Um coração partido pode ser curado de várias formas diferentes, mas apenas uma é infalível: Beba uma garrafa de cachaça, coloque créditos no seu celular e ouça “Evidências,” de Chitãozinho & Xororó.
No episódio 8 do Clube da Música Autoral, conheça histórias inusitadas desse hit popular que já faz parte do DNA do brasileiro.
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
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O Clube da Música Autoral, tem uma missão, que é espalhar música boa por aí. Hoje, resolvi mudar um pouco o rumo, e como bom eclético que tento ser, falarei sobre uma canção sertaneja.
Huuunm… alguns, podem até torcer o nariz; “sertanojo,” elas dizem. Eu digo, sim, sertanejo… o ritmo brasileiro que vendeu mais discos no Brasil.
Este é o episódio 8, mas no episódio 6, eu falei sobre a canção “Diário de um Detento,” do grupo de RAP “Racionais MCs.” Olha, Foi muito intenso, vasculhar as masmorras demolidas do Carandiru e resgatar um pouco da história daquele massacre horrível, que ocorreu em 1992. E como faço em todo episódio do Clube, contei um pouco sobre o autor daquela canção. Uma baita responsabilidade, pois, tento não ser muito detalhista, mas tenho uma enorme preocupação em não ser vago.
No caso dos Racionais, eu resolvi ser um pouco mais detalhista e contei também sobre os projetos sociais que eles apoiam. E olha só que legal a mensagem que eu recebi da Cristiane Rufino.
“Esse foi o episódio que mais me marcou. Fiquei bem emocionada. Eu gostei de saber do início da formação do grupo. Revisitar a história do massacre do Carandiru, a partir da sua ótica, foi uma experiência enriquecedora e intensa. Penso que esse episódio, mexeu tanto comigo porque me remeteu ao ano de 94, em que o grupo Racionais, fizeram para mim, um show beneficente, na escola em que estudava.
Esse show, foi para arrecadar dinheiro para comprar minha máquina braille. Havia apenas 1 ano que eu tinha ficado cega. Naquela época, não era comum o uso de computadores como hoje. Após o show, meus pais conseguiram comprar minha máquina e assim facilitou meus estudos. Tenho ela até hoje. Gilson, você é o cara! Te admiro. Obrigada por me proporcionar tanto conhecimento da música, algo de que tanto gosto e me faz bem. Parabéns! Parabéns!”
Que da hora, Cris! Muito obrigado pelo elogio. E que história incrível essa. Racionais é foda! Com o perdão da palavra.
A Cris interagiu pelo Facebook, mas eu quero avisar que o Clube também está no Twitter e no Instagram. É só digitar na busca: “Clube da Musica Autoral” e passar a me seguir, daí, além de interagir como a Cris fez, você também vai passar a receber noticias e curiosidades sobre os temas abordados aqui no Clube.
E se você preferir, posso te enviar os novos episódios pelo WhatsApp também, e você ouve em seu smartphone quando quiser. É só clicar no link que está nesse episódio e confirmar a mensagem. Mas faça rápido, antes que eu comece a falar sobre… “Evidências.”
Esse é o hino da música sertaneja romântica. Provavelmente, a melhor música do estilo. Alguns, podem até discordar, eu sei, mas será em vão.
Essa versão ao vivo que estamos ouvindo, tem mais de 20 milhões de visualizações no YouTube, mas, se somarmos todas as outras versões e paródias de Evidências, acho que seria até impossível contabilizar os números dessa canção composta em 1988, que um dia, vejam só, foi desdenhada pela gravadora.
E melhor do que ouvir esse sucesso, escrito por “José Augusto” e “Paulo Sérgio Valle,” e eternizada na voz dos irmãos, Chitãozinho & Xororó, é ler as declarações dos fãs nos comentários dos vídeos.
“O Certo, é trocar o hino nacional por Evidências e assim unir os brasileiros novamente.”
“Evidências, já nasce no código genético do brasileiro.” ”Não existe mais rockeiro quando toca Evidências.” ”Se eu escutasse o som de um berrante agora, sairia correndo e perguntando quem está me chamando!” ”Eeeeeeita modão!”
mas esses relatos, são na maioria de quem se cansou de mentiras, e quer ouvir a verdade… que tem saudade… e que ainda você pensa muito em mim. E eu aqui, to com pena de você, que de vez em quando, faz questão de afogar as mágoas ao som de Evidências, mas não conhece ainda a história desse sucesso da musica popular brasileira… Então, é pra você, que ainda não entendeu porquê Evidências é tão legal, que eu dedico o episódio 8, do Clube da Musica Autoral. Corra para o bar e pegue a garrafa de cachaça mais barata que você encontrar, e vamos cantar juntos… “Evidências”.
Estamos ouvindo, “De que vale ter tudo na vida,” canção que lançou o Cantor e Compositor “José Augusto” na década de 70. Ele é um dos culpados por existir Evidências.
José Augusto, foi um dos principais elos para a criação da bem-sucedida junção, entre o pop romântico e a música sertaneja. Chitãozinho & Xororó, por sua vez, viram o barco passando e saltaram em sua direção. Eles são responsáveis pela popularização do sertanejo romântico, estilo que já passou por diversas mutações e continua se adaptando até hoje, sendo o único estilo musical ainda lucrativo na indústria da música.
Mas, se queremos falar sobre música sertaneja, vamos fazer bem feito, voltando a fita e contando como ela surgiu.
Em 1929, o comediante e jornalista, “Cornélio Pires,” gravou um disco chamado: “Som da Terra,” onde narrava “causos” do cotidiano rural e enfatizava os trejeitos de moradores do interior de São Paulo, Paraná, sul de Minas, Mato Grosso e Goiás. Esse é o primeiro registro fonográfico da cultura caipira. Em 1910, um instrumento passou a ser construído por nativos brasileiros. Ele foi chamado de “viola caipira” e era parecido com um violão, porém, inspirado na viola barroca trazida pelos portugueses e usada para evangelizar os índios. Na década de 20, essa tradição de tocar a viola para evangelizar, ainda se mantinha e em encontros religiosos, era comum ouvir o som da viola, enquanto rezavam para santos católicos. É nessa época, que surgem as primeiras duplas caipiras cantando em dueto, melodias que louvavam a Deus e se alternavam ao som da viola.
E é legal lembrar, que assim como a guitarra nos E.U.A, aqui também existia um mito muito curioso, de que a viola era o instrumento preferido do Diabo e se você a ouvisse durante a noite, provavelmente era ele descendo o rio abaixo, em um bote, ponteando sua viola, em busca dos pecadores.
No começo dos anos 40, as duplas caipiras que se destacavam nas cidades do interior, passaram a ser convidadas para apresentações ao vivo, nos imponentes programas de rádio.
E foi em um desses programas de calouros, que apareceram pela primeira vez, a dupla que revolucionaria o estilo… “Tonico e Tinoco.”
Além de Tonico e Tinoco, outras duplas, como “Vieira e Vieirinha,” “Alvarenga e Ranchinho,” “Torres e Florencio,” passaram a ser requisitadas nas grandes rádios da capital paulista, onde tocavam sempre ao vivo. Os shows de calouros, eram os maiores eventos musicais da década de 40 e a moda de viola, como foi apelidada, o estilo musical preferido da audiência.
Tonico e Tinoco são importantes, pois ainda na década de 40, gravaram os primeiros singles do estilo. Para quem não viu, ou não se lembra, eram aqueles disquinhos pequenos que vinham com apenas duas músicas, que geralmente, a gente encontrava na casa dos avós. Até que, em 1945, gravaram o seu primeiro disco de sucesso, que trazia o hino da música caipira… “Chico Mineiro.”
Para entendermos a evolução da música sertaneja, precisamos dividir em fases. A primeira fase, retrata o surgimento das duplas e o nascimento da moda de viola. A segunda fase, é marcada pela transição. Ao fim da segunda guerra mundial, outros estilos passaram a se fundir com a moda caipira de viola. Entre eles, a “polca,” a “guarânia.”
E um outro instrumento também de origem portuguesa, passou a protagonizar junto com a viola; a harmonização, era a “sanfona; acordeão; ou gaita”
“José Fortuna,” foi um dos principais compositores da fase de transição da música sertaneja, que também nos trouxe, mulheres aos vocais, como, as “Irmãs Galvão,” “Cascatinha e Inhana” e “Irmãs Castro,” casando o estilo também com vozes femininas.
Era uma mistureba sem fim, mas também de uma riqueza sonora incrível. As duplas estavam inovando a música regional. Entre essas duplas, preciso destacar “Tião Carreiro e Pardinho,” que criaram o “estilo pagode” de se tocar a viola.
Mas o maior sucesso da fase de transição dos anos 50 ao 70, provavelmente, foi protagonizado por “Milionário e José Rico,” que trouxe elementos sonoros inusitados em suas produções, como o trompete, violinos e a percussão, além de mudar os temas abordados nas letras, passando para o estilo romântico. Com Milionário e José Rico, começa a terceira fase da música caipira… o “sertanejo romântico.” A década de 70, também marca um novo visual influenciado pelos filmes de faroestes e pela popularização das grandes festas de rodeio, que viraram mania no país e divulgavam demais a música sertaneja.
Um cantor da jovem guarda, percebeu o potencial do sertanejo romântico e sem qualquer cerimônia, trocou a jovem guarda pelo sertanejo, tornando-se em pouco tempo, uma das maiores referências do estilo. Seu nome? “Sérgio Reis.” A música sertaneja, ainda era limitada e sofria preconceito por ser popular. Seus expoentes, acabaram limitados a se apresentarem apenas em festas de rodeio, circos e rádios AM. Outro nome que surgiu nos anos 70 e vale muito a pena ser lembrado, foi o violeiro, cantor e compositor, “Renato Teixeira.” Com o terreno já arado, adubado e semeado para os que viriam pela frente, o estouro do estilo sertanejo na mídia, era questão de tempo.
Nos anos 80, após muitas mutações, a musica caipira, começou a ter espaço na grande mídia, através das trilhas sonora de novelas e aparições em programas de TV. As rádios FMs, ainda era uma barreira a ser rompida, mas seria feito pela próxima geração que nasceu com raízes fortes. Entre as principais duplas que surgiram, começaram a fazer sucesso nos anos 80, eles, os amigos… “Leandro e Leonardo,” “Zezé di Camargo e Luciano,” e nossos protagonistas do episódio 8 do Clube da Música Autoral… “José & Durval,” ou melhor… “Chitãozinho & Xororó.” Ainda muito jovens, os irmãos de Astorga, interior do Paraná, gravaram essa versão de “Galopeira,” em 1970. Chitãozinho, tinha 15 anos e seu irmão, Xororó, apenas 12. Era o disco de estreia da dupla, cujo nome, foi tirado de uma canção da dupla “Serrinha e Athos Campos,” com o mesmo nome e falava sobre dois pássaros que os alegravam ao cantar, o “Inhanbu Chitão e o Xororó.” De origem humilde, os irmãos Lima se mudaram para Mauá, município que fica na região metropolitana de São Paulo e sua principal atividade, era a música. Viajavam fazendo apresentações em circos e bares pelo interior do Brasil, ficando até 30 dias longe de casa. Em uma dessas voltas, chegaram sem nada; nenhum dinheiro havia rendido. Eles tinham apenas um Fusca que usavam nas viagens e desanimados, saíram para vendê-lo e procurar um emprego convencional. Após 4 discos gravados e sem retorno financeiro, decidiram acabar com a dupla; estavam convencidos que a carreira artística não era para eles. Então tristes, ligam o rádio do fusca; o locutor anuncia o último lançamento do cantor “Raul Seixas.” O ano, era 1975 e a canção se chamava: “Tente Outra Vez.”
A dupla sempre lembra dessa história em suas entrevistas, pois, foi através da mensagem dessa canção, que dizia: “não pense que a canção está perdida, tenha fé em Deus, tenha fé na vida,” que se colocaram a chorar e decidiram seguir o conselho de Raul e tentaram mais uma vez. E em 1977, lançaram o disco “60 Dias Apaixonados,” que venderia 200 mil cópias e renderia o disco de ouro para Chitãozinho & Xororó. Com o sucesso de 60 Dias Apaixonados, a gravadora “Copacabana” lançou em 1981, o disco “Amante Amada,” que ganhou disco de platina, vendendo o dobro do anterior; 400 mil cópias.
Tudo ia bem para os irmãos e em 1982, lançaram o disco responsável pela popularização nacional da musica sertaneja. “Somos Apaixonados,” vendeu mais de um milhão e meio de cópias e faturou disco de diamante. E tudo isso, devido ao sucesso inesperado de uma música que entrou no disco, desacreditada… “Fio de Cabelo.”
Em 1984, bateram as vendas de Somos Apaixonados, com o lançamento do seu novo álbum, “Amante,” que vendeu 1.8 milhões de cópias. Esse número de vendas, então passou a se repetir. “Fotografia,” de 1985 e “Coração Quebrado,” de 1986 também arrebentaram de vender. O sucesso era tanto, que Chitãozinho & Xororó foram convidados para apresentar um programa de TV no SBT, onde recebiam convidados. No mesmo ano, a Globo convidou a dupla para cantar ao lado de “Roberto Carlos” no especial de fim de ano, onde cantaram para enorme audiência da rede Globo, “De Coração para Coração.” Em 1987, a dupla lançou o disco “Meu Disfarce” e com ele, mais uma inovação; flertaram o sertanejo com a “country music,” adicionando banjo e solos de guitarras do estilo.
Então resolveram fazer uma compilação, chamada: “Nossas Canções Preferidas”, provando que tudo o que lançavam dava certo. E no mesmo ano trocaram de gravadora; sairam da Copacabana onde estavam desde o início de carreira e foram para a “Polygram,” que prometia maior investimento na divulgação da dupla. E foi só sucesso, pois em 89, lançaram o disco “Meninos do Brasil,” que trazia uma série de hitz que emplacaram nas paradas. Entre eles: “Nós somos assim,” “”Brigas;” uma nova versão de “No Rancho Fundo,” que entrou como tema na novela “Tiêta.” E uma versão do country chamado: “Shambala,” de “B.W. Stevenson,” que aqui, estourou com o título: “Nascemos para Cantar.”
A Polygram chegava com tudo, investindo pesado na Dupla, que faturou mais um disco de Diamante, com Meninos do Brasil.
E é também nesse disco, que aparece o nosso outro personagem desse episódio, como compositor da canção “Página Virada,” de autoria de “José Augusto.”
José Augusto Cougil, é um cantor carioca, que nasceu em 1956. Você talvez não se lembre muito dele hoje, porque ficou fora da mídia brasileira nos últimos anos, mas talvez, eu refresque sua memória.
Quando tinha 17 anos, Zé Augusto ganhou o primeiro lugar de um festival no Rio de Janeiro, como melhor intérprete. Convencido que poderia ser um cantor de sucesso, fez teste em todas as gravadoras da época, mas foi recusado em todas.
Zé Augusto, não precisou ouvir Tente Outra Vez de Raul Seixas, mas olha, foi por pouco. Ele foi esperto ao perceber, que poderia escrever canções que a gravadora poderia lançar com outros cantores e assim, trilhar seu caminho por fora. Então, em 1972, o desconhecido José Augusto, entregou uma fita K7 com musicas de sua autoria, para a então gravadora “EMI.”
As músicas eram ótimas e no mesmo ano, “Calby Peixoto,” lançou uma composição sua no disco “Super Star.” Com o sucesso na voz de Cauby, a EMI resolveu dar uma chance para o garoto e em 1973, para testar a aceitação, lançou apenas uma música, “De que Vale Ter Tudo na Vida,” que atingiu a incrível marca de 1 milhão de cópias vendidas.
A música de José Augusto, tinha fortes influencias da Black Music Americana e ares joviais. A EMI resolveu investir na carreira internacional de José Augusto e lançaram na América Latina, a canção, ”Luzes de Ribalta”,”que fez muito sucesso.
José Augusto, passou a fazer mais sucesso em outros países, do que no Brasil. Ele, é ao lado de Roberto Carlos e Nelson Ned, o Artista brasileiro que mais vendeu discos na América Latina.
Na década de 80, foi apelidado pelos fãs como: o “Rei do Romantismo.” E tem 25 discos lançados na América Latina.
Apesar da bem-sucedida carreira internacional, José Augusto continuou compondo músicas para outros intérpretes, entre eles, “Alcione,” “Fafá de Belém” e até para a “Xuxa.”
Vou fazer uma rápida compilação com alguns refrões marcantes compostos por José Augusto. Tenho certeza que vai refrescar a sua memória.
Lembrou né? O cara é um gênio da música popular romântica e é pouco reconhecido no Brasil.
Em 1989, Chitãozinho & Xororó gravaram pela primeira vez, uma canção de José Augusto, mas essa união de talentos, se repetiria logo em seguida no próximo disco da dupla, de 1990, lançado com o nome de: “Cowboy do Asfalto.” Cowboy do Asfalto, foi lançado com 1 milhão de cópias, já encomendadas no formato LP, em vinil, mas também foi lançado em CD e olha, vendeu muito, mas não existe uma contagem oficial; estíma-se que a quantidade de CDs vendidos seja o dobro de LPs.
Em 1990, ano do lançamento, atingiram o sétimo lugar de vendas, mas durante praticamente todo o ano de 1991, ficou em segundo lugar, perdendo apenas para “Step By Step” do “New Kids on the Block.” Incrível, não?
O Disco Cowboy do Asfalto, faz uma homenagem aos caminhoneiros, que em comum, eram fãs de Chitãozinho & Xororó; inclusive, a faixa que dá título ao álbum, é dedicada a essa classe sofredora dos motoristas, que passam vários dias fora de casa, longe da mulher amada, ouvindo no toca-fitas, discos de Chitãozinho & Xororó, com muitas saudades.
Tanto sofrimento assim, só podia ser expressado por uma outra canção que também está nesse disco, mas que não é apenas uma simples canção, Ela é mais; ela é um hino. O hino do sofrimento gostoso; aquele que sofremos com esperança e só pode ser traduzido com… “EVIDÊNCIAS.”
Evidencias nos embala, não? Quando eu comecei a escrever esse episódio do Clube, me lembrei de um show com Chitãozinho & Xororó que assisti por volta de 1996. Estava eu lá, curtindo sozinho, músicas clássicas como No Rancho Fundo, Fio de Cabelo… legal; um baita show, mas daí, iniciou a introdução de Evidências e foi incrível, todos ao meu lado, começaram a se abraçar e cantar juntos. Eu também fui abraçado; abracei alguém e então notei que sabia cantar Evidências inteirinha, o que é curioso, pois não lembro de tê-la ouvido a ponto de decorar a letra, que é longa para os padrões do sertanejo.
Hoje, analisando com calma, percebo que em Evidências, o envolvimento acontece gradativamente. Na primeira parte, ela é calma e até arremete a uma declaração de amor manjada, narrada na primeira pessoa, mas logo, mostra na verdade, um conflito de alguém que está apaixonado, mas é esperto o suficiente para saber que esse amor vai machucá-lo.
Quando diz que deixou de amar, é porquê está amando. Quando diz não querer mais, é quando mais quer.
Só existe uma verdade nesse relacionamento… alguém com medo de entregar o coração para a pessoa errada. Aquele friozinho na barriga, que mistura medo com excitação.
Então a música cresce e vai para o que parece ser um refrão, embalando e a tornando alegre. É nessa loucura de dizer que não te quero, que cai o disfarce. Já não dá mais para disfarçar as evidências, pois estão explícitas e ele vai se entregar. Então que seja… me entrego… é o apce; a euforia; o momento carnal; do beijo, do calor; sem se preocupar com o amanhã… Ufa…
Acabou?
Não, esse não era o refrão. O refrão entra agora.
Só quero ouvir você dizer que sim!
Que é verdade; que também tem saudade e que nossos sentimentos são recíprocos… então bora ser Feliz, que é disso que eu preciso!
Eeeeee coisa boa!
E olha, Evidências,, vem funcionando como tratamento para coração partido também, pois dizem que após uma traição, você vai precisar apenas ouvir Evidências, com uma garrafa de cachaça e um celular com crédito, que tudo será resolvido… ou não. Imagina?
Existe também, uma teoria que Evidências, é na verdade um hino gay, do homem que quer sair do armário, mas eu acho mais bacana, a versão do amante medroso, ou da menina virgem prestes a se entregar.
Todos nós conhecemos Evidências na voz de Chitãozinho & Xororó, certo? Mas não foram eles os primeiros a gravá-la não. E também, José Augusto não compôs Evidências sozinho, também não… pois é, pois é.
Seu parceiro de composição, não apenas em Página Virada e Evidências, foi o letrista “Paulo Sérgio Valle,” que é um dos maiores compositores brasileiros, com mais de 800 musicas de sua autoria gravadas. José Augusto, por sua vez, é um exímio compositor, mas ele sabia que alguns detalhes e sutilezas na letra, podem fazer toda a diferença no resultado final.
Evidências, não foi a única composição dessa parceria, mas foi com certeza, a mais famosa.
Quando terminaram a canção, por volta de 1988, José Augusto fez como sempre, gravou uma fita K7 e levou até a gravadora, para que ouvissem e escolhessem, qual dos seus intérpretes poderia gravá-la, mas o produtor musical da época, disse a José Augusto que aquela musica era muito ruim; que não iria pegar e recusou a canção, lhe devolvendo a fita.
Chateado, José Augusto, foi abordado pelo também compositor, “Michael Sullivan,” que havia ouvido a avaliação do produtor musical e perguntou se ele poderia levar a canção para seu irmão gravá-la; José disse sim e entregou a fita.
Então, “Leonardo Sullivan,” gravou Evidências pela primeira vez, mas sua gravadora também torceu o nariz. Lançaram o disco, mas não trabalharam a canção.
Ouçam a primeira versão de Evidências com a voz de Leonardo Sullivan:
Um belo dia, José Augusto, recebe uma ligação, era Xororó, dizendo que ouviram Evidências e queriam a permissão para gravá-la. José achou estranho, afinal, todos haviam execrado aquela canção. Xororó insistiu e ela acabou incluída no novo material para o disco Cowboy do Asfalto. Animados, essa foi a primeira canção que a dupla apresentou ao maestro e arranjador, “Julinho Teixeira.”
E vale lembrar que nessa época, a produção de música sertaneja era frenética, pois, vendia-se muitos discos. Não existia os Home Studios, onde as pessoas gravavam em casa; só se gravava música dentro dos grandes estúdios. Era praticamente, uma linha de produção automatizada. Os maestros e arranjadores, eram quase sempre os mesmos; eles escreviam os arranjos em partituras, inclusive as partes individuais de cada músico. Bons músicos, eram aqueles que gravavam rápido, tiravam bons timbres e não questionavam os arranjos.
Evidências é revolucionária até nesse aspecto, Pois é a primeira canção da musica sertaneja gravada com um improviso de guitarra.
Ao invés de escrever o solo como sempre fazia, em Evidências, o maestro sugeriu que o guitarrista improvisasse. O tal guitarrista, era “José Eduardo Fernando Borges,” mais conhecido no meio musical como: “Faíska”.
Sem economizar suas influências virtuosas, Faíska começa o solo de Evidências melodioso, mas improvisa um arpejo em LA menor no fim. Aquilo era algo totalmente diferente de todos os outros arranjos do estilo e deu certo. Quem ouve, pode pensar, que é apenas um solo rápido, mas pode ter certeza, que Faíska influenciou muitos músicos, que quando ouviram, ficaram de cara.
Quando foi lançada, em 1990, a recepção de Evidências pelos críticos da época, foi fria. Muitos até criticaram a canção, afirmando que a dupla estava perdendo as raízes sertanejas.
Os críticos não entenderam Evidências, assim de bate-pronto como a gente. Mesmo assim, a agenda de divulgação foi cumprida e Chitãozinho & Xororó se apresentaram nos principais programas de TV da época, inclusive nas rádios FM, que passavam a dar ainda mais espaço para o sertanejo romântico. O disco foi bem sucedido no Brasil, até que, em 1992, uma cantora mexicana chamada “Ana Gabriel,” ouviu evidencias e ao contrário dos produtores e críticos brasileiros, ela entendeu de cara que aquela música tinha algo a mais e gravou a primeira versão internacional de Evidências, que na época vendeu mais de 1 milhão de cópias… Ouçam.
Que beleza… Daí né, abriu a porteira de vez e Evidências, hoje é a musica mais regravada de José Augusto e Paulo Sérgio Valle, com mais de 80 versões oficiais gravadas em diversos idiomas.
Muitos casos inusitados envolvem esse sucesso, mas um grande acaso, é ela ter voltado para as paradas de sucesso 30 anos após ter sido escrita.
Hoje, Evidências é tema de escola de samba; toca no carnaval de Salvador; é campeã de memes na internet e um disparate me marcou esses dias, ao assistir um vídeo, onde os fãs do “Foo Fighters,” deixavam o estádio do Maracanã cantando Evidências.
Cara, não adianta, Evidências é assim; une as pessoas… é inexplicável.
E assim, sem conseguir explicar direito o sucesso de Evidências, chego ao fim de mais um episódio do Clube da Música Autoral.
Mas você, talvez tenha uma explicação para tanto sucesso e se quiser, pode me escrever sua tese. O Clube, está no Twitter, no Instagram e no Facebook. Só vem, porque nos canais do Clube, só rola conteúdo e curiosidades da hora, sobre as canções que amamos.
A missão do Clube é essa, espalhar música e histórias pela rede, mas para que essa missão continue, eu preciso da sua ajuda, sendo sócio oficial do Clube da Música.
Todo sócio pode votar e ajudar a escolher as músicas que serão tema dos próximos episódios. Que tal a sua música preferida aqui no próximo episódio do Clube?
Para se associar e ajudar a manter essa ideia viva, Acesse o site: clubedamusicaautoral.com.br/assine e conheça as opções de assinatura. Lá tem um vídeo meu explicando tudo certinho.
Antes de partir, só quero avisar que você vai ficar pelo menos uma semana inteira cantando Evidências mentalmente.
E como o estrago já está feito, deixarei essa versão ao vivo de Evidências com o acompanhamento de uma orquestra regida pelo maestro “João Carlos Martins.”
Meu nome é Gilson de Lazari e foi um prazer falar de música com vocês.
Até a próxima!
A casinha tem paredes de barro, o piso é de chão batido. Esfrego os olhos, espio pela janela e vejo o Rio Araguaia.
No pé de pequi os pássaros pretos cantam pra acordar o menino que nem sabe como foi parar na cama na noite anterior.
No fogão à lenha o café está quente. As bolachas estão no prato, esperando.
Num banquinho perto do fogão meu avô ouve o rádio à pilhas, tocando uma moda de viola.
Ele me olha e diz “já acordou, meu filho? É cedo ainda”.
Que saudades do “Seu” Valeriano! Que lembranças esse podcast me traz!
Só posso dizer obrigado.
Um abraço!
Obrigado Leandro. fiquei super feliz 🙂
Parabéns pelo belíssimo episódio pois apesar de não ser um apreciador da Sertanojo, cheguei em casa cantarolando Evidências, para surpresa da minha esposa, que bem conhece meus gostos musicais. Gosto sim da música caipira e coincidentemente a versão com guitarras e outras cositas mais não me agradam. Mas o grande valor do seu episódio foi quebrar o preconceito e enxergar a valor desta música e me fazer entender a importância deste estilo na vida dos brasileiros.
Com relação aos demais episódios, os escutei rapidamente, talvez em 3 ou 4 dias. Todos muitos bons e somente um não me agradou muito.Seu estilo leve e ao mesmo tempo emocionado é perfeito para contar as histórias das músicas. E aquele belíssimo solo do The Great Gig in the Sky performado pela Clare Torry? De chorar não? Já estou a espera dos próximos lançamentos. Abraços
Valeu Ednilson, obrigado por comentar, mas agora fiquei curioso, qual ep vc não gostou? eheheh
Acho que o EP esta travando nos 37min e não toca mais.
Testamos aqui e rolou normal, onde você esta ouvindo?
Caramba, é impressionante a semelhança do acordeom com as melodias do instrumento no Tango argentino! Até achei que se tratava de uma milonga quando tocou pela primeira vez no podcast, aliás, fica registrada minha vontade de ouvir um episódio falando de Tango. Quem sabe sobre Libertango, do autor que revolucionou não só o estilo, mas toda uma cultura, o grande Astor Piazzola!
E claro, parabenizar a todos pelos episódios incríveis que conheci a pouco e já estou amando!