A trajetória e Ascensão do cantor e ator Fábio Júnior, é lembrada nesse episódio sensível, que também analisa as curiosidades por trás de sua mais importante composição, “Pai,” de 1978.
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Tamanho: 51 MB
“Você pode ser tema do Clube da Música Autoral”
Escreva uma história, lembrando de algum fato curioso ou importante de sua vida, onde a música seja o tema principal e envie para nós.
As quatro melhores histórias ganharão um quadro das musas da 3ª temporada, pintados pelo artista plástico “Caio Camasso.”
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima
Edição de áudio: Rogério Silva
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Playlists
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É… Eu sei… É uma canção forte e até pesado para algumas pessoas… Mas, é incrível imaginar o poder que uma música exerce sobre nós, não?
Antes de começarmos, enquanto você busca um lencinho e o deixa ao seu lado para enxugar possíveis lágrimas de saudade, quero reforçar que também queremos ouvir a sua história, e ela pode ser tema aqui no Clube da Música Autoral. Se liga no recado do Patrick Lima…
Nas redes sociais do Clube tem um vídeo ilustrando essa campanha. Se você conhece alguém que tem boas histórias, marque nas redes sociais do Clube. Estamos no Instagram, no Facebook, no Twitter e no YouTube. Aliás, no YouTube estão rolando drops filmados dos episódios do clube, ou seja, você pode me ver, além de ouvir. Procure por Clube da Música Autoral que só de seguir você já começa a fazer parte desse Clube.
E você? Gosta de Fábio Jr.? E dos podcasts do Clube, você gosta? Então saiba que a nossa equipe cresceu: além do Cocão e eu, agora temos o apoio da Camilla Spinola que faz as revisões dos roteiros, o Patrick Lima que, além de ser a voz da campanha “sua história”, também cria as artes de vitrine, o Gus Ferroni que corrige minhas pronúncias do inglês e o Nix que faz as publicações oficiais de cada episódio desse podcast no Vox Mojo.
Mas, sabe quem também coopera muito com esse clube? Os sócios Diretores do Clube. São eles Henrique Vieira de Lima, Caio Camasso, Emerson Silva Castro, Antônio Valmir Salgado Jr., Dilson Correa Lima, Mateus Godoy, João Jr. Vasconcelos Santos, Luiz Machado, Lucas Valente, Camilla Spinola, Tiemi Yamashita e Marcelo Leonardo.
Se você quiser ser um sócio oficial do Clube, ter o nome citado aqui, ajudando na produção desse podcast, é só acessar o nosso site clubedamusicaautoral.com.br/assine e entenda quais as vantagens que você recebe em troca do seu apoio.
Antes de começarmos a lembrar da carreira de Fábio Jr., quero dizer que esse é um episódio dedicado à figura paterna. Eu sou pai de duas crianças que amo muito, mas nunca deixarei de ser filho e, hoje, o objetivo é lhe trazer boas lembranças. Afinal, contar histórias é a missão do Clube. E para falar sobre papais, precisa ser com respeito e sem ser vago… Bóra lá contar a história muito doida de Fábio Jr.:
Em 1986, um garotinho apavorado se escondia atrás do sofá no horário nobre da TV Globo. Horário em que ia ao ar uma telenovela horripilante… Roque Santeiro. E aquele lobisomem…
O garotinho em questão, claro, era eu com apenas 8 anos. Mas, enquanto eu perdia o sono com medo do lobisomem, minha irmã e suas amigas suspiravam de paixão pelo galã Roberto Mathias, um mulherengo que na trama acaba se envolvendo com uma porção de mulheres, inclusive a viúva Porcina, atraindo a ira de seu amante… Sinhozinho Malta…
Eu sei que tudo isso só fará sentido aos que conseguem se recordar. E sei também que entrega minha idade, né? Mas, tudo bem. O fato em questão aqui é que o galã era interpretado por Fábio Jr., o cantor que na época tinha a pesada responsabilidade de ser o sucessor do rei Roberto Carlos. Ele era sedutor como o Rei? Sim. Afinal, bastava uma coçada na nuca que as moças já entravam em êxtase, suspirando de desejo por Fábio Jr.
Eu, uma criança assustada não entendia nada daquilo que estava acontecendo. Apenas me interessava em saber se a lenda do povoado de Roque Santeiro era verdadeira ou não. E, quando a voz rouca de Zé Ramalho surgia cantando Mistérios da Meia Noite, eu já sabia que o lobisomem estava próximo…
Foi assim que eu conheci Fábio Jr.: uma mescla de cantor e ator de novelas. Sinceramente não consigo me lembrar se ele era um bom ator, mas acredito que sim, porque depois descobri que ele já havia feito várias novelas e inclusive filmes. Mas, vamos fazer melhor Cocão. Vamos voltar ainda mais essa fita e contar essa história desde o início.
Fábio Corrêa Ayrosa Galvão. Ele nasceu no dia 21 de novembro de 1953, na cidade de São Paulo, no bairro do Brooklin. Sua mãe, Nina Correa Galvão, era professora de piano e seu pai, Antônio Luis de Oliveira Ayrosa Galvão, era motorista de taxi. Mas, talvez você pode estar se perguntando: Se o nome do pai era Antônio Luis, de onde saiu o Jr. de Fábio Jr.?
Calma que a gente chega lá…
A infância do pequeno Fábio foi típica de uma família de classe média baixa. Eles eram três irmãos. Mas, não posso deixar de destacar um diferencial importante na família: a música. A matriarca era professora de piano. Daí já podemos imaginar que esse dom não era por acaso.
Fábio Jr. participou do movimento da Jovem Guarda nos anos 60. Sabia? E se você gosta de histórias dessa época brasa, mora, indico que ouça o episódio 10 do Clube, onde eu falo sobre Roberto Carlos e a canção “O Portão”. Mesmo assim, lembro que o movimento Jovem Guarda nasceu de um programa de TV de auditório de mesmo nome, que estreou em 1965 na TV Record, alcançando audiências históricas.
Tentando pegar rabeira na onda do iê-iê-iê, a Rede Bandeirantes, criou uma cópia desse programa chamado Mini Guarda, com a participação de artistas mirim que cantavam as mesmas músicas. Em comum, versões e plágios dos sucessos do rock-britânico, impulsionados por eles, né? Os Beatles! O Mini Guarda era apresentado por Ed Carlos, e Fábio era um dos guris que participava cantando e dançando.
Quando tinha 13 anos, Fábio recebeu uma proposta para atuar ao lado de Cacilda Becker em um teleteatro na TV Cultura e, tempos depois, também apresentou o programa Hallelujah, ao lado de Sílvio Brito.
Eram apenas pontas, mas a imagem do mini galã foi se fortalecendo na TV. Porém, Fábio gostava mesmo era da música, e a família Galvão não tinha apenas ele como artista, não. Seus irmãos também se envolveram com a música e montaram um conjunto vocal que se chamava inicialmente “Os Colegiais”, depois mudaram para “Os Namorados”, até que virou “Bossa 4”, pegando carona, dessa vez, em outro grande movimento musical, o da Bossa Nova.
Porém, os irmãos Galvão só conquistaram notoriedade quando se tornaram o grupo “Arco Íris” e fizeram diversas aparições em programas de calouros, como do saudoso Chacrinha. Arco Íris? Cara, que nome é esse? Você pode estar imaginando que eram músicas infantis, né? Mas, se liga no som, cara. Era um folk progressista com referencias psicodélicas. Dá uma sacada nessa gravação dos anos 70 com os irmãos Galvão nos vocais.
Essa é uma canção composta por Arnaldo Sacomani. E vale lembrar que foi ele quem deu um grande empurrão no início da carreira de muitos artistas. Como todos sabem, ele é produtor. E produziu Ronnie Von, Tim Maia, Rita Lee e Fábio… que ainda não era Jr.
Não sei se por sorte ou armações do destino, Sacomani indicou a Fabio que fizesse parte de um grupo chamado Uncle Jack, que pegava carona em outro estilo ascendente do início dos anos 70: a música romântica americana. E Fábio se tornou Mark Davis…
Sim, é isso mesmo. Ele fingiu ser gringo, e esta história é muito doida. Acontece que Fábio, após a separação do Arco Íris, vivia um perrengue danado trabalhando com lotação ou vendedor de shopping. Mas ele fazia também uns bicos em estúdios gravando coro para vários cantores da jovem guarda. Os anos 70 são marcados pelo boom das telenovelas, e isso fez surgir uma grande demanda por músicas cantadas em inglês, para serem inseridas em suas trilhas sonoras.
Conseguir a liberação dos direitos era um troço meio complicado na época e, percebendo a oportunidade, a banda Uncle Jack começou a compor trilhas em inglês. E Fábio gravou algumas demos que deram certo. A TV Tupi se interessou pela canção “Don’t let me cry”, que em 1974 tornou-se o tema da novela “A Barba Azul”.
Aquilo era uma mistura de “Don’t let me down” dos Beatles com qualquer coisa que rimasse. Quem confessou isso foi Fábio, em uma entrevista. Ele disse que eles pegavam o dicionário e ficavam procurando palavras aleatórias que rimassem. E quando a música estourou por causa da novela, a MGM resolveu gravar um disco, contratando Fábio com o pseudônimo de Mark Davis. E esse foi o nome do LP, que vinha na capa com a foto de um surfista saradão, que não era Fábio. Uma curiosidade sobre esse disco é que hoje em dia um exemplar pode custar até mil Reais!
Mas o doido mesmo dessa história é que a gravadora tentou forçar a barra com Fábio, fingindo que ele era um gringo. Mas ele sequer falava inglês e, é claro que não deu certo, mas isso abriu outras portas.
Inegavelmente ele era um cara bonitão, né? Vamos combinar. Por isso, passou a fazer participações nas novelas da Tupi. Logo a ascendente Rede Globo o contratou para pequenos papeis e ele precisou se mudar para o Rio de Janeiro. Por acaso, tinha um outro ator de novelas naquela época que se chamava Fábio Galvão. Então indicaram que ele mudasse o nome e assim surgiu a ideia de usar o nome artístico Fábio Jr. Que, diga-se de passagem, na época era muito chique… O Juninho.
Essa que estamos ouvindo é a música tema de abertura da nova Irmãos Coragem, que foi ao ar nos anos 70. Uma novela que instaurou a era de ouro das novelas globais, que inegavelmente dominaram o segmento. Porém, isso aconteceu na mesma época em que a linha dura na ditadura militar estava censurando tudo, desde músicas, peças teatrais e até programas de TV. Fábio Jr. participou do elenco de “Despedida de Casado” uma novela de Walter George que mostrou pela primeira vez na TV brasileira a dissolução de um casamento e conflitos entre gerações. Mas…
CENSURADO! O governo militar meteu o carimbo e, detalhe, com a novela já no ar. Sem outra saída, a Globo reaproveitou o elenco e, às pressas, lançaram outra novela, que se chamava “Nina”, e contava a história de uma professora dos anos 20. E, como dessa vez o enredo era mais conservador, foi liberado pelos militares. Fábio interpretava Alvinho… O Anjo. E a exposição de sua imagem lhe rendeu um contrato com a Philips Records. Foi quando finalmente conseguiu gravar um disco com sua foto na capa: Fábio Jr., de 1976.
Esse também é um disco muito raro. E é nele que Fábio se lança oficialmente como compositor. E apresentou nada menos do que oito parcerias com o então letrista Paulo Coelho, aquele mesmo que no futuro se tornaria o escritor mais famoso do Brasil. A parceria com Paulo Coelho deu ao disco um ar de obscuridade. Mas era o auge do Mago. Suas parcerias com Raul Seixas e Rita Lee estavam no topo das paradas. E Fábio insistiu em fazer essa parceria doida. Imagino o quanto eles não devem ter se divertido nos bastidores. Mas, cá entre nós, não deu muito certo. Nem o empurrão da Rede Globo, que lançou Fábio Jr. no Fantástico em 1976, surtiu efeito e salvou esse disco…
Éééé, cara pálida, quando eu falo que nessa tal carreira musical não basta talento, quero dizer que você precisa ter sorte e estar no lugar certo na hora certa. E isso também aconteceu com Fábio Jr. em 1978 quando, após duras penas, ele conseguiu entrar no elenco da nova série da Globo que se chamava Ciranda Cirandinha. Fábio compôs um canção e mostrou para Daniel Filho, que era o diretor. Essa era nada menos que “Pai”.
Mas, calma, Cocão, ainda não é hora de chorar. Segura aí. Essa série foi um fiasco e, acabou sendo cancelada após sete episódios. Mas, a vida é uma caixinha de surpresas, e sabe quem assistiu Fábio cantando “Pai”? A escritora Janete Clair. E sabe o que ela havia acabado de escrever na época? Simplesmente um dos seus maiores sucessos, a novela “Pai Herói”. E seus produtores procuravam uma canção tema. E voilà… Fábio Jr. Cantando a música Pai na abertura da novela da rede Globo.
Daí, meu irmão…? Daí já era… A música fez um tremendo sucesso e foi lançada no LP da trilha sonora da novela. Fábio Jr., agora com um novo contrato pela Som Livre, voltou para o estúdio, mas dessa vez ele gravou o disco… Deixa tocar, Cocão…
O novo álbum, recheado com músicas autorais, consagrou Fábio Jr. como cantor e compositor de destaque nacional. Outros sucessos desse disco foram as canções “Quero Colo” e “Queria Ser”, canções fortes, que mostravam muita sensibilidade e vestígios de alguns conflitos pessoais do autor…
Voando baixo e consagrado como cantor, logo no ano seguinte Fábio Jr. estreia no cinema. E já em alto nível, participando do elenco do aclamado filme de Carlos Diegues, “Bye Bye Brasil”. A Globo também pegou carona na ascensão do ator e lhe deu seu primeiro papel como protagonista na novela Cabocla, de 1979. Inclusive foi quando ele conheceu Gloria Pires. A resposta do público foi super positiva e Fábio trabalhou em várias outras novelas até 1983, quando decidiu interromper a carreira de ator e se dedicar apenas a sua paixão… a música. Foi quando ele lançou a sua segunda melhor canção, na minha humilde opinião… “O Que É Que Há”
Nessa altura do campeonato, alguns fãs mais xaropes diziam que Fábio Jr. já havia desbancado o Rei Roberto Carlos. A Globo estrategicamente lhe deu o título de príncipe e também um especial, “Nunca deixe de sonhar”, com Fábio se apresentando, inclusive ao lado do rei, evitando qualquer tipo de rivalidade.
A carreira musical promissora seguiu em frente. Entre todos, já eram 5 discos lançados sem título, apenas com seu nome. A vida pessoal do Fabião também é repleta de intrigas. Ele se casou muitas vezes, mas o principal casamento foi com a atriz Glória Pires. E desse relacionamento nasceu a atriz Cléo Pires. Anos depois, em um outro relacionamento, nasceu Fiuk, que seguiria os mesmos passos do pai. Além dos famosos, Fábio Jr. tem mais três filhos: Tainá, Grizia e Zion.
Mas, se a vida pessoal era conturbada, a profissional era só sucesso. E embalado pela reputação de romântico inveterado, Fábio lançou outro megassucesso dos anos 80: “Quando Gira o Mundo”.
Em 1985, Fábio Jr. resolve voltar para as telas da Rede Globo, enriquecendo o elenco da já citada novela Roque Santeiro, que atingiu níveis históricos de audiência. Mas, vale lembrar que Roque Santeiro também foi censurada pelo DOPS, lá atrás, em 1975. E somente após o fim do regime militar, dez anos depois, é que essa história pôde ser contada. E, como eu já disse, foi quando eu conheci o moço e o lobisomem. Após o sucesso da novela, Fábio Jr. resolve trocar de gravadora. Saiu da Som Livre e entrou na CBS. E agora lançando sua carreira internacional. Foi quando ele gravou a canção “Sem Limites pra Sonhar”, com a participação da cantora britânica Bonnie Tyler.
Fábio Jr., como todos sabem, foi bem-sucedido em todos os seus discos daí por diante. No total foram 24 álbuns de estúdio e 5 ao vivo, conquistando uma legião de fãs que consumiam qualquer coisa que viesse com sua imagem. Uma carreira de 50 anos de sucesso, e totalmente relevante para a música brasileira, como vocês perceberam. Mas eu seria injusto se não evidenciasse aqui também o seu maior sucesso comercial, composto por Peninha e eternizada por Fábio Jr.: “Alma Gêmea”…
Sensacional… Eu acho que “Alma Gêmea” sem dúvida merecia um episódio exclusivo aqui do Clube. Mas, quem sabe no futuro? Porque, a partiri de agora, Cocão, como já dizia João Gilberto, chega de saudades. Pode rodar a vinheta porque a partir de agora vamos falar sobre o tema do episódio 34 do Clube da Música Autoral, a canção Pai, composta por Fábio Jr. em 1978.
Ao analisar essa canção, não pude deixar de me atentar ao trocadilho que Fábio faz, iniciando as frases com a palavra pai, como se pedisse um pouco de atenção, e encerrando com a palavra paz… como se aquilo também fosse um pedido de trégua.
Antes de irmos mais fundo é importante lembrar que a relação entre o pai, Antônio Galvão, e o filho, Fábio, não foi nem um pouco ideal. Mas, quais lembranças que Fábio guarda sobre isso? Acho melhor deixarmos o próprio filho falar.
Fábio Jr. é frequentemente perguntado em entrevistas sobre seu pai, e raramente ele não chora. Isso entrega nas entrelinhas que pai e filho, talvez, tiveram histórias mal resolvidas. Fábio se refere ao pai como um cara punk, e repleto de defeitos.
Seu Antônio era taxista e tinha uma banca de jornal em São Paulo. Enquanto ele fazia as corridas, os filhos se revezavam para cuidar da banca e a mãe dava aulas de piano. Seu Antônio também era um poeta galanteador, e gostava de escrever versos para suas amantes. O casamento se tornou insuportável e culminou na inevitável separação. Fábio e os seus irmãos ficaram desolados. Só quem passou por isso sabe o que é que estou falando.
Seu Antônio foi morar em pensões e hotéis baratos e se tornou um cara ainda mais punk, se metendo em várias confusões. Será que era sobre essa a paz que Fábio falava na canção?
Em 1978 Fábio foi aceito no elenco Global de Ciranda Cirandinha, uma espécie de Friends dos hippies. Uma série escrita por Paulo Mendes Campos e dirigida por Daniel Filho. Na sinopse, se liga que conceito bacana:
Quatro amigos dividem um apartamento. Eles eram jovens que tinham que encarar uma nova realidade: estavam deixando a vida hippie para trás e precisavam, agora, assumir todas as responsabilidades e os problemas de uma vida adulta, como a de seus pais. Na trilha sonora, grandes clássicos da música hippie.
Porém, o público não abraçou. A baixa audiência fez a Globo cancelar a série após apenas sete capítulos. Mas, antes disso, Fábio foi audaz. Ele foi ao apartamento do diretor, Daniel Filho, e tocou pra ele no violão a sua mais recente composição “Pai”. Daniel, não sei se por saber que a série seria cancelada, ou por ter gostado da canção, ou mesmo pra dar uma chance praquele garoto… pediu ao roteirista que escrevesse um episódio para o seu personagem Hélio. E nesse episódio encerrava com todos eles na sala chorando enquanto Fábio Jr. cantava “Pai”.
Esse foi o penúltimo episódio da série e se chamou “Toma que o filho é seu”. E como eu já disse aqui, Janete Clair ouviu a canção e a indicou para ser o tema da novela Pai Herói, de 1979. E aí, meu irmão, lançou Fábio Jr. para todo Brasil.
Fábio Jr. narra que compôs essa canção quando tinha apenas 25 anos de idade e ficou em dúvida se deveria mostrar ao pai, pois ela revelaria toda sua insegurança e, talvez, a maior delas seria o temor da reprovação do pai. Mas, mesmo assim, ele foi até o hotel onde o pai morava num quarto pequeno e sujo e disse que precisava lhe mostrar uma canção. Ela tem exatamente cinco minutos de duração e, entre suspiros e lágrimas, Fábio conseguiu tocá-la para seu pai, que viria a falecer pouco tempo depois… Deixa tocar, Cocão.
Como vocês percebem, Fábio Jr. gravou essa canção chorando, e ela não explica os erros de seu pai, muito menos o credencia como um bom pai. Pelo contrário. Fábio Jr. é conhecido por cometer os mesmos erros de seu pai e ser constantemente criticado por seus filhos, principalmente por Cléo Pires. Porém, justiça seja feita. Em nenhum momento isso tira a importância dessa canção que nos coloca em sintonia, não com a família de Fábio e, sim, com os nossos próprios pais.
A frase “Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa”, por exemplo, me faz voltar para minha infância e eu quase consigo ouvir minha mãe dizendo “Chame seu pai que o jantar está na mesa”. Lembro também das vezes em que ele, preocupado com algo, se sentava na mesa calado, com a voz presa e sem poder nos ensinar esse jogo da vida; um jogo impossível de se jogar sem perder. E aí… Que tipo de pai você é? Que tipo de marido você é? Que tipo de companheiro você é? E, principalmente, que tipo de filho você é? Ou foi? As singularidades que nos fazem especiais vêm dos ensinamentos que nossos pais nos passaram. Mesmo que às vezes sejam falhos. Meu pai errou, eu errei, e com certeza meu filho também errará como pai. Será uma regra desse jogo da vida?
E quanto àqueles que queriam ter um pai, mesmo que fosse para errar com eles, e nunca o tiveram?
Pois é! Se ainda pode, abrace seu velho, diga que o ama e principalmente que o perdoa. Esse é o jogo da vida, meu irmão. Perdoar não é perder o jogo, não. Pelo contrário.
Infelizmente não posso mais abraçar o meu pai e, apesar dos seu erros, eu consigo me orgulhar do homem em que ele me tornou. Aliás, tem tudo a ver com os seus erros, sabia? Também não tive oportunidade de me despedir do seu Oswaldo de Lazari. Nos falamos apenas por telefone, mas consegui falar tudo o que ele precisava ouvir, inclusive que ele faz parte desse caminho que, após minhas trilhas, será também traçado pelos netos dele. Gosto de acreditar que deixamos um rastro existencial, mesmo após a nossa morte e, para ser eterno, basta sermos lembrados.
Meu pai foi o meu herói e o meu bandido, mas hoje sigo em paz nesse jogo da vida, o qual espero que também tenha lhe inspirado. Afinal, essa é a nossa missão.
Antes de finalizar, quero dizer que, para Fábio Jr., essa história infelizmente não acabou bem. Aliás, acabou da pior forma que se pode imaginar.
Na madrugada do dia 05 de abril de 1982, o homem que foi inspiração para a canção “Pai”, Antônio Luis de Oliveira Ayrosa Galvão, foi encontrado morto em seu taxi. No jornal matutino a matéria revelava que o taxista estava tendo um caso com uma mulher comprometida e esse seria o motivo do crime. A manchete também trazia um sensacionalismo, ao lembrar que a vítima era o pai do cantor Fábio Jr., já famoso em 1982 e casado com Glória Pires, sugerindo também que a pessoa que o inspirou na famosa canção “Pai” havia sido abandonado pelo filho famoso e rico. Isso nos faz lembrar uma outra frase marcante dessa canção: “Pai… Quero só encostar no teu peito Pra pedir que você vá lá em casa E brinque de vovô com meu filho No tapete da sala de estar” Quando seu Antônio Galvão foi morto, Glória estava grávida e 4 meses depois nasceria Cléo, a sua primeira neta.
E é assim, sem entender direito esse jogo da vida, que vamos nos despedindo de mais um episódio do Clube da Música Autoral, avisando sempre que a edição é do Cocão, o Rogério Silva, e a produção é minha, Gilson de Lazari. Mas, antes, deixo esse lindo depoimento de Fábio ao seu pai, que foi gravado ao vivo e lançado em 2003.
Como sempre, foi um prazer falar de música com vocês e até a próxima.
Um episódio que me surpreendeu muito, principalmente pelo total desinteresse em Fábio Junior. A maneira como são contadas as histórias é o que atrai. Parabéns Gilson e Cocão.
Inspirado pelas histórias de vocês, enviei uma vivência para o concurso, Mais uma do Roque. Eu a escrevei a história, mas quem a viveu foi um grande amigo meu, o Ari Roque, apaixonado por música. A história é inacreditável, o que a faz parecer mentira, mas foi fato real acontecido em 1989.
Grande abraço
Fala Ernande, valeu pela força. Acho que não recebemos sua história ainda.