Esse episódio, é sobre Sexo, drogas e rock n’ roll, ou seja, é sobre “Rita Lee,” a rainha do Rock!
Formato: MP3/ZIP
Tamanho: 50 MB
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
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Você sabe quem foi “Leila Diniz?” Eu já tinha ouvido falar, mas é bom lembrar, que ela foi uma atriz brasileira, que quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquini na praia, e chocou o país inteiro, ao proferir a frase: “transo de manhã, de tarde e de noite.”
Leila, foi muito criticada e acabou considerada, uma mulher à frente de seu tempo; ousada, empoderada e muito criticada pela sociedade conservadora, das décadas de 1960 e 1970, mas também, pasmem… criticada pelas feministas, que acusavam Leila Diniz, de estar a serviço dos homens.
Daí vem Rita e diz: “toda mulher é meio Leila Diniz,” e cria a representação alternativa, da mulher independente brasileira; a mulher que não precisa levantar bandeiras, ou repetir jargões, que apenas seus ovários já lhe garantiam. Um trocadilho que Rita adorava usar e também explicá-lo:
“um dia me disseram, que para fazer Rock n’ Roll, era preciso ter culhões e eu levei isso a sério, tanto, que esfreguei meus ovários na cara desses velhos roqueiros!”
Deem passagem, ouvintes do Clube, pois está chegando a Rainha do Rock brasileiro!
O Clube da Música Autoral, é um podcast que faz parte do “Overcast,” uma rede de podcasts, que foge do padrão da podosfera tradicional. Conheça todos os afiliados acessando: overcast.com.br
Se você está acompanhando essa temporada, já percebeu que Rita Lee, é a primeira mulher brasileira; acontece, que quem escolheu os temas e a ordem, foram os sócios do Clube, através da enquete de apoio. O lance aqui é democrático e quero convidá-lo para que também seja um sócio do Clube da Música. Olha, ser sócio e participar das enquetes, custa apenas 10 reais por mês e você, assina através do PayPal, do PicPay, do Apoia.Se e do PagSeguro.
No final dessa temporada, vai rolar um episódio extra, onde o Cocão e eu, leremos as melhores mensagens e emails, que foram enviadas durante toda a temporada. Se você gostou de algum episódio, não fique fora dessa. Estamos no Facebook, Instagram, Twitter e YouTube. Procure por: “Clube da Música Autoral, que só de seguir, você já começa a fazer parte desse clube. E aproveito para pedir, que nos acompanhem no Spotify também, ok?
E para fechar esse bloco de avisos, lembro que estou tentando editar meu livro, “Os Delírios Musicais;” um projeto da hora, que conta a minha história de superação, relacionada a música. Bote fé, é um projeto justo, que merece seu apoio.
No site do Clube, você encontra todos os links que foram citados aqui. www.clubedamusicaautoral.com.br
A história de hoje, é sobre sexo, drogas e Rock n’ Roll, ou seja, “Rita Lee.” Então, vamos começar pelas drogas…
O ano, é 1972 e Rita, como todos sabem, havia se consagrado como integrante dos “Mutantes,” uma banda de Rock Psicodélico, dos anos 60, que trás o DNA do Rock brasileiro consigo. Acontece, que, em outubro deste mesmo ano, 1972, ela, saiu da banda, ou se preferir… saíram com ela.
Rita Lee, chorou, gritou, xingou, mas de nada adiantou. Após um tempo de luto, ela, aceitou o desquite musical, chacoalhou a poeira e decidiu seguir em frente na música. Para financiar a nova empreitada, Rita, precisava de grana, e por acaso, essa era a fase áurea dos hippies, dos tropicalistas, paz, amor e drogas, muitas drogas… Rita, teve a ideia de vender LSD e com a grana, investir na sua nova carreira musical; sim, eu sei, um baita risco, mas lembre-se, era 1972; a visão analítica sobre drogas que temos hoje, não existia, e entre os jovens descolados da época, era a coisa mais normal do mundo, puxar um fumo e as vezes, até tomar um maroto chá de cogumelo, que dava um barato bem mais louco… tá ligado? No episódio 22, “Janis Joplin,” eu falo sobre essa fase viajante das drogas.
Mas aqui, estamos no Brasil e a droga mais cobiçada, era justo a que não tinha, o LSD. Ela, havia inspirado o Pink Floyd, os Beatles, Janis Joplin, The Doors… enfim… todo movimento psicodélico usava. Era bem comum, sabe? Mas como aqui no Brasil, o LSD que tinha, era ruim e caro, Rita, viu aí, a possibilidade de levantar uma grana. Ela, ligou para um amigo nos E.U.A e ele, abraçou a ideia.
Para passar de boa na alfândega, Rita e o amigo, viraram noites, fazendo colares de “Yellow Sunshine,” um tipo de LSD, que lembrava miçangas. Ela, vestiu os colares e passou. Aquele plano doido, deu certo; Rita,, vendeu o LSD, arrecadou uma grana, mas ela mesmo, confessa que a maior parte, ela consumiu sozinha.
É ilícito, mas não dá pra dizer que não deu certo, pois logo, ela montou uma dupla feminina, com “Lúcia Turnbull.” “Lucinha,” como era conhecida, é considerada, a primeira mulher guitarrista do Brasil. Seu pai, era escocês; ela, chegou a morar em Londres durante os anos 60, onde tocou com uma banda Folk. Ao lado de Rita, montaram o “Cilibrinas do Éden” e a primeira apresentação da dupla, foi no “Festival Phono 73,” justamente, antes dos Mutantes… um baita clima. Ouça como era o som das Cilibrinas do Éden. Essa gravação, apesar de ser de 1973, só foi lançada, 35 anos depois…
A recepção do público, foi fria com as Cilibrinas, pra piorar, o projeto era acústico, num momento, em que as guitarras elétricas, estavam em alta. Então, Rita, decidiu que precisava de um grupo de Rock para acompanhá-la.
Enquanto isso, no bairro da Pompeia, na capital paulista, três amigos de origem italiana, o guitarrista “Luis Sérgio Carlini,” o baixista “Lee Marcucci” e o baterista “Emilson Colantonio,” formavam uma banda de Rock, e a ela, deram o nome de “Coqueiro Verde.”
No ano seguinte, após alguns shows em pequenas casas noturnas, trocaram o nome para “Lisergia,” influenciados claro, pelo LSD. E adivinham quem tinha o LSD a pronta entrega? Luiz Carlini, estava ganhando notoriedade como guitarrista, e Rita Lee, adorou a banda, apesar de ter detestado o nome. Então,, surgiu a banda, que ao meu ver, mudou a história da música brasileira; era o tal do Rock n’ Roll de Rita Lee & Banda Tutti Frutti…
Essa música, faz parte do disco de estreia, dessa sensacional parceria. Lucinha, que fazia dupla com Rita, também integrou a banda Tutti Frutti, mas foi por um curto período. Rita, queria que o disco fosse assinado como banda “Tutti Frutti,” mas a gravadora, preferiu manter o nome de Rita, por garantia de vendas. Na sua discografia, esse disco, é solo, mas na verdade, não era… Tutti Frutti, era uma banda.
Esse primeiro disco, de 1974, se chamou “Atrás do Porto tem uma Cidade” e algumas canções, como “Mãe Natureza” e “Menino Bonito,” tiveram relativo sucesso nas rádios, mas, nada comparado ao que viria pela frente.
A Phillips Records, gravadora de Rita, vinha minando a criatividade da banda, recusando músicas, por julgarem “alternativas” demais. Então, em 1975, com um novo contrato pela Som Livre, chegava nas lojas, “Fruto Proibido,” o disco que trazia literalmente, esse tal Rock n’ Roll e melhor, agora, assinado como Rita Lee e Tutti Frutti. Sente o drama…
Com mudanças importantes de integrantes, a base do Tutti Frutti, ficou fechada, com Luiz Carlini na guitarra, Lee Marcucci no Baixo e o sensacional, Franklin Paolino na batera; era o Hard Rock Brazuca, chegando com tudo. Um fruto, até então, proibido, sem dúvidas…
Cara, esse disco é icônico! Um dos melhores de todos os tempos e não é só eu que acho… a Rolling Stone, elegeu Fruto Proibido, o décimo sexto melhor disco brasileiro de todos os tempos. A minha preferida, se chama: “Luz Del Fuego,” uma homenagem de Rita a vedete “Dora Vivacqua,” uma famosa feminista, que quebrou paradigmas culturais, durante os anos 40 e 50.
Foi nessa época, que Rita, ganhou o título de “Rainha do Rock,” e é nesse disco também, que está o seu maior sucesso até hoje… mas daqui a pouco, falaremos sobre ele.
Eu só nao posso deixar de citar a canção, “Agora Só Falta Você;” seria injusto. Mais um dos grandes clássicos do “BRock.” Muitos fãs de Rita Lee, consideram esse disco, o melhor de toda sua carreira, e eu, humildemente, concordo…
Mas chega de Fruto Proibido, se não, esse episódio não vai evoluir; a história de Rita, é muito além.
Em 1976, lançaram o terceiro disco dessa parceria, “Entradas e Bandeiras.” Os hitz estavam lá; não fez o mesmo sucesso que o álbum antecessor, mas, “Corista de Rock,” foi muito bem aceita pelos fãs.
Apesar que, “Coisas da vida,” foi o grande sucesso radiofônico desse disco.
E Rita, ainda interpretou “Bruxa Amarela,” uma canção de Raul Seixas e Paulo Coelho, escrita especialmente para ela.
Então, Rita Lee, conhece “Roberto de Carvalho” e isso, causa uma mudança radical e inesperada em sua vida, nem um pouco organizada.
Quando eu não comento, nem parece que a “Ditadura Militar” foi tão ruim assim, mas foi sim, tá? Não adianta pôr panos quentes. Rita, era Rock n’ Roll; ela, usava drogas, gostava de sexo, mas definitivamente, ela nunca foi comunista. Pelo contrário, ela, era conhecida por bater de frente, com o que ela gostava de chamar, de “A Turma do Bolinha,” em referência a “Chico Buarque” e os jornalistas, e intelectuais de esquerda, que o defendiam.
Rita, vocês sabem, era meio Leila Diniz, mas em 1976, militares invadiram sua casa. Ela estava dormindo; os milicos bateram geral e encontraram maconha. Rita, foi presa, julgada e condenada. O curioso, é que Rita, afirma que nessa época, estava limpa, pois também, estava grávida de 3 meses e sofria com fortes dores abdominais. Mesmo assim, ficou dois meses encarcerada e um ano em prisão domiciliar. Nessa época, “Elis Regina,” foi a única colega de profissão que a ajudou.
Logo que ficou livre, todos esperavam, que Rita compusesse alguma crítica ao regime totalitário que a prendeu, mas não, em parceria com Paulo Coelho, escreveram, “Arrombou a Festa,” tirando um baita sarro da MPB e dos críticos intelectuais, cagadores de regras da época. Esse single, vendeu 200 mil cópias.
Rita, após todo o rolo com os militares, tentava voltar a ativa e mesmo grávida, a convite de “Gilberto Gil,” saiu em turnê, abrindo seus shows.
Nessa época, Roberto de Carvalho, entrou para o Tutti Frutti, como tecladista. Em 1977, nasceu o primeiro filho do casal, “Beto Lee,” e após uma breve pausa, Tutti Frutti, entrou em estúdio pela última vez, para gravar com Rita, o último disco dessa leva, que foi genial para a música Brasileira.
“Babilônia,” foi um mega sucesso e fortalecia a parceria entre Roberto de Carvalho e Rita Lee. Por outro lado, Carlini, que havia composto o outro sucesso desse disco com Rita, “Miss Brasil 2000,” anunciava a saída da banda.
Carlini, estava nitidamente incomodado, por ter perdido espaço para Roberto e levou o nome Tutti Frutti com ele, para seguir com outras formações, deixando Rita e Roberto, completamente a vontade, para mudar novamente, esse tal de Rock n’ Roll. Vale lembrar, que Roberto de Carvalho, é um pianista clássico formado; um músico incrível, que manja tudo de melodia e também, tocava guitarra.
Rita, por sua vez, já havia quebrado o paradigma da mulher roqueira, com seu Pink Rock e agora, junto com Roberto, tiraram da cartola, um novo estilo, o “Rockarnaval,” uma mistura de Rock com marchinhas, que deram muito certo. A primeira delas, foi “Chega Mais,” lançado no seu disco homônimo, de 1979.
Talvez, muitos conheçam Rita dessa fase em diante, quando as suas músicas, começaram a ter um absurdo alcance comercial, sendo tema de novelas e campanhas publicitárias. Nesse disco, também, surgem suas primeiras baladas radiofônicas; uma delas, “Doce Vampiro,” mostrava todo o lado safadinho de Rita, e o início de uma série de declarações amorosas a sua grande paixão, Roberto de Carvalho.
No mesmo disco, podemos saborear a insaciável, “Mania de Você,” a qual, Rita, afirma ter composto, logo após uma sensacional trepada, com Roberto de Carvalho… “Foi assim, ele pegou o violão, eu, um papel, e ainda suados, a compomos em questão de minutos.”
Em 1979, nasce o segundo filho do casal, “João,” e em 81, o terceiro, “Antônio.” Rita,, diferente de sua mãe, não tinha lá muito talento, como dona de casa, mas entre autos e baixos, ela se virou. Já, profissionalmente, a grande dúvida da mídia na época, era se Rita, conseguiria sustentar mais um disco comercial como aquele, que lhe rendeu aparições nas TVs e o topo das programações de rádio.
Essa resposta, veio com o lançamento seguinte. Rita, convicta do bom trabalho, afirmava:
– “Preparem-se, vou balançar a América com o meu som!”
E o histórico disco, “Rita Lee,” de 1980, mais conhecido pelo seu grande hit, Rockarnaval, “Lança Perfume,” não balançou só a América não, viu…
Se liga, ó… Lança Perfume, ficou por 2 meses em 1º lugar nas paradas de sucesso da França; chegou em sétimo lugar da parada da Billboard e foi lançada com grande êxito, em vários países da Europa e América Latina.
Até o “Príncipe Charles,” da Inglaterra, se passou por excêntrico, ao dizer que sua cantora favorita, era Rita Lee. Enquanto isso, no Brasil, outro sucesso estava estourado; “Baila Comigo,” que definia os novos rumos da música moderna brasileira.
Mas, e o Rock? Rita, seria uma traidora do movimento? Que nada… no meio dessa salada de estilos e acordes elaborados, ele, estava lá também… “Orra Meu!”
Esse, era o Rock de Rita, o “Rita-Rock!”
E vocês, sabem bem, né? Rock n’ Roll, não é apenas um estilo musical; quem se limita a isso, está longe de compreender sua essência. Rock n’ Roll, é também, um estilo de vida. Quando Rita foi subestimada, não só pelos mutantes, mas pelos roqueirões da década de 70, ela, com seus belos ovários, passou como um trator por cima de tudo e de todos, e melhor, sem dizer diretamente,, uma palavra a respeito do assunto. Isso é Rock n’’ Roll, porra! Estou falando da atitude transgressora. Falo de autenticidade, de coragem. Esse episódio, é sobre não abaixar a cabeça, para velhos moldes. Não procure razão no Rock, não se limite a rimas, plugue sua guitarra, apague a luz, chupe um drops de anis, e sinta o poder do Rock n’ Roll de Rita Lee!
Foi um flagra, sem dúvida. O bom, é que toda a história da rainha, está bem documentada, para as futuras gerações.
Os anos 80, foi a fase mais chapada dela, sem dúvida, mas depois, Rita, até tentou levar uma vida sossegada, mas, não deu. Acontece, que ela, é a ovelha negra, e Cocão, a partir de agora, vinheta em dose-Dupla. Vamos voltar a fita para falar sobre o início da carreira de Rita Lee, e também, sobre a música tema desse episódio… “Ovelha Negra.”
TODA grande família, por mais austera, tem sempre a sua ovelha negra. Rita Lee, é uma delas e aceita com tranqüilidade a classificação. Ela curte e até se aproveita disso. No início,, quando ainda estava no colégio e tocava com os colegas, Arnaldo e Sérgio, seus pais, tentaram proibir que a menininha sardenta, se enfeitiçasse pela perigosa vida de artista, pois, acreditavam que isso, prejudicaria os seus estudos de odontologia. A briga feia mesmo, sobreveio na época que os três companheiros de escola, resolveram formar um grupo, “Os Mutantes,” e ingressar no ríspido e malquisto, ramo artístico. Para isso, Rita Lee, teve que fugir de casa. Os conflitos daquele período, entre ela e seus pais, acabaram a influenciando para que compusesse a Ovelha Negra.
A ovelha negra, nasceu dia 31 de dezembro de 1947, as vésperas do ano novo. Segundo a própria Rita, sua mãe, “Romilda Padula Jones,” era mais católica que o próprio Papa e seu pai, “Charles Fenley Jones,” era um imigrante americano, descendente de índios. “Rita Lee Jones,” era a caçula, de três irmãs, “Mary Lee Jones” e “Virgínia Lee Jones.” O “Lee,” é um nome composto, que o pai, quis registrar todas as filhas,, em homenagem ao general “Robert Edward Lee,” famoso por ter comandado o exército da Virginia do Norte, durante a guerra civil americana.
Rita, levava uma vida sossegada, em comparação as outras mujeres da família, pois, aos 6 anos, ela, foi violentada com uma chave de fenda, por um técnico, que consertava máquinas de costura, em sua própria casa. Rita, é prática ao narrar seus traumas, e relata que seus pais, ficaram mais chocados que ela, e após esse acontecimento, passaram a aliviar as coisas para o lado dela. Pode se dizer, que por um lado, foi isso que deu a ela, maior liberdade para seguir com suas loucuras, durante a juventude.
O pai de Rita, segundo ela, era uma figura, mas, sofria de alcoolismo. Como era dentista, fez uma permuta, tratando os dentes de uma professora de música, que em troca, deu aulas de piano para Rita. Na adolescência, ela, queria ser atriz; sim, o grande sonho da pequena Rita, era ser atriz, e não cantora. Sua base musical, foi eclética, pois, ela ouvia tanto as músicas que seus pais gostavam, Cauby Peixoto, Carmem Miranda, João Gilberto, como também o proibido Rock n’ Roll, que chegava fresquinho, através de Elvis Presley, Chuck Berry, e também, os Beatles.
Logo, a esperta Rita, ganhou uma bateria e junto com uns amigos do colégio, passaram a criar suas primeiras músicas. Em 1963, ela, formou um conjunto musical, com mais duas garotas, as “Teenage Singers,” que faziam pequenos shows, em festas colegiais. No ano seguinte,, elas, conheceram o trio masculino, “Wooden Faces.” Os dois grupos, acabaram se juntando, formando o “Six Sided Rockers,” banda que depois se chamou: “O’Seis.” E olha o que eu descobri… eles, chegaram a gravar um disco compacto. Se liga ó…
Com a saída de três componentes, sobraram, Rita, Arnaldo e Sérgio, que resolvem mudar o nome, passando a se denominarem: “Os Bruxos,” mas por sugestão de “Ronnie Von,” o grupo mudou o nome pela última vez, e eram… “Os Mutantes.”
Os Mutantes, logo terão um episódio exclusivo do Clube, então, serei econômico com essa fase, mas vale lembrar, que o conjunto, acompanhou “Gilberto Gil,” durante o inesquecível “Festival da Record,” onde defenderam, a antológica canção, “Domingo no Parque.”
Rita, tocou pandeiro e cantou e eles, faturaram o segundo lugar desse festival, empatados com “Alegria Alegria,” de Caetano Veloso. Se você gosta dessa fase dos festivais da música popular brasileira, lembro que no episódio 12, “Jorge Maravilha,” eu falo bastante a respeito.
Rita, casou-se com seu parceiro dos Mutantes, “Arnaldo Baptista.” No começo, foi legal. Os Mutantes, produziram dois discos solos para Rita, “Build Up,” de 1970 e posteriormente, em 1972, “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida,” que na verdade, é um disco dos mutantes, mas, o contrato com a Philips, não permitia que Os Mutantes, lançassem dois discos no mesmo ano, então, optaram que Rita, o assinasse sozinha.
Na verdade, aquele, era o anúncio do último dia na vida do casal Mutante. Arnaldo, não apenas se separou de Rita, ele e Sérgio Dias, também a expulsaram dos Mutantes.
Como existem controvérsias, acho melhor, ouvirmos a própria Rita falando a respeito disso…
Rita, até hoje, faz questão de deixar claro, o quanto esse triste episódio, fez mal a ela, e o quanto foi importante, para seu amadurecimento musical, pois, só após essa fase de luto, quando a ovelha negra, precisou abaixar a cabeça e voltar a morar no porão da casa de seus pais, é que ela, resolveu escrever a sua primeira canção, “Mãe Natureza.”
O resto da história, a gente sabe; Rita, entrou no Tutti Frutti, ou o Tutti Frutti entrou em Rita, como queiram, o fato, é que juntos, fizeram um dos melhores discos da história do Rock brasileiro, que se chama: “Fruto Proibido,” e Ovelha Negra, é a última faixa desse disco, inclusive, não podemos deixar de falar, sobre o icônico solo de guitarra, de Luiz Carlini, né?
Luiz Carlini, conta que seu grande sonho na época, era ter uma guitarra “Gibson,” modelo “Les-Paul Gold Top.” Eu sei bem o que isso significa, porque fui vendedor de instrumentos, por muitos anos, em São Paulo, e o próprio Carlini, já foi meu cliente. Ele, conta que, nos anos 70, os músicos brasileiros, compravam apenas instrumentos nacionais; não existia importação, apenas contrabando. E quem era a roqueira muambeira, mais famosa do pedaço? Quem? Rita Lee, claro! E ela, estava nos E.U.A em busca de encomendas. Carlini, ligou e pediu que ela, trouxesse a guitarra, pois ele, havia descolado a grana emprestada com seu avô; 400 dólares na época.
Carlini, ficou ansioso, tanto,, que foi esperar por ela no aeroporto e lá, descobriu que Rita, não havia comprado a guitarra, porque o dinheiro, não chegou. Carlini, ficou muito mal, principalmente, porque naquela semana, eles, estavam indo para o Rio de Janeiro, onde gravariam Ovelha Negra e ele, havia composto um baita solo, talvez, o melhor de sua carreira, e o plano, era gravá-lo com a Gibson, que Rita não trouxe.
Chegando no Rio, ainda triste, ele, resolve caminhar entre os bares, quando de repente, aparece do nada, um gringo falando em inglês, perguntando se ele queria comprar uma guitarra. Carlini, achou estranho, mas, resolveu arriscar; foi até o hotel que o gringo estava hospedado e ao abrir o case, ele, viu que se tratava de uma “Gibson Les Paul Gold Top,” o mesmo modelo, que ele pediu para Rita lhe trazer. Carlini, enlouqueceu, mas, como comprá-la? O dinheiro havia sumido!
Ele, foi até o banco e pediu reembolso. Carlini, estava tão eufórico, que chegou a implorar; o gerente, pediu calma e foi conferir o que havia acontecido. Moral da história, Carlini, conseguiu recuperar todo seu dinheiro, pegou um táxi e voltou ao hotel do gringo, onde lhe entregou todo o dinheiro que tinha em sua carteira. Ao sair do hotel, com a guitarra, esbarrou em “Ezequiel Neves,” o produtor musical, famoso pela parceria com “Cazuza.” Ezequiel, lhe emprestou o dinheiro do táxi; Carlini, foi direto ao estúdio, onde estava rolando as gravações e com sua almejada Gibson Les paul Gold Top, que o acompanha até hoje, Gravou o eterno solo de Ovelha Negra.
O Fato, é que antes dessa música, Rita, era só aquela ex-integrante dos Mutantes, que havia sido posta para fora da banda e tentava mostrar fôlego, para seguir sozinha. E a partir dessa música, nascia a eterna rainha do Rock brasileiro.
Ovelha Negra, é a canção de quem foi “convidado” a sair de casa e teve de enfrentar um mundo hostil a sua frente, para poder concretizar seus sonhos. Também, pode ser encarada como um desabafo, da roqueira demitida de sua ex-banda.
Olha, eu,, pessoalmente, tenho uma história particular parecida… Um certo dia, eu fugi de casa, por causa das brigas com meu pai; Ele, era um italiano ruim que só. Peguei a rodovia andando no meio fio, com minha mochila nas costas, sem destino, então, meu pai, encostou o carro e muito bravo, pediu que eu voltasse; eu voltei, mas a história, é muito mais complexa que isso. No meu livro, “Os Delírios Musicais,” eu conto em detalhes.
Sei que como eu, muitos passaram por isso, inclusive, Rita. Ouça ela falando sobre seus pais…
Rita, foi rebelde; sim, ela, fez tudo o que achou que deveria fazer e também, pagou caro por isso. Uma curiosidade sobre Ovelha Negra, é que Rita, que era muito doidona, foi presa pelos militares, justamente, quando parou de usar drogas. Na delegacia, Rita, ficou presa junto com outros presos políticos, dá época do combate aos comunistas, e esses presos, deram um jeito de arrumar um violão, para que Rita, cantasse para eles, Ovelha Negra, uma música, que enaltecia um sentimento mútuo, afinal, aqueles presos políticos, eram naquele momento, as ovelhas negras do Brasil.
Bom, é isso… estamos chegando ao fim desse episódio, e eu, sei, Rita Lee, nos deixou muitas outras histórias, tantas, que seria impossível contar em um só episódio do Clube. Hoje, ela, está aposentada dos palcos, mas continua compondo e não descarta a possibilidade de lançar um novo disco em breve, e eu, não descarto a possibilidade de retomar essa história em breve e acabar de narrar a saga, da Rainha do Rock.
Essa que estamos ouvindo, é a carioca “Letícia Novaes,” que em 2017, lançou seu primeiro álbum solo, entitulado “Letrux em Noite de Climão, que foi eleito o 10º melhor disco brasileiro de 2017, pela revista Rolling Stone.
Essa indicação autoral, estará na playlist desse episódio, disponível no Deezer e no Spotify, onde você poderá ouvir, além de Letrux, todas as canções que foram citadas nesse podcast.
Gostaria de agradecer aos sócios diretores do Clube… João Junior Vasconcelos Santos, Matheus Godoy, Antonio Valmir Salgado Junior, Luiz Prandini, Emerson Castro, Henrique Vieira Lima, Caio Camasso e ao recém chegado, Luiz Henrique Oliveira Machado. Seja bem-vindo Luiz.
Lembro também, que está rolando no Catarse, o financiamento coletivo do meu livro, “Os Delírios Musicais,” um projeto digno, que merece seu apoio.
E nas redes sociais, nas quartas-feiras, quinzenalmente, róla uma live, para debater os últimos episódios. Procure por: “Clube da Música Autoral,” que só de seguir, você já começa a fazer parte desse clube.
Por fim, acesse nosso site: clubedamusicaautoral.com.br, que lá, você, encontra todos os links, que foram citados nesse episódio.
Antes de finalizar, Claro, com uma versão sensacional de Ovelha Negra ao vivo, escolhida a dedo pelo Cocão, queria falar mais um pouco, sobre ovelhas negras.
Saibam, que a maioria das ovelhas, são brancas e claras, porém, às vezes, ocorrem mutações genéticas, responsáveis por fazer com que nasçam com a pelagem negra, destacando-se das demais. É justamente, a partir desta disparidade, que a expressão surgiu.
De acordo com as histórias dos pastoreiros, geralmente, a ovelha que nascia preta, era aquela que não acompanhava os outros animais; era mais difícil de cuidá-la e tratá-la, ou seja, os pastores e fazendeiros, preferiam sempre as ovelhas brancas, também,, porque a lã branca, podia ser tingida e o animal, tinha maior valor de mercado.
No dito popular, geralmente, o termo ” ovelha negra,” é utilizado em um sentido pejorativo, sob um ponto de vista negativo; quando a pessoa, não se enquadra nos padrões aceitos pela sociedade. É muito comum o uso da expressão “ovelha negra da família,” quando o comportamento e a personalidade de determinado membro familiar, não condizem com os valores impostos, geralmente, dentro dos conceitos religiosos.
Mas, algumas pessoas, consideram equivocada essa expressão, pois também, é usada para designar indivíduos com personalidades fortes; aqueles, que querem ousar e serem diferentes dos demais, ação esta, que não pode ser interpretada como algo negativo, jamais.
Rita Lee,, nos ajudou a entender isso, pois atualmente, ser considerado uma ovelha negra, também pode ser um elogio; significa, que a pessoa tem atitude, é ousada e não tem medo de aventuras.
Se eu fosse desenhar Rita Lee em palavras, não encontraria melhor definição do que “ovelha negra.”
Meu nome, é Gilson de Lazari, faço a produção do Clube da Música Autoral e junto comigo, nesse rebanho de ovelhas negras, está o Rogério Cocão Silva, no comando das edições.
Claro, que foi um prazer falar de música com vocês… e até a próxima!