“Meu Amigo Pedro,” nem de longe foi a composição de Raul Seixas que mais fez sucesso, porém, sua letra, escrita em parceria com Paulo Coelho, até hoje intriga fãs e entusiastas do maluco beleza.
Conheça as teorias por trás dessa canção de 1974.
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Roteiro e locução: Gilson de Lazari
Revisão: Camilla Spinola e Gus Ferroni
Transcrição: Camilla Spinola
Arte da vitrine: Patrick Lima e Caio Camasso>
Edição de áudio: Rogério Silva
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Você já parou para pensar como nascem as canções?
O que leva o compositor a abordar aquele tema?
Muitas músicas são compostas todos os dias, mas apenas algumas emitem luz o suficiente para iluminar os sentimentos dos ouvintes. Não basta ter um bom arranjo; uma boa música precisa acima de tudo, contar uma boa história.
É por isso que estou aqui; um dia, gênios da música contaram suas histórias em forma de música e isso virou um sucesso. Hoje eu peço licença para contar a história dessa música e desse músico.
Mas afinal, quem é o “Pedro” que Raul confronta ideologicamente nessa canção de 1974, que ele escreveu em parceria com Paulo Coelho?
Muitas teorias envolvem a verdadeira identidade de Pedro. Seria ele o pai de Paulo Coelho? Ou seria “Plínio,” o irmão mais novo de Raul, que seguiu caminhos alternativos ao do maluco beleza?
Você já ouviu falar da teoria do bilau? Aquela que diz que Pedro é o pinto de Raul? Não? Pois é, jamais subestime os fãs do maluco beleza.
Esse, é o segundo episódio da primeira temporada do Clube da Música Autoral. No primeiro episódio, falamos sobre a música “Tears in Heaven” de Eric Clapton. Espero que tenham gostado. Mas se você ainda não ouviu, é só buscar nas redes sociais; Facebook, Twitter e Instagram, tenho certeza que você vai achar fácil.
“Raul Santos Seixas,” é filho de Raul Varella Seixas e Maria Eugênia dos Santos Seixas.
Raulzito, cresceu brincando nos arredores da embaixada americana, onde teve acesso ao Rock and Roll, que chegava fresco da América. Em 1957, fundou o primeiro fã-clube de Elvis Presley e todos os dias após as aulas, se encontrava com os membros para ouvir as músicas do rei do Rock e dançar.
Embora Raul mantivesse um gosto muito sincero pela música, seu sonho maior, era ser escritor como Jorge Amado.
Na sua cidade, escutavam Luiz Gonzaga todos os dias, nas praças, nas casas, em todos os estabelecimentos. Mesmo assim, Raul, ingressou na cena Rock dos anos 60, que além de Elvis, já despontavam outros grupos, como os The Beatles.
Raul montou uma banda chamada: “Os Panteras,” que acompanhava os cantores do sul do país em turnê pelo Nordeste. Em 1968, conseguiu gravar seu primeiro disco: “Raulzito e os Panteras.”
A aceitação não foi muito boa. Raul achou que esse não era o seu caminho. Depressivo, trancou-se em seu quarto e passou a devorar livros de filosofia.
Poucos sabem, mas Raul também era produtor musical.
Descrente da carreira, ele teve uma nova oportunidade ao conhecer o diretor da “CBS Discos,” que o convidou para trabalhar em seus estúdios no Rio de Janeiro. E sem relutar, mudou-se para a cidade maravilhosa.
Raul, além de produtor, também compunha músicas para os artistas da CBS. Essa que ouvimos ao fundo é um dos grandes sucessos de “Jerry Adriane,” composto por Raul Seixas. Era a época da Jovem Guarda, e Odair José, Ed Wilson e Renato e seus Bluecaps, também gravaram composições de Raul.
Raul, estava fortemente influenciado pelas músicas de Frank Zappa e do recém lançado “Sgt Peppers,” dos Beatles.
Como produtor da CBS, Raul aproveitou uma viagem dos executivos e gravou as escondidas, o disco: “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das 10.”
Além das influências psicodélicas, Raul misturou elementos da música regional, mas o resultado não agradou os dirigentes da gravadora da época, que além de não lançarem o disco, também demitiram Raul da CBS, que acabou voltando para Salvador.
Em 1972, o Brasil passava pelo fenômeno dos grandes festivais da música popular, e Raul, astuto compositor que era, não podia ficar de fora. Ele inscreveu duas canções de sua autoria no Festival Internacional da canção: “Eu Sou eu, Nicuri é o Diabo” e “Let me Sing, Let me Sing;” ambas chegaram a final, Aclamadas pelo povo e com ótimas críticas dos especialistas da época.
Não deu outra, Raul conseguiu um contrato com a “Philips” e gravou “Krig-ha, Bandolo!” Foi quando ele teve seu primeiro sucesso reconhecido e ecoado: “Ouro de tolo.”
Em 1974, Raul conhece Paulo Coelho e juntos, fundam a “Sociedade Alternativa,” baseada em preceitos do bruxo inglês, “Aleister Crowley.”
Raul e Paulo, estavam obcecados pela ideologia, a ponto de anunciarem a construção da “Cidade das Estrelas,” uma comunidade onde a única lei era: “Faça o que tu queres, há de ser tudo da lei.”
Com a feroz ditadura da época, Raul e Paulo Coelho foram torturados e exilados do brasil. Voltaram em 1975, com o disco “Novo Aeon,” que imortalizou a parceria dos dois xaropes. E muitos dizem, que ao invés de amigos, eram na verdade, bons inimigos.
Muitos fãs de Raul não gostam do Paulo Coelho. Além de Paulo, ter assumidamente, apresentado drogas pesadas para Raul, também o acusam de pouco cooperar nas canções, pois Paulo, não era músico; ele teria usado Raul como trampolim para lançar seus livros. Eu não concordo; Paulo Coelho escreveu “O Alquimista,” simplesmente, o livro brasileiro mais vendido de todos os tempos. Ele tem seus méritos sim.
O fato, é que o disco Novo Aeon não foi muito bem aceito pelo público e Raul, nessa época, além de romper os laços com Paulo Coelho, também estava prestes a perder o contrato com a Philips, mas não antes de lançar “Há 10 Mil Anos Atrás,” Recheado de músicas da parceria com Paulo Coelho, entre elas… “Meu amigo Pedro.”
Essa fase também marcou o início do contrato de imagem com a Globo, que viria a produzir todos os vídeos de Raul, dos próximos anos e lançaria no Fantástico, dando enorme audiência para Raul. Apesar da crítica ter ficado dividida, as vendas do novo disco foram positivas e ficou marcado como um dos auges da carreira de Raul Seixas.
Amigo Pedro, nem de longe, era a canção que os dirigentes da gravadora pretendiam divulgar. Além de “Há 10 mil anos atrás, a outra canção que a globo escolheria desse disco, seria: “Eu também vou Reclamar,” lançada no Fantástico.
Meu Amigo Pedro, acabou por se tornar um sucesso Cult lado B, apesar de ser a segunda música do lado A.
As músicas do Raul tinham efeitos duradouros em seus fãs. A gravadora exigia sucessos instantâneos e midiáticos, mas o que cativava realmente seus fãs, era a experiência em compreender certas sutilezas, as vezes escondidas nas letras, como o mistério de Amigo Pedro.
A Philips, pressionava Raul por um disco comercial, e acusava Novo Aeon de ter sido um fiasco de vendas. Raul, por outro lado, se sentia artisticamente desmotivado, pois era evidente, que não existia valorização das sua obra, apenas interesses financeiros. As sessões de Há 10 mil anos atrás, foram gravadas nos estúdios “Phonogram,” que ficava na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro e foi produzido por “Sergio Carvalho,” que tinha ao seu dispor, a melhor equipe de arranjadores e músicos da época, entre eles, “Liminha,” fazia parte da equipe. Consequentemente, montar um time desses não ficava barato para a gravadora e sabendo disso, Raul passou a avacalhar as sessões; ele faltava e na maioria das vezes que ia, estava bêbado.
Diante de tantas teorias sobre Meu Amigo Pedro, uma delas em especial, me cativa.
No dia de gravar a voz, Raul teria desaprovado o arranjo original de Meu Amigo Pedro e em um surto, desafiou produtores e músicos a gravarem ao vivo, todos juntos, sem overdubs, recurso esse, que já estava disponível na época e permitia gravar um instrumento de cada vez. Notem como começa a música.
Outro detalhe que entrega uma possível improvisação da parte instrumental, são as viradas de bateria e a pandeirola, que entram no refrão antes, no momento errado, no entanto, essas partes não foram editadas; entraram no disco, apesar de ser um erro notável de execução. Ficou engraçado. Hoje, dão um certo… Charme CULT, se é que vocês me entendem…
Meu Amigo Pedro, foi composta nos anos 70, quando Raul e Paulo Coelho, mergulharam de cabeça na “Lei de Thelema,” que resultou em grandes composições para a música popular brasileira e para o Rock and Roll brasileiro, ou, como Raul gostava de dizer: “um ye ye ye realista.”
“Thelema,” pode confundir um pouco. Para uns é uma religião e para outros, uma filosofia baseada em um postulado filosófico de mesmo nome, adotado como o princípio fundamental de algumas organizações ocultistas. A lei de Thelema é: “Faz o que tu queres, a de ser tudo da Lei. O amor é a lei; amor sob vontade.”
A lei de Thelema, foi desenvolvida no início de 1900, por Aleister Crowleye faz parte daquela viagem louca em busca da Cidade das Estrelas e a Sociedade Alternativa.
Aleister Crowley inspirou outros músicos mundo afora, como o “Ozzy Osbourne.” Ele foi um escritor e ocultista inglês. Em 1904, Crowley, afirmou ter recebido “O Livro da Lei,” a partir de uma entidade e seu objetivo era servir de base religiosa e filosófica do sistema,, que ele chamou de “Thelema.”
O fato, ao meu ver, é que tanto Paulo Coelho quanto Raul, mantinham conflitos internos ao falarem de ocultismo, provavelmente, devido as suas origens conservadoras e uma criação baseada em mandamentos bíblicos.
O nome do pai de Paulo Coelho é “Pedro Queima de Coelho de Souza,” um empresário bem sucedido, que provavelmente teve muitos conflitos com o filho, que se negava a viver no padrão da alta sociedade da época. Já adolescente, na década de 60, Paulo se rebelou e o resto da história, já sabemos.
Uma forte teoria a respeito da letra de Meu Amigo Pedro, afirma ser o desabafo de um filho, que tenta vencer os desafios da vida por conta própria. Tal teoria, faz sentido nos seguintes trechos da letra:
“Tente me ensinar das tuas coisas; que a vida é séria e a guerra é dura, mas se não puder, cale essa boca, Pedro
E deixa eu viver minha loucura .”
“E eu não tenho nada a te dizer, mas não me critique como eu sou. Cada um de nós é um universo. Pedro, onde você vai eu também vou.”
Já Plínio Seixas, irmão de Raul, afirma que tal música fora feita para ele, inclusive, com seu consentimento. Ouça a entrevista…
“Pedro sou eu. Raul até me ligou pra perguntar se eu não fiquei chateado.”
No início da mesma entrevista, Plínio, lembra que seus pais tinham uma conduta dura com os filhos. Obrigavam eles irem na igreja e seguir regras duras.
Plinio, que é 4 anos mais novo que Raul, se formou físico e seguiu um estilo de vida tradicional, porém, não revela conflitos e sim um bom convívio entre irmãos, algo que não combina muito com a letra, que claramente, confronta Pedro.
“Toda vez que eu sinto o paraíso
Ou me queimo torto no inferno
Eu penso em você meu pobre amigo
Que só usa sempre o mesmo terno.”
Plinio, inclusive, era responsável pelas internações de Raul nas clinicas de reabilitação, o que mostra, que Raul depende de Plinio.
E para encerrar, a teoria predileta dos botecos, de que pedro é na verdade, o bilau de Raul.
Tente imaginar Raul olhando para o próprio pinto e falando:
“Muitas vezes, Pinto, você fala
Sempre a se queixar da solidão
Quando quer chorar vai ao banheiro
Pinto as coisas não são bem assim
Toda vez que eu sinto o paraíso
Eu penso em você meu pinto amigo
Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
Pinto, onde você vai eu também vou.”
Pode parecer cômico, mas eu mesmo já presenciei discussões acaloradas a respeito do assunto, claro, entre fãs do Raul.
De todas as estrofes, tem uma que eu mais gosto…
“Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Quando os dois pensavam sobre o mundo
Hoje eu te chamo de careta, Pedro
E você me chama vagabundo.”
Essa frase pra mim é a melhor, pois eu tenho convicção de ter seguido o meu coração. Hoje trabalho com música; pra muitos, uma subprofissão. Não é difícil alguém perguntar: “Mas além da música, você trabalha com o quê? Como se a música fosse apenas um bico; algo que você faz sem remuneração. Afinal, como você poderia fazer algo tão legal e ainda assim receber por isso?
Todos os caminhos são iguais. Não adianta ser rico, malhado, ou ter um carrão do ano, pois no fim, estaremos juntos, que seja sob um julgamento divino, num paraíso, num inferno, ou mesmo sendo mastigados por vermes, dentro de um buraco escuro.
Apesar de respeitar todas as teorias, a que eu mais gosto é a do questionamento individual que Raul e Paulo Coelho, nos obriga a ter… “no fim, valeu a pena, ou você trabalhou demais?”
E assim, chegamos ao fim de mais um Clube da Música Autoral.
E aí, o que você achou?
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Você pode fazer um elogio, uma crítica, ou simplesmente, compartilhar com seus amigos que também gostam de Raul Seixas.
Agora, se você acha que eu esqueci de algum detalhe importante sobre o Meu Amigo Pedro, seja meu amigo e deixe um comentário.
Meu nome é Gilson de Lazari e foi um prazer falar de música com vocês.
Valeu! até a próxima!
Fantástico como sempre meu caro Gilson
Obrigado professor, é uma honra ter você por aqui.
Sensacional parabéns, já virei fan .
Top !!! parabéns pelo trabalho, já havia escutado e visto muitas coisas sobre o Raul e você veio complementar ainda mais.
Sobre o Raul, … sei lá, talvez uma estrala solitária.
Pois é Thiago, um dos meus compositores nacionais preferidos.
Muito legal! gostei muito da análise da letra Meu Amigo Pedro.
Parabéns, sinceramente foi a melhor análise que já ouvi de um músico/música! Parabéns mesmo. Meu filho se chama Pedro e essa música sempre me acompanha e lembra ele e ao mesmo tempo me causa intriga pelas supostas teorias! De todas estas prefiro ficar com a de realmente era o irmão dele, embora depois de saber sobre o pai do Paulo Coelho tenho ficado um pouco dividido. Forte abraço!