Para introduzir o samba no Clube, nada melhor do que contar a história sobre o primeiro registro gravado desse autêntico gênero musical brasileiro, que se deu no ano de 1916… “Pelo Telefone.”
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Mas, por onde começar? Pelos clássicos, claro, óbvio, afinal temos grandes ídolos como Beth Carvalho, Noel Rosa, Pixinguinha, Cartola, Clementina, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Bezerra da Silva… Poxa, que dúvida boa!
Eu sabia que na hora certa a resposta me viria e esses dias isso aconteceu. Cocão, que é o administrador do site do Clube, me avisou, como sempre faz, que havia um novo comentário por lá. Fui conferir e encontrei a sugestão do José Augusto Coelho Filho que, entre outras coisas, me aconselhou a falar sobre o primeiro samba gravado, “Pelo Telefone”, de 1916, alertando que aí teria muitas boas histórias.
Pensei: claro, é isso! Eu já havia citado essa canção no Extra 1 – A história da música. Agora, seria bem-vindo para introduzir o samba no Clube. Afinal, é o primeiro samba e, assim, preparamos o terreno para todos os sambistas que também merecem um episódio no Clube.
Em suma, hoje não teremos um autor definido, teremos vários, e será “Pelo Telefone”.
Já mandou sua história para nós? O prazo está acabando! Fala aí, Patrick Lima.
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Bora falar de samba, Cocão? A partir de agora, com respeito e sem ser vago vamos contar a história do primeiro samba gravado: Pelo Telefone.
Eu sou técnico de som. Também sou músico, baixista, gosto de produzir, compor, mas, enfim, operar som em eventos é o que paga as contas de casa e, rapidamente, vou recordar da primeira vez que sonorizei um conjunto de samba.
Olhei pro palco e vi 10 pessoas montando os instrumentos. Dei uma gelada, mas encarei como um desafio. Assim que fui apresentado a um integrante do grupo de samba, me perguntou sem cerimônias: “Você já fez samba alguma vez?”.
Hoje eu falaria a verdade, mas na época eu menti e disse: “Sim. Já fiz alguns”. Ele olhou pra mim de baixo até em cima e acho que não botou fé. Disfarcei e comecei a “microfonar” todos os instrumentos percussivos e harmônicos. Eu tinha 24 canais e todos foram usados.
Ok, hora de passar o som. Então, lembrei que eu não sabia o nome dos instrumentos percussivos. Chamei o roadie que estava de boa e humildemente perguntei, como chama aquele primeiro instrumento do lado esquerdo?
Ele respondeu “reco”. Ok, peguei o microfone de comunicação e avisei à banda: vamos começar a passagem de som. Todos se organizaram em seus lugares e eu pedi: toque o reco por favor.
Reco-reco ou dikanza é um instrumento cujo som é produzido por raspagem. O de madeira tem origem angolana e o brasileiro, que é feito de aço com molas, é muito comum no samba e em estilos de música latino-americanos como a cumbia e a salsa.
Ouvi o som do reco e pensei: é tipo um chimbal de bateria; só vai emitir agudos. Cortei as outras frequências, calibrei o ganho e perguntei ao roadie o nome do próximo instrumento e ele disse: Timbal.
No nosso caso eram timbales: dois tambores de metal com pouca altura e uma só pele batedeira. Eles são montados em um suporte e produzem sons agudos e com muito ataque. Logo, cortei os graves e o comprimi.
O próximo instrumento era o surdão, o treme terra. Esse eu conheço bem dos carnavais. Pedi que tocasse. Mas o surdista lá do palco pediu para ser o último. Ok. Perguntei o nome do próximo instrumento e o roadie confirmou: rebolo.
Conhecido também como tantã, esse é um tipo de tambor que lembra um atabaque. Foi criado por Sereno, sambista do Rio de Janeiro, um dos fundadores do Fundo de Quintal. O tantã foi introduzido no samba para substituir o surdo nas rodas de samba e tem um som bem grave. Logo, fiz os cortes de frequência e ficou ótimo. Confiante olho pro palco e peço que toque o próximo instrumento, no caso era o pandeiro.
Esse todos conhecem. É o mais popular instrumento percussivo usado no samba e se trata de um tambor muito raso com platinelas em volta e pele, que pode ser sintética ou de couro. No Brasil, o pandeiro é muito usado, além do samba, também no pagode, no baião, coco, maracatu e seu som é bem balanceado, emitindo tanto frequências graves quanto agudas.
Visualmente os instrumentos percussivos haviam acabado e agora vinham os harmônicos. Pedi que o cavaquinho tocasse.
O cavaquinho, ao lado do pandeiro, é um dos mais característicos instrumentos do samba. Ele evoluiu do Braguinha português, um instrumento de corda miniatura, e foi adaptado na América do Sul para harmonizar com os tambores africanos. É importante destacar que, apesar de ser um instrumento de cordas, o cavaquinho é tocado de forma percussiva, e isso dá todo um swing e charme ao samba.
O próximo instrumento a ser checado era o violão de 7 cordas.
Seria um violão de cordas de nylon comum, se não fosse a corda a mais. No caso, a sétima corda. Ela tem o som mais grave, como do contrabaixo, e pode ser afinada em C ou B. O violão de 7 cordas é muito usado no choro, mas cai bem em qualquer roda de samba. Olhei para o relógio e eu estava dentro do cronograma. Legal, porque eu ainda tinha que passar as vozes e todos os músicos também faziam coro.
Sentado em frente ao palco, esperando pacientemente estava o surdista. Mas, antes dele, o cantor me avisou que tocaria esporadicamente durante as músicas dois instrumentos que ele achava que nem precisava passar. Receoso, eu insisti que ele ao menos os testasse.
Um, era o tamborim. Um mini tambor, bem raso, que cabe na palma da mão e é tocado com uma baqueta. O outro era a cuíca.
Muito intrigante, a cuíca é um tambor com uma haste de madeira presa no centro da membrana de couro, pelo lado interno. O som é obtido friccionando a haste com um pedaço de tecido molhado enquanto, com dedo na pele, se produz esse som único e característico. A cuíca era usada na África por caçadores para atrair leões, pois com ela conseguiam imitar os rugidos dos animais. Legal né?
Ok, só faltava o surdão. Pelo microfone eu digo: vamos passar o surdo e depois uma música para checar se está tudo ok. O surdista, que era um “negão” de uns 150 quilos, se levanta vagarosamente e caminha até a mesa de som para me falar sussurrando: “Alemão, percebi que você é novato, então vou avisar. O surdo é o elemento mais importante do samba. Ele substitui o contrabaixo”.
Virou as costas e foi pro palco. Eu pensei: “Substitui o contrabaixo? Como assim?”. Após passar um tempão mirando o microfone na pele do surdo, ele começou tocar bem de leve. O sinal veio pequeno, eu dei ganho e a microfonia ensurdeceu a todos.
Me olhando com cara de desaprovação, o surdista pediu que eu desligasse o som do palco e deixasse apenas o som do PA do público e voltou a tocar.
Então eu entendi. O som grave chacoalhava todo o ambiente, mas ele parou e disse: “Não está bom”. Pegou uma chave e começou a afinar a pele do surdo. O perfeccionismo com que aquele músico tratou aquele tambor me fez refletir sobre a importância do surdo.
Muitos consideram que ele é o “coração do samba”. Com sua batida que treme a terra, esse grande tambor tem também rica história. Trata-se de uma invenção legitimamente brasileira. Criado por Alcebíades Barcelos, foi feito com um tambor de manteiga, aros e pele de cabrito. O surdo estreou no carnaval em 1928, no desfile da Deixa Falar, a primeira escola de samba brasileira. A mesma que pôs tamborim, cuíca e pandeiro na folia. O sucesso foi tanto que, um ano depois, todas as escolas adotaram o surdão e “o samba deixou de ser ‘tan tantan tan tantan’ e se tornou bum bum paticumbum prugurundum”.
De volta a nossa passagem de som, finalmente o surdista desistiu e do palco gritou… Tá bom aí, alemão? Eu confirmei e perguntei se poderíamos passar uma música. Era a hora da verdade. Com as mãos suadas e com medo da microfonia, ouvi os músicos começarem a tocar…
Foi mágico, que som orgânico, que dinâmica. Eu conseguia ouvir tudo. Olhei pro roadie ao meu lado que acenou positivamente com a cabeça. Fiz mais uns ajustes, perguntei se todos os músicos estavam se ouvindo e, naquela noite, ao ver o sorriso da plateia dançando e cantando junto, mais que nunca, tive orgulho da minha profissão e de mim mesmo, pois sabia que aquela experiência mudaria meu modo de ver a música dali por diante.
Como eu disse e assumo, eu era um roqueiro quadradão, que pouco valorizava as raízes musicais brasileiras. Hoje, até me envergonho disso, mas naquela época as culturas americana e inglesa eram mais importantes para mim. Não quero transformar isso numa disputa de gostos, porém ao estudar e aprender mais sobre a música brasileira, passei também a valorizar a história do meu país, afinal, estamos falando de riquezas culturais. Então, vamos mais fundo e bora voltar essa fita, Cocão, porque eu quero contar pra vocês a origem do samba.
Segundo o historiador Cláudio Fernandes, a origem do samba está associada à mistura de elementos musicais, herdados da África e da Europa, que se deu na cidade do Rio de Janeiro no século XIX.
O samba originou-se dos antigos batuques trazidos pelos africanos que vieram como escravos para o Brasil. Esses batuques estavam geralmente associados a elementos religiosos que instituíam entre os negros uma espécie de comunicação ritual através da música e da dança, da percussão e dos movimentos do corpo. Os ritmos do batuque aos poucos foram incorporando elementos de outros tipos de música.
A partir do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro, que se tornara a capital do Império, também passou a comportar uma leva de negros vindos de outras regiões do país, sobretudo da Bahia. Foi nesse contexto que nasceram os aglomerados em torno das religiões iorubás no centro da cidade, principalmente na região da Praça Onze, onde atuavam mães e pais de santo. Foi nessa ambiência que as primeiras rodas de samba apareceram, misturando os elementos do batuque africano com a polca e o maxixe.
A palavra samba remete, propriamente, à diversão e à festa. Porém, com o tempo, ela passou a significar a batalha entre especialistas no gênero; a batalha entre quem improvisava melhor os versos na roda de samba. Um dos seguimentos do samba carioca, o partido alto, caracterizou-se por isso.
Uma das possíveis origens do nome seria a etnia Quioco, na qual samba significa cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito. Há quem diga que vem do semba, que significa umbigo ou coração. É o termo aplicado a danças nupciais de Angola caracterizadas pela umbigada, em uma espécie de ritual de fertilidade. Na Bahia surgiu a modalidade samba de roda, em que homens tocam e só as mulheres dançam, uma de cada vez.
Como referido, esse samba de roda determinou a essência do samba tipicamente carioca, com seu caráter de improviso e refrões cantados e repetidos em grupo. Na virada do século XIX para o século XX, o samba foi se afirmando como gênero musical popular dominante nos subúrbios e, depois, nos morros cariocas. Dois sambistas ficaram muito conhecidos nesse contexto. Um deles foi João da Baiana (1887-1974), filho da baiana Tia Perciliana de Santo Amaro de Purificação, que gravou o samba “Batuque na cozinha”.
E, o outro sambista, é o compositor do tema do episódio 38 do Clube, Donga, que registrou, em 27 de novembro de 1916, aquele que ficou conhecido como o primeiro samba gravado: “Pelo telefone”.
Essa é a gravação original do que conhecemos hoje como o primeiro samba gravado. Existem controvérsias sobre quem seriam os compositores de “Pelo Telefone”, mas Donga é o nome mais citado, ao lado de Mauro de Almeida. O cantor que a gravou foi Bahiano, acompanhado pelo coro da Casa Edison. O recurso da gravação, como vocês podem notar, era algo totalmente arcaico. Esses discos de acetato, no Brasil, eram produzidos apenas pela Casa Edison, o único lugar com tal tecnologia de ponta. E, vale lembrar que poucos brasileiros tinham um gramofone para ouvir o disco depois de gravado, o que tornava esse negócio pouco lucrativo. Em comum, todas as gravações da Casa Edison vinham com uma apresentação, antes da música;
27 de novembro de 1916. O dia em que nasceu o samba. Mas de que samba estamos falando? O samba como tradição popular, ou um samba específico? A segunda alternativa é a correta, pois a data marca o lançamento dessa composição registrada e festejada como marco fundador de um gênero musical que remonta ao passado distante.
Os pesquisadores da música popular contam o seguinte: em 6 de novembro de 1916, um certo músico, Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1889-1974), entrou com um pedido de registro da composição “Pelo Telefone” no Departamento de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional.
Donga se declarou o autor da composição, que ele denominou ser um “samba carnavalesco”.
Dez dias mais tarde, Donga anexou aos documentos uma declaração que informava que “Pelo Telefone” havia estreado em espetáculo dia 25 de outubro de 1916 no Cine-Teatro Velho. Em 27 de novembro de 1916, a Biblioteca Nacional oficializou o registro da obra, sendo essa a música registrada de número 3.295.
Detalhe, para ser registrada, a composição precisava ser apresentada na forma de partitura. Donga, que não sabia escrever partituras, pediu ao amigo e flautista Alfredo da Rocha Viana, mais conhecido como Pixinguinha, que a transcrevesse para o piano.
Uma das várias versões da letra da música, –parte dela atribuída ao jornalista Mauro de Almeida, o cronista carnavalesco Peru dos Pés Frios do jornal “A Rua”— traz referência a um caso célebre ocorrido no Rio de Janeiro:
Em 1913, dois repórteres do jornal “A Noite”, Castelar de Carvalho e Eustáquio Alves, montaram uma armadilha. A dupla queria provar que o chefe da polícia, Aurelino Leal, fingia reprimir as jogatinas de roleta.
Essa reportagem saiu e popularizou o episódio. Sem conhecer esses fatos, os versos do samba perdem sentido, mas analisando a denúncia dos jornalistas entendemos que: “O chefe da polícia/ Pelo telefone/ Mandou, invés de reprimir, avisar/ Que na Carioca/ Há uma roleta/ Para se jogar…”
Donga tocava violão. Era filho de um pedreiro e de Tia Amélia, uma das baianas que promoviam festas em sua casa com direito a feijoada, cachaça e música. O regabofe era animado com canto e batucada e acontecia aos sábados. Em certo ponto da festa, começavam a cantar e inventar letras cômicas sobre o que estava acontecendo ali.
Essa festa já tinha o nome de samba, ou roda-de-samba e num certo sábado alguém jogou na roda um refrão popular. Os participantes juntaram versos e melodias de outras canções folclóricas e assim nasceu a letra que levou o nome de “Pelo Telefone”.
Donga também deu sua contribuição, mas na malandragem se apropriou da cantoria inteira. Depois de registrá-la, levou-a a Fred Figner, empresário americano nascido na Boêmia, dono da Casa Edison, que ficava na rua do Ouvidor, 107.
Fundada em 1902, a Casa Edison era uma loja que vendia gramofones, máquinas de escrever e outras engenhocas da alta tecnologia de então. Figner também produzia e vendia discos de 76 rotações com gravações e detinha um catálogo de centenas de canções populares.
Na época, os direitos autorais para reprodução fonográfica não eram regulamentados. Mas Figner gostava de comprar as composições para gravá-las. Vinha fazendo isso desde que aportara no Brasil 20 anos antes. Mas comprava as músicas por uma quantia pífia —cerca de 10 mil réis cada — e a mesma composição passava a ser de sua posse perpétua.
Foi sob o patrocínio de Figner que Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano (1870-1944), que era o cantor mais popular do Brasil, gravou “Pelo Telefone”, em um disco de 76 rotações, para o selo Odeon.
O registro foi feito no “estúdio” da Casa Edison, um galpão construído em zinco nos fundos da loja. Pela gravação original, é possível sentir o clima alegre e caótico que dominava o ambiente e vale lembrar que tudo era captado em um único microfone. Ou seja, se tinha solo instrumental, o músico precisava caminhar até próximo ao microfone para ter destaque no arranjo. Além deles tinha também o corpo de coro formado por vozes agudas, enquanto o cantor ou cantora principal ficava bem mais próximo ao microfone.
As fábricas de discos costumavam lançar músicas no início do ano, para que elas estivessem na boca dos foliões no Carnaval. “Pelo Telefone” seguiu o esquema.
O “samba carnavalesco” foi lançado na sede do Clube dos Democráticos, na Lapa, em 19 de janeiro de 1917, e obteve êxito no Carnaval daquele ano.
Donga sabia que ia ter reclamação e tratou de driblar os oponentes. A repercussão do samba foi imediata. Sinhô disse que era autor do refrão e acusou Donga de ter roubado a improvisação coletiva.
Outros autores, mais próximos de Donga, preferiram se calar. E ele nunca confessou a malandragem.
O fato é que, a partir de então, o samba passou a ser considerado pelo mercado musical um produto popular. O sucesso de “Pelo Telefone” virou pivô de uma disputa de quem compunha o melhor samba do carnaval. Uma década depois, essa disputa foi travada entre as facções de Donga e Sinhô, formadas respectivamente pelos tradicionais praticantes da chula raiada e os músicos do samba urbano, que trabalhavam no teatro de revista. O samba como canção passou a ser dotado de lógica linear, com início, meio e conclusão.
A batalha de confete entre as facções tradicional e progressista seguiu até o século 21 e a controvérsia continua até hoje. O fato é que “Pelo Telefone” entrou na história com o título de “o primeiro samba gravado”, apesar de existirem controvérsias sobre isso também. Mas, os dois motivos pelos quais a canção chamou atenção foram o sucesso carnavalesco e ter sido tema de uma grande discussão em torno da apropriação intelectual.
O samba como conhecemos hoje, mesmo aquele que se apresenta como “de raiz”, proveio da rivalidade entre Donga e Sinhô. O estilo que eles lançaram passou a ser valorizado, composto e compartilhado como um produto da indústria da cultura popular. Tanto que os tradicionalistas Pixinguinha, Donga e demais parceiros se adaptaram ao samba moderno quando se lançaram em Paris como Os Oito Batutas em 1922.
Muito bom, né? Depois vieram Noel Rosa, Carmem Miranda, Ary Barroso, Dorival Caymmi… Enfim… Daí já é história para outro episódio. Mas, antes de me despedir, quero deixar aqui meu reconhecimento ao apoio dos sócios diretores Henrique Vieira de Lima, Caio Camasso, Emerson Silva Castro, Antônio Valmir Salgado Junior, Dilson Correa Lima, Mateus Godoy, João Jr Vasconcelos Santos, Luiz Machado, Lucas Valente, Camilla Spinola, Tiemi Yamashita, Marcelo Leonardo e Diego Vinicius Queiroz Silva.
Eles são mais que sócios: são diretores do Clube e nos ajudam a manter viva essa missão de levar até você boas histórias da música. Se quiser, seja sócio, acesse o nosso site clubedamusicaautoral.com.br/assine e entenda as vantagens que recebe em troca do seu apoio.
Aproveito também para reiterar que nos sigam nas redes sociais. Lá os episódios são ilustrados com mais curiosidades, fotos e vídeos. Estamos no Instagram, Facebook, YouTube e Twitter. Procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse Clube.
Se você gosta de samba, provavelmente já ouviu a versão de “Pelo Telefone” que foi regravada por Martinho da Vila. Aliás, muitos acreditam erroneamente que é dele. E, é incrível, mais de 100 anos depois, não pode faltar nas rodas de samba atuais. É por isso que deixamos essa versão ao vivo, com Martinho acompanhado por Tunico da Vila.
A produção do Clube da Música Autoral é minha, Gilson de Lazari, e a edição é do Rogério Cocão Silva.
Foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima.
Muito bom pode ouvir essa história no Clube. Gosto muita da gravação do Martinho da Vila, mas não conhecia toda a história.