Para inaugurar a quinta temporada do Clube trouxemos as curiosidades e polêmicas por trás de “Sweet Home Alabama,” uma das principais canções do Southern Rock, composta pela banda Lynyrd Skynyrd.
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Não perca as contas. Esta é a nossa quinta temporada e, nesse episódio, o quadragésimo primeiro da cronologia, vamos reverenciar o hino do rock sulista americano, “Sweet Home Alabama”, do Lynyrd Skynyrd.
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A temporada está começando e lembro aos sócios que a enquete já foi enviada e vocês vão nos ajudar a escolher os temas dos próximos episódios. Mas, não desse, porque contar a história do Lynyrd Skynyrd, a tal banda amaldiçoada, é um projeto antigo meu. A saga desses caras é incrível e Sweet Home Alabama é um hino do rock sulista. Sabe o que é rock sulista? Então, com respeito e sem ser vago… é por aí mesmo que vamos começar a contar nossa história. Rola a vinheta, Cocão.
Southern Rock, ou Rock Sulista, como queiram, é um subgênero musical que se desenvolveu no sul dos Estados Unidos. Como é sabido, as origens do rock-and-roll vêm principalmente da música sulista, sendo seus principais expoentes Bo Diddley, Elvis Presley, Little Richard, Buddy Holly e Jerry Lee Lewis.
No entanto, a invasão britânica e a ascensão do folk e do rock psicodélico, em meados dos anos 60, influenciou os sulistas a mudarem o foco do rock rural para o das grandes cidades como Liverpool, Londres, Los Angeles, Nova York e São Francisco.
No final dos anos 60, o rock sulista ganhou evidência, quando bandas como Creedence Clearwater Revival e The Allman Brothers Band ganharam espaço na mídia. Muitos dizem que o pai do Southern é o Allman Brothers e isso aconteceu após lançarem a música Whipping Post.
Trocando em miúdos, o rock sulista é uma mistura do rock americano com o rock inglês. Coloque uma pitada de country music, escreva letras que exaltam o regionalismo e pronto! Porém, quando falamos de rock sulista, é comum termos de lidar com pessoas que enxergam intolerância e bairrismo nessas bandas. E isso tem tudo a ver com o orgulho de ser sulista que essas bandas despertaram durante os conturbados anos 70…
ZZTop, Marshall Truck Band, Creedence, Black Foot, Allmann Brothers, e Lynyrd Skynyrd são bandas do Sul, e é bom lembrar que nem todas as bandas do sul reverenciam esse tal orgulho sulista. Mas, falar de rock sulista sem abordar questões raciais seria vago da minha parte. Pode parecer bizarro, mas nos anos 70, mesmo 100 anos após a Guerra Civil Americana, muitos sulistas ainda rejeitavam a modernização da economia e a reforma da legislação pós-guerra. E, para alguns desses radicais, manter um comércio sem pagar impostos e negando os direitos civis dos negros fazia parte de uma constante e incansável luta ideológica.
Os estados do Sul foram os últimos a assinar a abolição e, ainda hoje, existem grupos supremacistas, que negam os direitos iguais conquistados em 1968, após muitos conflitos. Ou seja, enquanto o rock no mundo representava ideais progressistas, no Sul dos Estados Unidos ele inspirava um movimento contrário, que fez renascer o orgulho sulista. Tanto que foi nessa época que o “Rebel Flag” foi resgatado. Uma bandeira que para muitos americanos simboliza a supremacia branca. Mas, para muitos sulistas representa apenas a união dos estados confederados e a memória de seus antepassados. Algumas bandas sulistas até tentaram fugir dessa treta dando outro sentido para o símbolo, mas foi em vão. Em alguns estados ela é proibida e até hoje é tema de muitos debates ideológicos.
Em 1970, Neil Young fez uma leitura crítica sobre o estilo de vida sulista quando lançou essa canção que estamos ouvindo chamada Southern Man. Na letra, uma clara provocação:
“Homem do Sul, melhor você manter sua cabeça
Não se esqueça do que o seu bom livro disse.
A mudança no sul virá finalmente.
Agora suas cruzes estão queimando rápido,
Homem do Sul”
Lembrem-se dessa provocação de Neil Young, pois isso é bem importante para a nossa história. No caso, para a história do Lynyrd Skynyrd. E, para contar essa história desde o início, vamos voltar essa fita:
Durante o verão de 1964, na Flórida, mais especificamente na cidade de Jacksonville, durante uma partida de beisebol, Ronnie Van Zant, um forte rapaz de 19 anos que tinha o sonho de ser jogador de beisebol profissional, rebateu uma bola com toda força…
A bola voou rápido e acertou em cheio um garoto que estava ali assistindo.
O impacto foi tão forte que Bob Burns, de 14 anos, apagou. Ele estava acompanhado de seu melhor amigo, Gary Rossington, de 15 anos, que o acudiu.
Ronnie Van Zant, o rebatedor, também o ajudou, pediu desculpas e esse incidente culminou em uma bela amizade. Além do beisebol, os três garotos gostavam de música. Bob tocava bateria e Gary guitarra. Ao saber disso, Ronnie Van Zant, que era muito musical, sugeriu organizar uma “jam session”? na garagem dos pais de Bob e, reza a lenda, que a primeira canção que eles teriam tocado juntos foi essa aqui:
Mesmo sendo a primeira vez, tocaram até que razoavelmente bem. Eu conheço essa sensação. É incrível quando conseguimos fazer música. E, imediatamente decidiram montar uma banda. Mas o que eu não contei ainda é que Ronnie Van Zant era o bad boy do pedaço. Ele e seus irmãos treinavam boxe e essa reputação de briguento deixava os garotos mais novos cautelosos quanto a ele.
Para montar a banda, a primeira pessoa que procuraram foi o guitarrista Allen Collins. Na época ele tinha apenas doze anos, mas tinha uma guitarra e um grande amplificador, daqueles que dava para ligar todos os instrumentos. Um multiuso, sabe? Ao ver Ronnie Van Zant se aproximando, Allen montou na sua bicicleta e se escondeu. Mas, após ouvir a proposta, ficou aliviado e topou entrar pra banda. Logo, o baixista Larry Junstrom completou a primeira formação e lá foram eles ensaiar na garagem.
O nome da banda era My Backyard, que logo foi alterado para The Noble Five até se tornarem The One Percent. Isso foi em 1968, quando a banda conseguiu finalmente emplacar uma série de showzinhos em bares e eventos beneficentes, onde tocavam apenas covers e versões, principalmente de Rolling Stones, The Beatles, Jimmy Hendrix, The Yarbirds e uma das principais influências da banda, além do rock inglês foi o Blues americano que sempre estava no repertório.
Ter uma banda nos anos 60 devia ser o máximo, não? Essa é a época em que a música transformava o seu estilo de vida. É poca do Sexo, drogas e rock-and-roll. E em Jacksonville não foi diferente. Conforme os cachês iam melhorando, Ronnie Van Zant ia assumindo o papel de líder, afinal ele era 5 anos mais velho do que a maioria dos integrantes.
Em 1969, cansados das provocações com o nome da banda, principalmente quando diziam que eles tinham apenas “1% de talento”, por sugestão do baterista, Bob Burns, adotaram o nome Leonard Skinner, uma homenagem zombeteira ao professor de educação física da Robert E. Lee High School, onde eles haviam estudado. Skinner não admitia meninos com cabelo comprido. Para escapar dele, os jovens cabeludos lotavam a cabeça de gel. Mas Skinner era casca dura e havia influenciado Gary a largar o colégio.
No primeiro show em que anunciaram o novo nome da banda, a plateia local foi à loucura, pois todos os cabeludos odiavam o professor Leonard Skinner. Mas, não pensem que ele se ofendeu não, tá? Anos depois, Skinner até permitiu que a banda usasse uma foto sua na capa do terceiro álbum. E, assim, trocando todas as vogais por Y, surge o estranho nome “Lynyrd Skynyrd”.
Em 1970, o Allmann Brothers, ah, o Allmann Brothers (pioneiros do Southern rock e, por acaso, também uma banda de Jacksonville) já era uma atração profissional, mas a banda ainda se apresentava como Allmann Joys. Ronnie Van Zant organizou um rolê e a banda toda foi assisti-los ao vivo. Durante o show, alguns bêbados começaram a atrapalhar a banda, criticando os músicos cabeludos e jogando garrafas no palco. Ronnie tentou acalmar a bagunça, mas como gostava de uma briga, a porrada comeu solta. Dizem que, após esse show, as duas bandas ficaram amigas. E foi então que, Van Zant, vendo toda a estrutura dos irmãos Allmann, se convence de que o Lynyrd Skynyrd também poderia viver de música.
Poucos meses depois, os Skynyrds já haviam conquistado o status de melhor banda de Jacksonville, estavam compondo suas próprias canções e até abrindo shows de artistas consagrados. Mas, isso tudo aconteceu, graças ao perfeccionismo de Ronnie Van Zant. Eu já falei que ele era muito louco?
Pois bem, ele era muito louco, principalmente quando bebia e ficava agressivo. Sair no soco com alguém que discordasse de suas ideias era comum. Porém, ao mesmo tempo, os integrantes o viam como um paizão. Ronnie tomou atitudes radicais para profissionalizar a banda: transformou um velho celeiro no QG do Lynyrd Skynyrd e lá, todos os dias, mesmo aos fins de semana, a banda ensaiava de 10 a 14 horas por dia. Insano… E, se alguém cometesse algum erro nos shows, era obrigado a ensaiar sozinho além da cota, então… pode se dizer que os caras ficaram bons na marra.
Isso pode ser meio que o contraditório ao ideal de liberdade que prega o estilo de vida roqueira, mas ninguém pode dizer que não deu certo. O Lynyrd Skynyrd acabou afamado por ser uma banda impecável, tanto que chegaram a atrapalhar os shows que abriam, tamanha era a energia e precisão de suas apresentações.
Existe até uma lenda de que o Lynyrdy Skynyrd foi a primeira banda de abertura ovacionada que precisou voltar para o bis. E isso aconteceu quando ofuscaram no The Who na primeira passagem dos ingleses pelos Estados Unidos.
Bem lembrado, Cocão. Mesmo abrindo para grandes atrações, os caras viviam no perrengue. E Ronnie Van Zant, garantia aos integrantes que eles seriam maiores que o Rolling Stones, algo que sem grana, seria complicado de acontecer. Nessa época, Van Zant se casou e sem cerimonias, usava o dinheiro que a esposa ganhava trabalhando como garçonete para investir em mais equipamentos para banda. Ela devia ser muito gente boa…
As coisas só começaram melhorar em 1970, quando Pat Armstrong e seu irmão mais novo viram potencial e se tornaram empresários da banda. Nessa época, o Lynyrdy Skynyrdy passou a excursionar por todo o Sul dos EUA. Em 1971 ocorreram algumas mudanças na formação. O baixista Junstrom saiu e foi substituído por Greg Walker. Naquela época, Rickey Medlocke se juntou à banda como segundo baterista. Isso mesmo, o Lynyrd Skynyrd teve dois bateristas, provavelmente tentando copiar o Allmann Brothers, mas foi por um curto período.
A pedido de Pat Armstrong, Ronnie Van Zant agendou uma sessão de gravações no famigerado Muscle Shoals Sound Studio. Era um senhor estúdio no Alabama, local onde várias bandas consagradas haviam gravado seus discos. Os Skynyrds haviam composto algumas canções e seus empresários queriam testá-las. Então, lá foram eles pelo céu azul do Alabama.
Nessa época, o novo baixista era Leon Wilkeson e foi também quando o roadie Billy Powell se tornou o tecladista da banda. Cara, essa história é engraçada, porque ninguém sabia que o roadie tocava piano. Daí, durante um intervalo da banda, Billy tocou um arranjo que havia feito no piano para uma das canções dos Skynyrds. O pessoal correu chamar Ronnie Van Zant, que ao ouvi-la ficou puto, deu-lhe uma bronca, demitiu Billy como roadie e, na mesma hora, o contratou de volta como pianista da banda. A música em questão, que Billy rearranjou, era nada menos que “Free Bird”.
O Lynyrdy Skynyrd mudou muito de formação e isso se deve principalmente ao estilo ditatorial de Van Zant conduzir a banda. Em 1972 eles eram Van Zant no vocal, Collins e Rossington na guitarra, Burns na bateria, Wilkeson no baixo e Powell no teclado. Foi quando eles foram descobertos (como se dizia na época) pelo produtor Al Kooper, que compareceu a um dos shows da banda em Atlanta.
Kooper era um cara famosão, organizava festivais e já tinha até trabalhado com Bob Dylan. Ele convenceu o Lynyrd Skynyrd a assinar com o selo Sounds of The South, que seria distribuído e apoiado pela MCA Records e, assim, começaram a produzir o primeiro álbum e novamente voltaram para o Alabama para grava-lo.
O baixista Wilkeson, não se adaptou com a fama e deixou temporariamente a banda durante as primeiras sessões de gravação. Reza a lenda que no mesmo estúdio, na sala ao lado, estava gravando John Lennon, e ele teria tido uma crise de pânico. No seu lugar assumiu o baixo o guitarrista do “Strawberry Alarm Clock”, Ed King, que veio só para tocar baixo no disco, mas durante as pausas na gravação ele pegava a guitarra e ficava improvisando com Rossington e Collins. Ao ouvir aquelas harmonias a três, Ronnie Van Zant contratou King para ser o terceiro guitarrista do Lynyrd Skynyrd. Ele dizia: se o Allmann Brothers tem dois bateristas, nós temos 3 guitarristas. E trouxe de volta o baixista Wilkeson, a tempo de ainda sair na capa do primeiro disco.
Mas, a grande curiosidade dessas sessões no Muscle Shoals Studios, foi o fato de “Simple Man”, a principal canção do álbum na minha opinião, quase ter ficado de fora. A banda a adorava, mas o produtor Al Kooper odiava e justificava dizendo que a canção era lenta e fraca, decretando que quem mandava ali era ele e a canção não entraria no álbum. A banda se reuniu em separado e decidiram que “Simple Man” ia entrar sim. Reza a lenda que Ronnie Van Zant educadamente convidou Al Kooper para uma conversa dentro do seu carro, onde não se sabe ao certo o que aconteceu, mas dá pra imaginar. O fato é que Kooper naquele dia foi pra casa e a banda gravou “Simple Man”. Deixa tocar, Cocão.
No dia 13 de agosto de 1973 lançaram o álbum de estreia e o nome é sensacional (pronounced ‘Lĕh-‘nérd’ Skin-‘nérd). Isso mesmo, eles escreveram como se pronuncia corretamente o nome da banda, já que por causa da adição do Y, o nome era pronunciado pelos djs como “Lainerd Skayner” e esse problema foi resolvido. Genial! Nas lojas, o disco foi um sucesso, vendeu mais de um milhão de cópias e faturou disco de ouro. Mas, para tudo isso ter acontecido, outros fatores rolaram também, pois, como eu sempre digo, não basta ter talento: é preciso sorte e estar no lugar certo na hora certa. E Al Kooper que era o cara dos esquemas: conseguiu um contrato para o Lynyrdy Skynyrd abrir, aquela turnê do The Who que o cocão comentou…
Do dia pra noite, o Lynyrdy Skynyrd passou a tocar para públicos enormes, em estádios gigantes, com 20 mil pessoas na plateia. Nessa época, devido ao nervosismo, começaram a encher a cara antes de entrar no palco, algo que inicialmente melhorou os shows. O público do The Who adorou os Skynyrds e, ao longo da tournê, “Free Bird” chegou à 19º posição das paradas. Não só o The Who saiu meio ofuscado: Aerosmith, Eric Clapton, Bad Company… Mesmo com os boicotes de som, em todos os shows os caras roubavam a cena.
Aproveitando o momento de ascensão, a gravadora pediu mais um disco. Então eles voltaram ao Muscle Shoals Studios para gravar o segundo disco, “Second Help”. Nessa fase, devido à agenda cheia, Ronnie Van Zant deixou que King, Collins e Rossington o ajudasse nas letras. A pressão e a expectativa eram grandes, afinal, a gente sabe, né? O segundo disco é o que define a longevidade da banda e os produtores esperavam, no mínimo mais uma “Free Bird”. E durante a pré produção, dentre tantas ideias de riffs, Ed King resgatou uma ideia que não havia sido evoluída no primeiro disco e assim, compuseram o tema do episódio 41 do Clube da Música Autoral… Sweet Home Alabama.
Na versão original, quem faz a contagem é o guitarrista Ed King. É ele também que executa a guitarra puxando um dos melhores riffs de todos os tempos. Mas, repare: antes de começar a cantar, Ronnie Van Zant diz “Aumenta o volume”. Isso não foi planejado. Ele estava pedindo para o técnico aumentar o volume de seu fone de ouvido. Mas por fim, acharam aquilo legal e acabou entrando na versão final.
“Sweet Home Alabama” foi lançada em 1974, como o primeiro single do Lynyrd Skynyrd, alcançando o oitavo lugar nas paradas americanas. A melodia é envolvente. Eu me sinto na estrada dirigindo um conversível com os cabelos voando. Mas, essa música tem uma história extremamente complexa e acho que raramente uma canção popular foi assim tão amplamente mal compreendida por tanto tempo. Lembra que eu falei que Neil Young era importante para nossa história? Pois é… algumas músicas de Young criticavam atitudes racistas e segregacionistas do Sul, e foi esse o combustível que inspirou o Lynyrd Skynyrd na letra dessa música. Em “Sweet Home Alabama”, uma estrofe inteira é dedicada ao Neil Young.
Bem, eu ouvi o senhor Young cantando sobre ela (nessa hora, se você prestar atenção, dá pra ouvir alguém cantando “Southern man”, e é o produtor Al Kooper, imitando Neil Young) Bem, eu ouvi o velho Neil colocá-la para baixo Bem, eu espero que Neil Young se lembre Um homem do sul não precisa dele por perto”
Mas, porque cargas d’água o Lynyrd Skynyrd estava puto com o Neil Young? Ou será que eles não estavam putos?
Vamos começar por Young. Ele nasceu no Canadá, porém, sua mãe era uma integrante do “filhas da revolução americana”, um grupo de mulheres que são descendentes de americanos que lutaram ou fugiram pro Canadá na época da Guerra Civil Americana. Neil fez sua carreira no EUA, como integrante de conjuntos e depois como artista solo. Quando assinou com a Motown sua carreira artística decolou. Isso foi no final dos anos 60. Em certo momento, Neil se envolveu com temas ambientais e logo entrou na luta contra o racismo, um assunto que foi amplamente discutido durante os anos 60. Mas quando ele compôs Southern Man e Alabama, Young tentou mostrar o seu descontentamento com as pessoas do sul, generalizando. Young conta a história de um homem branco (simbolicamente, do Sul) que historicamente maltratava seus escravos. Suplicante ele pergunta quando o Sul vai compensar as fortunas construídas através da escravidão: Homem do Sul, quando você vai pagar de volta?
Cara, Southern Man pegou no rim de muitos sulistas, principalmente por mencionar a prática de queima de cruzes referenciando o passado sinistro da Ku Klux Klan.
O engraçado dessa história é que Ronnie Van Zant e os demais integrantes do Lynyrd Skynyrd eram fanzaços do Neil Young, a ponto de subirem ao palco com camisetas dele. Mas, então, por que compraram a treta? Nenhum dos integrantes do Skynyrd nasceu no Alabama, apesar de a Flórida fazer parte da região Sul dos Estados Unidos. O que será que estava rolando?
Inicialmente, Ronnie Van Zant declarou que a letra de Sweet Home Alabama não passava de uma piada, e que as palavras, simplesmente “apareceram” daquele jeito na sua cabeça e foram passadas para o papel. E, nas entrevistas, fazia questão de deixar bem claro: “Nós amamos Neil Young, realmente amamos a música dele”. Eu acho difícil que Ronnie Van Zant não a tenha escrito de caso pensado. E, ainda mais difícil seria que os produtores não tivessem a sacada de que aquela provocação venderia discos para os sulistas, foi quando o Lynyrd Skynyrd exaltou o orgulho sulista, o orgulho de ser um caipira do Sul, não importa o que digam. É bem provável que alguém tenha feito a leitura de que essa canção seria a “New York, New York” do Alabama.
Sobre a treta, os tabloides até tentaram, mas não conseguiram tirar uma troca de ofensas entre Neil Young e Lynyrd Skynyrd. Aliás, quando ouviu Sweet Home Alabama, Neil Young adorou e até ligou para parabenizá-los. Após isso, ele chegou a enviar músicas de sua autoria, que o Lynyrd Skynyrd gravou, mas nunca lançou.
Porém, a polêmica por trás da canção não está só na resposta ao Neil Young. “Sweet Home Alabama” foi e, muitas vezes, ainda é interpretada como uma música racista por causa de outras partes de sua letra. Por exemplo, quando citam Birmingham, a cidade onde uma igreja frequentada por negros havia sido bombardeada, matando quatro jovens. E pior, dizem que lá amam o governador que, na época, era ninguém menos que George Wallace, o racista mais perigoso da América, segundo o próprio Martin Luther King.
George Wallace amou a música e até condecorou a banda. Entretanto, Ronnie Van Zant tentava explicar: “A parte sobre o governador do Alabama foi mal interpretada. O público em geral não percebeu as palavras ‘Boo! Boo! Boo!’ que encerram a frase, e a mídia pegou apenas a referência às pessoas que amam o governador.” Van Zant tentava explicar que o “Boo” era uma vaia ao governador e acrescentou: “Não gostamos de política, não temos educação e Wallace não sabe nada sobre rock-and-roll.”
Mas, no final da canção, na repetição do refrão, Van Zant volta a citar outra cidade do Alabama quando diz “Montgomery tem a resposta”. Aí complica de novo, porque, qual seria essa resposta? Montgomery é simplesmente um dos principais palcos dos confrontos na luta pelos direitos civis, e também ponto inicial do movimento. Foi lá que Rosa Parks, em 1955, se negou a ceder seu lugar no ônibus para um homem branco.
Ao mesmo tempo em que a música foi usada para defender alguns estereótipos do Sul, inevitavelmente a banda dava voz a outros tipos de estereótipos.
Acho que todos sabemos que a indústria da música, principalmente nos anos 70, não era movida por ideais e, sim, por dinheiro. Se vendia eles lançavam. Como o single de Sweet Home Alabama vendeu muito bem no Sul, por sugestão de sua gravadora, o Lynyrd Skynyrd passou a se apresentar com uma gigantesca bandeira dos confederados no palco e, novamente, foram muito criticados. De saco cheio de toda a polêmica que Sweet Home Alabama causou, Ronnie Van Zant declarou: “Todo mundo pensa que somos um bando de caipiras bêbados… e quer saber, é isso mesmo que somos. Um bando de caipiras bêbados, e só isso”.
Mark Kemp, autor do um livro chamado “Dixie Lullaby: uma história de música, raça e novos começos em um novo Sul”, disse que: “Na raiz disso está um dilema muito humano de intolerância e estereótipos, e o Sul incorpora tudo isso. Portanto, nunca irá desaparecer. É uma parte integrante da recente história dos Estados Unidos.
Entre 1970 e 72, o Lynyrd Skynyrd passou vários meses no Alabama gravando no Muscle Shoals Studios. Essas sessões de gravações também são citadas na letra de Sweet Home, e “The Swampers” (“os Pantânos”) foi o apelido que deram para os músicos de apoio do estúdio. Uma piada interna, saca? Mas que também acabou eternizada pela canção.
Sobre a harmonia, apesar de ser um country rock, a mistura do blues e o swing da R&B dá um charme especial para Sweet Home. O guitarrista, Gary Rossington, foi quem teve a ideia inicial para essa música e ele venera as lendas do blues que, por acaso, são todos negros. Ed King também tem raízes calcadas no Blues, e foi ele que compôs o riff. Por esse ponto de vista, seria difícil imaginar o Lynyrd Skynyrd como uma banda racista.
Outra curiosidade é que esta foi a primeira música deles a usar cantoras e backing vocals, apesar de a banda nunca ter conhecido as três mulheres, já que gravaram separadamente.
E para finalizar, vejam só que incrível. Parece regra: toda canção que faz muito sucesso, mais cedo ou mais tarde, acaba sendo acusada de plágio. E com Sweet Home não foi diferente. Ouça essa canção da banda Traffic, lançada em 1971, 3 anos antes e repare a semelhança.
E acho que é isso… No Alabama, dizem que as crianças quando nascem, ao invés de chorar cantam Sweet Home Alabama. Inclusive, em 2009, o estado assumiu oficialmente esse slogan, claro, devido à influência mundial que a canção proporcionou.
Nós já contamos aqui no Clube a história de várias canções e autores exaltando as lutas raciais, então vou dar a minha opinião: é fácil trazermos o contexto para a atualidade e usarmos do politicamente correto para criticar Sweet Home Alabama. Difícil é exercitar o contexto histórico e compreender que o que eles estavam tentando dizer também fazia sentido, pois no Alabama, assim como em São Paulo, Rio, Nova York ou Londres existem pessoas boas e pessoas ruins. Ao generalizar, Neil Young abriu o precedente. Na verdade, podemos dizer que ele quicou a bola e o Lynyrd Skynyrd chutou. Aliás, em sua auto biografia, Neil Young assume que mereceu aquela resposta. Sobre o racismo, cabe a nós decidirmos quem é que vamos chamar pro nosso churrasco.
E, após pesquisar, sabe o que eu percebi? Sweet Home Alabama, na verdade, credenciou a vitória dos afro-americanos. E tenho dito…
Antes de encerrar esse episódio quero reforçar alguns recados… Toda semana tem Drops do Clube no seu feed e, para os assinantes, tem também episódios exclusivos. Acesse clubedamusicaautoral.com.br/assine e conheça as vantagens que você recebe em troca do seu apoio.
Aproveito também para mandar aquele abraço de reconhecimento aos diretores do Clube: Matheus Godoy, Henrique Vieira Lima, Caio Camasso, Marcelo Leonardo, Luiz Machado, Camilla Spinola, Antonio Valmir Salgado Junior, Emerson Silva Castro, João Junior Vasconcelos Santos e Diego Vinicius Queiros. Mais que sócios: diretores do Clube da Música Autoral.
Eu quero retomar em breve a história do Lynyrd Skynyrd. Você que é fã sabe, mas quem não conhecia a banda, saiba que a fama de amaldiçoados tem a ver com uma série de acidentes. Inclusive, o avião que transportava a banda caiu. Cara, é uma história cabulosa e em breve vamos fazer um episódio exclusivo para contá-la… Pode ser?
Se você quiser me cobrar, fique à vontade. O Clube está nas redes sociais. Compartilhe nossas novidades. Esse apoio não te custa nada e também é muito importante. No Twitter, Instagram e Facebook procure por Clube da Música Autoral que, só de seguir, você já começa a fazer parte desse Clube.
A revisão desse roteiro foi feita pela Camilla Spinola, a arte da vitrine é do Patrick Lima, a edição é do Rogério Cocão Silva e a produção é minha, Gilson de Lazari. Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima.
Ouço o Clube desde o início, esse é o melhor episódio já feito!!!
Obrigado por nos avisar Tiago… abração
Muito bom