeado, em homenagem ao ex-presidente assassinado.

Só chegada já foi alucinante; 3 mil fãs choravam de alegria só de poder estar perto dos ingleses na chegada ao aeroporto. Foi surreal! E ainda bem que está tudo registrado em fotos e vídeos, se não, era de se duvidar mesmo.

Foi mágico e ao mesmo tempo caótico, mas nem só de acasos viviam os Beatles, houve influências externas nisso tudo também. Um mês antes da chegada deles, o single “I Want To Hold Your Hand”, havia sido lançado e vendido 1,5 milhões de cópias só nos E.U.A., isso animou os investidores, que lançaram também, um álbum chamado: “Meet The Beatles” o primeiro LP da banda feito especialmente para o público americano, já emplacando os primeiros sucessos nas rádios.

Enquanto isso, em uma planejada estratégia de marketing, houve a divulgação de um mini-documentário na TV, explicando aos americanos o quanto os Beatles eram adorados no Reino Unido e claro, anunciando que eles estavam chegando em terras americanas pela primeira vez.

Mas o auge da visita se deu mesmo, quando “Ed Sullivan”, um famoso apresentador de TV, que participava do esquema de divulgação dos Beatles na América, os apresentou no “The Ed Sullivan Show”, que foi ao ar no dia 9 de fevereiro daquele mesmo ano de 1963.

A primeira aparição dos Beatles em rede nacional, mobilizou uma audiência de 13 milhões de espectadores em apenas 10min de apresentação. Foi surreal!

O primeiro concerto oficial em terras americanas, aconteceu dois dias depois do Ed Sullivan, no Coliseu de Washington, onde pouco se ouvia as músicas, por causa dos gritos das fãs. Muitos se irritaram com toda aquela histeria e ao mesmo tempo que conquistavam fãs, os Beatles também conquistavam seus primeiros haters.

O show seguinte foi em Nova York, no “Carnegie Hall”, que ficou tão lotado, que foram colocadas cadeiras até em cima do palco, enquanto que na frente do teatro, grupos religiosos e conservadores, empunhavam os primeiros cartazes contra os Beatles.

E foi assim… essa primeira visita à América, gerou um tsunami de reações espontâneas jamais vistas até então. Nem os mais otimistas da equipe dos Beatles poderiam imaginar tanto sucesso.

Estava plantada a revolução, logo já na primeira visita.

Existem relatos simplificando o repentino sucesso dos Beatles, mas poucas pessoas conseguem explicar por que aqueles quatro jovens eram tão apaixonantes, a ponto de se tornarem idolatrados.

Entre as explicações mais plausíveis, destaco o grande trabalho de Brian Epstein, – que era um cara diferente. Ele tinha a linguagem artística; era gay em uma época onde a homossexualidade era crime na Inglaterra; e buscava por algo relevante, onde pudesse investir e lucrar.  Entenda também, que antes de Epstein, The Beatles, era uma banda de garotos transgressores, que aprenderam o Rock and Roll tocando em bordéis de Hamburgo. Então, eles tinham comportamentos erráticos. E apesar dos rostinhos angelicais, bebiam, usavam drogas e se vestiam como bad boys americanos.

Brian Epstein

Epstein entendia que o diferencial era a sonoridade agressiva da banda, então, pensando no equilíbrio comercial, trabalhou para criar a imagem do bom moço, trocando as jaquetas de couro, pelos terninhos bem alinhados, que era a ultima moda em Paris; vetou a bebedeira em cima do palco e também, foi Epstein que sugeriu a reverência ao fim de cada ato. Aquilo promovia uma mescla de sentimentos em quem os assistiam. O som continuou transgressor, ,mas a imagem, era de garotos respeitosos, humildes e disciplinados.

É claro que nos bastidores não tinha nada disso, mas eu me arrisco a dizer, sem medo de errar, que o conceito artístico dos Beatles, foi o mais bem-sucedido da história da música. Isso sem falar no corte de cabelo “Mop Top”, que não foi Epstein que sugeriu e sim, “Astrid”, a fotógrafa e namorada do primeiro baixista, “Stuart Sutcliffe”, que morreu precocemente na Alemanha.

Outro motivo para o sucesso dos Beatles, é o momento histórico, por exemplo, o baterista Ringo Starr nasceu no dia que começou a “2ª Guerra Mundial”, ou seja, a geração anterior, viveu os horrores na pele, porque estavam ali no olho da guerra. Nas escolas britânicas, os professores ensinavam técnicas de sobrevivência, para o caso de haver novos conflitos, então, o medo, a cautela e a disciplina era imprescindível.

Julia Stanley mãe de John Lennon

Liverpool era um centro industrial importante, porque também era o principal porto de desembarque das novidades americanas. As novidades que chegavam da América, influenciavam jovens e transformou de vez a paisagem do lugar. A vida noturna, com os bares do Jazz e Blues, gradativamente, iam amenizando os traumas da Guerra. A Inglaterra estava cada dia mais dependente dos proletariados e como muitos homens morreram na guerra, as mulheres britânicas assumiram parte desse protagonismo.

A mãe de Paul era enfermeira, a de George era assistente de uma loja de artigos irlandeses, a mãe do Ringo tinha uma confeitaria. Então, as mulheres foram muito importantes nessa revolução, tanto que, “Julia Stanley”, a mãe de John Lennon, tocava banjo e foi ela quem lhe deu o primeiro violão, e também lhe apresentou “Elvis Presley”.

 

Voltando para o início… 1964. Os Beatles chegaram da bem-sucedida visita aos E.U.A. e já saíram em sua primeira turnê na Europa, que acabou expandindo os limites; chegaram em Hong Kong, Japão, Filipinas e até na Austrália. É uma pena os Beatles nunca terem vindo para o Brasil, mas vou contar os motivos disso nunca ter acontecido.

Algumas pessoas tentam relativizar, justificando que 1964, ano da explosão da beatlemania, foi também o inicio da ditadura militar aqui no nosso país, mas a verdade, é que os militares não estavam nem aí pra isso. A integração com os E.U.A. era muito boa e se os Beatles viessem com uma recomendação de lá, não representaria nenhuma ameaça comunista.

The Beatles na Austrália

Mas não vieram, porque também não haviam promoters interessados em promover esse tipo de show, sem falar que as informações chegavam com atraso. E vamos combinar, os empresários dos Beatles, estavam ganhando tanto dinheiro, que vir para a América Latina, não faria diferença nenhuma, concorda?

Segundo o beatlemaníaco “Gilvan Moura”, do canal “The Beatles School”, os contratos com “Ed Sullivan”, obrigavam os Beatles a voltar frequentemente para os E.U.A. e isso também inviabilizou uma turnê mundial, além de ser algo pouco viável, por causa da logística precária para grandes shows nos anos 60.

Aliás, não é que Brian Epstein não pensava nisso, pelo contrário, foi pensando no mercado mundial, que resolveram investir em vídeos musicais, que além de ser uma novidade, também seria uma forma da banda ser assistida em vários lugares do mundo simultaneamente e potencializar as vendas dos discos. Isso ficou tão sério, que em 6 de junho de 1964, o primeiro filme dos Beatles, que se tornaria um clássico cult, considerado o grande precursor da ideia dos videoclipes,  “A Hard Day’s Night”, foi lançado no Reino Unido.

Aqui no Brasil chegou nos cinemas com o título: “Os Reis do Iê Iê Iê”. Na trama, dirigida por “Richard Lester”, quatro músicos tentam tocar em um programa de televisão. Brian Epstein achou ótima a ideia de levar os Beatles ao cinema, em referência aos filmes de Rock dos anos 50, principalmente os protagonizados por Elvis.

Epstein, no contrato com a produtora, só exigiu duas coisas: um bom roteiro e a trilha toda composta por Lennon & McCartney. Por fim, virou os Beatles contando a história dos Beatles, numa pegada meio romantizada, para também não parecer um documentário.

Em paralelo ao filme, o álbum “A Hard Day’s Night” foi lançado naquele mesmo ano, sendo o primeiro a trazer somente composições de Lennon/McCartney. Na versão americana, foram inclusas faixas instrumentais compostas por George Martim para a trilha sonora do filme, que foi até indicada ao Oscar.

Quem é colecionador de discos dos Beatles, já sabe da salada. Os selos responsáveis pelas distribuições mundo à fora, trocavam o título, trocavam as músicas e até as capas eram alteradas. É por isso que existem várias versões dos mesmos lançamentos, então, vamos nos ater aos originais britânicos.

Esse LP em questão, A Hard Day’s Night, foi lançado oficialmente no Reino Unido no dia 06 julho de 1964, com uma colagem na capa de pequenas fotos dos integrantes, como se fosse um filme de 35 milímetros, claro, na intenção de fazer a conexão com o filme.

O título “A Hard Day’s Night”, foi sugerido por Ringo. Após um dia exaustivo de trabalho, ele teria dito: “Foi um dia duro… e eu olhei ao redor e vi que estava escuro, então eu disse: …noite”.

Os dizeres de Ringo inspiraram o título do filme e consequentemente, a música. Embora ele não esteja creditado na música, mas somente Lennon/McCartney, quem compôs de fato essa música e também a cantou, foi John Lennon.
A guitarra de 12 cordas muito utilizada pelos Beatles, apareceu pela primeira vez aqui em Hard Day’s Night e também em “You Can’t Do That”, ambas executadas por George Harrison.

É sempre importante lembrar que Paul e John, fizeram um acordo de assinar todas as músicas dos Beatles como “Lennon/McCartney”, mesmo quando ela fosse escrita somente por um deles.

Além de “A Hard Day’s Night”, John compôs e cantou “I Should Have Known Better”, “Any Time at All”, “When I Get Home”, “You Can’t Do That” e “I’ll Be Back”.

Foi John também, que escreveu “I’m Happy Just to Dance with You” interpretada por George Harrison, que não escreveu nada nesse disco.

Já Paul, escreveu e cantou “Can’t Buy Me Love”, marcante também pelo filme “Namorada de Aluguel” de 87. Quem é da minha época, provavelmente assistiu na “Sessão da Tarde”. Essa canção foi lançada antes, como compacto duplo, (junto com “You Can’t Do That”, três meses antes do lançamento do filme, e foi a primeira vez que ouvimos apenas um Beatle cantando, sem apoio vocal dos demais integrantes.

“Things We Said Today,” também é do Paul, que escreveu para sua namorada da época, a atriz “Jane Asher”, e fala sobre as “coisas que nós dissemos”, quando nos encontramos pela última vez. Paul e Jane, não se encontravam com muita frequência devido a falta de agenda de ambos.

Por fim, John e Paul, dividem os vocais principais em “If I Fell” e “Tell Me Why”, ambas compostas pela dupla, mas principalmente por Lennon.

Em A hard Day’s Night, ficou ainda mais latente o poder comercial que existia nos Beatles. No Reino Unido, o disco ficou 21 semanas no primeiro lugar das paradas e nos E.U.A. 14 semanas. Aqui no Brasil, “Os Reis do Iê Iê Iê” só chegou no ano seguinte, 1965, e influenciou no surgimento da “Jovem Guarda”.

Sem deixar a peteca cair, George Martim, organiza os garotos no estúdio “Abbey Road” e no mesmo ano, 1964, começaram a gravar “Beatles for Sale”.

O sucesso nos cinemas havia impulsionado ainda mais o fenômeno da Beatlemania, levando os Beatles a se apresentarem em exaustivas turnês, além das já tradicionais aparições em programas de rádio e TV.

Com tantos compromissos, a vida pessoal deles ficou caótica e cansativa e aquele ano de 1964, revelou os primeiros sinais de desgaste na banda. Ainda que não fosse perceptivel aos fãs, a cada novo lançamento a disputa entre Lennon e MacCartney pelo título de melhor compositor se acirrava.

Além de todas as viagens pela Europa, uma outra grande turnê pela América do Norte estava no roteiro, dessa vez com 31 apresentações em 32 dias. Estava impossível atender à pressão imposta pela gravadora, que também exigia um novo disco antes do Natal. Apesar da pressão, o novo disco saiu e para muitos fãs, “Beatles for Sale”, é o melhor álbum da fase beatlemania, pois trouxe um amadurecimento musical perceptível, com arranjos de Country e Western, misturados ao Rockabilly, e novas letras com influências de Bob Dylan.

Bob Dylan e John Lennon

Todo esse cansaço, está refletido não só nas letras e arranjos, mas também no título: “Beatles à venda”, ou seja, somos um produto, nos compre, mas, em entrevistas futuras isso foi relativizado, para não parecer um descontentamento dos rapazes.

Na foto do encarte, tirada por “Robert Freeman” no “Hyde Park” de Londres, em pleno outono, os Beatles aparecem sérios e visivelmente cansados.

“Beatles for Sale” chegou nas lojas britânicas no dia 04 de dezembro de 1964 e apesar do momento estressante, traz composições épicas, como: “What You’re Doing” e “Eight Days A Week”, mas devido ao excesso de compromissos e ao prazo curto, a banda incluiu alguns covers de “Chuck Berry”, “Carl Parkins e “Buddy Holly”. E tudo bem, afinal, nos dois primeiros álbuns, os Beatles já haviam gravado covers, porém, isso veio a se tornar motivo de críticas, pois o álbum anterior, o terceiro da banda, foi lançado exclusivamente com composições próprias e a volta dos covers, fez os críticos assinalarem Beatles For Sale com um álbum mais fraco, ou mesmo um passo atrás na carreira.

Durante as seções de Beatles for Sale, foram gravadas as músicas “I Feel Fine” e “She’s a Woman”, que como era de praxe, foram antecipadas em um compacto duplo e não estiveram presentes no álbum. Aliás, “I Feel Fine” é uma música de John, que trouxe um dos primeiros e mais memoráveis riffs de guitarra da história do Rock, que chegaram ao topo das paradas de sucesso.

Em junho de 1965, Sua Majestade, “Elizabeth II”, condecorou os Beatles como Membros da Ordem do Império Britânico, imagina? Um reconhecimento inédito e inimaginável para uma banda de Rock até então. Enquanto isso, no mesmo mês, o segundo filme estrelando os Beatles foi lançado. E agora sim, estamos falando de… Help!

 

Novamente o filme acompanhou o lançamento do álbum de mesmo título, que serviu como trilha sonora. Era um repeteco da fórmula de sucesso conquistada com A Hard Day’s Night, afinal, tudo que surgia com o nome “The Beatles”, era rapidamente consumido, mas nesse caso, tem algumas singularidades interessantes.

Segundo o próprio Paul narra, em Help, os Beatles trocaram os comprimidos estimulantes que os deixavam ligadões, que consumiam desde a época de Hamburgo, por cigarros de canábis, que os deixavam relaxados.

Essa é a fase mais divertida narrada pelos Beatles; é impossível não rir ouvindo as entrevistas.

Bastidores de Help!

Paul conta que na reunião para definir as locações do filme, eles diziam: “Quero ir pra Bahamas, nunca fomos pra lá…”. Ok, vamos gravar nas Bahamas. Ringo dizia: “Eu quero gravar esquiando no gelo, deve ser divertido…”. Ok, vamos para os Alpes Suíços. E assim, atendendo todos os pedidos dos integrantes e com custo de produção duas vezes maior que o filme anterior, Help foi rodado em película colorida.

O roteiro foi escrito de uma forma que a banda é perseguida quase que o filme todo, não por fãs, mas por membros de um culto indiano, que querem pegar o anel que Ringo está usando.

Como os caras não eram atores profissionais e nem tinham essa ambição, optaram por ficar chapados quase que o tempo todo, fato que os levavam à crises de risos. Tem uma cena ultrassimples, que os caras levaram mais de 20 takes para gravar, simplesmente porque eles caiam na gargalhada compulsivamente. Um outro take hilário, acabava com os Beatles correndo e fugindo de uma perseguição. Eles correram sem parar por centenas de metros, até ficarem em um local isolado e acenderam um baseado.

“Estávamos fumando maconha até no café da manhã. Ninguém podia se comunicar conosco, porque estavamos rindo o tempo todo”. Disse John Lennon em uma entrevista. E todos os Beatles assumem que estavam chapados o tempo todo. Isso veio atrapalhar as gravações, lógico.

O diretor do filme, “Dick Lester”, disse que só conseguiam gravar na parte da manhã, porque a tarde, ficava impossível concentrar os rapazes. Enfim, hoje, as histórias de bastidores do filme “Help”, na minha opinião, são mais interessantes do que o filme em si, mas como o assunto aqui é a música, eu seria vago se passasse por “Help” e não destacasse essa icônica canção.

Lennon, sempre citou “Help” como uma de suas canções favoritas da fase Beatles. Ele dizia gostar dela por ser “real”. E seu único arrependimento, era que, por motivos comerciais, a banda tenha transformado uma canção à moda Dylan, em uma canção alegre dos Beatles.

Pois é, ouça aqui a versão demo e você entenderá como soava Help, quando John Lennon a levou para banda

Em uma entrevista de 1971 à revista “Rolling Stone”, Lennon comentou com ar de ironia, que Help representa a sua fase “Elvis Gordo”.

Vou tentar explicar: Elvis Presley foi importantíssimo para a formação da personalidade dos Beatles, talvez até mais do que Buddy Holly, tantas vezes citado pelos garotos. Acontece que, além do Rock and Roll, Elvis invadiu a Europa com seus filmes e sendo ele um sex symbol, magro e cheio de ginga, ditava o padrão de beleza, influenciando milhões de jovens, inclusive os Beatles, com os penteados topetudos do inicio de carreira.

Mas nos anos 70, Elvis teve problemas com bebidas e drogas; ficou deprimido e tornou-se um cara excêntrico. Na fase “Las Vegas”, vemos um Elvis Gordo ostentando costeletas enormes, que decepcionou muitas fãs.

Então, trocando por miúdos, sim, John Lennon compôs Help porque estava se sentindo gordo e isso o deprimia, mas não se engane, essa não é a única razão de John Lennon estar pedindo ajuda. Help foi escrita a partir de uma de suas “depressões profundas. John havia se tornado milionário e se sentia encurralado pela fama, e estava bebendo excessivamente. Tudo isso o estava deixando desanimado, principalmente com o rumo que a banda tomava e com o casamento frio e falso que mantinha com Cynthia. Vale lembrar, que John era o único Beatle casado nessa fase.

Por fim, a versão que ouvimos de Help é pitoresca, mas eu descordo de John… é sim, uma das suas melhores musicas da fase Beatles, principalmente por causa da colaboração de George e Paul nos vocais. Ouça um trecho da versão à capela:

O disco “Help” chegou nas lojas no dia 15 de fevereiro de 1965 e originalmente, se chamaria: “Eight Arms To Hold You”, mas isso foi antes de Lennon apresentar Help e mudar os planos da banda.

John também escreveu “You’ve Got To Hide Your Love Away”, totalmente influenciada por Bob Dylan. Ele também compôs “It’s Only Love”, que segundo John, é a sua canção que ele mais detestava. E “You’re Going To Lose That Girl”.

George Harrison canta duas músicas de sua autoria, “You Like Me Too Much” e “I Need You”, que ele escreveu para sua namorada na época, “Pattie Boyd”, e teve muita história depois disso. Com certeza “I Need You” merecia ter sido lançada como single, mas George, sempre foi engolido por Lennon e McCartney nos Beatles.

Entre os covers, temos “Act Naturally” e “Dizzy Miss Lizzy,” cantadas por Ringo e John, respectivamente.

Paul, por sua vez, compôs “The Night Before”, “Another Girl” (onde também toca guitarra solo), “I’ve Just Seen a Face” e o tema do episódio 57… “Yesterday”.

“Yesterday”, é a canção mais icônica já escrita por Paul McCartney e foi concebida, segundo o próprio autor, em um sonho.

Isso mesmo, Paul sonhou com a melodia de Yesterday… que sorte, não!?

Algumas vezes, ele foi taxado de fanfarrão por ter declarado isso, porque é assim… eu também já sonhei com melodias e quando acordei, precisei encontrar as notas. Mas Paul disse que Yesterday, lhe veio no sonho, assim, pronta e irretocável, inclusive, as cifras.

Você acredita em mensagens reais que chegam através do sonho?

Eu sou um cara meio incrédulo, preciso ver pra crer, mas os sonhos podem ser muito reais. Lembro de quando sonhei com o diabo da encruzilhada, narrado no episódio 47, sobre “Cross Roads” de “Robert Johnson”. Foi um sonho tenso, deu medo!

Essa sensação de sonho real mesmo, eu tive com Paul McCartney. Sonhei que eu fazia parte da equipe técnica que montava o som para o show de Paul McCartney no Morumbi. A grande expectativa era, claro, a passagem de som. Estava eu lá no palco atento, para caso os produtores precisassem de algo, e de fato, na época, eu estava trabalhando mesmo uma locadora de som, então, o sonho parecia muito real.

Paul chegou cumprimentando todo mundo que estava por lá, dançando e fazendo piadas. O cara era muito simpático.

Então ele pergunta: “meu baixista não pôde vir, alguém aqui toca baixo”?

Dei um passo a frente com o braço levantado… “eu sou baixista Sr. Paul”. Aí eu pego o baixo “Rickenbacker” lá do Sgt. Peppers e toco uma música com eles. Sensacional!

Eu acordei chorando desse sonho, só para vocês entenderem o quanto foi importante para mim, então, eu acredito que os sonhos podem ser realistas.

Eu não duvido que Paul tenha concebido Yesterday em um sonho e eu vou contar agora para vocês como aconteceu.

A revelação da música em um sonho, chegou a Paul McCartney em uma manhã de 1964, mas essa história realmente começa em 1963, quando ele conheceu “Jane Asher” nos bastidores, antes de um show no “Royal Albert Hall”, em Londres.

Jane tinha apenas 17 anos, quando McCartney a viu ali, durante uma sessão de fotos. Ela entrevistou os Beatles e Paul ficou amarradão.

Eles conversaram bastante naquela noite e na manhã seguinte, tomaram café juntos.

Jane Asher e Paul

“Percebi que essa era a garota para mim”. Lembrou Paul em uma entrevista ao jornalista “Hunter Davies”. “Eu não tentei agarrá-la ou forçá-la a nada. Eu disse: Parece que você é uma boa garota”.

Os Beatles moravam juntos em Londres, em uma casa alugada por Brian Epstein, mas assim que o namoro de Paul com Jane engrenou, justificando que queria ficar a salvo das fãs enlouquecidas, ele aceitou o convite e se mudou para a casa da família de Jane, que era uma casa enorme. Paul ficou no sótão e dizem que arrastou sozinho o piano de armário até o seu quarto, onde compôs algumas importantes melodias.

O tal sonho aconteceu nessa casa. A melodia de Yesterday veio pronta para Paul, que para traduzi-la, bastou que ele cambaleasse até o piano e confirmasse os acordes. Depois da surpresa, correu acordar Jane para que ela ouvisse.

“primeiro caí da cama, depois conferi as notas que sonhei e as toquei na sequência do sonho… G, F# B7 e Em”. Disse Paul em uma entrevista, justificando como criou uma das mais importantes canções de todos os tempos.

É uma bela história, mas isso, de fato, só poderia ter acontecido com um músico como Paul McCartney, e tinha que ser naquele momento, quando ele estava em busca disso. Mesmo que estivesse dormindo, seu cérebro estava trabalhando em uma nova melodia…

No café da manhã, ele continuou cantarolando e para não se esquecer da melodia, enquanto comia, resolveu cantar de improviso, “Scrambled Eggs” (ovos mexidos).

Tem uma participação de Paul no programa de Tv de Jimmy Fallon, onde eles combinaram um resgate da letra original. Ouça…

Na primeira oportunidade, Paul a tocou para seus colegas de banda, mas as reações não foram boas… “Poxa Paul, nós somos uma banda de Rock e isso daí é uma balada…”

Paul concordou, mas ele estava ficando paranóico, porque não tinha certeza que a musica era original. Por ter surgido em um sonho, com certeza se tratava de uma melodia que ele já havia escutado, mas não se lembrava.

Então, ele começou a mostrar “Scrambled Eggs” pra todo mundo que passasse por ele. Não satisfeito, passou a fazer ligações para outros países, tocando violão para saber se alguém conhecia a música. Felizmente, era original. Todos confirmaram nunca ter escutado algo parecido, nem mesmo George Martin, que era um profundo conhecedor de música.

Paul e George Martin ajustando o violão para a gravação de Yesterday

Só depois de convencido que a melodia era original, é que Paul passou a se dedicar ao resto da música.

Ele tocou tanto “Scrambled Eggs” no set de Help, que o diretor Richard Lester, uma vez ameaçou jogar o piano fora. Ninguém aguentava mais Paul e aquela melodia inacabada.

Lennon tentou ajudar e sugeriu que o título da música fosse apenas uma palavra, por exemplo: “ontem” (Yesterday).

Depois de meses lutando consigo mesmo nesse processo criativo, a letra definitiva foi finalizada.

“Foi uma viagem longa e empoeirada que eu fiz com Jane. Ela estava tentando dormir, mas eu não conseguia, e quando fico tanto tempo sentado em um carro, ou eu durmo, ou meu cérebro começa a funcionar. Lembro-me de meditar sobre a palavra “Yesterday” e de repente, obter essas pequenas aberturas de uma palavra no verso.”

“Ontem,… Todos os meus problemas pareciam tão distantes

Agora parece que eles vieram pra ficar

Eu acredito no ontem”

McCartney e Asher, finalmente chegaram na costa de Portugal, onde ficariam como hóspedes na casa de férias de seu amigo “Bruce Welch”, que também era músico. Assim que chegou, Paul ligou para o amigo e perguntou se ele tinha um violão. Por sorte, havia um violão na casa e Paul conseguiu finalmente terminar Yesterday.

Poucos sabem, mas essa música, poderia ter entrado tanto em “A Hard Day’s Night”, quanto em “Beatles for Sale”, bastava que eles se juntassem e a terminassem, mas vários motivos faziam com que eles sempre adiassem “Scrambled Eggs”, entre eles, o fato de ser uma balada e os Beatles uma banda de Rock, e também o desentendimento entre George Martin e Paul sobre o arranjo.

Quando Paul finalmente apresentou a versão final que ele fez sozinho, sem ajuda de ninguém, todos ficaram de cara. Inegavelmente, Paul havia se superado e resolveram gravá-la para encaixar no LP Help.

No dia 14 de junho de 1965, após a gravação de ” I’m Down” e quatro dias antes do aniversário de 23 anos de Paul McCartney, Yesterday foi gravada.

Há relatos conflitantes, de que os outros Beatles tentaram uma variedade de instrumentos, incluindo bateria e um órgão, , e que George Martin, os persuadiu para que McCartney gravasse Yesterday sozinho, tocando um violão “Epiphone” com cordas de aço. Aquilo foi bem traumático para a banda, porque eles nunca haviam gravado separados até então. Essa foi a primeira vez que um Beatle gravou solo. Mais tarde, George Martin acabou adicionando um quarteto de cordas, pra sentir se soava legal.

Em 17 de junho, Paul voltou ao estúdio, onde regravou o vocal e um novo quarteto de cordas foi gravado e essa versão foi lançada.

O “Take 1”, sem o overdub de cordas, foi lançado mais tarde no “Anthology 2”.

Reza a lenda, que Lennon ficou meio emburrado, porque de fato, Paul havia composto uma obra que parecia insuperável. E Reza a lenda também, que Paul não sabia que o violão estava afinado um tom abaixo, por isso, ele toca em G e soa em F.

Outro fato inusitado e muito lembrado por Paul em suas entrevistas, é que na quarta visita dos Beatles aos E.U.A., enquanto eles novamente se apresentavam no “The Ed Sullivan Show”, foi decidido que Paul tocariaYesterday sozinho.

“Eu nunca tinha tocado ao vivo sem a banda, mas concordei em fazer isso um pouco nervoso. Então, eu estou de pé lá, tudo preparado com meu violão pronto para ser anunciado, e o Ed Sullivan me diz:

– Você está nervoso?”

Eu disse que não.

– Não mesmo? Mas você deveria estar; temos 73 milhões de pessoas assistindo.”

E foi assim, essa versão de Yesterday, cantada solo por Paul, transformou a música em um fenômeno.

A pressão para que os Beatles lançasse Yesterday como single foi enorme, mas a banda não queria, nem mesmo Paul queria.

George Martin conta que notou o problema e fez uma reunião com Brian Epstein. Ele explicou que Yesterday não era The Beatles, aquela música não tinha nada haver com o que a banda fazia, aquilo era Paul solo, se lançando além da banda e alertou Epstein: “se lançarmos Yesterday como single, iremos criar uma ruptura”. E esse é o motivo de não existir o single britânico.

Porém, logo em seguida, “Matt Monro”, gravou a primeira versão cover de Yesterday e a lançou como single,, atingindo o top 10 das paradas britânicas.

Na América, a “Capitol Records” não foi tão elegante e lançou Yesterday como single duplo, com “Act Naturally” no lado B e liderou as paradas americanas por 4 semanas.

Pesquisando aqui, Cocão descobriu que no dia 8 de março de 1976, Yesterday também foi lançada como single pela Parlophone no Reino Unido. Onze anos depois de Bryan Epstein e George Martin terem feito o acordo de não lançá-la. E mesmo tanto tempo depois, chegou no número 8 das paradas britânicas.

E esse lançamento, só foi possível depois do término do contrato dos Beatles com a “EMI”.

Segundo o “Guinness Book”, mais de 3000 versões oficiais de Yesterday foram lançadas, agora imagine as não oficiais.

Yesterday foi eleita a Melhor Canção do Século 20 pela “BBC” e é a 14ª melhor canção de todos os tempos segundo a Revista “Rolling Stone”.

Bom, acho que é isso… mas eu seria vago, se antes de finalizar, eu não citasse a treta que essa música causou na banda.

Yesterday pegou John Lennon bem certeiro no seu ego, que a Essa altura, com toda aquela fama e bajulação, estava enorme. Após Yesterday, Paul se tornou o principal Beatle.

Anos mais tarde, em uma entrevista, Lennon falou sobre Yeasterday, poucos meses antes de sua morte.

“Embora as letras não resolvam em nenhum sentido, são boas falas. Elas certamente funcionam. Mas se você ler a música inteira, não diz nada. Você não sabe o que aconteceu. Ela foi embora e ele gostaria que fosse ontem.  É boa, mas realmente não resolve.”

Esse foi o jeito John Lennon de assumir que Yesterday sempre foi uma ótima música, tanto que ele fez até uma citação em sua canção ” How Do You Sleep?”, que saiu no famoso álbum “Imagine”, de 1971.

Uma pequena melodia que veio para Paul em um sonho e se tornou um hino de várias gerações.

A música é mesmo fascinante, não?

Esse podcast, é um oferecimento dos sócios do Clube da Música Autoral e além da revisão nas pronúncias, o Gus Ferroni, beatlemaníaco e grande amigo, também me ajudou no roteiro desse episódio. Valeu Gus!

Aqui é o Gilson de Lazari. Foi um prazer falar de música com você… e até a próxima!

Gilson de Lazari

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Roteiro: Gilson de Lazari e Gus Ferroni

Locução: Gilson de Lazari

Revisão: Gus Ferroni

Arte da vitrine: Patrick Lima

Edição de áudio e transcrição: Rogério Silva

 

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