Chegou a vez da rainha do Soul e musa inspiradora dessa temporada… Aretha Franklin!
“Respect,” não é um pedido, é uma obrigação.
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 44,6 MB
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
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Playlists
Quer ouvir as músicas que tocaram neste episódio?
Confira a playlist no Spotify ou no Deezer
Naquele momento, caiu a ficha, e eu disse:
– Cocão, cara, olha que mancada, nunca falamos de uma mulher aqui no Clube, precisamos corrigir isso. Vamos falar sobre Aretha!
Então, surgiu a ideia de não só falar sobre ela, mas sim, fazer uma temporada temática apenas com artistas do sexo feminino. Cocão topou; apresentamos a opção aos sócios do Clube e hoje, estamos aqui, já no sexto episódio da temporada das minas e é justo lembrar, que por causa de Aretha, estamos aqui, contando histórias de mulheres incríveis, que mudaram o mundo com sua música.
Hoje, no Clube da Música, conheceremos a história de “Respect” da rainha do Soul, Aretha Franklin!
O Clube da Música Autoral, faz parte do “Overcast,” uma rede de podcasts, que foge do tradicional padrão da podosfera brasileira. Confira, acessando: overcast.com.br
Alguns rápidos recados, antes de começarmos. Eu estou tentando lançar o meu livro, “Os Delírios Musicais,” um projeto justo, que merece seu apoio, e para isso, criei um financiamento coletivo no Catarse e por lá, você pode adquirir não só o livro na pré-venda, mas muitos outros produtos legais, relacionados ao Clube da Música Autoral e também, claro, me ajudar nessa missão.
A temporada das minas, já passou da metade e lembro que, como sempre, produziremos um episódio extra, onde, Cocão e eu, comentaremos sobre os bastidores, o making of dessa temporada, e leremos os melhores depoimentos, twitadas, e-mails, enfim… Se você curtiu e se identificou com algum episódio dessa temporada, não deixe de mandar um feedback; os melhores, serão lidos nesse episódio extra. O Clube, está no Twitter, no Facebook, no YouTube e no Instagram. Procure por: “Clube da Música Autoral,” que só de seguir, você, já começa a fazer parte desse clube.
Mas é assim, se você, além de fazer parte desse clube, quiser ajudar na missão, de espalhar histórias sobre as músicas que amamos, então, seja um sócio-oficial, um sócio-estrategista, ou um sócio-Diretor do Clube. São planos mensais, que você pode assinar através do PicPay, do PayPal, do Apoia.Se e do PagSeguro.
No site do Clube da Música, você vai encontrar todos os links que foram citados aqui, além das playlists e muito mais. Acesse: clubedamusicaautoral.com.br e confira!
Quarta de cinco filhos, “Aretha Louise Franklin,” nasceu em 25 de março de 1942, em Memphis, Tennessee. Seu pai, era o Pastor, pregador da igreja batista, mais conhecido como “Reverendo C.L. Franklin” e sua mãe, “Barbara Siggers Franklin,” era uma cantora Gospel.
Os pais de Franklin, se separaram quando ela tinha seis anos e, quatro anos depois, sua mãe, sucumbiu a um ataque cardíaco. Por pedido da igreja, seu pai, o pastor Franklin e a família, se mudaram para Detroit, onde passou a comandar as pregações na Igreja Batista de New Bethel. Essa igreja, é muito famosa nos E.U.A até hoje,, por causa das pregações e claro, por manter a tradição das canções Gospel.
O pastor Franklin, ao chegar em Detroit, lançou um novo conceito, que o transformara em um pop-star da pregação; seu estilo despojado e sua empolgação, contaminavam os fiéis, logo, ele, criou caravanas da pregação, uma espécie de turnê religiosa. O reverendo Franklin, foi apelidado como “o homen da voz de um milhão de dólares” e com ele, em suas caravanas, iam também, as melhores cantoras gospel dos E.U.A, afinal, era a música, que enaltecia o discurso do reverendo Franklin. Aretha, era apenas uma menina, mas já acompanhava aquela rotina atípica. Ela, aprendeu a tocar piano sozinha e logo, passou a fazer parte do coral.
O reverendo Franklin, não era bom apenas com as palavras, ele, também era ninja nos negócios, e sabendo da importância da música em suas pregações, ele e o dono de uma loja de discos, chamado: “Joe Von Battle,” montaram um estúdio improvisado, dentro da igreja, passando a gravar as pregações do reverendo Franklin, para posteriormente, vender os discos. Para isso, montaram uma gravadora, a “JVB Records.” Juntos, produziram mais de 70 discos nesse formato, onde a música, flertava com a poderosa pregação do pastor Franklin.
Enquanto isso, sua filha Aretha, com 12 anos, já estava cantando solo e tocava piano, nas famosas pregações. Sem dúvida, a jovem, era uma promessa da música Gospel e seu pai, com a máquina na mão, a incentivou, não só ela, como suas irmãs também,, mas Aretha, era diferente; todos diziam… “um talento nato!” E isso, de certa forma, foi fácil potencializar no meio Gospel, pois, o reverendo Franklin, tinha com ele, as maiores cantoras Gospel da época, que influenciaram Aretha.
Em 1956, com apenas 14 anos, o primeiro single daquela jovem promessa, foi lançado, “Never Grow Old,” gravado ao vivo, claro, em uma pregação na igreja. Ouçam essa rara gravação, onde Aretha, além de cantar, também toca o piano.
A casa do reverendo Franklin, era visitada por celebridades de todos os estilos, entre eles, o “Dr. Martin Luther King,” um dos grandes líderes do movimento pelos direitos civis americanos. Se você gosta das incríveis histórias dessa fase, ou se por acaso, ainda não conhece, te indico ouvir o episódio 21 dessa mesma temporada, que conta a história de “Nina Simone.”
Pois bem, o reverendo Franklin, apesar de ser um tanto quanto fanfarrão, entrou sério na luta pelos direitos civis e digo mais, transformou a sua igreja em Detroit, em um dos grandes pontos estratégicos da causa.
Aretha, passou a acompanhar as caravanas de Luther King e foi lá, que ela, conheceu os “Soul Stirres,” um grupo vocal, pioneiro no estilo coral Gospel. Você, com certeza, já ouviu algo do tipo, mas vale a pena lembrar…
O líder do Soul Stirres, na época, era “Sam Cooke.” Seu talento, o colocava a frente dos outros integrantes e logo,, iniciou uma bem sucedida carreira solo. Quando Aretha fez 18 anos, ela, recebeu uma proposta de Sam Cooke, que era amigo de infância de Aretha; ele, queria produzir e lançá-la comercialmente. Com o aval de seu pai, Sam, passou a gerenciar a carreira de Aretha, que precisou mudar-se para Nova Iorque; lá, passou a ser treinada por um coreógrafo, aprendeu dançar, gravou algumas demos e logo, assinou com a “Columbia Records,” gravadora que era a mesma de Sam Cooke. Em 1960, lançaram o primeiro single oficial de Aretha Franklin.… “Today a Sing the Blues.”
Esse Blues, chegou na décima posição entre os melhores lançamentos do R&B. Era o teste, e Aretha, sem dúvidas, passou, então, a Columbia, lançou em 1961, o seu primeiro disco… “Aretha: With The Ray Bryant Combo.”
Os críticos, corriam para definir aquele som que era Pop, mas era Blues, que também lembrava o Jazz, mas com um toque de Gospel, na dúvida, passaram a chamar de “Soul Music.” Aretha, trazia ares de novidades, mas sem deixar de investir no clássico. Nesse disco, encontramos uma versão Jazz, de “Over the Rainbow,” que vale a pena ouvir.
Sam Cooke, fazia um bom trabalho nos bastidores; pouco a pouco, Aretha, foi subindo nas paradas. A Columbia, não tinha tempo a perder e já no ano seguinte, lançou mais dois discos de Aretha, “The Electrifying Aretha Franklin” e o aclamado, “The Tender, the Moving, the Swinging Aretha Franklin.” Esse, por sua vez, começou a fazer sua carreira despontar, e foi o primeiro disco, a chegar no numero 69 entre os álbuns mais vendidos de 1962.
Finalmente, Aretha, após 3 discos lançados, por uma grande gravadora, tendo por trás, seu pai, uma personalidade da época e o respeitado Sam Cooke, gerenciando sua carreira, ganha o merecido destaque. Repito, demorou 3 discos para sua carreira ter relevância no ramo musical. Percebem, como é disputado o ramo artístico?
Eu, como técnico e produtor, trabalhei, na maioria das vezes, com artistas e bandas, que desistiram já no primeiro disco, muitos, já na primeira música gravada.
Aqui no Clube, eu tento sempre detalhar os desafios e barreiras, que os nossos ídolos na música tiveram que encarar. Ser artista, atingir o topo, ou, simplesmente ser bem sucedido no ramo artístico, não é fácil, pelo contrário, acho que é muito mais difícil, que qualquer outra profissão.
O Clube, tem uma grande audiência entre músicos, que as vezes, interagem comigo, e como eu também sou músico, róla aquela empatia e a palavra de apoio e motivação, é sempre… “persistam, levante a cabeça, tente outra vez.” Eu, não conheço ninguém que chegou ao topo facilmente; superficialmente, podemos até ter essa ilusão, mas se pegarmos a história detalhada de cada artista,, a persistência se repete, analisem Aretha por exemplo, mesmo com todo seu talento e apoiada por grandes nomes, só conquistou destaque, após 3 discos, produzidos em alto nível.
Esta que estamos ouvindo, se chama: “Runnin ‘Out of Fools,” ela, foi uma das 3 canções que Aretha emplacou no top 10 da R&B, detalhe, em 1964, já no seu sexto disco. Tal feito, fez o apresentador de rádio “Pervis Spann,” batizar Aretha como a “Rainha da Soul Music.” Ele, chegou a colocar uma coroa em sua cabeça, durante uma performance pública.
Aretha, tinha alta influência da música Gospel; não era o estilo que a Columbia apostava, eles, apostavam no Pop e tentavam velar as influências Gospel, que eram chamadas de “Soul Music.”
– Cocão, acho que essa é uma boa deixa, para falarmos um pouco sobre a origem da Soul Music.
“Soul,” em inglês, significa “alma,” mas, ela é mais que isso, é também, um gênero musical, que nasceu de uma mistura, principalmente, entre o Rhythm and Blues e o Gospel. A ascensão do estilo, se deu durante o final da década de 50 e início da década de 60, claro, entre os negros, os maiores influenciadores da música americana e consequentemente, do mundo. No episódio Extra 1, do Clube, “A História da Música,” eu falo um pouco sobre a proibição dos tambores, que nos E.U.A, fizeram os negros, descendentes de escravos, aprenderem tocar guitarra, piano, gaitas, etc. que, anos depois, com a chegada de negros latinos na América e seus tambores, embalou o nascimento do Jazz.
O R&B, significa “Rhythm and Blues,” um termo comercial, inventado pela Billboard, para definir o novo Jazz, que era embalado por levadas de guitarra e baterias mais enfáticas, e em comum, os grupos, tinham formações menores, como os “Temptations,” que ouvimos ao fundo. As formações enxutas, era um contra-ponto às tradicionais e volumosas big bands.
Por outro lado, a música Gospel, após a guerra civil americana, era tudo o que havia sobrado para curar a alma dos negros, principalmente, após serem proibidos de tocar seus tambores. O único lugar onde podiam extravasar sua cultura, era nas igrejas e mesmo assim, sob regras; nem todos os instrumentos eram permitidos a eles. Como saída, durante os louvores, os negros, cantavam, batiam palmas, batiam os pés, e vale lembrar, do som da corrente, que em algumas canções, foram usados como percussão; uma referência aos escravos, que muitas vezes, eram acorrentados, durante as intermináveis jornadas, nos campos de algodão, enquanto ritmavam o canto, pedindo ajuda a Deus.
Durante os anos 60, o termo “Soul,” já era usado nos E.U.A como um adjetivo, em referência ao afro-americano, por exemplo, “soul-food” (comida de negro). Esses apelidos, apareceram justamente, numa época, em que vários movimentos de liberalismo social, emplodiam, como a revolução dos jovens, o uso de drogas e os movimentos anti-guerra e anti-raciais. Por consequência, a música Soul, nada mais era, que mais um apelido, uma referência à música dos negros, independente de gênero.
Tem um podcast chamado “Benzina,” que fez um episódio incrível, sobre Soul Music. Eles, indicaram o episódio 21 do Clube, “Nina Simone” e é mais que justo, que eu também os indique, pois falam sobre o surgimento da Soul Music no Brasil. Sensacional pra quem curte o estilo.
Acontece, que lá nos E.U.A, onde a Soul Music surgiu, o termo, nos anos 60, ficou tão comum, que surgiu até um programa de televisão, chamado: “Soul Train,” que apresentava os sucessos das canções negras. A dupla mais popular da época, era “Sam & Dave,” que escreveram o sucesso, “Soul Man,” que ressurgiu mais tarde, no filme “The Blues Brothers.”
Mas, não podemos deixar de dar os devidos créditos, ao reverendo Franklin, que em suas pregações, também criou uma nova vertente, que influenciariam a Soul Music, flertando os arranjos vocais Gospel e letras de cunho religioso, com a R&B. Isso, era o que a gravadora de Aretha, na época, a Columbia, tentava evitar; eles, preferiam a Country Music e o Pop.
Essa mistura, com a música Gospel, ainda era algo inserto; lembrem-se, era 1963. Então, o contrato venceu e sem interesse das partes na renovação, Aretha, assinou com a “Atlantic Records,” que já vinha se dando bem com “Joe Turner” e “Ray Charles,” e seguros do investimento na Soul Music, deram liberdade para Aretha, expressar o seu estilo Gospel, mas exigiram que Aretha, fosse gravar no “Fame Studios,” no Alabama.
Sem questionar, ela foi, e acontece, que o Fame Studios, apesar de afastado, era o lugar, onde a magia estava acontecendo e Lá, de bate-pronto, surgiu seu primeiro Single da nova fase, mas não era uma música qualquer, era a canção, que definiria o que seria a Soul Music, dali pra frente… “I Never Loved a Man.”
Essa canção, segundo a própria Aretha, marca a virada em sua carreira musical; alcançou o topo nas paradas da R&B e o nono lugar na Billboard, que como vocês sabem, é a principal parada musical americana, até hoje. Era a época dos Singles; as gravadoras, lançavam primeiro a música separada e depois o disco. A ideia, era testar o potencial comercial da canção e depois, vender duas vezes o mesmo produto. Quando dava certo, as gravadoras, ganhavam muito dinheiro, e esse Single, por exemplo, que vinha com uma canção no lado A e uma no Lado B, deu tão certo, que até a canção do lado B, foi para as paradas da Billboard… “Do Right Woman, Do Right Man,” escancarava as referências Gospel, com um arranjo vocal incrível, de arrancar lágrimas. Lembrem…
Na letra dessa canção, Aretha cantava:
“Dizem que este é um mundo de homens
Mas você não pode provar isso para mim
E enquanto estivermos juntos querido
Mostre algum respeito por mim.”
Opa! Surgia ali uma fagulha, um nicho; era um sutil pedido de respeito às mulheres, não apenas negras, mas todas as americanas, independente de classe social. Em comum, sofriam em seus lares, com o exorbitante machismo da década de 60. Elas, sentiram-se pela primeira vez, representadas na letra de uma canção.
Então, ouvintes do Clube, surgiu a deixa, não apenas na carreira de Aretha, mas também nesse episódio, para com respeito e sem ser vago, podermos falar sobre o tal “Respect,” que Aretha, não apenas pedia, ela, decretava.
A pergunta é: “uma música, é capaz de causar uma revolução?”
Na canção de Aretha, a resposta era: “just a little bit” (só um pouquinho).
Era o que ela achava, mas “Respect,” foi responsável por uma revolução comportamental.
Apesar da semelhança com a letra de “Do Right Woman, Do Right Man,” lançada anteriormente, Respect, teve muito mais impacto comercial; nem se compara. Foi a primeira música de Aretha, a chegar no topo das paradas da Billboard, mas isso, porque ela, tinha um conceito inovador, o discurso feminista; uma novidade fresca reluzente e amedontradora, como toda novidade deveria ser, né?
O recado era claro, para todos os homens casados da década de 60. Aretha, dizia na letra: “tudo o que eu estou te pedindo, é um pouco de respeito, quando você vier para casa.”
Era quase uma unanimidade. O homem americano, das décadas de 50 60, e alguns até hoje, chegam em casa do trabalho, esperando encontrar a casa limpa, a janta pronta e uma esposa impecável, paparicando ele. Era o casamento padrão; as filhas, eram educadas para isso, mas Aretha, em Respect, tirava todos da zona de conforto. Ela, representava a mulher que, trabalhou o dia todo, cuidou das crianças e exausta no fim do dia, pede um pouco de respeito, e consideração, também.
A mulherada, foi a loucura; em todas as rádios e emissoras de TV, havia uma mulher pedindo respeito; era um grito feminista escancarado, disfarçado numa melodia empolgante, que faziam as pessoas dançarem, enquanto Aretha, pedia respeito.
Apesar de ser uma exímia cantora, Aretha Franklin, escrevia pouco, assim como a maioria dos cantores da sua época; eles, eram intérpretes.
Respect, era a música despretensiosa, que Aretha, sempre tocava ao vivo com suas irmãs, Ema e Carolyn, que eram as suas backing-vocals. Inclusive, o “re re re re re,” é um trocadilho com o nome da musica Respect e o nome ao qual, as irmãs chamavam Aretha… “Re.”
Durante as sessões de gravação, Aretha, que era uma ótima pianista, pediu licença ao pianista da banda e sugeriu uma levada bem mais rápida, do que a que sua banda, normalmente, fazia ao vivo. Era mais ou menos assim…
“Jerry Wexler,” o produtor musical, percebeu que havia algo novo aí e pediu que Aretha, executasse o piano na gravação.
Suas irmãs, que costumavam improvisar nos backing-vocals, definiram as partes melódicas, e ficou mais ou menos assim…
Para dar o toque final, o solo do saxofonista “Charlie Chalmers.” E… wa-la!
Ao fim das sessões de gravação de Respect, Jerry Wexler, disse uma frase, que está em seu livro de memórias:
“O fervor na voz de Aretha, exigia respeito, e mais respeito ainda, estava envolvido na atenção ao sexo oposto, um respeito da mais alta ordem. Depois disso, nada mais poderia me impressionar.”
Respect, é uma música que marcou uma geração, sem dúvidas, e até hoje, nos impressiona. Foi também, a canção, que revelou Aretha na Europa, quando estreou já na décima posição no reino unido. Mas nos E.U.A, em 1967, quando Respect foi lançada, era o momento de maior caos no combate aos direitos civis, que estavam unindo outras causas, como a dos direitos iguais, com questões feministas, e os crescentes manifestos, contra a guerra do Vietnã. Respect, tornou se um hino nos manifestos; todos, exigiam respeito, inclusive Aretha, que assim como a maioria das mulheres da época, sofria com um relacionamento abusivo.
Eu fico pensando… será um carma dessas mulheres, amargarem um macho escroto; Nina Simone, Whitney Houston, Tina Turner, entre tantas outras, comeram o pão que o diabo amaçou, e Aretha, também precisou carregar seu fardo. Inclusive, algumas frases de Respect, como: “quando você vier pra casa, pode descobrir que fui embora,” eram alusivas ao seu relacionamento com “Ted White.” Eles, se casaram em 1961, quando Aretha, tinha 19 anos e ele, também era o empresário dela. Vejam como as histórias são parecidas.
Ted, frequentemente, batia em Aretha e muitas vezes, em público. Respect, era para ter sido gravada, no aclamado Fame Studios, onde ela gravou as duas primeiras canções, do seu primeiro single na Atlantic, mas, antes das sessões de Respect iniciarem, Ted, teve uma discussão com o dono do estúdio, por ciúmes. Enlouquecido, o maridão xarope, acabou agredindo Aretha. Por isso, Respect, foi gravada posteriormente, em Nova Iorque.
Em 1969, finalmente, Aretha, se separou de Ted White. Com ele, teve um filho, “Ted Jr.,” mas engana-se, quem pensa que esse, era seu primeiro filho; Aretha, ficou grávida e teve seu primeiro filho, “Clarence,” aos 12 anos. Juro, 12 anos de idade! Mas calma, ela não é vítima de abuso; o pai da criança, era um namorado da escola, mesmo assim, foi um escândalo para seu pai, o já famoso, reverendo Franklin, que mesmo com todo seu arsenal de sermões e castigos físicos, não conseguiu evitar, que dois anos depois, aos 14 anos, nascesse o segundo filho de Aretha, “Edward;” ambos, receberam o sobrenome de solteira.
Essa que estamos ouvindo, é a versão original de Respect, escrita e gravada por “Ottis Redding,” em 1965. Na versão original, a letra, narra o apelo de um homem desesperado, que dará a sua mulher, tudo o que ela quiser. Ele, não se importa se ela fizer algo de errado, contanto que ele, ao chegar em casa, receba o devido respeito, principalmente, quando trouxer dinheiro para casa. No entanto, a versão de Aretha Franklin, é uma declaração de uma mulher forte e confiante, que sabe que tem, tudo o que seu homem quer. Inclusive, no refrão, Aretha, canta: “Sock it to Me,” que soa como uma frase sexual, mas Aretha nega.
Outra frase oculta nessa canção, é: “Take Care my Business” (TBC), que nada mais é, do que uma gíria usada entre os negros, que significava, “cuidar dos meus negócios” e logo, foi usada por “Elvis Presley.” Ele, gravava as iniciais em suas jóias e até deu nome a sua banda, a “TCB Band.”
Em 1968, Aretha, lançou os seus dois álbuns mais vendidos, “Lady Soul” e “Aretha Now,” , que incluíam alguns de seus singles mais populares, incluindo, “Chain of Fools.” E também, a minha preferida… “Think,” que eu confesso, claro, influenciado por sua sensacional participação, no filme The Blues Brothers, “Os Irmãos Cara de Pau,” de 1980, que eu, já assisti algumas vezes e recomendo, sempre que posso.
Mas, vale lembrar, que Aretha, não queria cantar Think no filme Blues Brothers, e sim, Respect, mas o diretor não permitiu, pois, atrapalharia o roteiro original, mas em 2.000, o pedido de Aretha, foi atendido; na continuação, “Os Irmãos Cara de Pau 2,” aparece novamente e dessa vez, cantando “Respect.”
Aretha Franklin, faturou vários prêmios, inclusive, foi a primeira mulher, a ganhar um Grammy, na categoria R&B. Desde então, ela, acumulou nada menos, que 44 indicações e 18 premiações do Grammy. Também, foi a primeira mulher, a entrar no “Rock n’ Roll Hall of Fame.” Participou de 8 filmes, gravou 32 álbuns de estúdio, 6 álbuns ao vivo, e participou de 20 coletâneas oficiais.
Acho que a palavra certa, para finalizar esse episódio, sem dúvidas, é: “Respeito.”
Essa, é “Tássia Reis,” ex-integrante do grupo de Hip-Hop, “Rimas e Melodias.” Aqui, com seu projeto solo, Tássia, mistura Jazz e Hip-Hop, com letras criativas, que com certeza, vão chamar a sua atenção.
Essa indicação autoral e todas as músicas citadas nesse episódio, vão estar na nossa playlist, no Deezer e no Spotify, para você ouvir quando quiser.
Gostaria de agradecer aos sócios-diretores do Clube… João Junior Vasconcelos Santos, Matheus Godoy, Antonio Valmir Salgado Junior, Luiz Prandini, Emerson Castro, Henrique Vieira Lima, Caio Camasso e Luiz Henrique Oliveira Machado.
Lembro também, que está rolando no Catarse, o financiamento coletivo do meu livro, “Os Delírios Musicais,” um projeto digno, que merece seu apoio.
E nas redes sociais, nas quartas-feiras, quinzenalmente, róla uma live, para debater os últimos episódios. Procure por: “Clube da Música Autoral,” que só de seguir, você já começa a fazer parte desse clube.
Por fim, acesse nosso site: clubedamusicaautoral.com.br, que lá, você, encontra todos os links, que foram citados nesse episódio.
É claro, que eu precisei dar um resumão nesse episódio, mas, é porquê, Aretha, começou cantar profissionalmente, aos 14 anos e muita coisa aconteceu nesses 64 anos de carreira, mas vale lembrar, que, Aretha, cantou na posse de três presidentes americanos, entre eles, Jimi Carter, Bill Clinton e Barack Obama, e só não foi a Londres, cantar a pedido da Rainha, porque em 1980, desenvolveu um medo patológico de avião, ficando incríveis 30 anos sem voar, e suas turnês, eram feitas apenas em ônibus.
Quando uma de suas backing-vocals, “Cissy,” teve uma filha, Aretha, foi convidada para batizá-la e essa bebezinha, se tornaria no futuro, ninguém menos que “Whitney Houston,” e Aretha, é sua madrinha.
nessa jornada, alguns fatos inusitados também aconteceram. Em 1964, seu gerente, Sam Cooke, que também era amigo de infância, endoidou em um motel, onde estava hospedado com uma garota; ele, foi até a portaria, trajando apenas sapatos e uma jaqueta, querendo informações da garota; a atendente, se assustou com a agressividade de Sam e disparou um tiro, que foi fatal. Ele, tinha apenas 33 anos.
Pouco tempo depois, em 1968, Aretha, foi convidada para cantar no velório do Dr. Martim Luther King; um momento triste e inesquecível, na sua carreira, que está marcado até hoje. Dr. King, foi covardemente assassinado; ele, era um dos maiores líderes dos movimentos pelos direitos civis.
Em 1979, seu Pai, o reverendo Franklin, também sofreu um atentado, e após ser baleado, ficou 5 anos em coma e veio a falecer oficialmente, em 1984.
Em 74, começaram os problemas de saúde de Aretha; ela, assumiu posteriormente, ser alcoólatra e que o cigarro, estava acabando com sua voz. Desde que começou os tratamentos para conter os vícios, sua aparência mudou várias vezes, variando muito seu peso, muitas vezes, chegou a ficar obesa. Em 2010, começou uma rotina de cirurgias, para conter um tumor, até então, não revelado. Seus shows, frequentemente, eram desmarcados e seguiu assim,, até 2018.
Após uma longa carreira e uma vida, sem duvidas bem vivida, Aretha Franklin, morreu no dia 16 de agosto de 2018, aos 76 anos; o motivo, foi… um incurável câncer no pâncreas.
Obrigado Aretha, por me proporcionar narrar, não só essa incrível história, mas também, embalar toda essa temporada.
A produção do Clube da Música Autoral, é minha, Gilson de Lazari e a edição, é do Rogério “Cocão” Silva.
Foi um prazer falar de música com vocês.
até a próxima!
Simplesmente fantástico este episódio. Obrigado.
Obrigado Emerson