Chegou a vez de contarmos a história dos sultões do swing e as curiosidades por trás de “Money for Nothing,” um dos maiores hits da década de 80, composta por Mark Knopfler, um músico com um estilo único de tocar guitarra.
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 60,2 MB
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Somos aguerridos, teimosos e abnegados. Com muita dedicação, Cocão e eu, em conjunto com os sócios desse Clube, estamos aqui, entre os grandes nessa corrida por audiência da podosfera! E, digo mais, se fôssemos uma banda, seríamos uma banda independente espremida na prateleira, ao lado dos midiáticos lançamentos das superpoderosas gravadoras… Enfim, só queria expor pra você que o Clube da Música Autoral é um podcast independente, que disputa espaço entre os gigantes. E, se você reconhece valor no que fazemos, seja um sócio! Apoie essa missão. Acesse clubedamusicaautoral.com.br e conheça as vantagens que você recebe em troca do seu apoio.
Essa é a quinta temporada do Clube. Já contamos muitas histórias e também já ouvimos muitas histórias, sabia? Sim, histórias dos ouvintes! E, se você quiser participar do episódio extra, lembro que já uma tradição: ao fim da temporada sempre fazemos um episódio extra para ler e comentar as mensagens que chegaram. Se você gostou de algum episódio, ou mesmo se não gostou, se ficou emocionado, indignado ou curioso, escreva pra gente. Estamos no Instagram, YouTube, Twitter, Facebook, WhatsApp e Telegram… Procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse Clube.
Tudo certo, Cocão? Finalmente chegou o dia de falar dos sultões do swing – Não sei como ainda não tiveram a ideia de lançar uma banda de forró eletrônico com esse nome: Sultões do Forró, Sultões do Swing… combina, né? Mas, hoje o assunto é sobre guitarras elétricas, talento e sorte, muita sorte. Afinal, Dire Straits significa situação difícil… Mas, antes de contar essa história, vou lembrar de uma passagem difícil, que inclusive está narrada no meu livro – Os Delírios Musicais.
Em 1989, meus pais se separaram. Na época, eu me tornei um garoto revoltado e, às vezes, violento. O que me salvou foi a música. Aliás, a música me salvou muitas vezes e de várias maneiras diferentes. Sou muito grato por ela existir e ser tão presente em minha vida. Contar histórias das músicas nesse podcast é uma forma de enaltecer essa minha gratidão. Mas, no fim dos anos 90, comecei a encontrar muitas correlações entre as mensagens das músicas e meus problemas de adolescente. E uma das primeiras vezes em que isso aconteceu foi ouvindo Dire Straits no carro do meu irmão.
Confuso por causa da separação dos meus pais e, na maioria das vezes, triste por achar que eu era o pivô do problema, encontrei refúgio no carro do meu irmão. Ele o deixava estacionado em casa e ia de carona para faculdade em Bauru e só o usava nos finais de semana. Lembro até do cheiro dele, era um Golzinho quadrado branco. Quando eu não estava na escola, estava dentro do carro. Ligava o rádio, me deitava no banco de trás e ficava ouvindo músicas aleatórias que tocavam nas FMs da época. E eram ótimas músicas, tá? O que hoje chamamos de flash back eram lançamentos na época. Eu tinha 12 anos e às vezes fingia que estava dirigindo em alta velocidade, ou então (quase sempre, na verdade) me imaginava tocando bateria acompanhando as músicas.
Me recordo também que abaixo do rádio toca fitas, meu irmão havia instalado um Tojo. Aquilo era muita ostentação. Vou explicar o que é porque tem gente que não lembra. Tojo era uma espécie de equalizador chaveado que melhorava o som. Uma marca nacional, que fez muito sucesso nos anos 80 e 90, com soluções tecnológicas específicas para automóveis, mas depois foi vendida e desapareceu do mercado.
No porta-luvas, meu irmão guardava algumas fitas cassetes. Nelas, estavam gravadas músicas dos anos 70 e 80: Ele sempre foi muito organizado, todas as fitas tinham caixinhas e um encarte com os nomes dos artistas escritos na máquina de escrever: A-Ha, Oingo Boingo, Pet Shop Boys, Tina Turner, Creedence, Elton John e, claro, Dire Straits, que eram as minhas preferidas para acompanhar no air drummer. Além das fitas, também ficavam no porta luvas canetas e durex (para consertas as fitas), e ferramentas obrigatórias para se manter dentro de um Gol quadrado ’86, como alicate, chaves de fenda e arames. Logo, eu percebi que as chaves de fenda poderiam ser minhas baquetas e, o volante do carro, a bateria…
Mas, infelizmente, minhas “baquetas” acabaram estragando o revestimento do volante. Então, meu irmão, muito bravo, escondeu as chaves e me deixou sem música. Meu pai tinha uma Brasília velha movida a gás de cozinha, onde o rádio sintonizava apenas AM. Eu não gostava da Brasília por causa do cheiro de gás. Mas, sem outra opção, passei a ouvir os programas da Rádio Globo, e por lá tinha muita “contação de história”… É engraçado analisar que, hoje, quem contas as histórias no rádio sou eu, inclusive tenho um programa em uma emissora saudosista cuja programação musical é inteiramente voltada para os sucessos dos anos 80 e 90.
Mas, na época, quando eu era um garoto confuso, vivendo em uma cidade do interior paulista, local onde as referências da música sertaneja eram pungentes, Dire Straits saía em vantagem, porque conseguia conversar tanto com roqueiros, quanto com os amantes do estilo de vida cowboy.
Espertos, eles, não? Mas duvido que miraram no interior de uma cidade sulamericana. Eles só misturaram estilos, e sabe o que é mais curioso? Isso nem aconteceu nos EUA, onde a country music nasceu. Os Dire Straits são britânicos. Como assim música de cowboy? É, pois é… E para contar essa história desde o início, com respeito e sem ser vago, vamos voltar essa fita.
Menos de um ano depois dos Sex Pistols lançarem Anarchy in the UK, o professor Mark Knopfler e seu irmão mais novo, o assistente social David Knopfler, começaram a ensaiar as músicas que Mark vinha escrevendo.
Os irmãos Knopfler nasceram em Glasgow, na Escócia. São filhos de mãe inglesa, Louise Mary, e pai judeu-húngaro, Erwin Knopfler. A mãe era professora e o pai era arquiteto e jogador de xadrez. Ele deixou a Hungria no Natal de 1939, fugindo dos nazistas.
Louise e Erwin se conheceram em Newcastle e se casaram. Lá nasceu a irmã mais velha, Ruth. Mark Freuder Knopfler nasceu no dia 12 de agosto de 1949 e, David Knopfler, no dia 27 de dezembro de 1952. Quando Mark tinha 7 anos e David 4, a família resolve voltar para Blith, uma pequena cidade que ficava muito próxima de Newcastle na Inglaterra.
Newcastle é a região da família materna e, em particular, o tio Kingsley tocava gaita e tinha um piano na sala da casa. Mark foi muito influenciado pela musicalidade do tio. Ele pediu para o pai lhe comprar uma guitarra Fender, mas o valor não era compatível com a renda familiar. Então seu pai lhe presenteou com uma Hofner Super Solid de 50 libras.
Em 1963, quando tinha 13 anos, Mark conseguiu um emprego aos sábados no jornal Newcastle Evening Chronicle. Foi quando ele conheceu o famoso poeta Basil Bunting, que também era editor do Jornal. Em 2015, Mark Knopfler escreveu uma música em homenagem a ele.
Mas, não perca as contas: aqui na nossa história estamos nos anos 60, quando houve a revolução musical. Os britânicos reinventaram o rock. Vocês sabem, né? Paul, Lennon, Syd Barrett, assim como Jimmy Page, Eric Clapton, Keith Richards, Pete Townshend, entre outros, estavam formando bandas que não mais copiavam e, sim, evoluíam o rock americano.
Mark Knopfler, apesar de ser bem mais novo, seguia os mesmos passos e se juntou a várias bandas que, em comum, imitavam Elvis Presley, BB King , Chuck Berry, Jimmi Hendrix… e, aos dezesseis anos de idade, ele fez uma aparição na televisão local cantando e tocando com sua colega de classe Sue Hercombe. Eles haviam gravado esse dueto aqui .
Em 1967, Mark resolve estudar jornalismo por um ano no Harlow Technical College e acabou sendo contratado como repórter júnior no Yorkshire Evening Post. Depois de dois anos, ele decidiu continuar seus estudos e se formou em Inglês na Universidade de Leeds. Na mesma época ele se casou pela primeira vez, aos 22 anos, com a filha de um agricultor, Kathleen White, mas esse casamento foi relâmpago. Mark morava em Leeds e conheceu um cantor e guitarrista de blues chamado Steve Phillips. Mark escrevia artigos para jornais com críticas sobre a cena musical britânica. Nas horas vagas, ele e Steve, que era montador de móveis, tocavam. E, descobriram que musicalmente tinham muito em comum. Digo mais: o estilo de Mark Knopfler foi influenciado por Steve… Eles tocaram juntos por 5 anos e formaram The Duolian String Pickers
Steve teve um efeito profundo na guitarra de Mark. Foi ele que o apresentou à intrincada técnica do country blues, que tempos depois Mark acabaria transformando em seu próprio estilo único de tocar com os dedos. Esta foi, de fato, uma etapa muito importante no desenvolvimento de Mark como guitarrista. Ele confessa que foi após aprender a tocar com os dedos que encontrou o “seu som” de guitarra. Vale lembrar que a imensa maioria dos guitarristas usa palhetas para tocar. Mark Knopfler usa as pontas dos dedos, como se estivesse sempre dedilhando as cordas.
Enquanto morava em Leeds, Mark gravou seu primeiro disco em uma sala improvisada que havia sido convertida em estúdio na sua própria casa. A música se chamava Summer’s Coming My Way e, como sempre, Steve Phillips o acompanhava no violão de doze cordas.
Em 1973, já professor de Inglês, Mark decidiu se mudar para Londres, local onde a cena do rock estava mais em evidência. Ele vasculhou a imprensa musical tentando encontrar bandas à procura de músico. Respondeu a todos e conseguiu algumas audições. Isso lhe rendeu um contrato com uma banda de blues chamada Brewer’s Droop. Mark levou o estilo country para banda e tocou guitarra em três canções gravadas no Rockfield Studios, de Dave Edmunds, no País de Gales.
Após deixar a Brewer’s Droop, Mark começou a trabalhar como professor no Loughton College em Essex e, nas horas vagas, dava aulas de guitarra. Então, seu irmão David veio passar algumas semanas com ele. Os irmãos Knopfler costumavam se sentar até tarde da noite tocando músicas e, sem perceber, começaram a surgir as bases do que viria a se tornar o Dire Straits. David resolveu mudar-se para Londres e Mark começou a formar uma banda com amigos do Loughton College. Eles se autodenominavam Café Racers.
David veio dividir um apartamento no sudeste de Londres com um baixista chamado John Illsley. Ele falava muito sobre o irmão e John se lembra do primeiro encontro com Mark, que ocorreu quando ele chegou de madrugada e na sala havia um cara deitado no chão. Ele estava dormindo profundamente, totalmente vestido de jeans e botas de couro com um violão pendurado na cintura. John conta que a descrição que David fizera do irmão, era exatamente a mesma daquele cara esparramado no chão.
Uma certa noite o baixista do Café Racers estava doente e John foi convidado para substituí-lo. A partir daí, Mark e John iniciaram uma ótima relação musical, e ambos perceberam que o Café Racers tinha um futuro promissor, mas não naquele formato. Em abril de 1977, Mark desistiu de seu apartamento em Buckhurst Hill e foi morar com David e John em Londres. Foi quando Mark compôs os primeiros sucessos. Poucos sabem, mas além das lendas do Blues e da Country Music, a maior influência de Mark no estilo calmo e espaçado de cantar veio de um americano, J.J. Cale, que fez um relativo sucesso em 1972… Repare na semelhança:
John rapidamente percebeu que Mark não era apenas um guitarrista talentoso, mas também um ótimo compositor. Ele conseguia trazer os lamentos do blues para a realidade deles, sempre evidenciando locais da Inglaterra, ou seja, criando conexões nas histórias. Isso sem falar que era na dose certa entre o country, o rock, o blues e pop.
Durante o verão de 1977, os três músicos passaram todas as noites tocando e ensaiando as canções de Mark, até chegarem à conclusão de que faltava um baterista. Então, Mark lembrou que, em sua breve passagem pelo Brewer’s Droop, havia conhecido o baterista ideal para aquele tipo de música que estavam desenvolvendo. Seu nome era Pick Withers e, em 1973, Pick entra para a banda, fechando a primeira formação. Sem um nome melhor, eles resolvem manter Café Racers. O primeiro show da nova banda aconteceu em um espaço aberto, nos fundos dos apartamentos da Farrer House, e a eletricidade foi fornecida por um cabo que ligava o palco a uma tomada no apartamento que eles moravam.
Os ensaios e shows ao vivo se seguiram. Havia espaço suficiente na parte de trás do carro de John para o equipamento da banda e eles ganharam dinheiro suficiente para pagar o aluguel do apartamento, e ainda sobrava para muitas rodadas de cervejas. Em uma delas, o amigo de John sugeriu o nome Dire Straits – Ninguém sabe ao certo o porquê de o nome da banda ser esse. Mas, acredita-se que o pessoal da banda passava por uma situação financeira muito brava, e assim acabaram adotando a expressão como nome da banda, que seria o equivalente a dificuldades terríveis. Mas essa expressão é bem mais antiga, lá dos idos de 1500. Naquele período, a navegação pelos mares era intensa. Os navios muitas vezes tinham de passar por espaços estreitos (straits). A tarefa de passar pelos estreitos não era das mais fáceis. Os marinheiros precisavam ter muita habilidade e mão firme. Portanto, quando o estreito era muito complicado pra navegar, os marinheiros o chamavam de dire strait. Com o tempo, a expressão acabou caindo na boca do povo, e a banda o adotou. Foi no momento propício, pois, logo em seguida, no dia 27 de julho de 1977, o Dire Straits entrou em estúdio pela primeira vez e gravou a famosa fita demo de cinco canções – Sabe por que ela ficou tão famosa? Porque foi nela que apareceu, pela primeira vez, Sultans of Swing – ouça a versão demo:
Os Sultões do Swing. Essa versão marca o surgimento oficial do Dire Straits e é incrível analisar o quanto a demo é parecida com a versão final.
Mark Knopfler, teve a ideia para essa canção após assistir a apresentação de uma banda ruim. Ele estava em Ipswich em uma noite chuvosa e resolveu entrar em um bar onde, por acaso, uma banda fechava a noite para um público de quatro ou cinco bêbados. Após uma performance medíocre, a infeliz banda encerrou o show com o vocalista anunciando, sem ironia: “Boa noite e obrigado. Somos os sultões do swing”. Knopfler teria ficado muito impactado com aquela apresentação, em especial quando os caras disseram ‘Muito obrigado, nós somos os Sultões do Swing’, ele achou aquilo muito engraçado, pois Sultões eles absolutamente não eram. Eram garotos tímidos vestindo pulôveres.
Então ele começou a escrever a respeito, mas Sultans of Swing tem muitas curiosidades. Vamos reservá-la para um outro episódio. Quero apenas ilustrar aqui um dos solos de guitarra que marcou o surgimento de um novo estilo de tocar guitarra… o estilo Mark Knofler:
Além de Sultans of Swing, a demo continha Wild West End, Down To The Waterline, Sacred Loving e Water of Love.
As fitas foram entregues ao DJ Charlie Gillett da BBC Radio London. Charlie abraçou a causa e sempre tocava as músicas da demo. Não só isso: no ar, ele convocava executivos das gravadoras para contratar a nova banda. John Stainze, da Phonogram A&R, estava no chuveiro ouvindo a rádio quando ouviu Sultans of Swing pela primeira vez. Moral da história, dois meses depois, o Dire Straits assinou um contrato com a Vertigo Records, uma divisão da Phonogram Inc.
John Stainze, que era muito próximo do manager Ed Bicknell, agendou para que fossem juntos ao Dingwalls Club, no norte de Londres, para conhecer os Dire Straits ao vivo. Foi no dia 13 de dezembro de 1977 e, assim que entraram no clube, estavam tocando Down To The Waterline.
A primeira coisa que notaram foi que não era necessário ficar no fundo da sala; pois os Dire Straits tocavam de forma suave, em contraste com as bandas punk da época; não se esqueçam era 1977, o ano do punk. O fato de os empresários estarem um pouco saturados dos barulhentos e caóticos movimentos punks, influenciou Ed que, depois de ouvir duas ou três músicas, decidiu que iria gerenciar a banda. Ele estava organizando a turnê do Talking Heads e encaixou os Dire Straits como banda de abertura. O resto – como se costuma dizer – é história.
O primeiro disco homônimo do Dire Straits foi gravado no Basing Street Studios, em Londres, entre 13 de fevereiro a 5 de março de 1978. Knopfler usou um par de guitarras Fender Stratocasters vermelhas – uma de 1961 e uma de 1962. Ele usou sua guitarra de 1938 National Style e também usou uma Telecaster Thinline preta. Seu irmão David tocou uma Fender Stratocaster preta e um violão Harmony. O álbum foi produzido por Muff Winwood. e foi lançado no dia 7 de outubro de 1978. Além do single Sultans of Swing, que estourou nos Estados Unidos puxando o hit para o número oito nas paradas britânicas, pegava onda na boa sorte Water of Love, que também foi lançada como single.
Para promover o álbum, os Dire Straits saíram em uma turnê europeia que incluiu shows no Reino Unido, França, Bélgica, Alemanha e Holanda. A banda normalmente se apresentava em pequenas salas com capacidade máxima para 1.000 pessoas. Mas, no ano seguinte, eles embarcaram na primeira turnê norte-americana, onde fizeram 51 shows com ingressos esgotados em um período de 38 dias. Nessa época, Sultans of Swing escalou as paradas para o número quatro nos Estados Unidos. Bob Dylan, que tinha visto a banda tocar em Los Angeles, ficou tão impressionado que convidou Mark Knopfler e o baterista Pick Withers para tocar em seu próximo álbum, Slow Train Coming, que foi lançado em 1979.
Eu sempre digo que não basta talento, mas, nesse caso, Sultans of Swing abriu tantas portas que a sorte passou até que desapercebida. Nessa onda, entre shows e aparições promocionais, as sessões do segundo álbum, Communiqué, ocorreram em dezembro de 1978 no Compass Point Studios, em Nassau, Bahamas e o lançamento foi em junho de 1979. No Reino Unido, o álbum alcançou a quinta posição e o grande sucesso foi a excelente Lady Writer
Em 1980, os Dire Straits foram indicados para dois prêmios Grammy de Melhor Artista e Melhor Performance Vocal de Rock. Em julho de 1980, a banda começou a gravar faixas para seu terceiro álbum. Agora produzido por Jimmy Lovine em parceria com Mark Knopfler, o álbum foi batizado de Making Movies e lançado em outubro de 1980. Só que, durante as sessões de gravação, a tensão entre Mark e seu irmão David afetou a banda. Tanto que David deixou o Dire Straits e foi tentar carreira solo. A tensão foi tão grande que David não foi sequer creditado no álbum. Segundo os produtores, as linhas de guitarra já gravadas por ele foram substituídas pelo guitarrista Sid McGinnis. Nessa época, entram para a banda o tecladista Alan Clark e o guitarrista californiano Hal Lindes. Um fato curioso é que os videoclipes nessa época surgiam como apoio aos lançamentos e Mark Knopfler foi considerado “feio” pelos diretores. O grande sucesso comercial desse disco foi Romeo and Julliet e, no clipe, Mark foi substituído por um ator galã. Mas a minha preferida desse álbum é Tunnel of Love.
O quarto álbum de estúdio do Dire Straits se chama Love Over Gold e foi lançado em setembro de 1982. Um álbum de canções repletas de longas passagens experimentais que apresentavam o trabalho de piano e teclado de Alan Clark. Nessa fase Knofler estava fazendo também trilhas sonoras para filmes e o som do Dire Straits fica um pouco mais complexo. É quando o baterista original Pick Withers resolve sair da banda com o profundo discurso de que não queria ser um baterista de rock.
Apesar de ser um disco bem recebido pelos críticos quando foi lançado, em setembro de 1982, não é muito empolgante para os fãs do country rock, como eu. Esse foi o primeiro álbum do Dire Straits produzido exclusivamente por Mark Knopfler, e o hit principal nas paradas foi Private Investigations
Em 1983, já com o novo baterista, Terry Williams, foi lançado um EP de quatro canções intitulado ExtendedancEPlay que apresentou o single “Twisting By the Pool” que chegou no Top 20 no Reino Unido e Canadá. Nessa época a banda ganhou o prêmio de Melhor Grupo Britânico no Brit Awards de 1983. E é quando o tecladista Tommy Mandel entra para ajudar Clark a executar os arranjos de teclados que estavam cada vez mais complexos e detalhados. No mesmo ano eles lançaram o primeiro álbum duplo Alchemy Live, alcançando o Top 3 na Inglaterra.
Era um significante sucesso, sem dúvidas e, como eu disse, não que os Dire Straits precisassem de sorte – eles já estavam indo bem, mas mesmo assim a sorte grande veio. E isso aconteceu em meados de 1985 quando lançaram Brothers in Arms, um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos, e o Dire Straits foi rotulado de ‘a maior banda do mundo’. Tá pouco pra você?
Apesar de ter sido lançado em maio de 1985, Brothers in Arms já vinha sendo produzido desde fevereiro de 84. Era uma safra de hits tão fértil, que essa aí que ouvimos, Walking of Life, quase ficou de fora, por ter sido considerada desinteressante pelo co-produtor Neil Dorfsman, que dividiu a produção com Mark Knoplfer. E são muitos hits, um dos meus preferidos é o “sofá tá meio rúim”
2ª posição no Reino Unido, So Far Away é o single mais famoso da banda em sua terra natal. Só por curiosidade, Brothers in Arms foi um dos primeiros álbuns gravados em um gravador digital Sony de 24 pistas. A decisão de mudar para a gravação digital veio da busca constante de Knopfler por uma melhor qualidade de som. Ele contratou Neil Dorfsman, exatamente por seu interesse em tecnologia. Brothers in Arms foi um dos primeiros discos dirigidos ao mercado de CDs. Também foi lançado em vinil (em uma versão menor para caber no LP) e na fita cassete. Mark Knopfler estava sempre disposto a gastar em equipamentos para conseguir alta qualidade. E eu, como produtor musical, posso afirmar seguramente que ele conseguiu. Destaco aqui uma das mais belas canções dos anos 80 executadas no saxofone: Your Latest Trick.
É, meus amigos… Isso é do seu tempo? Então, orgulhe-se! Tempo bom, com músicas de muita qualidade. Brothers in Arms foi o primeiro álbum a vender um milhão de cópias no formato CD. Vendeu mais do que a versão em LP e foi o álbum que encorajou o investimento no formato CD.
Eu, sinceramente, não sou um grande fã do CD, mas analise também que a maioria dos toca discos era de qualidade contestável. E quem não tinha dinheiro, como eu, comprava a Fita K7, que era muito ruidosa… Inegavelmente, o CD trouxe muita clareza aos sistemas de som domésticos.
Junto com músicas envolventes, o Brothers in Arms trazia também o conceito. Sim, ele é sempre muito importante… Guitarristas com uma faixa na cabeça que usavam blazers…. Eu poderia ficar horas aqui falando sobre esse disco, mas sejamos econômicos, Cocão, porque agora é a hora de soltar a vinheta, afinal, é nesse disco icônico de 1985 que também está a música tema do episódio 45 do Clube: Money for Nothing
“I Want My MTV” Eu quero minha MTV… Essas eram as palavras de uma campanha publicitária promovida pela emissora inaugurada em 1981 que estava moldando a indústria da música… Money For Nothing já e notável logo em sua introdução. Reza a lenda que o manager do Dire Strats, Ed Bicknell, perguntou aos executivos da MTV o que precisa fazer para entrar na grade do canal e fazer sucesso nos EUA. A resposta foi: fazer um hit e contratar um dos top diretores para dirigir o vídeo.
Logo após gravar Money For Nothing, Mark Knopfler assistiu o The Police na MTV fazendo a campanha I Want My MTV e pensou: vou encaixar isso na introdução. E não só isso, percebeu que a tonalidade combinava perfeitamente com a do vocalista do Police, o Sting, e resolveu convidá-lo para o estúdio. Por acaso, Brothers in Arms foi gravado no Arm Studios em Moteserrat e Sting estava lá, praticando windsurfe. O baixista John Illsley lembra que Sting deu uma passada no estúdio sem compromisso. Eles jantaram e depois ouviram Money for Nothing. Sting se virou e disse: “Vocês conseguiram desta vez, seus bastardos; essa música vai ser número 1.” Eles riram e comentaram sobre a obsessão de estar tocando na MTV, que era o novo padrão de sucesso… Sting disse que havia feito uma música também pensando nisso: Don’t Stand So Close to Me… Então Mark comentou que usou as mesmas notas dessa canção para fazer a introdução e perguntou se ele poderia emprestar sua a voz… Rindo, Sting cantou a melodia de sua música, Don’t Stand So Close to Me, trocando pela frase “I Want My MTV”. Eles riram muito, pois era como se estivessem sacaneando a MTV.
Money for Nothing foi escrita num estalo de inspiração. Mark Knopfler estava em uma loja de eletrodomésticos. Na vitrine havia várias TVs, algumas fora do ar e outras ligadas na MTV… Vendo todo aquele caos, entre carregadores e clientes, pediu um papel e começou a fazer anotações do que percebia no ambiente.
Dois carregadores estão trabalhando, olham para as TVs na loja, que estão ligadas na MTV, e um deles resolve comentar: “Olha esses manés. É isso que temos que fazer. Tocar guitarra na MTV. Isso lá é trabalho!?! É assim que se faz: ganhar dinheiro sem fazer nada e pegar umas gatas de graça.”
Knopfler confirmou que realmente presenciou esse papo, os carregadores eram bem ignorantes e diziam coisas do tipo “E a gente aqui tendo que instalar microondas, transportar geladeira e TV a cores”. Como se o trabalho do músico, por não ser braçal, pudesse ser desvalorizado. Mas, a real é que provavelmente os carregadores invejassem o sucesso alheio. Mark Knopfler, um guitarrista discreto e rejeitado pela emissora por não ter um padrão de beleza aceitável, juntou as peças e, apesar de muitos considerarem uma letra medíocre, é impossível não evidenciar o timing, num momento em que os eletrodomésticos evoluíram para objetos de desejo.
Mas eu acho que o elemento que explica essa canção é a guitarra…
Mark Nopfler e seu irmão David tinham sérias discussões a respeito da sonoridade da banda. David, sempre muito conservador, jamais aceitaria um som de guitarra mais pesado, com distorções. Quando Knoplfer apresentou a canção para a banda, o tecladista Alan Clark fez duras críticas. Disse que estava parecendo mais uma canção dos Rolling Stones e sugeriu que Mark criasse um riff…. Foi o que ele fez. Fácil, quando se é Mark Knopfler, né? Ele simplesmente compôs o que a Revista Guitar Player considerou o quinto melhor riff de todos os tempos.
Nessa época, Mark estava na sua fase experimental, compondo trilhas de cinema, testando novos equipamentos e o engenheiro de som e co-produtor Neil Dorfsman relembrou, na revista Sound On Sound de maio de 2006, que eles estavam procurando um som ZZ Top, mas o que conseguiram foi uma espécie de acidente influenciado pelo ZZTop. Neil afirma que Mark compôs o riff de Money For Nothing pensando em ZZ Top e, não apenas isso, eles também estudaram o timbre de Billy Gibbons. Por fim, na versão que foi lançada, Mark toca uma Gibson Les Paul Junior plugada em um amplificador Laney Valvulado.
Billy Gibbons disse em uma entrevista que Mark Knopfler perguntou pessoalmente como ZZ conseguia seus sons de guitarra, justificando que ele estava em busca da distorção perfeita, mas Gibbons educadamente recusou-se a divulgar quaisquer segredos sobre o timbre de guitarra do ZZ Top. Quando questionado sobre como eles se saíram, Gibbons disse algo como “eles chegaram bem perto”.
(Cocão) Mas, nessa canção também tem polêmica, e é das bravas… 25 anos após o lançamento, Money for Nothing foi proibida no Canadá… o motivo? Homofobia!
Aliás, mesmo na época em que foi lançada já houve acusações do tipo. O editor de uma revista gay de Londres disse que era golpe baixo da banda. Tudo por causa da presença da palavra faggot que é repetida três vezes na letra, e que pode ser traduzida como bicha ou viadinho.
Bem lembrado, Cocão. E na letra original está assim:
“Veja aquele “viadinho” com brincos e maquiagens
Sim, camarada, aquele é seu próprio cabelo
Aquele “viadinho” conseguiu seu próprio jatinho
Aquele “viadinho” é milionário”
Mark Knopfler insistia em explicar nas suas entrevistas que o personagem que ele incorpora em Money for Nothing é um verdadeiro ignorante, cabeça dura, alguém que vê tudo em termos financeiros, e a história é narrada pelo ponto de vista de um funcionário de uma loja de eletrodomésticos que olha com inveja para os astros do rock, que aparecem nas televisões do estabelecimento, sempre ligadas na MTV. Ou seja, Mark terceiriza a responsabilidade afirmando que ele não é homofôbico e, sim, o funcionário da rádio que é…
Seria muito mais fácil não ter usado o termo pejorativo, mas devemos sempre analisar o contexto histórico. Quem viveu nos anos 80 e 90 sabe que a crueldade e a discriminação eram comuns.
Mas, essa desculpa do Mark Knopfler não colou no Canadá. Dizem que, por lá, Money for Nothing foi banida das rádios por causa disso. Pesquisando a respeito descobri que essa história não é bem assim…
Em 2011, difundiu-se a notícia (falsa) de que as autoridades canadenses de radiodifusão tinham proibido a canção. Obviamente, muitos admiradores do Dire Straits se ofenderam e falaram em censura. O que houve na verdade foi um pedido para que as rádios emitissem uma versão editada em que não se ouvia a palavra faggot. Os próprios Dire Straits, em algumas coletâneas como “Sultans of Swing: the Very Best of Dire Straits” (de 1998), optaram por incluir uma versão editada onde essa estrofe já não entrava. Repito, não era uma obrigação: algumas rádios canadenses continuaram tocando a original. Mas, o fato acabou levantando a questão de novo, 25 anos depois do lançamento de Money For Nothing.
(Cocão) Outro detalhe: não foram poucos os artistas que vestiram a carapuça e pensaram ser o “viadinho de brinco e maquiagem”. Um dos que se pronunciaram publicamente a respeito disso foi Nikki Sixx, afirmando que Mark Knopfler havia feito a canção para falar da banda em que ele é o baixista e compositor, Mötley Crüe.
É, pois é, Cocão. O estrondoso sucesso de Money for Nothing também gerou muitas reações e paródias. A banda de ska punk Reel Big Fish usou de um trocadilho para nomear seu disco de 2007, Monkeys For Nothin Chimps For Free, ou seja, Macacos não valem nada e os chimpanzés são de graça. “Weird Al” Yankovic, conhecido por suas paródias, só conseguiu a permissão de Mark Knofler para lançá-la após concordar que ele tocaria a guitarra na versão paródia… e assim foi!
Além das paródias, existem também várias versões de Money for Nothing, mas para encerrar o episódio de hoje escolhi a versão do Big Daddy, uma banda americana de comédia rock formada em Los Angeles, Califórnia. Nessa versão, eles misturam Money For Nothing com Sixteen Tons. Ouve aí. Achei sensacional.
Lembrando que todas as músicas citadas aqui nesse episódio estarão em uma playlist no Deezer, no Yoyotube e no Spotify. Então, se você ficar com saudades de ouvir as músicas dos Dire Straits, e provavelmente vai ficar, acesse o site do Clube. Além do link para as playlists você vai conhecer também as vantagens que recebe em troca do seu apoio. Vai lá: clubedamusicaautoral.com.br
Antes de partir, quero deixar um salve para os sócios diretores Matheus Godoy, Henrique Vieira Lima, Caio Camasso, Marcelo Leonardo, Luiz Machado, Lucas Valente, Antonio Valmir Salgado Junior, Emerson Silva Castro, João Junior Vasconcelos Santos e Diego Vinicius. Mais que sócios… Diretores do Clube da Música Autoral. E no grupo dos sócios onde discutimos os episódios que serão lançados, muito falamos sobre MTV e o impacto que causaram na música… Isso já foi debatido no episódio 43, Jeremy, e o assunto está presente também em Money For Nothing.
Saiba que a MTV Europa foi lançada em 1987 e chegou junto com o inovador videoclipe de Money for Nothing, que elevou os Dire Straits a patamares de deuses do rock-and-roll. O contrassenso é que a música soa como uma acusação de que a MTV manipulava as músicas, e criavam sucessos independente de a música ser boa ou não. Mas o empresário Les Garland, que dirigia a emissora na época, deixou claro que adorava a música e ficava lisonjeado ao ouvir o slogan “I Want My MTV” no rádio, afirmando que aquilo era uma publicidade fantástica, mesmo que houvesse algumas implicações desfavoráveis na letra.
O fato é que o vídeo é inovador: foi um dos primeiros a apresentar animação gerada por computador. Usaram um programa antigo chamado Paintbox. Os personagens deveriam ter mais detalhes, como botões em suas camisas, mas o orçamento era baixo e tiveram que simplificar. O vídeo foi dirigido por Steve Barron, que também dirigiu o famoso vídeo do A-Ha para “Take On Me”, e faturou o prêmio de melhor vídeo no MTV Video Music Awards de 1986.
No livro I Want My MTV, várias pessoas que trabalharam na rede explicam sobre o clipe de Money for Nothing. Precisaram convencer Mark Knopfler, que odiava vídeos, a participar dele. Steve Barron diz que Knopfler odiou a ideia, mas sua namorada – uma americana que o estava ajudando nas decisões da época, amou a ideia e Knopfler acabou concordando (principalmente porque ele não teve que aparecer). Barron contratou uma produtora do Reino Unido chamada Rushes. E o próprio diretor afirma que, de certa forma, a música é condenatória para a MTV. Foi um vídeo irônico. Os personagens que criaram eram feitos de televisores e estavam criticando a emissora. Apesar do sucesso do vídeo, Mark Knopfler se manteve indiferente sobre a MTV.
Agora, sim, estou indo nessa. Lembrando que nas redes sociais nós complementamos as informações que foram narradas nesse episódio. Segue a gente: estamos no Facebook, YouTube, Instagram, Twitter, WhatsApp e Telegram… Procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse clube.
A arte de vitrine desse episódio foi feita pelo Patrick Lima. A revisão do roteiro é da Camilla Spinola e do Gus Ferroni. A edição é dele: Rogério “Cocão” Silva. E a produção é minha, Gilson de Lazari. Foi um prazer falar de música com você e até a próxima.