O Red Hot Chili Peppers é mais um fruto que nasceu da conturbada relação entre música e drogas. Como bem sabemos, essa relação tem um preço e Anthony Kiedis precisou ir para debaixo de uma ponte para pagar o seu.
Confira a história de “Under The Bridge,” um clássico da música alternativa dos anos 90.
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Hoje vamos contar a história do começo dos Chilli Peppers e discorrer sobre “Under The Bridge”… Se você gosta do Clube e quer que a gente continue trazendo as histórias das músicas aqui para a “podosfera,” apoie essa missão. Você pode ser um sócio oficial, sócio estrategista ou sócio diretor. Acesse clubedamusicaautoral.com.br/assine e conheça as vantagens que você recebe em troca do seu apoio. Lembrando que agora temos o Pix do Clube também. Se quiser, pode nos apoiar agora mesmo, enquanto ouve esse episódio. Use o e-mail do clube como chave clubedamusicaautoral@gmail.com.
Esse é o penúltimo capítulo da quinta temporada. Com esse episódio, o 49, estamos chegando ao fim. Vamos direto ao que interessa, Cocão. Para contar a história dos Chilli Peppers, com respeito e sem ser vago, em ordem cronológica, vamos voltar essa fita para 1978, quando tudo começou.
Em 1978, enquanto Stevie Wonder pedia “Pessoas continuem aprendendo e soldados continuem avisando”, nos intervalos entre as aulas da Fairfax High School, em Hollywood, os amigos Flea, Hillel Slovak e Jack Irons bolavam planos. E o mais audacioso deles era a banda de rock que estavam tentando montar. Mesmo antes de o projeto dar certo, eles já tinham um fã, chamado Anthony Kiedis. Ele gostava tanto daquela movimentação artística que se ofereceu para ser o roadie da banda.
Alguns anos depois, Anthony fez alguns bicos como ator participando de seriados infanto-juvenis e, nas horas vagas, escrevia rimas. Ele aproveitou que um dos shows da turma se tornou uma jam session e entrou na roda. Enquanto a banda improvisava uma funk music distorcida, Kiedis mandou ver nas suas rimas. Era um poema chamado “Out in LA”.
Essa é a demo da música que eles improvisaram e gravaram um tempo depois, mas, no dia em questão, era só uma zoeira. Nada estava combinado. Mesmo assim, o desempenho daquela formação improvisada foi tão elogiado que rolou até um convite do dono do bar para que voltassem na semana seguinte.
É aí que começa a carreira musical de Anthony Kiedis. Ele nasceu em Grand Rapids, Michigan, em primeiro de novembro de 1962. Seu pai era chamado de Blackie Dammet e, sua mãe, Margaret “Peggy” Noble, tinha ascendência indígena. O casal se divorciou em 1965, quando Anthony tinha apenas 3 anos. Ele viveu em Grand Rapids com a mãe até os 11 anos, quando resolve se mudar para Los Angeles, a fim de viver com o pai que era um cara que levava a sério o lema “Sexo, drogas e rock-and-roll”.
Led Zeppelin era a trilha sonora que uniu os caras. A vida de Kiedis na casa do pai era bem controversa e, aos 15 anos, seu pai já o havia apresentado a uma porção de drogas.
Anthony lembra em suas entrevistas que, nessa fase, tornou-se uma espécie de “protetor” dentro das escolas. Ele defendia outras crianças que eram discriminadas e conheceu Flea, quando o viu dando uma “gravata” em um de seus amigos. Kiedis foi pra cima, separou a briga e deu uma bronca, ameaçando Flea. No entanto, Flea estava sofrendo bullying e, por isso, atacou. Após esclarecerem o mal-entendido, os dois se sentaram lado a lado na aula e acabaram se tornando amigos inseparáveis.
Naquela jam session descompromissada, surgiu a chama de uma nova banda que era formada por Flea no baixo, Hillel Slovak na guitarra e Jack Irons na batera. Aliás, se você ouviu o episódio 43, Jeremy, sabe que foi Jack Irons que intermediou o contado entre Pearl Jam e Eddie Vedder, que na época morava em Los Angeles…
Pois bem, nessa época a banda não era nada séria e a batizaram como Tony Flow and the Miraculous Majestic Masters of Mayhem, ou algo do tipo… Mas, logo se tornaram The Red Hot Chili Peppers, um trocadilho com Red Hot Peppers, que era a banda de Jazz preferida do Flea. Aliás, ele começou tocando trompete e só depois se apaixonou pelo baixo elétrico.
A amizade entre os integrantes da banda tomou outras proporções quando Anthony Kiedis saiu da casa do pai e alugou a sua própria. Primeiro veio Flea, que também sofria com o padrasto alcoólatra, e depois Hillel. Além da música, as grandes paixões deles eram as garotas, o surf e, claro, os tóxicos. Flea conta que demoraram vários dias para perceber que a casa onde moravam estava sem a porta da frente.
Talvez fosse por causa da doideira, mas o fato é que, cada vez que os Red Hot se reuniam, aconteciam as melhores festas. Vale lembrar que havia uma cena punk e pós punk, que fazia um rock mal humorado, e uma cena hip hop altamente politizada… Os Chilli Peppers eram a terceira via, que investia no rock diversão e inconsequente. Porém, resgatavam referências da Motown e da funk music, ou seja, havia algo novo ali.
Com exceção de Anthony Kiedis, os demais integrantes também tinham outras bandas e o Red Hot era aquele projeto casual. Porém, a química entre eles estava ficando cada vez mais forte, principalmente entre Flea e Kiedis. Após uma das apresentações do Chilli Peppers fazer fila de um quarteirão, Flea resolveu sair dos outros projetos para se dedicar apenas ao Chilli Peppers. É a partir daí que as coisas começam a acontecer e se tornam atração disputada nos clubes de Los Angeles.
O show dos Chilli Peppers era enérgico ao cubo. Não dava pra acreditar como eles tinham tanta energia no palco. Na verdade, dá… Drogas, né, amigos? Eles adoravam. E, como eu sempre digo, nessa indústria da música não basta talento; é preciso sorte e estar no lugar certo na hora certa. Anthony Kiedis teve a “brilhante ideia” de, em um show, usar as meias “Socks on Cocks” e eles voltaram para o “bis” pelados, usando apenas uma meia para esconder o pênis. Aquilo foi um escândalo e, como todo bom escândalo, também divulgou a banda.
Três meses depois, em outubro de 1983, assinam o primeiro contrato com a EMI Records. Vale lembrar que eles eram uma banda de garotos com comportamentos erráticos. E, antes de gravarem o tão sonhado primeiro disco, o guitarrista Hillel e o baterista Jack Irons saem da banda. Na verdade, eles escolheram focar no “What Is This”, uma banda em que eles tocavam, paralela ao Red Hot.
Esse era o som do “What Is This” que, como sabemos, não vingou. Anthony e Flea ficaram arrasados com a escolha dos dois, principalmente porque foram obrigados a chamar outros músicos pra gravar, com quem não tinham afinidade: o guitarrista Jack Sherman e o baterista Cliff Martinez. Para tentar contornar o problema dos integrantes, a EMI contratou o guitarrista do “Gang of Four”, Andy Gill, para ser o produtor do álbum de estreia dos Chilli Peppers, mas não deu certo. Surgiram vários conflitos musicais entre eles. Andy não dava liberdade para a banda criar melodias próprias. Enfim, o primeiro álbum foi chamado de The Red Hot Chili Peppers e foi uma grande decepção para a banda. O disco saiu em agosto de 1984 e não teve uma boa recepção pela imprensa especializada.
No verão do mesmo ano, a MTV, que já vinha se destacando como principal divulgadora das bandas, apresenta o Red Hot Chili Peppers no MTV News. Somando-se com a divulgação de canções nas rádios, isso ajudou a construir uma pequena base de fãs e possibilitou a primeira turnê americana da banda. Só que, durante as viagens, Anthony Kiedis e Jack Sherman se desentenderam e, no começo de 1985, trazem de volta Hillel Slovak para a guitarra. Daí, meu amigo, a heroína começa a rolar solta. Hillel estava obcecado pela psicodelia de Jimi Hendrix e traz toda essa referência para a banda. Tanto musical, quanto tóxica.
Agora, com a guitarra furiosa de Hillel e o groove competente de Flea, eles resolvem procurar outro produtor musical que tenha a ver com o som que fazem. Então foram bater à porta de ninguém menos que George Clinton, pedindo que ele produzisse o novo álbum dos Chilli Peppers. George Clinton é um famoso integrante do Parliament-Funkadelic, que desenvolveu um novo funk durante a década de 1970, baseado em ficção científica, cultura psicodélica e humor. Ele tinha tudo a ver com o Red Hot e, juntos, gravaram “Freaky Styley”, lançado em 1985.
Com o novo disco, os Red Hot Chili Peppers ganham um belo fôlego após o relativo fracasso do álbum de estreia. Logo no ano seguinte, 1986, pisam pela primeira vez nos palcos europeus, debutando em turnê internacional.
Cliff Martinez resolve deixar a banda e volta Jack Irons. Essa era a formação clássica dos Red Hot Chilli Peppers. Em 1987 eles retornam ao estúdio com um novo produtor, Michael Beinhorn, que os incentiva a expandirem seus horizontes musicais, a fim de criar um trabalho mais diversificado. Assim nasce o terceiro álbum lançado no mesmo ano: The Uplift Mofo Party Plan.
As gravações desse disco ficaram marcadas pelo excesso de drogas. As sessões eram interrompidas para que Anthony fosse até a boca buscar heroína. Ele e Hillel estavam viciados. Jack Irons e Flea não curtiam a heroína. Aliás, Flea resolve se casar naquela época e, assim, se afasta um pouco daquela loucura. Porém, após Hillel e Kiedis firmarem um pacto onde ambos se comprometeram a parar com a heroína, o guitarrista sofre uma overdose e morre. Era a fase de promoção do novo disco e Anthony Kiedis entra em profunda depressão, que só era saciada com o uso de heroína.
Nos bastidores só se falava sobre o fim da promissora banda, que nem sequer chegou a mostrar todo seu potencial. A overdose de Anthony Kiedis era questão de tempo, mas felizmente ele aceitou o tratamento em uma clínica de reabilitação. Após um longo hiato, Kiedis e Flea se reúnem e resolvem retomar a banda. Jack Irons havia saído logo após a morte de Hillel. Sem uma ideia melhor, anunciam a vaga no jornal. John Frusciante era um fã da banda. Ele tinha apenas 18 anos, mas assume a guitarra porque era um guitarrista genial. Chad Smith foi o trigésimo baterista a ser testado e os caras gostaram dele porque ele era bem doidão e gritava enquanto tocava. De volta ao estúdio, gravaram “Mothers Milk”, que foi lançado em 1989.
Com a adição do guitarrista John Frusciante e o baterista Chad Smith. o som da banda mudou significativamente, dando mais ênfase à melodia do que ao ritmo. Durante as gravações, o produtor Michael Beinhorn e John Frusciante constantemente discutiam, devido ao desejo de Beinhom de que o álbum tivesse riffs de heavy metal, assim como overdubs, mas esse não era o estilo de Frusciante.
Os clipes e a imagem da banda ajudaram bastante e “Mothers Milk” foi um grande sucesso comercial, com cerca de 5 milhões de cópias vendidas – mais do que os três álbuns de estúdio anteriores do Red Hot Chili Peppers combinados – e marca o fim do contrato com a EMI. Após mais uma turnê bem sucedida, assinaram com a Warner Music. É quando os Red Hot se consagram como uma banda de sucesso mundial, pois o próximo lançamento seria o icônico “Blood Sugar Sex Magik”.
Flea, que é o responsável por “Give It Away”, é considerado um dos maiores baixistas da história da música. Ele nasceu em Melbourne, na Austrália. Após a separação dos seus pais, sua mãe se casou novamente com um músico de jazz. O padrasto de Flea, Walter Urban, convidava músicos para sua casa, onde jam sessions ocorriam frequentemente. A família se mudou para Los Angeles, Califórnia, e Flea, ainda criança, ficou fascinado pelo trompete. Na adolescência, ele achava que o rock era um estilo pobre, até Hillel lhe apresentar o Led Zeppelin e o ensinar a tocar baixo.
Seu nome é Michael Peter Balzary, mas por causa de sua natureza impulsiva e agitada, frequentemente ele era chamado de “Pulga” – “Flea” em inglês. Após os primeiros shows do Red Hot, resolveu assumir o apelido como nome artístico. “Give It Away” nasceu da agitação de Flea. Ele e Chad Smith estavam no estúdio e Flea começou a tocar uma linha de baixo insana. Chad, enlouquecido, começou a tocar junto… Anthony Kiedis lembra que sempre teve fragmentos de ideias de músicas em sua mente. Então, pegou o microfone e cantou “Give it away, give it away, give it away, give it away now”. Assim nasceu um dos maiores sucessos da banda e hino de uma geração.
Foi Rick Rubin que produziu esse disco. Ele é conhecido como o cara que popularizou o hip hop. Entre seus principais trabalhos estão discos dos Beastie Boys, Public Enemy, e Run-DMC. Em 2007, a MTV o chamou de “o produtor mais importante dos últimos 20 anos”. No mesmo ano, Rubin apareceu entre as “100 Pessoas Mais Influentes do Mundo” segundo a revista Time. O cara tem 9 Grammys. Enfim, Rick Rubin ajudou a definir o conceito musical do Red Hot Chilli Peppers.
Sabe o rótulo “Rock Alternativo”? Ele se popularizou com esse disco: “Blood Sugar Sex Magik” foi o primeiro álbum do estilo “rock alternativo” a atingir o topo das paradas e vendeu nada menos do que 19 milhões de cópias, mesmo com a grande concorrência da época. Como vocês lembram, era o auge das bandas grunges: Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains… E os Chilli Peppers conquistando seu espaço ao sol.
Chad Smith é peça chave que explica a nova sonoridade dos Chilli Peppers. Aos 11 anos de idade ele já tocava em uma banda cover de “The Doors”, mas a carreira dele como baterista não ia a lugar nenhum. Seu sonho era tocar com uma grande banda, mas as coisas não estavam indo bem. Então ele resolve se mudar para Los Angeles, estudar música, e foi num anúncio de jornal que descobriu a audição para o posto de baterista do Red Hot Chili Peppers. Na época, eles eram um “tipo de banda underground universitária”, lembra Chad. E confessou que só se interessou pela banda porque eles tinham um contrato de gravação.
No mesmo dia em que o Nirvana lançou Nevermind, 24 de setembro de 1991, o Red Hot lançou “Blood Sugar Sex Magik”, que foi certificado como disco de ouro em 26 de novembro de 1991, e platina em primeiro de abril de 1992. E é nesse disco que está o tema do episódio 49 do Clube… Cocão, por favor rode a vinheta porque, a partir de agora, com respeito e sem ser vago vamos falar de “Under The Bridge”
“Under The Bridge” foi escrita por Anthony Kiedis em um momento de total desolação. Após a overdose de Hillel, ele precisou tomar uma decisão difícil, que basicamente se resumia em morrer de overdose, ou viver sem esse recurso, que fazia parte da personalidade da banda.
Independente da decisão de Kiedis, o Red Hot já havia sido declarado morto, visto que sem Kiedis a banda acabava e, sem as drogas, que eram o combustível, a banda acabava também. Foi difícil, mas Kiedis conseguiu dar a volta por cima e ficar limpo mesmo com seus companheiros usando drogas. Ao lado de Flea, reformou os Chilli Peppers e a banda renasceu. Aí que tá… Kiedis estava limpo, mas os outros integrantes, não, e isso o deixou deslocado da atmosfera musical da banda.
No dia em que Anthony Kiedis escreveu “Under The Bridge”, ele chegou para mais um ensaio e, quando entrou no estúdio, ouviu que Frusciante e Flea estavam tocando. Ao vê-los, logo entendeu que ambos estavam chapados, porque suas expressões entregavam isso… Frusciante olhava para o nada, como se Kiedis não estivesse ali, e Flea se contorcia enquanto dedilhava o baixo. Kiedis sabia que para entrar naquela vibe musical, precisaria da droga. Como estava limpo, sentiu que não fazia parte daquilo… Voltou para casa dirigindo muito pensativo e refletindo sobre a perda da amizade dos amigos de banda que, de certa forma, o ignoraram naquele dia. Foi quando surgiram as primeiras frases da música.
Anthony chamou aquele poema de “Under The Bridge”, que significa “Embaixo Da Ponte” em inglês. A referência era o local onde ele ia buscar drogas no auge do seu vício. Um lugar que ficava embaixo de uma ponte cuja localização real Kiedis nunca quis confirmar. Apenas disse ser no centro de Los Angeles. Mas os fãs insistem em MacArthur Park como sendo a localização da ponte citada na música.
É possível perceber, ao longo da letra, o sentimento de tristeza quando Kiedis se percebe sozinho dirigindo pela cidade. Mas ele narra que a música foi inspirada na sensação de não ter um norte, não no desejo de se drogar.
Em entrevista para a Rolling Stone, em 1992, Anthony falou assim:
“Quando cheguei em casa naquele dia, comecei a pensar sobre minha vida e como era triste agora. Mas, não importa o quão triste ou solitário eu ficasse, as coisas estavam um milhão por cento melhores do que dois anos antes, quando eu usava drogas o tempo todo. Não houve comparação. Eu estava me lembrando: ‘Tudo bem, as coisas podem parecer complicadas agora, mas não quero me sentir como há dois anos.’ Comecei escrevendo sobre a ponte – e os fatos discorrem sob a ponte.”
“Under The Bridge” é o retrato de uma realidade sombria que ilustra não apenas a situação deplorável do vocalista por conta do vício, mas também a desarmonia que surgiu na banda naquele período.
O último verso deixa ainda mais claro o que ocorria debaixo daquela ponte, que acaba se tornando um símbolo negativo, uma parte da vida de Kiedis que ele provavelmente deseja esquecer.
“Under The Bridge” downtown (Debaixo da ponte do centro da cidade)
I gave my life away (Eu entreguei a minha vida)
Era até então uma música muito diferente do estilo dos Chilli Peppers. Ela entrou no repertório por acaso. Anthony Kiedis a havia escrito como um poema. Mas Rick Rubin, que é o grande responsável por essa música ter sido gravada, assim que começou a pré-produção do disco, pediu todos os rascunhos de letras que a banda tinha. Entre elas estava “Under The Bridge”. Segundo Anthony, não deveria estar lá… Rick perguntou por que, mas ele não respondeu.
Kiedis tinha vergonha do sentimento que expôs em relação aos amigos da banda. Isso aguçou em Rick Rubin a percepção de que daquele poema surgiria algo verdadeiro, e Anthony concordou em tentar. O que Frusciante fez com sua guitarra Fender Duo Sonic de 1965 na introdução dessa canção simplesmente marcou uma geração. Frusciante se baseou fortemente na canção de David Bowie de 1971 “Andy Warhol “. Se liga:
Cocão:
– “Blood Sugar Sex Magik” foi produzido por Rick Rubin e gravado em uma suposta mansão assombrada em Beverly Hills, cheia de história, uma vez que já tinha sido habitada pelo ilusionista Houdini; local onde os Beatles experimentaram LSD pela primeira vez e onde Jimi Hendrix havia dado loucas festas. O álbum foi um enorme sucesso, sendo considerado pela crítica uma obra-prima. É o septuagésimo segundo colocado na lista dos 100 maiores álbuns de todos os tempos pela Q Magazine, e está na Lista dos 500 Melhores álbuns da história.
Bem lembrado, Cocão. Rick Rubin foi questionado sobre sua influência nessa canção em uma entrevista de 2013: “Meu pensamento era que os Chilli Peppers não se limitavam a ser uma banda funk com rap. E lembro que Anthony ficou com vergonha de mostrar a música para os outros caras da banda. Mas, ele cantou uma ideia de melodia para John Frusciante que, poucos dias depois, trouxe um arranjo de guitarra. Ele tocou para Flea, que imediatamente fez a sua parte. E acabou sendo uma música muito boa, embora eles não tenham percebido quão boa era, até o disco ser lançado e as pessoas começarem a interagir”.
Um outro fato curioso é que “Give It Away” havia sido o primeiro single desse disco e também um sucesso de vendas. A Warner logo se mobilizou para lançar o segundo single e houve um impasse entre os executivos, produtores e a própria banda, que não sabia qual seria a segunda melhor música de trabalho. Então, resolvem assistir um show dos Red Hot para sentir qual música funcionaria melhor… Naquela noite, os Chilli Peppers estavam afiados e, para impressionar, deram tudo em cima do palco. Existia uma grande expectativa sobre como a plateia iria reagir a “Under The Bridge”. Quando John Frusciante deu a deixa… Anthony Kiedis se perdeu e errou a entrada.
Vale lembrar que Kiedis nessa época se considerava um cantor de RAP. Cantar uma música melódica era muito estranho e desafiador… Ele lembra que, quando perdeu a deixa, pensou “Estraguei tudo”. Porém, o público cantou a música em coro e ele entrou depois.
Kiedis lembra que, no camarim, após esse show, envergonhado se dirigiu aos executivos e pediu desculpas por ter fodido tudo. E eles disseram “Fodido? Você está brincando, né? Quando cada garoto presente no show canta uma música, está mais que claro… Esse é o nosso próximo single”.
E, assim foi… O sucesso foi aumentando. Com o lançamento de um vídeo dirigido por Gus Van Sant e ovacionado na MTV a música estourou. O clipe ganhou dois prêmios no “MTV Video Music Awards” de 1992 como “Escolha da Audiência” e “Vídeo Revelação”. Com toda essa exposição, os Red Hot Chilli Peppers conseguiram se destacar entre aquele turbilhão de bandas grunge de 1992.
E é assim que vamos chegando ao fim de mais um episódio do Clube. Se te der saudades de ouvir essas músicas, lembro que tem uma playlist desse episódio que você pode ouvir no Deezer, Spotify e YouTube… Para enriquecer a nossa playlist e encerrar, separei aqui uma versão de “Under The Bridge” interpretada lindamente pela cantora britânica Natty Bong.
Mando aqui o meu salve em reconhecimento ao apoio dos sócios diretores desse clube: Matheus Godoy, Henrique Vieira Lima, Caio Camasso, Marcelo Leonardo, Luis Machado, Lucas Valente, Antonio Valmir Salgado Jr., Emerson Silva Castro, João Junior Vasconcelos Santos, Diego Vinicius, Jaques Liston, Liston Jr. e André Fonseca. Mais que sócios: Diretores do Clube da Música Autoral…
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A história dos Chilli Peppers ainda tem muitos altos e baixos. Como é sabido, a droga foi a grande responsável pela quase morte de John Frusciante que, após a overdose de Hillel, teve sua própria experiência com o vício durante a década de 1990. Ele saiu do Red Hot e passou a viver recluso, muitas vezes na miséria completa. Seus royalties dessa época e principalmente os lucros do seu segundo disco solo foram para financiar o seu grande consumo de heroína e cocaína. O vício de Frusciante foi tão pesado que, quando ele finalmente decidiu se tratar, tinha perdido a maioria dos dentes, que haviam apodrecido e precisaram ser substituídos. Ele também precisou de plásticas para remover as cicatrizes de seus braços, resultado de anos e anos injetando cocaína e heroína.
Fiquem tranquilos que a história tem final feliz, porém é conteúdo para um outro episódio. Se você quiser se aprofundar no assunto “Música e Drogas”, lembro do Episódio Extra 13 do Clube, que fala sobre essa prazerosa e mortal mistura.
Hoje estamos indo nessa. Esse podcast é um oferecimento dos sócios do Clube da Música Autoral. A revisão do roteiro é da Camilla Spinola e do Gus Ferroni. A arte de vitrine é do Patrick Lima. A edição é dele, Rogério “Cocão” Silva. E a produção é minha, Gilson de Lazari. Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima!
Tudo que é feito com carinho e dedicação é impossível não dar certo